quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
EVENTO E PESSOA DO ANO
A rádio TSF solicitou-me há dias que indicasse o evento nacional do ano assim como a pessoa, português ou portuguesa, do ano.
Para acontecimento nacional escolhi um que é também internacional: a assinatura do Tratado de Lisboa. Porquê? A União Europeia, depois do impasse a que conduziram as recusas do Tratado Constitucional na França e na Holanda, era mais uma desunião do que união. Na presidência alemã e também na portuguesa conseguiu-se, no meio de dificuldades várias, aquela plataforma mínima de entendimento. Não se vislumbra outra alternativa à Europa que não seja a consolidação da união tal como foi recentemente assinada em Lisboa. Para Portugal, então, não há mesmo alternativa nenhuma à União Europeia (na hipótese improvável de o governo querer referendar o Tratado de Lisboa, a pergunta deveria ser: “Concorda com a integração de Portugal na União Europeia ou pretende que o país saia da União?”). Já há uma Europa da economia e já há uma Europa da ciência. Pode e deve, com o novo tratado, haver mais e melhor Europa, da qual somos parte. A presidência portuguesa esteve hipervalorizada entre nós por uma formidável máquina de propaganda: por exemplo, as duas conclusões principais da cimeira Europa-Rússia eram o envio de uma missão europeia às eleições russas e a criação de um instituto de defesa dos direitos humanos, mas a missão não se concretizou e o instituto – que afinal era russo e a criar em Bruxelas! – está por se concretizar. Mas teve um final feliz com a cerimónia no Claustro dos Jerónimos e, passados poucos dias, com o alargamento da área de Shengen. Eu que, como muita gente, conheci muitas fronteiras fechadas a sete chaves por essa Europa fora não podia estar mais contente...
Para pessoa do ano escolhi Mónica Bettencourt Dias (na foto), a jovem cientista que investiga no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, problemas de divisão celular e que, depois de ter regressado do estrangeiro, viu este ano não só mais trabalhos publicados nas melhores revistas (depois da “Nature” foi a “Science” e a “Current Biology”) como também a distinção pública do seu trabalho através de vários prémios. Ela representa uma geração de jovens cientistas que estão a provar que em Portugal se pode fazer ciência de elevada qualidade. Não contente com o êxito da sua investigação, a Mónica tem também tido êxito no trabalho que tem empreendido de comunicação da ciência mostrando que se pode hoje, entre nós, não só fazer ciência de topo como ao mesmo tempo comunicá-la a não especialistas. O facto de ser mulher não será por acaso: Portugal é dos países do mundo com maior taxa de participação feminina em tarefas de investigação científica (nalguma coisa tínhamos de ser invejados!). O tema dos trabalhos premiados – estudo do centrossoma, o controlador da divisão celular – poderá tem implicações práticas: ele integra-se no combate em larga escala que a ciência biomédica está hoje a travar com esse problema sério da humanidade que é a doença cancerígena. A aposta na ciência pode ser uma questão de vida ou de morte, no caso do cancro de triunfo da vida perante a ameaça da morte.
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6 comentários:
"A União Europeia, depois do impasse a que conduziram as recusas do Tratado Constitucional na França e na Alemanha,..." O tratado foi recusado na Alemanha? De que forma?....ou terá sido Holanda?
E a atitude costumeira e típica portuguesa de desculpabilizar o erro crasso apenas infirma aquilo que se critica nos outros....a pseudociência....neste caso é pseudopolítica...
Sobe balão sobe....
Boa tarde, as nossas desculpas pelo comentário neste post, mas não queríamos deixar de dar conta que tomámos a liberdade de citar o artigo de Desidério Murcho sobre o acordo ortográfico.
cumprimentos,
paulo ferreira
(http://www.blogtailors.blogspot.com/)
Já emendei: é Holanda em vez da Alemanha, claro.
Carlos Fiolhais
Afinal o Carlos Fiolhais sempre responde a anónimos. A não ser que conheça alguém que se chame "O balão enche de imaginação".
Ah! As mentiras
Sobre a cimeira tenho as minhas duvidas achei a coisa muito pomposa e muita superficial pareceu-me muita pompa e circunstancia e pouca coisa prática mas espero que aquilo tenha servido para alguma coisa e que de uma vez por todas a europa se assuma como uma só voz, economia e bloco politico para contrabalançar os estados unidos e a china e agora tambem a russia.
Sobre a Mónica e a ciencia so posso dar os meus parabens, finalmente os portugueses e o governo começam a perceber a importancia da ciencia e que um país onde a ciencia progredia é mais desenvolvido onde não há ciencia, comparando com 1990 estamos bem melhor, não chega mas vamos no bom caminho agora temos que reformar o nosso sistema de ensino para podermos criar e descobrir mais cientistas portugueses.
O facto de ser mulher não é nada insignificante e basta pensar que actualmente 70% dos estudantes do ensino superior são mulheres, só esse facto vai levar a uma revolução social daqui a uma decada.
Em Portugal é possível fazer-se ciência! Não podemos é desistir...
Andrea M.
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