quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Liberdade de expressão e comentários


Um leitor deste blog levantou a questão muito comum de saber se apagar comentários num blog, ou mesmo pedir que as pessoas se identifiquem, é um atentado à liberdade de expressão. É efectivamente muito comum pensar que o é, mas eu não concordo. Desde que uma pessoa possa fazer outros blogs, não é uma ameaça à liberdade de expressão que os autores de um blog apaguem comentários. Pode revelar estupidez e falta de capacidade para lidar com objecções ou opiniões contraditórias; mas não é um atentado à liberdade de expressão. A situação é análoga a uma pessoa que tem uma editora: ela não está eo ipso obrigada a publicar tudo o que lhe enviam. Uma vez mais, as suas aceitações e recusas podem revelar estupidez e falta de capacidade para lidar com a diferença; mas não é um atentado à liberdade de expressão, desde que existam outros editores.

A única razão pela qual eu não faço moderação de todos os comentários deste blog, apagando o muito lixo que aparece, é que isso consumiria demasiado tempo e tenho melhores coisas para fazer. Mas o facto de os comentários serem livres significa uma coisa desagradável: dado que uma parte significativa dos comentários são meras bocas, as pessoas que estariam dispostas a desenvolver comentários mais articulados e melhor pensados afastam-se. O que significa que se perde uma boa oportunidade de se ter um espaço de debate, e fica-se com mais uma taberna, igual a tantos blogs. Esta é a razão pela qual os melhores espaços de debate continuam a ser as revistas académicas e não os jornais, nem os blogs, cujas caixas de comentários são uma mera extensão da conversa de taberna.

Na verdade, quem pensa que apagar lixo é um atentado à liberdade de expressão está a ver as coisas ao contrário: o atentado à liberdade de expressão é a boca tola, porque impede a discussão articulada, inibindo quem teria coisas verdadeiramente interessantes para dizer. É como uma pessoa ir a um debate público e desatar a gritar o tempo todo dizendo tolices atrás umas das outras. É óbvio que a consequência disso é acabar com o debate.

A verdade desagradável e que a maior parte das pessoas não está disposta a admitir é que quase ninguém tem qualquer tipo de interesse em no debate genuíno de ideias; tudo o que muitas pessoas que abundam na Internet querem é 1) ajudar a passar o tempo, porque a Internet é vista como entretenimento e 2) fazer valer os seus pontos de vista, que serão sempre iguais e sempre os mesmos e que não se baseiam em mais estudo do que o que se lê na sanita, de vez em quando. Evidentemente, quem gosta realmente de estudar e de discutir ideias não tem qualquer interesse neste exercício de futilidade narcísica.

27 comentários:

Renato Rocha disse...

Outra questão que me surge nessa discussão a respeito da liberdade de expressão é a possibilidade do anonimato, tão presente nos blogs e fóruns de internet.

A maioria desses comentários jocosos que aparecem nas discussões na internet são feitos de forma anônima. Talvez, se fosse vedado o anomimato grande parte dessas tolices que entopem as caixa de comentários desapareceriam ou ao menos diminuiriam.

Mas, a questão parece me agora ser mais do âmbito da liberdade do indivíduo querer mostrar-se quem ele é, qual o seu nome, a propriamente a liberdade de expressão. Acabar com o anonimato não encerra a liberdade de expressão, apenas confere ao indíviduo a liberdade de assumir a responsabilidade por suas palavras.

nuvens de fumo disse...

É de facto uma pena haver tão poucas tertúlias, tão poucos espaços de conversa, ironicamente numa altura onde comunicar nunca foi tão fácil, rápido e eficiente.

Provavelmente reside na natureza e essência do debate o problema: não podemos apressar as ideias , o tempo de expor uma ideia não é encurtado pelo meio de difusão e a discussão no estilo MSN diminui a qualidade e aumenta o atrito.

A enorme falta de cultura cívica das pessoas, a falta de tempo que todos sofremos, a cada vez maior complexidade dos temas , dando apenas pequenos exemplos levam a que o fosso entre quem tem acesso e capacidade de interpretar a informação e quem não tem seja cada vez maior.

vejo nas pessoas ( que conheço ) cada vez mais informação e menos conhecimento:
falam de política do dia a dia , mas são muito pouco politizadas e tem conhecimentos muito superficiais em tudo o que diga respeito ao funcionamento das instituições, constituição, outros sistemas políticos, história etc. Rapidamente a conversa fica na boca ,no insulto fácil etc

falam da situação económica mas nada sabem do que realmente se passou, não investigam em fontes variadas, não vão beber informação fora dos pasquins nacionais e apenas são o eco dos media nacionais. Media esses onde se conseguem ouvir barbaridade onde se misturam milhões com milhares de milhões numa ignorância confrangedora que mete medo.

