sábado, 5 de maio de 2007

Vale a pena ler

Estou neste momento a terminar o «Diário de um Deus Criacionista», uma sátira fabulosa de um autor português ao anacronismo obscurantista com que o fanatismo de uma minoria ameaça os alicerces da nossa civilização.

O livro é apresentado hoje em Coimbra, às 12h30mn, na Livraria Coimbra Editores (Rua Ferreira Borges, 79) e será apresentado em Lisboa na segunda feira, às 21h na FNAC do Colombo. A apresentação do livro na FNAC inclui um debate sobre criacionismo, onde estará presente o autor - docente no departamente de Economia da Universidade de York -, um teólogo, o padre Joaquim Carreira das Neves, e esta colaboradora do De Rerum Natura.

O livro, para além de muito inovador em termos gráficos - fez-me lembrar em inúmeros pontos a poesia caligramática e visual, de que já incluí um exemplo de Paul de Vree no post «Literacia científica: à procura do arco-íris» - é de certa forma um paradigma do que referi em termos da necessidade de diálogo entre as duas culturas no mesmo post. Nomeadamente o segundo acto, «Eu e a formação dos universos», poder-se-ia considerar um acto muito bem conseguido de divulgação científica. Gostei da forma como o autor desmistifica o principio da incerteza de Heisenberg, que «tanta confusão iria causar nas mentes dos humanos biliões e biliões e biliões e biliões de anos mais tarde», como decorrendo naturalmente do dualismo onda-corpúsculo associado a partículas como o electrão.

O livro, escrito na primeira pessoa de um deus criacionista - muito temperamental-, discorre magistralmente nos restantes capítulos sobre mitologias sortidas, especialmente sobre a judaico-cristã. O trecho que trata da estadia de Adão e Eva no Paraíso, por exemplo, é tão bem conseguido e hilariante que, tal como Manuel S. Fonseca, editor da Guerra e Paz, parece-me muito provável que o romance provoque muita celeuma, quiçá comparável à despoletada pelo «Evangelho» de José Saramago.

O livro foi «pré-publicado» na RTP1 em 28 de Abril, numa reportagem que vale igualmente a pena ver.

37 comentários:

J. Norberto Pires disse...

Sem dúvida um livro interessante.
Diz que é apresentado hoje em Coimbra? Hoje Sábado?

A Palmira pode colocar aqui detalhes sobre essa apresentação? Gostaria de ir.

J. Norberto Pires disse...

Ok, está confirmado:
http://www.guerraepaz.net/?page=press&item=223

Palmira F. da Silva disse...

Olá Norberto:

Em primeiro lugar deixe-me poarabenizá-lo pelo post que é fascinante. Espero conseguir convencer o Zé Alberto a escrever uma contribuição sobre o trabalho dele, não só visão como o «ensino» de robots.

Em relação à apresentação do livro em Coimbra só sei que tem início daqui a meia hora.

O site da editora tem mais detalhes sobre aquela em que estarei presente, pelo que vou actualizar o post :-)

»Na próxima segunda-feira, 7 de Maio,
"Diário De Um Deus Criacionista"
será apresentado na Fnac
do Centro Comercial Colombo, às 21h.
A apresentação será seguida de um debate com
Álvaro Santos Pereira (autor),
Padre Joaquim Carreira das Neves e
Professora Palmira Silva.»

J. Norberto Pires disse...

Olá Palmira,

Penso que será fácil conseguir isso com ele. :)

Como já disse, a ligação de áreas técnicas a ciências naturais, médicas, biológicas e humanas é muito intessante, e uma fonte de futuros desenvolvimentos excitantes. E exsitem em Portugal muitas pessoas a estabelecer essas "pontes", o que me deixa muito animado porque a interdisciplinaridade é claramente o caminho.

Abraço,

norberto

José Luís Malaquias disse...

Eu gostava de entender este furor anti-religioso da Palmira que em quase todos os seus posts ataca a religião de todas as formas e feitios.
Esteja descansada, que não está perante mais um IDiota que lhe vem defender o criacionismo. Sou Darwinista, republicano e praticamente laico.
Até poderia entender esta posição obsessiva se estivéssemos no meio do Bible Belt norte-americano, em que se coloca seriamente a hipótese de se ensinar o criacionismo.
Mas, em Portugal? Eu, pessoalmente, não conheço um único criacionista (acho que há uns 30 anos tive uma catequista velhinha que o era, mas nem disso tenho bem a certeza). Por isso, não entendo a razão por que se insiste em investir contra moinhos de vento, julgando tratar-se de gigantes.
Se a questão nunca se pôs seriamente em Portugal, se nos nossos currículos a evolução está mais do que assente, para quê dedicar mais de dois terços dos posts a esse tema?
Às vezes, atacar um "inimigo" indetectável só lhe dá projecção.

Unknown disse...

Muito obrigada pela informação, Palmira, vou tentar estar na FNAC segunda-feira, o debate promete. E vou aproveitar para comprar o livro.

É muito estranho que este José Luís Malaquias que se diz evolucionista e laico só comente para defender a religião, lastimar a escrita de qualquer post que mencione criacionismo (28 em 217, é só olhar para os tags) e atacar as mulheres, que não têm capacidades para decidir um aborto... hmmm, bizarre, very bizarre :)

Anónimo disse...

Do "Livro da Vertusoa Benfeytoria" do infante D. Pedro:
"...segundo os philosophos he tal: tempo he duramento do mundo em perseverança mudavel. Em aquesto avemos de emtender que, see nom ouvesse movimento no mundo, nom seria tempo..."
Imaginar um tempo indefinido antes de haver movimento e tempo é voltar quase dois milénios até antes do infante que morreu em Alfarrobeira. Por mais irónico que seja o livro, parte de um absurdo filosófico e científico. E, mais do que a criação (ou início do universo) o início do tempo sempre foi o maior problema para filósofos e cientistas. Sejamos minimamente sérios.

