quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A filosofia não gera dinheiro?


Um amável leitor do post “Para Que Serve a Filosofia?” avançou com uma interessante objecção aos exemplos dados de “actividades que não servem para nada”, como o futebol ou os jogos de vídeo: ao passo que estas actividades, apesar de “não servirem para nada” geram muito dinheiro, a filosofia não gera dinheiro. E, “sem haver dinheiro envolvido”, avança o leitor, “as pessoas vão continuar a dizer que a filosofia não serve para nada”.

Esta objecção é importante porque trai uma ilusão muito comum: a de que a filosofia, assim como outras actividades culturais, não geram dinheiro. As pessoas que o dizem falam em geral por conhecerem apenas a realidade nacional, em que, por razões diversas (já lá iremos), actividades como a filosofia realmente não geram riqueza. Mas isto não acontece noutros países.

Quem conhece a actividade editorial inglesa, no domínio da filosofia, não pode afirmar que a filosofia não gera dinheiro. Gera, e muito. Claro, não gera tanto dinheiro quanto a música comercial ou o futebol. Também a venda de guardanapos de papel não gera tanto dinheiro quanto o futebol. Mas gera dinheiro suficiente para se publicar centenas de livros todos os anos, alguns muitíssimo caros, que se não fossem comprados e se não dessem lucro aos editores, deixariam de ser publicados.

Vejamos alguns exemplos: o caso das obras de consulta, que são as obras mais caras. Em 1998, a Routledge publicou a sua enciclopédia de filosofia, sob a direcção de Edward Craig (Universidade de Cambridge). Com dois mil artigos originais de mil e trezentos autores de vários países do mundo, é um feito editorial impressionante. Entretanto, foi editada também em CD-ROM e está disponível na Internet, sob subscrição, sendo constantemente actualizada. O que impressiona ao ler os artigos desta enciclopédia é o facto de serem claros, directos, despretensiosos e muitíssimo informativos e didácticos. Não encontramos nela os tiques típicos de culturas atrasadas — pretensiosismo, opacidade da linguagem, incapacidade para articular ideias com precisão, ademanes falsamente académicos a fingir erudição.

A esta obra gigantesca acrescentam-se centenas de outras obras de consulta. A Blackwell, de Oxford, publica desde 1992 a extraordinária colecção "Blackwell Companions to Philosophy". Contando neste momento com quase trinta volumes, a colecção começou recentemente a alargar a sua área de actuação. Incidindo inicialmente sobre as disciplinas fundamentais da filosofia (metafísica, epistemologia, ética, estética, filosofia da religião, filosofia da ciência, filosofia da linguagem, etc.), publica-se agora nesta colecção volumes sobre filósofos individuais, como Kant e Hume, e também sobre períodos específicos da história da filosofia, como a filosofia antiga. Os volumes são de formato alargado e têm cerca de 500 páginas. Apresentam um conjunto vasto de artigos, de diferentes especialistas, sobre o tema em causa. Um mimo.

Na área da história da filosofia, a Cambridge University Press publica, também desde 1992, a colecção "Cambridge Companions to Philosophy", que conta já com mais de cinquenta títulos. De formato mais reduzido, com cerca de 300 páginas, são obras dedicadas a vários filósofos de renome, como Platão, Hume, Kant, Carnap, Heidegger, etc. Recentemente, esta colecção começou também a dedicar volumes a certas áreas e períodos da filosofia, como a filosofia da biologia e o idealismo alemão.

Estes são apenas três exemplos entre inúmeros outros. Não há razões para pensar que a filosofia é, no Reino Unido, uma área editorial mais exuberante do que as outras. Imagine-se, pois, a diferença que faria para os estudantes e para o grande público se Portugal tivesse um décimo apenas desta capacidade de produção cognitiva — afinal, temos um sexto da população britânica. É impossível defender seriamente o ensino de qualidade e o desenvolvimento da cultura nacional sem promover este tipo de actividade cognitiva e editorial.

Mas não é só através dos livros que a filosofia gera dinheiro. Gera também imenso dinheiro nas universidades, em que as licenciaturas, mestrados e doutoramentos são caros e muito procurados. Em Londres (para dar um exemplo que conheço bem), temos estudantes que vêm de longe, de outros continentes, para fazer um mestrado ou um doutoramento, pagando caro para isso, além de todas as despesas envolvidas em viajar para um país estrangeiro e viver nele quatro anos.

Por outro lado, mesmo em Portugal, um dos sectores que gera mais riqueza é o sector cultural — venda de livros, música, cinema, revistas, jornais, espectáculos, etc. — o que inclui o futebol. A ideia de que “cultura” é sinónimo de “pobreza + subsídio do estado” é infelizmente comum, e aplica-se em muitos casos, mas é falsa.