Em praticamente todos os casos assiste-se a este problema, as pessoas não querem de facto debater os temas, não tem o prazer de terem ideias próprias, duvidarem delas, verem outras e perceberem porque são diferentes, investigarem a fundo, escolherem , duvidarem de novo....

Neste fast food de ideias, onde os lugares comuns, os erros e sobretudo a falta de originalidade abundam, ficamos todos mais pobres.

Talvez as novas gerações , quem sabe....

Anónimo disse...

Renato Mendes, acha que por eu me identificar por "Joaquim Almeida" ( por exemplo ) estou a identificar-me mais do que a pôr "Anónimo"? Ainda lhe digo mais, acha que por criar um perfil todo "catita" identifica-me mais do que se fosse "Anónimo"? Se acha, deixa-me dizer-lhe que é bastante ingénuo.

Qualquer pessoa tem ao seu alcance, com um bocado de tempo e paciência, a possibilidade de criar um email fictício e um perfil de blogger fictício. Acredito que não deve levar mais do que 15 minutos a fazer isso. Não há maneira de provar que alguém é de facto esse alguém. Mais, uma pessoa identificando-se como "Anónima" ou por "Joaquim Almeida" ou por "Rui Peres" não interessa, sinceramente, para a discussão. O que interessa é o que ela diz. Se for "bitaite" é facilmente descartável, se for algo interessante, fundamentado, inteligente e racional, acha que alguém se importa se é Anónima, ou não?

Enfim,concordo com o Desidério. Concordo, porque uma pessoa com o objectivo de "disparatar" a torto e a direito, facilmente arruina uma discussão. Definitivamente não estamos a falar de liberdade de expressão, quando, essa mesma expressão, colide com a liberdade das outras pessoas, mas sim de estupidez. Comentar um blog deve ser feito coerentemente, racionalmente, com sensatez, e sobretudo com responsabilidade, se é contra o que eu digo, ou não, sinceramente, acho que isso não interessa e se é vinda de "Joaquim de Almeida" ou de um "Anónimo", ainda menos. Discussões devem existir. Tanto para aprendermos, como para ensinarmos.


Rui Peres.

MiguelT disse...

Parece-me sinceramente que a opinião expressa neste post entra em contradição com uma outra, expressa num post anterior, em que o Desidério defendia a expressão de opiniões racistas ou homofóbicas da parte dos seus defensores. Estaria implícita a essa opinião anterior a ideia de que, tudo bem, as opiniões racistas e homofóbicas devem ser expressas, MAS NÃO AQUI? É que os mesmos argumentos que utiliza contra os comentários boçais nos blogues (gritaria, conversa de taberna) poderiam ser facilmente utilizados contra a expressão de certas opiniões sobre temas demasiado polémicos, como a homofobia ou o racismo. Como esses temas suscitam emoções fortes, que facilmente suplantam qualquer racionalidade, poder-se-ia argumentar que a chamada "incorrecção política" deveria ser censurada, com os mesmos argumentos que sustentam a censura à má-criação nos blogues.
A questão está em saber onde passa a linha que separa a opinião legítima (melhor ou pior fundamentada) da conversa de café ou da gritaria. Esta parece-me uma questão filosoficamente não trivial...

Anónimo disse...

"É de facto uma pena haver tão poucas tertúlias, tão poucos espaços de conversa, ironicamente numa altura onde comunicar nunca foi tão fácil, rápido e eficiente."

Eu diria que espaços e tertúlias não faltam. Como sou um optimista antropológico (diz a minha mulher) acho, até, que há ideias. O que falta é gente que não ponha o ego acima da mente.

"Desde que uma pessoa possa fazer outros blogs, não é uma ameaça à liberdade de expressão que os autores de um blog apaguem comentários. Pode revelar estupidez e falta de capacidade para lidar com objecções ou opiniões contraditórias; mas não é um atentado à liberdade de expressão."

Certo. Há demasiada confusão com isto. A liberdade de expressão não é dada e tirada pelo autor de um blogue (o editor). É muito acima dele que al se pode processar.

Ana Luísa Pereira disse...

"Talvez as novas gerações , quem sabe...."