José Luís Malaquias disse...

Cara Rita,

Não sei se tenho de fazer uma profissão de fé para poder fazer posts neste blogue, mas posso dizer-lhe que tenho formação em física, acredito no método experimental, situo a idade do Universo em cerca de 15 mil milhões de anos, considero a teoria da evolução das espécies a que mais se aproxima dos dados experimentais e não sinto necessidade de nenhum Deus para explicar a existência do Universo.
Não sou praticante de nenhuma religião e não sei mesmo se acredito num Deus pessoal.

Dito isso, espero poder ter direito a uma opinião. Se a Rita acha os meus comentários monocórdicos, penso que os posts anti-criacionistas de alguns autores se começam a tornar saturantes. Não consigo entender essa senha, num país onde a paranóia fundamentalista cristã não se manifesta.

Já morei nos EUA e tive ocasião de arrancar os cabelos a discutir com criacionistas para chegar à conclusão que não há qualquer plataforma possível de discussão com eles. É tempo perdido, pois eles não vão mudar e, por certo, também não nos vão convencer a nós. Porém, quando está em causa aquilo que se ensina nas escolas, entendo que o debate seja feito, por muito que nos custe.

Agora, na Europa, onde esses chalupas felizmente não se fazem sentir, não entendo para que é que se perde tempo a discutir o criacionismo que está morto e enterrado.

Se querem discutir coisas relevantes, discuta-se outros tipos de obscurantismo que temos em Portugal. Discuta-se o motivo pelo qual a população pretensamente educada consulta bruxas, cartomantes, adivinhos e demais aldrabões. Os inimigos da ciência em Portugal não são os criacionistas, são os ignorantes. É este país que se diz de poetas e onde as pessoas se orgulham de não saber nada de ciência.
Se, num qualquer convívio, eu disser que nunca li Camões, Eça de Queirós ou Camilo Castelo Branco ou que nunca ouvi falar de Homero ou Vergílio, cai-me tudo em cima e chamam-me ignorante e inculto.
Mas ouço figuras importantes do nosso regime a dizer as maiores alarvidades científicas ou a vangloriarem-se de não perceberem nada de ciência e toda a gente olha para eles com o maior respeito.
É essa cultura letrada que despreza o ensino das ciências e que conduziu a população portuguesa a uma iliteracia científica total que deve ser combatida. Deixem lá os criacionistas em paz, que estão lá longe e não chateiam. Falem antes da Maya que tem direito a espaço nobre de televisão para propagar as suas crendices.

Quanto a atacar as mulheres, cara Rita, espero que nunca venha a saber o que é ser atacada. Há mulheres em Portugal que são, de facto, atacadas pelos maridos, pelos namorados, pelos filhos e, isso sim, é triste. Isso sim é atacar. Eu limitei-me a dizer que, respeitando integralmente a vontade expressa no referendo, se deve assegurar qual é a vontade da mulher antes de se proceder a um aborto.

Se tem tanta certeza de que não há pressão sobre as mulheres, estude p.f. os dois casos mais famosos que conduziram à liberalização do aborto nos EUA: Roe v. Wade e Doe v. Bolton. Por coincidência, ambas as mulheres que deram a cara pela liberalização lutam hoje pela inversão da decisão. Mas não é isso que é curioso. O que é curioso é ler nas entrevistas que elas deram a pressão a que estiveram sujeitas ao longo de todo o processo, sempre que ousaram exprimir uma dúvida ou reflectir melhor sobre a decisão.

Por isso, mais uma vez lhe digo que, face ao resultado do referendo, o aborto deve ser despenalizado em Portugal. Mas não substituam uma violência sobre as mulheres (aborto clandestino) por outra (aborto contra a vontade). É só isso, se não for pedir demais.

Anónimo disse...

Eis um exemplo de pura parvoíce científica:

"Gostei da forma como o autor desmistifica o principio da incerteza de Heisenberg, que «tanta confusão iria causar nas mentes dos humanos biliões e biliões e biliões e biliões de anos mais tarde», como decorrendo naturalmente do dualismo onda-corpúsculo associado a partículas como o electrão."

O princípio de incerteza de Heisenberg decorre naturalmente do dualismo onda-corpúsculo somente para aqueles que não percebe nada de fundamentos de mecânica quântica. O princípio de incerteza de Heisenberg decorre naturalmente do formalismo da mecânica quântica (leia-se, análise de Fourrier). O problema do dualismo é extrínseco ao formalismo e, por essa via, muito mais profundo que as relações de incerteza. Bastaria ler o texto de Bohr de 1928 "The Quantum Postulate and the Recent Development of Atomic Theory" para se perceber claramente isso. Mas enfim, é apenas mais um atentado ao conhecimento científico protagonizado por um dos responsáveis por este blog.

Fernando Dias disse...

Considero o último post de José Luís Malaquias muito sensato. Aprecio inteiramente o que diz pelo que "tiro-lhe o meu chapéu":)
É um texto com muita qualidade, quer no conteúdo, quer na forma, com elevada postura ética...

Bruce Lóse disse...

Pal,

Como sabe sou a única criatura do meu grupo sanguíneo que não tem um blogue, e a minha porta para o mundo é a sua caixa de comentários. Obrigado por isso.
Hoje achei graça ao seguinte: o cavalheiro Malaquias disse-lhe exactamente o que já lhe tenho repetido trilizibeliões de vezes. Porquê essa ordenha intensiva do criacionismo?
Pronto. Era só isto.