Contudo, é verdade que em Portugal, como no Brasil, há uma incapacidade gritante da parte dos académicos de filosofia para gerar riqueza, nomeadamente através de livros. Penso que isto resulta em grande parte de duas coisas. Em primeiro lugar, da cultura aristocrática que herdámos, segundo a qual a filosofia é uma coisa para gente rica, que não vai “sujar as mãos” a ganhar dinheiro com coisa tão nobre. Em segundo lugar, a publicação para o umbigo, para fazer currículo académico, descurando as necessidades dos estudantes e do grande público. O efeito terrível disto é a ideia que tem o nosso leitor: que a filosofia não gera riqueza.

Mas isto é falso. A filosofia gera riqueza exactamente como outras actividades culturais geram riqueza: quando é bem feita, atrai compradores, ou seja, estudantes dispostos a pagar licenciaturas, mestrados e doutoramentos, e leitores que compram milhares de livros de filosofia todos os anos.

O que precisamos no nosso país é de abandonar a mentalidade aristocrática e ensimesmada que faz da filosofia (e de outras actividades potencialmente geradoras de riqueza) uma actividade economicamente inviável. Temos de deixar de ser os pedintes do costume, refugiados em fotocópias ilegais de livros, publicações que não se vendem porque não são adequadas para o público que temos e cursos universitários que não atraem estudantes porque não têm qualidade. Num país como Portugal, em que a filosofia é obrigatória no ensino secundário, ao contrário do Reino Unido, como é possível que a filosofia não gere a riqueza que gera naquele país?

64 comentários:

Anónimo disse...

É um pouco triste justificar que a filosofia só gera dinheiro de si para si (livros de filosofia, cursos de filosofia, comida para filósofos, bebida para filósofos). Tenho uma pergunta directa e acho que seria a esta que deveria dar resposta: a que aproveita, ao homem "comum", a filosofia? Não acredito que isto seja uma história da cobra a morder a cauda...

(Por exemplo, não sei se ouvi ou li, mas algures creio ter-me passado pelos olhos que ultimamente há empresas a contratar filósofos para os seus quadros superiores)

Ciência Ao Natural disse...

As "provocações" de Kyriu são estimulantes.
Também já eu me debati com perguntas parecidas, mas em relação à Paleontologia.
Anos atrás colhia dados numa plataforma rochosa junto ao mar. Um pescador intrigado abordou-me e perguntou-me que fazia eu, ali e sem cana de pesca (presumo).
Em resposta à minha explicação contou-me que já tinha tentado dissuadir a filha de ir para "arqueologia" (!!) porque "isso não dá dinheiro a ninguém!.
Em relação à questão da utilidade monetária de determinada actividade publiquei "Para quê estudar Dinossáurios e outros fósseis que tais?"

Cumprimentos e aguardo a "discussão" que aí deve vir sobre utilidade vs dinheiro.

Luís Azevedo Rodrigues

Anónimo disse...

Se me permitem, não posso deixar de concordar em parte com o (a)Kyriu. A filosfia gera dinheiro e não deve ser só a vender livros. A mátéria que mais gostei de estudar no secundário foi a argumentação e, apesar de jovem, cada vez tomo mais consciência da sua importância no dia-a-dia. Por outro lado, por essas caixas de comentário, alerta-se constantemente para o carácter fundamental da filosofia em Física e outras áreas do conhecimento, de onde se conclui que todo o cêntimo resultante da colocação da ciência ao servinço da produção da riqueza "pertence" também à filosofia. Nâo tenho certamente metade da sabedoria dos que têem a oportunidade de aqui escrever, mas é pelo menos isto que vou percebendo do que vejo e leio por aí.

Anónimo disse...

Fazer a conexão entre utilidade e geração de dinheiro é, de todo, infeliz. Se embarcarmos nessa visao então as ciências esotéricas/ocultas ou a prostituição seriam muito mais úteis do que as ciências fundamentais (física pura, matemática não aplicada, etc) ou a Filosofia.

Por outro lado, tudo na vida pode ser gerador de dinheiro. Há quem o ganhe a desentupir fossas ou a masturbar elefantes. Possivelmente ganham mais, inclusive, que muitos filosófos.

É redutor julgar a utilidade de algo com o dinheiro que lhe está associado.

Desidério Murcho disse...

Caros leitores

Obrigado pelos vossos comentários.

O meu post não sugere que a filosofia só tem valor se gerar dinheiro; mas não aceito a ideia aristocrática de que a filosofia não pode ser economicamente viável, a ideia de que tem de ser uma coutada de ricos ou de subsídio-dependentes. A filosofia, nos países mais desenvolvidos, é economicamente viável — tanto que um dos melhores departamentos de filosofia do mundo está numa universidade privada norte-americana, NYU.