Caro Nuvens de Fumo, deixe-me que lhe diga que as novas gerações estão bem piores que a gente adulta que comenta no De Rerum Natura. Tomo como exemplo a sala de aula onde decorrem as minhas aulas: o degredo é cada vez mais afincado. A ideia é falar, falar sem conta nem medida, apenas dizer umas quantas e, de preferência, abafar uma voz audível.
A questão é que, tal como Desidério afirmou, as pessoas não sabem discutir. Amortece o corpo, o espírito, e cai-se numa rotina absurda de gravar e reproduzir o que nos invade a casa à hora do jantar por meio da televisão: chacina à crítica; incrivelmente, a juventude em que pensam depositar alguma esperança, resume-se a uns quantos, a generalidade inclui uma parte robótica do todo.

Anónimo disse...

Ana Luísa, gostei do eufemismo: "parte robótica do todo". :)


Rui Peres

Rolando Almeida disse...

Mindmakers,
Não existe qualquer diferença entre o espaço físico e o espaço virtual. Se eu quiser também no espaço fisíco posso usar disfraces e identidades falsas. Só o faço quando tenho algo a esconder, tal como no espaço virtual só uso nicks se tiver algo a esconder.
E de facto eu acho um bocado estúpido tu saberes com quem estás a falar mas eu não fazer a menor ideia quem és.

Rolando Almeida disse...

Ah e outra coisa: ser filósofo é uma profissão, obviamente.

Anónimo disse...

Oh Rui Peres, o problema dos anónimos no blog é que são muitos e a pags. tantas uma pessoa perde a noção de a quem é que está a responder...

Quanto ao post do Desidério não consigo deixar de pensar, de certa forma, se a linguagem que ele usou no artigo do Público que espoletou isto tudo não é também um atentado à liberdade de expressão porque convida à gritaria e ao fim do debate...

(gritar faz parte da "liberdade de expressão"... assim como amordaçar. Os filosófos que digressem então sobre esse conceito de "liberdade absoluta" e que soluções nos arranjam para isso)

LA disse...

Acho que tens a razão toda, é evidente que hoje em dia é impossível calar alguém apenas porque se apaga um comentário.

Mas parece-me que apagar comentários é um mau princípo e má educação, é como forçar alguém a calar-se.
Imagina que eu tenho uma ideia estrondosa e monto um blogue para divulgar a coisa. Para passar a ideia, vou a outros blogues fazer comentários. Nos outros blogues há sempre um Desidério a apagar os meus comentários. Concluindo: a ideia nunca chega a ninguém.

Eu sei que o Mein Campf está proibido na Aústria, uma coisa com que não concordo. Tu podes dizer que não há problema de liberdade de expressão porque os austriacos têm muitos países à volta onde ir comprar o livro.

É fraca etiqueta alguém se achar e pôr numa posição superior aos outros numa conversa entre iguais, e dar-se ao direito de mostrar isso apagando os comentários dos outros.

Há um gajo que todos os dias vai ao meu blogue mandar-me foder, chamar-me paneleiro e outras coisas, e eu nunca apaguei nada, nunca apaguei um comentário.
Se vou a um blogue e vejo comentários apagados, como é que posso saber se eram insultos brutos ou coisas que foram censuradas pelo dono?

Eu julgo que tens razão porque sabes muito mais do que eu, é impossível calar alguém na internet. Eu não gosto disso pelo princípio.
Fechem os comentários, talvez fosse a melhor atitude. Além de ficarem com menos lixo no blogue, perdiam menos tempo e energias com posts como este. Deve ser chato para alguém que sabe que os blogues são uma perda de tempo ter que vir para aqui escrever tantos posts para divulgar coisas para nós e ainda por cima perder tempo a justificar-se. Muito obrigado.

Anónimo disse...

Rolando Almeida, filósofo é uma profissão? Qualquer pessoa que questione a vida, que ponha em causa o próprio chão que pisa, não pode ser considerada um filósofo? Vai-me dizer que ser filósofo é como ser médico: é preciso curso, e só está acessível a alguns. Acho que cada pessoa é um filósofo à sua maneira. Do mais simples agricultor, até a um grande intelectual. Todos pomos em causa a nossa existência, a nossa dor, o nosso desespero, a nossa vida. Quantos de nós não encontra problemas profissionais de foro ético e moral: "será que devo fazer isto, pondo em causa aquilo?". Mais, acho que o Rolando dá demasiada importância à pessoa e não tanto às suas ideias. E sinceramente, não me interessa quem é o Kiriu, nem a Ana Luísa, nem o Desidério, nem o Rolando, nem qualquer pessoa que comente aqui, gosto, e como gosto, das suas ideias e do que têm a dizer sobre isto, ou aquilo.