(e para quem se interessa por sátiras convém ler "Em Directo do Calvário" de Gore Vidal)

:: rui :: disse...

Talvez devessemos ouvir o que os ratos possam dizer acerca da evolução já que como Sydney Brenner (Sénior Distinguished Fellow, Instituto Salk, EUA; Fellow, King´s College, Cambridge, Reino Unido) disse hoje no Simpósio organizado pela Fundação Gulbenkian sobre a evolução:

- Os ratos evoluíram mais rápido que os humanos. Então, por cada mudança na espécie humana, existem 3 ou 4 mudanças nos ratos. O que significa que os ratos estão muitos milhões de anos à frente de nós.

Embora Guy Deutscher, (Professor do Departamento de Línguas e Culturas da Antiga Mesopotâmia, Universidade de Leiden, Holanda) tena dito que:

- O problema da evolução é explicar como as coisas mudam.

ou Gerry F. Gilmore, (Professor de Filosofia Experimental, Universidade de Cambridge, Reino Unido) que diz:

- Não sabemos como funciona (a evolução), mas temos fé.

Ou seja, a crença na evolução deve ser muito forte pois no meio de tantos buracos (e absurdos), conseguem encontrar uma força que os inspira a continuar. Ou então, é uma mera utilização de palavras que pode não ser a melhor dado que

- “No thing” é diferente de “nothing”, como diz Gerry F. Gilmore neste simpósio. Será mesmo?

De qualquer maneira, há quem reconheça algumas coisas importantes (talvez exageradas, digo eu), como Robert Foley, (Professor de Evolução Humana no Leverhulme Centre for Human Evolutionary Studies, Universidade de Cambridge, Reino Unido) que diz:

- O impacto da ciência na humanidade – insignificante.


Tudo isto e muito mais no simpósio que aconteceu ontem e hoje.

Um bom dia a todos.

:: rui :: disse...

José Rodrigues dos Santos começa a noticia dizendo "A ficção tem um novo autor.."

É isso, tudo não passa de ficção. Foi o que se passou também no simpósio, um "filme" de ficção científica. Quem começa as palestras dizendo:

- Desde Newton que estamos a tentar que tipo de universo é possível. (Gerry F. Gilmore), só pode seguir com possíbilidades sequentes. E possibilidade arrasta possibilidade, e tem-se que os oradores possam também possibilidades. Tal como nos bons filmes de ficção científica. Engraçado é explicar como é que eu entrei nele, já que para mim, o início de tudo foi bem concreto e real.

Alef disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alef disse...

Caro José Luís Malaquias:

Faço minhas as palavras de F.Dias. Os meus parabéns pelo seu excelente comentário.

Alef

Anónimo disse...

Atenção: este comentário tem um jocoso

Com o livro do Santos Pereira está aberta a via das interpretações alternativas!

Eu próprio tenho investigado alguns aspectos das interpretações tradicionais e gostava de aproveitar a oportunidade para a divulgar. Aqui vai uma sobre uma nova hermenêutica da criação de Eva:

O relato das grandes descobertas ou invenções é, muito frequentemente, apresentado de uma forma linear, como se os seus autores não tivessem tido hesitações, erros, dúvidas, avanços e recuos. Esta abordagem é a correntemente adoptada nos livros escolares e de propedêutica científica, com a grave consequência de induzir no leitor uma ideia errada sobre o método científico e o modo como se processa o avanço do conhecimento. Nada mais enganador, pois este é feito de progressos, mas também de profundas e dramáticas crises que levam a questionar toda a construção teórica realizada até então. A simplificação a que muitos cronistas aderem é, pois, muito enganadora, omitindo as dúvidas, as incertezas, os erros, o voltar atrás e o repensar tudo de novo pelos agentes do progresso.

Deste mesmo vício sofre a narrativa do acto de Criação, apresentado na Sagrada Escritura como destituído de erros, dúvidas ou hesitações. Na realidade, a recente descoberta de manuscritos muito antigos e cujos autores tiveram acesso ao caderno de notas do Criador, possibilita uma nova hermenêutica dos textos bíblicos que, sem alterar o essencial da mensagem, a enriquece extraordinariamente.

Um dos primeiros actos da Criação revisto à luz dos novos dados e informação e cujos principais resultados apresentamos no que se segue, é a criação de Eva. De acordo com o livro da Génese, o homem e a mulher teriam sido criados em simultâneo, tendo o Criador recorrido à sua própria imagem para a criação do primeiro (dado que não abona muito em favor da imaginação do Criador! Claro que, para aqueles que defendem que foi o homem que criou Deus, o argumento também se aplica, pois mostra, neste caso, idêntica falta de imaginação. Aqui o cronista tem que manifestar a sua preferência pelas religiões que não têm representação figurativa de Deus). Ora o que as notas do Caderno da Criação vieram mostrar é que as coisas não se passaram bem assim e o que foi transcrito (ou ditado, segundo alguns) para o Livro foi uma simplificação do que se passou na realidade, a qual podemos agora conhecer (tal como na escrita da história ou da ciência, omite-se, quase sempre o falhanço). Vejamos então como se passaram realmente as coisas.