Falar da viabilidade económica da filosofia é falar dos produtos que os filósofos produzem, enquanto filósofos, que podem ser vendidos. Não faz sentido misturar isso com as competências transversais que os estudantes de filosofia adquirem nas suas licenciaturas ou doutoramentos e que depois poderão aplicar ao trabalhar em empresas. Analogamente, quando falamos da viabilidade económica do futebol não falamos do facto de os futebolistas ricos terem tendência para abrir lojas de roupa, pois não são as suas lojas de roupa que tornam o futebol economicamente viável, mas antes o facto de tantos milhões de pessoas gostarem tanto de futebol.

Carlos, pode ser muito redutor julgar a utilidade de algo com o dinheiro que lhe está associado, mas se uma dada actividade não for economicamente viável, só poderá ser uma coutada de aristocratas ou de subsídio-dependentes.

Anónimo disse...

Mais uma vez se confirma que os portugueses podem perceber pouco de filosofia, mas de economia não percebem mesmo nada :)

guida martins

Anónimo disse...

Mais do que falar da importância económica que a exuberência editorial inglesa de livros de filosofia implica, sublinharia o significado que me parece mais óbvio da mesma: se se publica é porque há leitores e não me parece que os leitores se limitem aos professores e aos alunos de filosofia.
Assim, e aos exemplos dados pelos Desidério, acrescentaria a publicação pelas grandes casas editorias inglesas dos textos de todos os filósofos conhecidos, desde os clássicos aos contemporâneos, desde os de tradição inglesa (Locke, Hume...) aos da filosofia dita continental (Descartes, Kant, Derrida, Habermas...), só para citar um reduzido número de exemplos, e que ocupam largos metros de estante em qualquer livraria, mesmo das que parecem ter um escopo muito comercial.
Assim, direi que a filosofia terá certamente utilidade, embora não económica, para quem a procura, e que pode ser, entre outras, a utilidade do prazer de pensar sobre múltiplos problemas que se colocam à mente humana.
Maria Rodrigues

JOPP disse...

À falta de melhores argumentos para justificar a importância da filosofia, de facto porque não o dinheiro e a «importância económica» desta disciplina? Não é esse o único argumento disponível hoje em dia? Vejam-se por exemplo as «Crónicas do Outro Mundo» que o Público tem vindo a apresentar em blog quotidiano: em mais de 80% dos casos, o escriba não encontra melhor modo de enaltecer o Second Life do que reiterando o valor deste como «local de negócios».
Estamos assim, uma vez mais, perante a incessante repetição do mesmo - muito embora o tom vá variando, consoante o emissor se diga «economista», «politólogo» ou, como neste caso, «filósofo».
E, também uma vez mais, perante nova reincarnação daquilo que Gilles Deleuze já denunciara há mais de duas décadas: a Filosofia enquanto «formidável escola de intimidação que fabrica especialistas do pensamento, mas que faz também com que aqueles que ficam fora dela se conformem tanto melhor a essa especialidade que ridicularizam» e que se constituiu historicamente como um modo de impedir as pessoas de pensarem(in «Dialogues»).
De facto, para quê substituir «o Paris» queirosiano do século XIX pela Londres cosmopolita do séc. XXI, se o modelo de raciocínio permanece o mesmo?
E que dizer do exemplo da vitalidade editorial britânica, quando sabemos bem que boa parte dessa produção se escoa num circuito internacional, do qual as nossas editoras estão antecipadamente afastadas por publicarem em português e não no esperanto do comércio mundial? Quem lê tais livros, senão os estudantes de filosofia? Quantos são os estudantes de filosofia em todo o mundo que lêem em inglês? Quantos lêem em português?
Por fim, a afirmação de que Portugal é um país «em que a filosofia é obrigatória no ensino secundário» esquece, propositadamente ou não, o claro desinvestimento nesta área a que se tem vindo a assistir ultimamente - e que no último ano motivou tomadas de posição públicas por parte de diversos filósofos portugueses, em diversos locais e ocasiões - e as cíclicas tentativas de erradicar por completo a Filosofia dos currículos e da aprendizagem.
Provavelmente, para a substituir por cursos de gestão. Ou, quem sabe, de edição.

Anónimo disse...

Com o meu comentário queria tão somente ter dito que não era bom argumento defender a filosofia com o volume (de negócio) gerado apenas para consumo dos interessados nela. Isto tendo uma ideia que o seu ensino/uso se encontra justificado exactamente pelos seus efeitos colaterais. Ora, dar melhor ferramentas ao pensamento não é aumentar o braço da alavanca que usamos para usar o mundo? Acho que essa é que deve ser a linha que defende a filosofia e não o argumento do volume editorial sobre a área (embora onde há fumo, há fogo). E vivam os efeitos colaterais!

