sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Entrevista ao "Destak"

Transcrevo o texto de uma mini-entrevista que dei ao jornal "Destak" e que foi publicada na edição de hoje:

O professor de Física da Universidade de Coimbra explicou ao "Destak" o que se espera da megaexperiência que decorre na fronteira entre a Suíça e a França, e que pretende recriar o Big Bang.

Carla Mendes cmendes@destak.pt

CM Quais os resultados esperados pelos físicos de todo o Mundo?

CF Há uma partícula prevista pela teoria que vai ser procurada. Mas pode não aparecer... E podem aparecer outras partículas, o que significaria que a teoria actual teria de ser revista. Os físicos estão à espera do inesperado! Gostamos de ser surpreendidos, até porque a 'imaginação da Natureza' tem-se revelado superior à nossa.

CM Tem-se falado muito nos riscos subjacentes à experiência. A Humanidade está em risco?

CF Nenhum. Houve profetas da desgraça que anunciaram o fim do mundo, mas felizmente ainda cá estamos todos... As ideias malucas sobre a possibilidade de formação de buracos negros [que engulam tudo] não passam disso mesmo: ideias malucas.

CM A experiência ajudará a perceber de que é feito o Mundo?

CF Sim, sabemos hoje alguma coisa sobre isso, mas sabemos que ainda não sabemos tudo.

CM O que poderá mudar nas crenças sobre a origem do Mundo?

CF Tal como o Universo, também o nosso conhecimento do Universo está em expansão, e em expansão acelerada. De posse deste instrumento, a Humanidade ambiciona avançar rapidamente, como aconteceu, há 400 anos, quando Galileu usou o telescópio para observar o céu. Não haverá consequências para as crenças religiosas, pois desde o tempo de Galileu que ciência é uma coisa e a religião é outra.

7 comentários:

José Correia disse...

Quando o Professor Carlos Fiolhais aponta para a versatilidade e inconfidencialidade da "imaginação da natureza" a que está mais precisamente a referir-se? Essa imaginação seria preexistente, definida, caracterizável, auto-sustentada? Como e em quê? Não teria qualquer preexistência, seria definida, parametrizada, e dependente de sustentação exterior?
No Diário de Notícias de hoje há uma previsível controvérsia entre Hawking e Higgs em torno da denominada "partícula de Deus" que poderia resultar ou não da experiência de Genebra. Especulação teórica, falsificabilidade científica, nova teoria científica? Que explicação da vida pode efectivamente vir a sair de Genebra? Tudo, nada ou talvez e por agora?

Pedro disse...

por via das dúvidas eles instalaram uma webcam para monitorar o andamento dos experimentos:

http://www.lhc-live.com

:P

Lufiro disse...

O que o meu caro professor não disse foi que a religião tem por vezes aspirações a ser ciência e que a ciência tem por vezes a característica da religiosidade :)

Daqui a 100 anos os putos fazem esta experiência na garagem lá de casa. Agora foram precisos 6000 artolas (perdão, talvez 5500 artolas e 500 cientistas com 2 dedos de testa) e milhões em recursos.

Anónimo disse...

«CM Tem-se falado muito nos riscos subjacentes à experiência. A Humanidade está em risco?

CF Nenhum. Houve profetas da desgraça que anunciaram o fim do mundo, mas felizmente ainda cá estamos todos... As ideias malucas sobre a possibilidade de formação de buracos negros [que engulam tudo] não passam disso mesmo: ideias malucas.»


Doutor Fiolhais, corrija-me se estiver errado mas os feixes ainda não colidiram pois não?

Caso não tenham colidido esta sua resposta não é enganadora?

Carlos Fiolhais disse...

Caro José Correia
A "imaginação da Natureza" é apenas e obviamente uma metáfora. Claro que não é tão elegante nem tão sugestiva como a metáfora de Einstein: "O Senhor é subtil, mas não é malicioso"...
Cordialmente
Carlos Fiolhais

Anónimo disse...

Fui verificar a informação e tal como escrevi os feixes ainda não colidiram.

http://press.web.cern.ch/press/PressReleases/Releases2008/PR08.08E.html
"Today’s success puts a tick next to the first of those steps, and over the next few weeks, as the LHC’s operators gain experience and confidence with the new machine, the machine’s acceleration systems will be brought into play, and the beams will be brought into collision to allow the research programme to begin."

Com esta infromação escrever como fez o Doutro Fiolhais: "Houve profetas da desgraça que anunciaram o fim do mundo, mas felizmente ainda cá estamos todos..." é enganador.

Ter sido chamado à atenção para este lapso e nem se ter dado ao trabalho de corrigir a sua posição mostra falta de honestidade intelectual.

O planeta não vai acabar (ou a probabilidade de isso acontecer é extraordinariamente pequena) mas este tipo discurso enganador por parte de homens de ciência é grave.

Aldrabam muita gente, mas existem pessoas com capacidade crítica que podem não ter tido oportunidade de ter estudado ciência que ao se aperceberem destas aldrabices podem assumir que noutros casos os estão também a aldrabar.

Nuno disse...

Estive a ler a entrevista que deu ao Destak e somente gostaria de fazer um pequeno reparo à sua entrevista.
Se nos disposermos a estudar religião penso que podemos ter surpresas relativamente à relação religião/ciência, será que são coisas diferentes ou talvez complementos de visão para a mesma coisa (algumas situações especificas).
Como Físico seria interessnate para si se estudasse um pouco o Budismo, verá as relações que existem entre o mesmo e a Física Quântica. O Dalai Lama tem colaborado com diversos cientista neste ponto e as relações forma surgindo, aconselho também a se puder, a ler o livro de Mingyur Rinpoche, "Alegria de Viver", disponível em português, é um Mestre de 33 anos que efectua trabalhos com neurocientistas sobre o fenómeno da meditação.
À 2500 anos atrás Buda Shakyamuni o que fez ao entrar em Nirvana foi ter a percepção de todos os fenómenos, nesta e noutras dimensões, no fundo o que a Física tem feito ao longo dos anos e muito bem.

Para finalizar apenas para dizer que como céptico que era relativamente às religiões, foi o contacto com o Budismo e o início da sua práctica que me fez mudar de opinião e verifcar que as diferenças talvez não sejam assim tão dispares ao ponto de se dizer que são coisas diferentes. Claro que em determinados pontos isso é verdade, os caminhos a percorrer são diferentes, mas no que concerne à Física ( a disciplina mãe da ciência do universo), os pontos de contacto são muitos. A base do Budismo é a lei da causalidade (causa/efeito ou acção/reacção), e a realidade relativa dos fenómenos.
Talvez as outras tradições religiosas, que estão na nossa cultura ocidental não respondam da mesma forma a determinados fenómenos, na minha opinião, porque quando se tenta percepcionar o que é Deus, com uma vizualisação antropocêntrica, isso torna-se muito complicado, e achar que tudo depende dele, pior ainda...e nesse caso, sim torna-se evidente uma separação entre ciência e religião...

Um muito obrigado pelo seu trabalho de cientista e um cordial abraço.
Que a experiência do LHC seja um sucesso!

Nuno Jardim

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