Adão terá sido criado efectivamente ao 6º dia (e pretendem alguns que terá sido sugestão sua ao Criador para descansar ao sétimo dia, pelo que a obra está inacabada e naquela altura não existia ainda o conceito de “obras a mais”, que, como sabemos, é a base do progresso e prosperidade lusitana. A semana inglesa, a semana americana, as pontes, etc., somente apareceram em estados de desenvolvimento posterior e depois de uma aprofundada reflexão teórica sobre o princípio da acção mínima conjugada com uma filosofia hedonista militante) e assim se terá mantido durante algum tempo até que começou a manifestar sintomas de tédio. No Paraíso tudo eram facilidades: comer, beber, dormir e passear. Tudo prazeres calmos e isentos de exaltação. Como isto se prolongasse sem vislumbre de qualquer hipótese de mudança para melhor (ou mesmo para pior, porque, por vezes, as coisas não podem ficar simplesmente como estão!) Adão decidiu dirigir-se ao Criador, isto numa fase em que Ele já estava habituado a ouvir reclamações por tudo e por nada de outras criaturas (assunto que trataremos em outro texto). De modo que quando Adão lhe apareceu no gabinete o Criador deu um suspiro de enfado e comentou, "O quê, também tu Adão, a quem eu reservei o papel de obra-prima da Criação?", e pensou para si mesmo, "Bem me diziam para não me meter nisto da Criação, que só ia arranjar uma série de chatices e uma multidão de insatisfeitos (é curioso que este é também o lamento generalizado dos políticos!). Mas também se assim não fosse como é que eu podia ser chamado de Criador? Quem é que exaltaria a minha obra?". Por aqui ficaram as suas reflexões pois a clientela era exigente e nunca estava disposta a esperar muito, pelo que rematou, num tom pachorrento e já com alguma da bonomia que viera substituir a sua irritabilidade inicial perante qualquer reparo ou observação sobre a Sua obra, "Diz lá, qual é o teu problema?".

Neste ponto justifica-se uma reflexão do cronista, fazendo uma chamada de atenção para a circunstância de mesmo o livro da Génese, ao descrever a criação do mundo, referir, em diversas passagens “E viu Deus que isso era bom”, o que pode fundamentar a tese que o Criador procedia por “ensaio e erro”. Ao proceder a uma avaliação após cada ensaio ou tentativa criadora, na sequência da qual procedia à aceitação ou à rejeição da criatura ou do resultado do acto criador, estava lançado o primeiro processo de controlo de qualidade e teste de desempenho. Aquela expressão pode significar que o Criador não tinha antecipado totalmente a sua Criação, permanecendo uma margem de dúvida e incerteza que somente uma análise posterior possibilitaria eliminar. Se esta interpretação é correcta então Deus não é o Ser Perfeito que nos propõe a doutrina, pois não seria omnisciente, ao ser incapaz de antecipar plenamente a consequência dos seus actos. Na mesma linha de raciocínio se pode argumentar que a Criatura influenciava o Criador, uma vez que Este era levado a alterar o seu projecto e a sua visão cósmica (estaríamos, assim, mais próximos do princípio da vacuidade budista que nega a existência de algo que não possa ser influenciado e, por essa razão, perpetuamente imutável). Fica assim posta em questão a interpretação canónica de algumas religiões ocidentais da separação absoluta entre o Criador e a sua Criação, com o que se evidencia uma aproximação notável entre o Céu e a Terra, entre o divino e profano. Hominiza-se o Criador, mas também se diviniza o Homem! Mas, cuidado, mantendo uma distância entre os dois planos cósmicos, que não é minha intenção nem desejo subverter a ordem que nos legaram Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

Adão desfiou então um lençol de queixas e lamentações que fundamentavam a sua reclamação: precisava de companhia, mas de alguém com quem pudesse realmente "reinar", porque se fosse outro igual só iria agravar o problema. E para dar uso a todos os órgãos e funções com que o Criador o havia dotado só havia uma solução: criar a mulher. "Dizes bem", retorquiu o Criador, já completamente despojado das "peneiras" iniciais que o levavam a negar qualquer erro da Criação, "Mas agora que se me acabou a matéria-prima da Criação, como é que eu vou criar a mulher?". "Isso não sei, não é nada comigo. Tu é que és o Criador, Tu é que criaste o problema, agora desenrasca-te", retorquiu Adão (reparem já no tom algo desrespeitoso na forma como ele se exprimia, o que não agourava nada de bom, como a evolução posterior da relação Homem-Deus viria a confirmar), de certa maneira lançando os fundamentos teóricos de um Direito do Consumidor: ele julgava-se com direito a ser bem servido e não tinha nada que estar a preocupar-se com os problemas ou as dificuldades do fornecedor do serviço.

Era evidente o embaraço do Criador. Por um lado queria satisfazer a Criatura, senão era mais um descontente que dali ia, mas, por outro, todo o material da criação estava esgotado, pelo que ainda tentou argumentar, "Vê lá, meu filho (tratamento com o qual lhe tentava espevitar o respeito e compreensão filiais), ele há tantas coisas para fazer e que nos podem dar prazer. Já tentaste a Literatura? Ou a Filosofia?". Mas Adão vinha com uma ideia muito bem definida sobre o que queria e nada o faria desviar dela. Ainda assim, achou por bem retorquir, "Literatura? Como? Se Vós me criastes analfabeto! (e com isto, apontava, insidiosamente, para mais um defeito ou falha na Criação. E isto nas barbas do próprio Criador!). Filosofia? Isso estará bem para aqueles maricas dos gregos, em particular para um tal Sócrates (o verdadeiro, não o Pinto de Sousa!) que também se vai lixar por causa disso e vai ter beber a cicuta até à última gota!". A contra-argumentação adâmica tinha sido absolutamente demolidora e o Criador percebeu que não adiantaria avançar com mais sugestões, pois o outro não era parvo, e pensou para consigo, "O que tu queres sei eu! Nem fazes ideia no que te vais meter!" (na realidade, o Criador tinha razão e sabia do que falava, daí a sua opção de não criar logo a mulher. Também nas primeiras escrituras Deus aparece com uma companheira, cuja figura se vai apagando ao longo do Tempo até chegarmos ao dia de hoje em que as mulheres nem sequer podem dizer a missa ou praticar a confissão, embora a razão deste último impedimento pareça óbvia).