Brumo Gomas disse...

empregado de mesa
professora de filosofia
webdesigner
empregada de call-center
desempregada
administrativo na PJ
empregado de livraria
arquivista
gerente em loja de roupa
músico
empregada de livraria
desempregado-mestrando
delegado comercial em editora

O que é comum a todos estes casos?
todas as pessoas que exercem estas actividades são licenciadas em filosofia pela UNL.
Parte delas tem habilitações pedagógicas e deu aulas. Outros seguiram o mestrado.
Todavia, o aspecto comum que se pretende salientar é o seguinte: todas tiverem de ir gerar riqueza para lugares muito distantes da filosofia!
Isto não significa que a filosofia não produza riqueza. Isto não signifca que não haja casos em que a filosofia gere riqueza mantendo, ainda assim, os seus propósitos.
Isto também não significa que a filosofia tenha de produzir riqueza para fazer sentido.
Significa somente que a sociedade actual, de um modo transversal
[escolas, pais,
universidades, investigadores, professores - estão mais interessados em manter o seu estatuto do que em ensinar; empresas e empresários - sim, em França, pessoas formadas em filosofia são destacadas para lugares de gestão;
editoras, leitores, a 'cultura';
e o público em geral],
está absolutamente 'nas tintas' para o indiscutível contributo da filosofia.
Porque o que é VALORIZADO por uma sociedade CAPITALISTA, a filosofia de facto não gera.
Mas isso é outra (longa) história.

Anónimo disse...

A mim faz-me um bocado de confusão ouvir perguntar se uma coisa gera valor quando ela própria é valor.

É como o economista que pergunta para que serve a cultura e não compreende que a pergunta vai em contramão.

A cultura não tem que servir para nada, é um fim em si mesma. A economia é que tem que servir, entre outras coisas, para gerar cultura.

A Filosofia gera dinheiro? E o dinheiro - gera Filosofia?

Desidério Murcho disse...

Caros leitores

Obrigado uma vez mais. Peço desculpa, mas acho que há muita hipocrisia em algumas coisas que se pensam e dizem. Ah e tal e o camandro, a filosofia é o máximo, não tem nada de gerar dinheiro.

Pois, mas então como pode um filósofo viver? Alguém está disposto a comprar-me uma casa, dar-me de comer, dar-me dinheiro para livros e para comprar corta-unhas? É muito bonito cantar hinos ao valor superlativo da filosofia, mas algo hipócrita quando não estamos nada dispostos a arcar com as despesas da filosofia. Desculpe lá, Sarmento, mas é o que penso.

Quanto a essa história do Brumo, até parece que não leu o post. É precisamente nas sociedades CAPITALISTAS (eu também sei gritar) que os filósofos encontram maior aceitação da sociedade. Vá lá para uma tribo africana comunitária tentar ser filósofo, ou para um país comunista, que logo vê como lhe malham.

Desidério Murcho disse...

Kiriu: eu concordo que a filosofia tem valor para as pessoas que não pertencem ao mundo da filosofia porque, em parte, pode dar a essas pessoas instrumentos críticos e argumentativos fundamentais.

Mas a questão permanece, Kiriu: se a filosofia for realmente útil para elas nesse sentido, então elas têm de estar dispostas a pagar por isso -- quer pagando cursos quer comprando livros. Sejamos honestos: como disse no comentário que fiz acima, não podemos cair na hipocrisia de cantar hinos à filosofia e depois... em nada contribuir para financiar quem a faz.

Daniel disse...

Caro Desidério,

Penso que seria importante lembrar que no Brasil há uma série de problemas que contribuem para que a filosofia não seja 'consumida'. O nível educacional é baixíssimo, 70% da população brasileira é composta por analfabetos funcionais segundo pesquisa recente. Os livros são caríssimos, as pessoas desconhecem quase completamente os sebos, além de um grande número de pessoas estar nas classes média baixa e baixa, descente para situações ridículas de miséria. Além disso há todo o elitismo por parte dos professores universitários. Ora, se não se responsabilizam nem pelos alunos da academia, nem com os futuros licenciados, que dirá se produzir textos para o grande público.

Vários segmentos no Brasil dizem que não há público para certas manifestações culturais. Então não se pode colocar transmitir mini-séries na televisão aberta que sejam baseadas em algum autor importante da literatura nacional, pois isso seria pedir pelo fracasso da audiência (como de fato ocorreu há pouquíssimo tempo atrás), ou então não se pode escrever com linguagem "inacessível" nos jornais, muito menos aprofundar mais matérias, reportagens, pois do contrário ninguém acompanhará (dos poucos que lêem jornal e revistas, esses poucos não acompanhariam).

Então por aqui ficamos aguardando as pessoas de repente receberem um clarão dos céus e que então começarão a se interessar por artes, literatura, filosofia, ciências, etc. Até lá vamos continuar vendo nossas novelas tão famosas, assistindo ao futebol, e etc. Parece que tentar popularizar a cultura se tornou querer "impor" a cultura erudita sobre as massas ignorantes e não valorizar o que há de rico nelas. Esse é um bom discurso para deixar tudo como está. Ora, se não há mais diferença entre uma novela e uma peça de teatro clássica, então, adeus Shakespeare.