Oh Kiriu e acha que por um se chamar "João", outro " Joaquim", outro "Rui", outro "Desidério" isso o vai a ajudar a "não se perder"? Se me disser : "Podem haver duas pessoas distintas com o nome "Anónimo", nesse caso dou-lhe razão.


Rui Peres

Anónimo disse...

Propaganda cristã... Oh sorte. Caro "perspectiva" com certeza que, pelo que eu tenho visto do Desidério, ele não usa retórica ( persuasão de terceiros através, e não só, da oratória. ), mas sim argumentação que a meu ver são distintos ( Se se interessou pelo tema aconselho-o Górgias de Platão ). É que na retórica não interessa se quem a usa está certo no que diz, ou não, o que importa é convencer terceiros. Na argumentação é a defesa do que nós dizemos, através, quem diria, de argumentos. Cabe a cada um, na argumentação, concordar, ou não, decidir se o que está a ser dito é , por assim dizer, mais correcto que o que nós defendemos ( verdades absolutas, a meu a ver, empiricamente falando, não existem ). Esta é a minha perspectiva dos dois conceitos ( argumentação e retórica ), e o que penso sobre o que o Desidério usa.

Agora falando de outras coisas, diga-me perspectiva, quantos autores conhecidos ( de blogs tanto ao mais conhecidos que o próprio autor ) vêm falar com os seus comentadores? Diga-me, por favor. Quantos é que entram em bate boca com os seus comentadores, em vez de ou bloquear os comentários (abrupto.blogspot.com), ou simplesmente apagar os comentários mais indesejados (leia-se contra a nossa própria perspectiva e não insultuosos ). Diga-me.


Rui Peres

Rolando Almeida disse...

Mindmakers,
Eu também faço contas e sei fazer equações até com algum grau de dificuldade. Sei curar constipações. Sei em que consiste a lei da gravidade e conheço o processo de fotosintese. Serei matemático, médico, físico ou biólogo? Cada um é matemático ou biólogo à sua maneira?
Não concordo com o que dizes sobre o nick. Não é assim que me comporto em presença física e deixei de me comportar assim na internet. Mas de todo o modo és livre de te apresentares como queres. Com efeito este assunto já levou aqui - no rerum - algum desgaste há uns tempos.

Rolando Almeida disse...

Mindmakers,
esqueci: um biólogo ou um físico também questionam a vida, ora que caraças.
Pensar que se pode ser biólogo profissional, matemático profissional mas que não se pode ser filósofo profissional é uma ideia errada e uma imagem lírica do que é o filósofo.

Rolando Almeida disse...

Xiça, que esqueci outra coisa: eu faço da filosofia a minha profissão. Sou filósofo de profissão. O problema é que sou um filósofo da treta, muito fraquinho e muito deformado pelo curso que tirei. Mas isso faz de mim um filósofo profissional, tal como se fosse um mau médico ou um mau advogado não deixaria de ser advogado ou médico. Claro que o meu ambito profissional é o da divulgação e ensino da filosofia. Nós é que não estamos habituados a este tipo de observação profissional.

Desidério Murcho disse...

Acabei de apagar com muito gosto mais um comentário absurdo do perspectiva. É uma coisa que gosto de fazer às quintas-feiras, depois de dormir com suecos de dois metros e de limpar o rabo nas primeiras três folhas do Génesis da Bíblia.

Anónimo disse...

Rolando, físicos e matemáticas regem a sua arte sobre princípios científicos. É possível com objectividade científica analisar um indivíduo se tem competência para tal. Num filósofo existem interrogações, existe subjectividade. Tudo bem, existem partes, desse todo, científicas, como a lógica, ou o que é que fulano de tal defendeu e apresentou. Pode-me dizer com rigor científico que 1+1=2. Mas diga-me, com rigor científico, o sentido da vida.

Anónimo disse...

Rolando, acho que confunde o ensinamento de filosofia com o conceito de filosofar.

Rolando Almeida disse...

Mindmakers,
Num filósofo não existe menos objectividade do que na física ou biologia. A diferença está na natureza do estudo: ao passo que a biologia ou física recorrem à experiência como prova a filosofia recorre aos argumentos racionais.
A interrogação, que também existe na ciência - ao contrário do que supõe - não é sinónimo de subjectividade. Não confundo o ensino da filosofia com o filosofar já que fiz essa separação, mas há aqui um aspecto curioso: segundo o Mindmakers qualquer um pode ser filósofo, mas eu que ensino filosofia não posso ser filósofo. Está bem.