"Então diz lá como é que tu queres essa tua companheira?". Adão, que já tinha pensado maduramente no assunto, começou logo a desfiar uma lista de qualidades que nunca mais acabava, o que levou até o Criador a pensar para consigo mesmo, "Se calhar também devia ter preparado umas listas de especificação para as criaturas que criei. Era capaz de ter evitado alguns erros mais graves e poupava muita chatice. Não há dúvida que estamos sempre a aprender e este Adão até nem saiu parvo de todo!". Terminadas as especificações e apresentados alguns esboços (sim, até isso Adão levara!) feitas sobre uma casca de árvore (técnica que depois os egípcios aperfeiçoaram para fazer o papiro) o Criador estava confrontado com um desafio tremendo e no qual se jogava também muito do seu prestígio, entretanto algo abalado pelas imperfeições da sua Obra que se iam evidenciando aqui e além.

Ocorreu-lhe então a ideia que se colocasse a coisa nuns termos tais que implicasse algum sacrifício a Adão talvez ele cedesse, pelo que disse, "Meu filho (mais uma vez o tom paternal!), já te disse que não tenho matéria-prima, pelo que se te vou fazer a vontade e criar um ser com tanta qualidade vou ter que te tirar uma perna e um braço". Pela primeira vez desde que se iniciara a reunião Adão hesitava, pensando, "Uma perna e um braço? Bolas, que isto está mais complicado do que eu imaginava! Depois sem uma perna como é que eu corro atrás da "gaja" pela floresta quando a "tipa" se armar em arisca? E sem um braço? Como é que eu a agarro quando se começar a fazer cara?". Mesmo no plano teórico, a sugestão parecia-lhe destituída de sentido, “Uma perna? E um braço? Eh pá, mas isto vai-me dar cabo da minha bela simetria sagital! Fico pior que um cristal triclínico! Com que cara vou eu olhar para uma estrela do mar que tem uma simetria pentarradiada, ou, pior ainda, para um polvo que tem uma simetria de grau oito? Está-se mesmo a ver que passo a ser a “galhofa” da restante criação! Não, já percebi, o “tipo” quer arrastar-me para uma discussão teórica e por aí não me safo. Tenho é que fazer apelo à sua auto-estima!”. Recuperado do abalo resultante destas reflexões Adão decidiu "jogar" forte e disse, fazendo o primeiro "bluff" da História, "Não, nem pensar! Uma Pessoa com a sua experiência consegue fazer isto perfeitamente com um simples pedaço de carne", e comprimindo um bocado do "pneu" (entretanto adquirido, porque aquilo no Paraíso, não custava nada obter o que quer que fosse) entre o indicador e polegar, disse, "Olhe, isto é o suficiente", pensando que assim juntava o útil ao agradável: arranjava uma mulher e via-se livre do “pneu”. Com isto desafiava, mais uma vez, as capacidades criativas do Criador. Não há dúvida que a "parada" estava alta e Adão evidenciava uma capacidade negociadora e uma temeridade perante o risco que somente encontraria paralelismo histórico com Afonso Henriques ao negociar a independência de Portugal com o Vaticano e o rei de Castela e Leão.

O Criador percebeu perfeitamente a natureza do desafio que lhe era colocado e, tentando recuperar algum do prestígio perdido, disse, "Não chega, preciso de algum osso, para dar consistência. Além de que não vai ficar um "produto" com a mesma qualidade do que me pediste". "Não faz mal, a gente cá se há de arranjar. Leve lá um costela e é o máximo que posso conceder", contemporizou Adão, pensando também que não poderia forçar demasiadamente “a barra” e o que quer que viesse sempre seria um ganho (desde que desse para “reinar”, é claro, que esse ponto era sagrado e absolutamente inegociável!). E assim se criou a Mulher (aqui o cronista concede em recorrer à maiúscula, pois estamos já a falar do concreto e não do simples projecto, ao mesmo tempo que lhe presta uma singela e justa homenagem).

E assim se dê a conhecer ao mundo!


Lisboa, Fevereiro de 2007

LC

Rui leprechaun disse...

De facto, não posso deixar de concordar com o Malaquias: é deveras incompreensível e mesmo caricata esta insistência num tema que não parece merecer assim tanto interesse por parte dos participantes e visitantes deste blog. Será essa apenas uma forma de fugir a outras questões bem mais difíceis e exigentes no debate ciência, filosofia e religião?!

Anyway... também me despertou logo a atenção essa frase citada pelo jlc. É que o tal "princípio da incerteza" ainda não está assim tão bem digerido quanto isso... E as suas consequências filosóficas ou metafísicas podem ser muito profundas, de tal forma que o paradigma do realismo materialista começa a estar seriamente em causa...

Hummm... um docente de Economia desmistificar algo que continua a ser objecto de muita controvérsia parece-me algo surpreendente, p'ra que digamos... A questão põe-se em saber qual a natureza da não-localidade dos objectos quânticos, uma vez que há interpretações deterministas e outras não-deterministas e esta diferença faz TODA a diferença!

Em que campo se situará o autor?! Alinha com Einstein e Bohm ou vai mais para Bohr e Heisenberg? Ou ainda, o que é que deitamos fora: a localidade ou o realismo?! Hummm... a escolha não é nada fácil, e deitar o precioso realismo físico pela borda fora parece mesmo uma heresia...

Ná! Eu preferia ler a "Fórmula de Deus", mas talvez consiga até ler ambos...

Rui leprechaun

(...e depois escrever-lhes ditirambos! :))

Anónimo disse...