Cordialmente,

Daniel Brisolara

Daniel disse...

Desculpem os erros de escrita.

Só complementando:

Quando me referi ao fato dos professores não se responsabilizar nem pelos licencidos, quis dizer que da parte dos professores não há uma preocupação no sentido de sentir-se responsável pelos alunos que formam, se estão formando profissionais de qualidade ou não. Os cursos de filosofia nas academias não se preocupam com isso institucionalmente falando. Talvez um ou outro professor se preocupe individualmente com a questão.

Então cada um que se forme como for e depois dê suas aulas da maneira que achar melhor. E aí vemos no ensino médio muita coisa sendo dada, mas filosofia de fato só raramente. Basta ver os manuais que temos disponíveis. O marxismo no ensino médio brasileiro ainda está em alta. Engraçado, pois na universidade praticamente não vi Marx, agora quando vejo os livros didáticos preparados para o ensino de filosofia noto uma forte tendência marxista em grande parte deles. Uma pena.

Anónimo disse...

A actividade filosófica portuguesa requer popularidade; pretende ser reconhecida e gerar auto subsistência; apela à consideração da sociedade a sua independência; necessita de alargamento a nível cultural. Considero que a sua mais valia seja: ajudar a pensar e a tomar decisões (empresas); acompanhar o desenvolvimento pessoal (gabinetes de atendimento); análise e crítica cultural (opinion makers); fomentar ideias e soluções (criativos); ensinar e transmitir a vida boa (professor/educador); construir ideias e novos conceitos (arte e cultura). Enfim uma série de coisas entre as quais é preciso combater o comodismo e lançar a Moda! Talvez um dia ganhemos coragem para isso mas antes é preciso perder a vergonha, os preconceitos e complexos de sermos portugueses..

MARIA

Bruce Lóse disse...

Caros escreventes,

Ora aí está a demonstração do que tenho procurado bradar com o meu pobre falsete. A questão não é a de saber "para que serve a filosofia" (à qual o Dério procura ciclicamente responder sem que, aliás, ninguém lhe pergunte), mas saber "para que serve um filósofo". Aqui sim temos o barco nas rochas. A proximidade siamesa da filosofia com o pensamento crítico, com a lógica e com a argumentação não fazem dela um caldinho primordial, exclusivo, do qual emanam, após doutoramento, os funcionários da verdade em roda livre. Seja qual for a utilidade da filosofia-fábrica-de-filósofos, esta acha-se sempre em complemento de outras disciplinas (alguém falou em dinheiro?). Quem acha que sim ponha o dedo no ar.

Por favor não me respondam directamente, ou fugirei daqui como uma cabra assustada.

Anónimo disse...

Caro Desidério

Diz "Mas a questão permanece, Kiriu: se a filosofia for realmente útil para elas nesse sentido, então elas têm de estar dispostas a pagar por isso -- quer pagando cursos quer comprando livros. Sejamos honestos: como disse no comentário que fiz acima, não podemos cair na hipocrisia de cantar hinos à filosofia e depois... em nada contribuir para financiar quem a faz."

Eu concordo consigo em que se não há pessoas dispostas a pagar por ela não tem lógica alimentar a filosofia. Isto é, para além do diletantismo de quem tem outras fontes de rendimento. É aí que bate o meu ponto. Que a justificação económica não deve ser argumentada mostrando as fontes de receitas na forma que expôs. Ao ler o seu artigo fiquei com a impressão de algo que gerava dinheiro para si próprio, para ser consumido apenas pelas pessoas envolvidas. Admito agora que podemos ver mais longe mas esse mais longe tem de estar explicito. Senão dá azo a uma linha de argumentação que parece ser defesa de um estado de subsídios (subsidios para os próprios comprarem os livros e os cursos de filosofia).

Conhecimento pelo conhecimento está muito bem quando quem o pratica ganha dinheiro por outro lado ou os efeitos dessa prática tem efeitos colaterais, percepcionados como vantajosos economicamente. É por isso que se financiam as ciências. Podem dizer-me que muita investigação parece não ir dar a lado algum mas existe a percepção de potencialmente aquilo se ir tornar em algo de "útil". Uma questão filosófica: "porque é que temos fome de saber?" Se tal não partiu de um impulso de sobrevivência, de vontade de transformar o que nos rodeia...