Anónimo disse...

Sim é verdade, podes ensinar filosofia e estares-te a borrifar para o que dizes. "Dizer por dizer", sem pores em causa o que dizes, ou as ideias que exprimes. E sim na filosofia existe mais subjectividade no objecto de estudo do que em matérias relacionadas com objectos concretos, como na matemática e na física. Grande parte do que é posto em causa na filosofia é, de foro subjectivo. Repare, qualquer pessoa pode dizer que Deus existe, qualquer "filósofo" com os seus ditos estudos, por muitos estudos que tenha, não prova nada. Mas nem vou prosseguir com este assunto, uma vez que não chegamos a um consenso.

Valter Boita disse...

«E sim na filosofia existe mais subjectividade no objecto de estudo do que em matérias relacionadas com objectos concretos, como na matemática e na física. »

Fiquei sem perceber o que mindmakers entende por "subjectividade". E gostaria de ser esclarecido sobre o facto de a física e a matemática terem objectos de estudo objectivos. A noção de matéria é mais objectiva do que a noção de livre-arbítrio? A noção de número é mais objectiva do que a noção de conhecimento?

Enfim! Em que livros de filosofia é que vêm os disparates de que x é objectivo e y é subjectivo. Se por X e Y entendermos objectos (de natureza empírica ou formal) de estudo.
Se X é de natureza disputável não significa que seja subjectivo; se Y é de natureza "a priori" também não significa que seja subjectivo. Claro que não duvido de que a experiência do prazer que se retira de beber um chocolate quente no canal de Cambridge é mais subjectivo, pois eu experimentei e adorei, tal como pressupunho que um outro sujeito tendo experimentado possa ter desapreciado.

A falácia de que somos todos filósofos só pelo facto de termos a capacidade para nos interrogar sobre aspectos morais da nossa vida e quejantes, leva-nos a considerar que quando procuro a cura para uma dor de cabeça sou médico. Ah, pois, ser médico é ser objectivo e ser filósofo é mais subjectivo!!!

Desculpe-me a ironia do comentário, mas julguei que os leitores do Rerum Natura já tivessem percebido que a filosofia não é algo subjectivo. Apenas o é, no prazer ou desprazer que provoca nos indivíduos, mas assim também o é a física, a matemática ou a biologia. Qualquer tentativa de construir saber é uma procura da sistematicidade, da objectividade e uma recusa do assistemático e do subjectivo-perceptivo. E aí também entra a filosofia. Até consigo encarar a arte como sendo objectiva, na medida em que brincar com as tintas nas horas vagas não faz de mim um pintor!

Anónimo disse...

Eu falo em subjectividade quando me refiro a assuntos que não tem uma resposta cientificamente certa, peço desculpa se escrevi de maneira demasiada obscura. " Deus existe?" "Qual o sentido da vida?" são perguntas que tanto um agricultor como um intelectual consegue responder. Enquanto que " Tenho cancro?" "Tenho sida?" Nem toda a gente é capaz de responder, e quando se responde, normalmente, é baseada em bases científicas e não na subjectividade do indivíduo. Daí considerar que ser filósofo não é uma profissão.

Valter Boita disse...

Mindmakers,

Às questões que considera objectivas ("Tenho sida?") também não são problemas científicos.
A questão "Será que a substância Z cura a Sida?" será mais objectiva do que a questão "Qual o sentido da vida?" A meu ver, ambas as questões são objectivas e ambas são disputáveis.
Dado que nem sempre os cientistas estão de acordo com uma teoria, tal como acontece com os filósofos, daí não se segue que ser cientista não é uma profissão.

Já agora ser político é uma profissão?

Desidério Murcho disse...

Se há algo para o qual não há paciência nos blogs é volta e meia aparecer alguém a repetir confusões que já foram discutidas e esclarecidas alhures, confusões baseadas numa imensa desvontade de ler livros sobre o tema em causa. De modo que me parece absurdo discutir o fascinante opininema do mindmakers sobre a filosofia.

Rolando Almeida disse...

Mindmakers,
Tentei esboçar uma ou outra resposta, mas é preferível aconselhar a leitura de uma boa introdução à filosofia, pois afirma algumas coisas que denuncia um conhecimento muito deficiente do que é a filosofia.
Obrigado

Anónimo disse...

Sim, Rolando, assim farei. Obrigado pela dica.

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...