Confesso que abordo estes livros panfletários e propagandísticos com muita prudência. Penso que tanto incorre em crendice estúpida e injustificável aquele que defende a não existência de Deus baseando-se em “prova” científica como o que defende a sua existência com base em “prova” de fé. E depois é ainda mais estúpido quando os primeiros querem demonstrar algo aos segundos, e conversamente. Acabam-se a fazer jogos irónicos, retóricos e panfletários que se me afiguram de pouca ou nenhuma utilidade, e com muito pouco ou nenhum sentido.

Não li ainda o livro e nem sei se irei ler. (E nem sei como é que esta gentinha consegue ler tanto e pensar pausada e reflectidamente sobre os problemas que lê) Não sei se valerá a pena ler um livro preconceituoso. Por outro lado, não costumo confiar em “críticas” literárias que vêm de partes interessadas que abraçam os mesmos ideários dos “criticados”. Por exemplo, acho este post parcial e panfletário. Também achei ridícula e extremamente parcial a reportagem na TV que dava conta do lançamento do livro. Falava-se do autor como se fosse um supra-sumo em assuntos teo-filosóficos. Não é e vê-se logo que confunde alhos com bogalhos. E assim se vê como os média constroem e incutem subliminarmente mensagens panfletárias que se vão entranhando na mente de quem ou não tem tempo para pensar esses assuntos ou não os pensa convenientemente. Fica certamente no “ar” a ideia de que o livro explica “toda a verdade” sobre Deus. O que o livro pode argumentar é que o deus criacionista é uma tolice de IDiotas. Mas daí a assumir-se que Deus não existe vai um salto de crendice estúpida, só comparável à IDiotia ou à astrologia.

Saudações cordiais

devoured elysium disse...

Independentemente do que se diga a respeito do principio de incerteza, a questão certamente frizada pela autora do post, é que o livro explica ao tipico português o que é o principio de incerteza. É que caso os iluminados que por aqui escrevem ainda não tenham reparado, o principio tem por nome algo *demasiado* sugestivo para alguém que não perceba nada de física, daí ser um ponto de fácil manipulação por parte de certas pessoas. Não interessa de forma alguma explicar a "subtileza, a profundidade física por trás, as implicações, a maravilha!", interessa dar uma ideia geral do que este principio mostra.

Jorge Branco

Anónimo disse...

Vamos ter na FNAC do Colombo na 2ª feira um economista, um padre e uma bióloga a discutir a existência de Deus. Hummm! Formidável! O Padre irá por certo defender a existência de Deus para continuar a ter comida e roupa lavada à conta dos fiéis e da crendice sem sentido num deus cristão completamente patético. A bióloga, que já percebemos ser pró-divindade, se a divindade for a Ciência, irá certamente defender a sua fé pessoal – no poder da ciência e no poder que lhe dá a ela para manipular mentes fracas. O economista, esse, não tem nada que saber. Como homem dos números e da ciência da distribuição dos recursos irá certamente defender uma divisão equitativa dos mesmos: fé para os amantes de Deus, sorte para a tarefa dos cientistas em desmistificar a fé em Deus, guardando para si o “arame” das vendas. Sim, que isto de desmistificar Deus tem que dar uns dinheiritos, ou então que desmistifiquem os outros. É o bem conhecido altruísmo religioso dos economistas a trabalhar.

Ataque ad hominem? Não! Que ideia! Ataque ad três hominem. Eles merecem, por serem mais papistas que o Papa e por não terem certamente competência e isenção para discutirem o que querem discutir.

Jorge Buescu disse...

Há uma grande desinformação em todas as afirmações que envolvam o termo "quântico". Na minha dupla qualidade de físico e de matemático (tenho artigos peer-reviewed em publicações internacionais de ambas as áreas) gostaria de aproveitar o comentário de jlc, que tem tem toda a razão, para desmistificar um mal-entendido frequente.

(1) o principio de incerteza, dito de Heisenberg, é uma mera aplicação de uma desigualdade clássica entre as variáveis tempo e frequencia caracteristca da Análise de Fourier. Está em qualquer livro de análise harmónica, para quem se der ao trabalho de procurar, e nada tem a ver especificamente com Mecânica Quântica, a não ser pelo facto de esta usar uma forma de Análise de Fourier (momentos e posições). A desaigualdade de Fourier, da qual a de Heisenberg é um caso particular, data de 1824. A desigualdade de Heisenberg data de 1926. Ambas têm a ver, exclusivamente, com a natureza ondulatória dos fenomenos.

(2) A dualidade onda-corpusculo nada tem a ver com isto. Foi verificado (por exemplo com a famosa experiemcia das duas fendas, magistralmente descrita por Feynman) que as particulas quanticas têm natureza dual: têm propriedades de ondas e têm propriedades de corpúsculos.

Entre as propriedades de ondas contam-se a desiguasdade de Fourier entre posição e frequencia, redescoberta neste contexto por Heisenberg um século depois, e que é comnhecida por princiupio de inceteza (ou indeterminação) de Heisenberg.

Entre as propriedades corpusculares contam-se por exemplo, quando conseguimos determinar por qual das fendas passa o electrão, ele produzir um flash pontual no écran. Como uma bala qua acerta num alvo.

Caro jlc, não é necessário invocar Bohr e "The Quantum Postulate and the Recent Development of Atomic Theory" para ver que quem liga a incerteza de Heisenberg ao dualismo onda-corpúsculo não sabe do que está a falar. Pode ter lido Chopra, mas não passou do 1º semestre de Física.

Anónimo disse...

Desmistificar os princípios de uma organização como a igreja católica que tantos constrangimentos criou e continua a criar à divulgação do conhecimento é um propósito de grande interesse e actualidade que para se justificar não necessita de recorrer a exemplos como a hipnose colectiva de Fátima ou de ter a noção de como a igreja continua a formatar o dia a dia de centenas de comunidades por este país.
Comparar esta realidade com o impacto de crendices, curandeiros ou astrólogos só pode ser por distracção.