Resumindo, eu defendo que existe um valor capital no ensino da filosofia que está para além dela. Se as pessoas se dispõem a pagar ou não por isso depende, e muito, da respostas que dá, como filósofo, sobre a sua utilidade. Sobre os seus efeitos colaterais. Daí a questão, que interessa ao homem comum a filosofia. E a resposta tem de ir encontro às necessidades desse mesmo homem comum! Essa é que é a questão. Para eu pagar por algo tenho de lhe encontrar valor. Não vou andar a sustentar alguém que gosta de esgrimir problemas consigo próprio e partilha essas conclusões com uns 4 ou 5 iluminados que são seus amigos morrendo a coisa aí. Se assim for o exercício da filosofia é estéril, prazer de ricos e só me pode produzir asco pelo desperdício de recursos que implica.

António Lugano disse...

A filosofia é a utilização do processo de raciciocinio critico aplicado à tentativa de compreender uma dúvida, daí que em Mileto os "amigos do saber" se auto-denominavam "philos sophos" !
Filósofo é tudo aquele que, perante um acto ou um argumento, estupefacto ("thaumazein"), enuncia dúvidas que processará através de uma argumentação critica e, obviamente, não dogmática.
É uma perfeita aberração adjectivar-se a filosofia como "da música", "da linguagem", "da religião", etc.
Filosofia, é um processo de raciocinio, céptico, critico e epistemológico ; o contrário do raciocinio crédulo !
Um processo que poderá (deveria !) ser aplicado em qualquer circunstância em que se manifeste uma dúvida, ou até uma simples curiosidade (dessa forma transformada em dúvida).
O actual ensino da filosofia mantém o sistema escolástico da memorização de datas, nomes e doutrinas, esquecendo (?) a aprendizagem do processamento critico do raciocinio.
O ensino da filosofia deve ser mantido para que a curiosidade transformada em dúvida não se satisfaça com explicações que somente apelam à credulidade. A história da filosofia é um complemento ; um complemento necessário, mas não mais que isso !

Alexandre Sousa disse...

A prova provada que o De Rerum Natura ‘funciona’ é o volume de ‘notas’ e o feixe de linhas gerado pelo post do Desidério. É esta uma das funções sociais e culturais dos blogues: - Desinquietar, mexer, agitar, abanar a malta!
Sou dos que acreditam na Filosofia como camada básica ou substrato da criatividade. Na minha actividade, não exclusiva, de educador/formador, sou responsável por cursos diversificados que se podem encaixar numa coisa, para já pomposamente chamada Ciências da Inovação. Digo para já, porque na Holanda, por exemplo, essas ‘coisas’ já ganharam lugar no podium. Toda esta treta, não para falar do que faço ou não faço, mas para reforçar a ténue tentativa que, de facto, tem mesmo de se movimentar no sentido de dar à Filosofia o conjunto de argumentos que a tornem suficientemente prestigiada para que, quem com ela contacta, mesmo que seja ao de leve, perceba a espantosa ferramenta que está ao seu dispor e a custo zero. E quando discutimos Inovação, precisamos de usar conhecimento filosófico? Pois então…a agilidade do trabalho cerebral desenvolve-se usando os biliões de neurónios que estão à nossa mercê. A Filosofia é uma rede de conhecimento excelente para treinar aqueles que precisam de usar o cérebro como laboratório de concepção e desenvolvimento de novos produtos e processos. Mesmo que Descartes tenha errado – como diz Damásio.

Lutador pela continuidade do processo de Bologna, atrasados como estamos na ‘posta em marcha’ desse mesmo processo, enleados na fotonovela do RJIES, desatentos do que aí vem com o RJAQES, esquecemo-nos do essencial e gostamos de nos enredar com o acessório. Vem a propósito lembrar que Bologna trouxe para o tabuleiro da educação superior, não só na Europa, mas a partir daqui, a preocupação com um debate que é importante e que tem sido sistematicamente ignorado, em Portugal: - Uma das principais inovações do processo de Bologna consiste na introdução de uma estrutura de estudos superiores divididos em dois níveis, sendo o primeiro nível uma saída para a vida profissional e, ao mesmo tempo, passagem intermédia para passar ao nível seguinte. Não vou entrar em detalhes se este primeiro ciclo é ou não é uma graduação do tipo ‘Bachelor’ ou se os omnipresentes empregadores vão reconhecer com maior ou menor facilidade os novos ‘produtos’ gerados pelas instituições da educação superior nacional, o que quero é simplesmente entrar no diálogo sobre a desinquietação suscitada pelo Desidério. Passei pela universidade de Aalborg alguns meses, até porque a universidade onde me movimento se reclama do ‘modelo de Aalborg’ e eu também sou mentiroso. Os estudos dinamarqueses caracterizam-se pela sua flexibilidade nos programas de estudos– vimos recentemente essa imagem de marca na pseudo discussão sobre flexisegurança – estruturados que estão em módulos que permitem uma grande liberdade de opções para os estudantes. Possuem um enfoque eminentemente prático, muito apreciado pelas empresas. No entanto, não estão isentos de críticas (em especial do sector de investigação e dos meios académicos) reprovando-se a visão actual concentrada no curto prazo, obviamente, para satisfazer a procura imediata do mercado de trabalho, descuidando a formação em ciências básicas. Aqui, reside uma linha de actividade que os profissionais da Filosofia podem explorar: - construindo a matriz de competências e saberes suscitados pelo conhecimento filosófico que constituem suporte para outras profissões (módulos de Filosofia). Depois, indo para estrada, desenvolvendo as suas campanhas de promoção de um «novo produto» que, repito, é saudavelmente encarado como bom, útil e interessante. Assim saibam pôr em prática um plano de marketing profissional e praticável.