"Com o mal dos outros posso eu bem" é um sentimento que nunca me deixou muito descansado e a História da Humanidade está pejada de exemplos de fantasmas que julgávamos não existirem ou estarem definitivamente mortos e que inesperada e repentinamente renascem do nada ou das suas cinzas.
Artur Figueiredo

Anónimo disse...

Caro Buesco: Bem haja por ter-se esforçado, bem mais do que eu, no sentido de clarificar essa tão vulgar confusão entre dualidade e relações de incerteza. Eu pouco mais mostrei do que a minha irritação por ver aqui - neste blog- um erro científico tão gritante. Erro esse que, não sendo o primeiro, aparece, ainda por cima, transvestido como se de grande momento de clarividência intelectual se tratasse.
Não deixo, no entanto, de indicar o artigo de Bohr como essencial para um "bom" entendimento desta questão. É um artigo chave. Um artigo de leitura obrigatória para quem quer realmente levantar a ponta do véu, e ficar com uma ideia clara sobre a diferença entre complementariedade, dualidade e relações de incerteza. Diferenças essas que, tantas e tantas vezes, são completamente esquecidas, e, por essa via, multiplicam a ignorância que tanto rodeia a Quântica.

Anónimo disse...

man, nunca percebi esta coisa de algumas pessoas em armarem-se ao pingarelho. Diz o Buescu: o dualismo onda corpúsculo não tem nada a ver com o principio da incerteza; o principio da incerteza é uma propriedade das ondas, tem a ver exclusivamente, com a natureza ondulatória! Ainda quero saber o que esta mente brilhante pensa que é o dualismo! Pensava eu na minha ingenuidade que queria dizer que o electrão é um corpo, com as propriedades dos corpos, mas é também uma onda, com as propriedades das ondas.

Não percebo o que se passa com o homem. Está a dar uma de Arroja, primeiro com o aquecimento global agora com esta?

Lendo o que o American Institute of Physics tem a dizer sobre as origens do principiuo de Heisenberg:

The origins of uncertainty entail almost as much personality as they do physics. Heisenberg's route to uncertainty lies in a debate that began in early 1926 between Heisenberg and his closest colleagues on the one hand, who espoused the "matrix" form of quantum mechanics, and Erwin Schrödinger and his colleagues on the other, who espoused the new "wave mechanics."

In May 1926 Schrödinger published a proof that matrix and wave mechanics gave equivalent results: mathematically they were the same theory. He also argued for the superiority of wave mechanics over matrix mechanics. This provoked an angry reaction, especially from Heisenberg, who insisted on the existence of discontinuous quantum jumps rather than a theory based on continuous waves.

After Schrödinger showed the equivalence of the matrix and wave versions of quantum mechanics, and Born presented a statistical interpretation of the wave function, Jordan in Göttingen and Paul Dirac in Cambridge, England, created unified equations known as "transformation theory." These formed the basis of what is now regarded as quantum mechanics. The task then became a search for the physical meaning of these equations in actual situations showing the nature of physical objects in terms of waves or particles, or both

Daí surge o principio da incerteza de Heisenberg, do dualismo onda-corpúsculo do electrão. Explicado com uma experiência pensada sobre um microscópio de raios gama,

Mas o pessoal do American Institute of Physics, como já acontece com todo o pessoal do aquecimento global, está enganado e o Buescu é que tem razão...

no name disse...

jb, jlc e jp: esqueçam a "dualidade onda-partícula", isso faz parte da mecânica quântica do princípio do século passado, não da mecânica quântica deste século. a forma actual de pensar na questão é a seguinte: apenas existe a função de onda que, tal como o nome indica, descreve uma onda. não existem partículas e não devemos pensar num electrão, por exemplo, como uma. quando "observamos" uma "partícula" numa dada experiência (como no caso da experiência das duas fendas em que tentamos observar por qual das fendas a "partícula" passou), tudo o que temos é um clicar do nosso despositivo de medida que---à luz da decoerência---deve ser interpretado como a decoerência da função de onda por interacção com o aparelho de medida. assim, o conceito de uma "partícula" é um conceito puramente clássico, não um conceito quântico. devemos ver as "partículas" como consequência directa da decoerência, sendo que quânticamente tudo o que existe são funções de onda.

Anónimo disse...

Ricardo,

Favor explicar fenómenos ópticos de refracção, dispersão e reflexão.
E efeito Doppler.
Muchas Gracias.

Bruce Lóse

Unknown disse...

Eu sempre pensai que o princípio da incerteza se aplicava a partículas quânticas e que o que distibgue uma partícula quântica de uma clássica é o dualismo onda-corpúsculo.

Fico baralhada porque li não me lembro onde que foi detectado comportamento quântico em moléculas. Então essas moléculas também não existem, são só funções de onda?

Anónimo disse...

A arrogância desta criatura que se apresenta como "Na minha dupla qualidade de físico e de matemático (tenho artigos peer-reviewed em publicações internacionais de ambas as áreas)" explica o estado das Universidades nacionais e explica a iliteracia científica da população.

Arrogante e completamente errado como já alguém disse. O que também é característica das sumidades universitárias nacionais.

Um bocadinho de humildade e menos recurso a argumentos de autoridade balofa ficavam muito bem ao Buescu. Assim como estudar um bocadinho de física quântica, sumariamente a descrição do comportamento ondulatório de partículas "quânticas". Partículas que exibem dualidade onda-corpúsculo: tirando os físicos de partículas o que o Ricardo diz é acolhido com muito cepticismo.

Ninguém sabe o que é o electrão; o que se sabe é que o descrevemos bem à luz da dualidade onda-corpúsculo.
A ontologia de Fourier da interpretação de Copenhaga tem sido contestada pela moderna versão causal local e não-linear da física quântica, possível por análise de onduletas (wavelets)

Anónimo disse...

O comentário feito aqui pelo Jorge Buescu é muito infeliz. É exactamente aquilo que não devia existir num blog deste tipo. Uma pessoa que diz que tem autoridade na "dupla-qualidade de físico e matemático" e por ter artigos publicados nas duas áreas? Que raio quer isso dizer? A bondade de uma intervenção é medida pelos argumentos apresentados, e não pela "categoria", ou número de medalhas, de quem a faz. E insinuar que alguns não passaram do "1º semestre de física", não é bonito e não fica bem num blog deste tipo. Um cientista, e divulgador, deveria comentar, mostrar o seu ponto de vista, ou então estar calado. Agora, vir aqui mostrar as medalhas é provinciano: bem ao estilo Português.

... e quando no fim, aquilo que diz está errado, ainda mais triste é. Eu podia argumentar, e mostrar pq razão não tem razão, mas a intervenções como a do Buescu não se responde. Por princípio, ignora-se.

no name disse...

bruce: esses fenómenos são todos explicados pela função de onda (são fenómenos ondulatórios).

rita: não existem "partículas quânticas", a ideia de partícula é uma ideia clássica. o que fala de comportamentos quânticos em moléculas diz provavelmente respeito a entanglement molecular onde, de facto, o fenómeno é inteiramente descrito via funções de onda (a decoerência "mataria" esses efeitos).

anónimo: não existe cepticismo nenhum em relação à decoerência. é um fenómeno medido experimentalmente. acho que deve refrescar as suas fontes de informação, ou pelo menos fazer a sua actualização.

Anónimo disse...

Ricardo,

De acordo. E o que tem a função de onda a ver com a absorção atómica, quantum energético e libertação de fotão?
(por favor não me responda a mim, mas à Plamira)

Bruce

Anónimo disse...

Palmira, desculpem

Anónimo disse...

Ricardo:

Não estava a falar de cepticismo em relação à decoerência. Mas a transição entre a descrição quântica e clássica está longe de ser um problema resolvido. Claro que os sistemas estudados não são, em geral, isolados. A interacção entre esses sistemas e o ambiente tem como efeito a destruição das características quânticas classicamente ausentes de vários fenómenos.

Decoerência é um fenómeno em que o ambiente reduz uma superposição pura de estados quânticos a uma mistura estatística de estados.

Anónimo disse...

A questão resume-se a qual é a “essência” da Física Quântica? Quais são os princípios gerais que caracterizam esta teoria? Não há uma resposta única, depende do campo em que trabalha quem responde.

O nome “quântico” sugere que o essencial são os quantas ou “pacotes de energia” mas muitos dizem que o essencial é a incerteza, outros o carácter probabilistico, outros que o observador tem um papel fundamental que não pode ser desprezado.

Para mim “dualidade onda-partícula”, é a essência da Física Quântica. E não há Teoria de Cordas nem espaço-tempo anti-de Sitter (que permite ter uma Teoria de Cordas consistente em qualquer dimensão, não apenas na dimensão crítica), que me convençam do contrário

Anónimo disse...

«anacronismo obscurantista com que o fanatismo de uma minoria ameaça os alicerces da nossa civilização»

A táctica mais comum utilizada pelos fanáticos é o medo.

Anónimo disse...

Pelos vistos é mesmo verdade que os evolucionistas deixaram de poder contar com os Neandertais e com a Lucy como evidências das evolução do ser humano.

Os primeiros são homens, ao passo que a segunda é uma macaca. Ou seja, uns e outra passaram-se para a equipa criacionista.

O evolucionismo parece estar com dificuldades de gestão do plantel pelo menos tão graves quanto as do Engenheiro Fernando Santos.

Seria bom que o autor do livro, em vez de perder o seu tempo inutilmente a satirizar os criacionistas (como se eles se preocupassem minimamente com isso), desse algumas sugestões sobre eventuais novas contratações para o plantel evolucionista.

É que, nos confrontos que se avizinham, não convém nada jogar sem dois defesas. Se insistirem em jogar com eles, os evolucionistas correm o risco de marcar golos na própria baliza.

David Cameira disse...

Antonio Parente,

" Seria muito mais interessante assistir a um debate Jónatas Machado/Palmira Silva "
Mas eles isso nunca hao-de propor para que não se de o caso de perderem..
Entao nao viu o q eles fizeram no outro debate q nem o deixaram falar e a atitude de pides fascizoides q eels tiveram qd lhe censuraram 1 artigo no jornal on- line " Ciencia Hoje " ?

" Um bocadinho de humildade e menos recurso a argumentos de autoridade balofa ficavam muito bem 2 aos nossos intelectuais e cientistas mas eles fazem pior figura que as concorrente do programa " A bela e o MESTRE "

E a Profª Clara Pinto Correia pode provar o q eu estou a dizer pq já foi jurada deste programa

" Um cientista, e divulgador, deveria comentar, mostrar o seu ponto de vista, ou então estar calado. Agora, vir aqui mostrar as medalhas é provinciano: bem ao estilo Português. "

Mas entao n é isso q eles andam a fazer nas aulas de biologia, na escola pública, em q impoem o evolucionismo darwinista como se fosse o q NA VERDADE NÃO É

Impingen-nos pseudo-ciencia e eles e q são os sabichoes , ões, ões

Pois, mas se calhar ate e mm verdade " o mundo é dos espertos "

CARTA A UM JOVEM DECENTE

Face ao que diz ser a «normalização da indecência», a jornalista Mafalda Anjos publicou um livro com o título: Carta a um jovem decente .  N...