Anónimo disse...

nota de rodapé:

no site da UCRiverside, California, diz-se a páginas tantas sobre as oportunidades para formados em Filosofia:

"Nature of the Work

Opportunities in business, industry and government for those with a bachelor's degree in philosophy typically involve the collection, compilation and analysis of data, as reflected in many of the job titles listed above.

Cities and counties employ recent graduates as administrative assistants. This involves the analysis of information relating to a specific service area or department, the review of policies and procedures, and the preparation of written reports, grant applications, correspondence, resolutions and proclamations.

Federal opportunities include positions as legislative staff for members of Congress. Staff are required to handle the many different kinds of problems which occupy the congressional agenda at any time. This requires the ability to analyze and consider problems from many points of view and to communicate ideas clearly, in a logical and compelling form.

Consulting firms hire philosophy majors to do client research. Entry-level staff start as research assistants, collecting and interpreting data and working on teams with senior staff.

Computer firms hire philosophy graduates to analyze and solve systems problems and to devise new languages."

http://careers.ucr.edu/students/careerphil.htm

Anónimo disse...

Dado que fui eu que levantei a questão, esclareço alguma coisa. De todo, defendo o que ali escrevi. 1º As coisas têm valor próprio independentemente de gerarem ou não dinheiro. 2º Em Portugal - a realidade que me vai interessando - a filosofia não gera dinheiro. 3º Com o ambiente em que vivemos, muita gente (que não eu) só liga aos argumentos dinheiro e status, daí considerar que o argumento futebol não colhe muito. 4º Tenho formação em engenharia (embora profissionalmente me dedique a outra coisa) e embora continue a achar que as pessoas culturalmente mais estimulantes que conheço são dessa área, sei que muita gente despreza profundamente a Filosofia (e outras áreas aparentemente improdutivas)e tem a mania das tecnologias. Neste mesmo blogue, os comentários de Carlos Fiolhais e Nuno Crato a propósito dos computadores nas escolas mostram isso à saciedade. 5ª Mesmo na ciência só se valoriza o aplicado em detrimento do fundamental. O modelo do bolo de passas pode ser teórico, mas permitiu à química saltos brutais. 6º As escolas de estudos clássicos estão vazias de estudantes e em breve imagino que nem haverá espaço para essas disciplinas nas escolas secundárias. Como se forma um medievalista sem elas? Ou como se forma um medievalista português sem especialistas em língua árabe? Basta ver a bibliografia das cadeiras de História do Al-Andalus para ver que nem Portugal, nem em Espanha, se formou especialistas peninsulares nestas áreas. Quanros anos estiveram os áreabes na Península Ibérica? São tudo áreas desprezadas e onde cada vez se gerará menos saber e mais ignorância. O argumento financeiro não pode ser para aqui chamado.

Desidério Murcho disse...

Caro Kyriu

Parece que estamos de acordo, afinal, pois o que eu afirmei desde o início é que, ao contrário do que se pensa, a filosofia (correctamente feita) é apelativa e gera riqueza. As pessoas consomem filosofia, tal como consomem música clássica. Nunca consumirão tanta filosofia como consomem futebol, mas consomem. E cursos universitários de filosofia correctamente feitos permitem que quem recebeu uma boa formação possa aplicar as suas competências noutras áreas que não a filosofia.

Caro ni

Afirma que "o argumento financeiro não pode ser para aqui chamado", mas não só pode como tem de ser para aqui chamado. Porque se quiser ter especialistas em língua e cultura árabe, para usar o seu feliz exemplo, tem de estar disposto a financiar isso. Você está? É preciso que os produtos e serviços de tais especialistas sejam comprados por alguém para que eles possam existir. Se ninguém os compra, como vão eles viver? Do ar? Ah, já sei, dos subsídios do estado. O problema é que o estado somos todos nós, e se as pessoas não estão voluntariamente dispostas a financiar um especialista em cultura árabe, que sentido tem usar o dinheiro delas para isso, através dos impostos? Se derem às pessoas a opção de pagar voluntariamente impostos para financiar tais especialistas, quantas pessoas você acha que pagariam tal imposto?

Anónimo disse...

Caros
A questão se a filosofia é ou não rentável é-me “cara”, uma vez que faço da filosofia o meu principal ganha pão. Mas o que é que, resumidamente, faz com que algo se venda ou não? Qual a relação que a batata tem com o dinheiro? Essencialmente nenhuma e também não precisamos de batata para sobreviver. Acontece que a batata, como qualquer alimento, está sujeita a uma determinada organização, que não lhe altera o seu valor essencial, mas que altera o modo como nos relacionamos com o produto. Neste sentido creio que o mesmo se atribui à filosofia. É evidente que até podemos defender que podemos viver sem filosofia porque ela não nos dá dinheiro ( e até dá, como me dá a mim), mas não vejo que essa realidade seja mais atribuível à filosofia que a outra coisa qualquer. Provavelmente se eu fosse amigo do Cristiano Ronaldo (futebolista famoso) e lhe pedisse que, nas suas entrevistas, falasse de um qualquer livro de Espinosa, o livro vender-se-ia muito bem. Foi um pouco o que aconteceu com os livros de Saramago quando o escritor ganhou o Nóbel. Nessa altura, o Saramago se calhar comprou um carro novo e um computador topo de gama. E isso vivendo da literatura. Na filosofia pode acontecer a mesmíssima coisa. Mas nada disto que estou aqui a falar tem a ver com o valor intrínseco do saber e da cultura. Estou somente a defender que a filosofia vende e não vende e até pode vender muito mais do que o que vende.
Tal como no negócio da batata existem formas honestas de fazer negócio e formas desonestas. A exemplo basta pensar nos manuais de filosofia. Alguns autores, de forma claramente desonesta, ganham rios de dinheiro e outros com um trabalho honesto não ganham assim tanto. De resto qual o problema de um autor de um bom manual ganhar tanto quanto um futebolista? Ficaria até muito bem, para a nossa cultura. O Jostein Gardner fartou-se de ganhar dinheiro, mesmo em Portugal, escrevendo um romance baseado na história da filosofia. Por acaso nem é a melhor introdução à filosofia, mas fartou-se de vender.
A filosofia, como qualquer outro produto, vende-se bem ou menos bem muito em acordo com as necessidades de cada cultura. Acontece que a filosofia possui um valor intrínseco que fará com que, em momentos de maior liberdade, consiga impor-se e vender muito mais. Eu não dou qualquer lucro aos vendedores de barcos porque não gosto de andar de barco, mas dou muito a ganhar aos vendedores de livros de filosofia porque a leio e compro os livros. Os meus alunos também compram livros de filosofia (introduções como a de Warburton ou Nagel), porque os divulgo e lhes falo dos livros, mostrando os problemas que neles são colocados. E há, à minha volta, um interesse pela compra de livros de filosofia. Isto pode acontecer em maior escala. Isto também acontece porque compreendo a utilidade da filosofia não só para mim, como também para a generalidade das pessoas. Também eu quando estudei pela primeira vez física achava que não servia para nada. Mas nessa altura tinha apenas 11 anos.
Abraço
Rolando Almeida

JOPP disse...

Em suma, e recapitulando: no final de todo este palavreado, nem sempre eivado da melhor precisão ou do melhor recorte retórico, o bloguista-«filósofo» acabou por reduzir voluntariamente a sua própria actividade à de um funcionário de uma universidade-empreendimento, que compete num «mercado de produtos e serviços» especializados, os quais obviamente «têm de ser comprados por alguém». Sendo tal descrição congeminada como a melhor e única forma de poupar pecúlios ao «Estado» e aos «contribuintes» - por não estarem estes últimos «voluntariamente» dispostos a suportarem com «os seus impostos» outras formas de exercício e desenvolvimento do(s) saber(es).

Tudo isto é, de uma ponta à outra, perfeitamente risível.

E, ao mesmo tempo, raras vezes se tornou tão evidente a distinção entre o exercício da Filosofia como acto de liberdade radical e eterna que tem como únicos limites os do pensamento, e esta actividade prosseguida pelos «filósofos-funcionários» (os «professores públicos»), que encontra limites a cada passo, e inevitavelmente se enreda no jogo das conveniências.

Fica a ideia do «voluntariado» no pagamento de impostos - proposta que deveria ser remetida com a máxima urgência a quem de direito, para ser adoptada como exemplo máximo de Inovação e Inteligência, dois termos que são, hoje em dia, do mais conveniente que há.

devoured elysium disse...

realmente, não vejo grande utilidade em se tentar justificar que a filosofia serve enquanto algo auto-sustentável. a ideia não é, nem nunca foi se-lo..para quê insistir na ideia?

Anónimo disse...

Caros,
só queria pedir um pequeno favor a alguns comentadores: se algum desses me quiser pagar para me dedicar à filosofia, agradeço. Se o dinheiro não vos faz falta, é só dizer que deixo aqui o meu número de identificação bancária para as vossas transferências. Enquanto isso, faço da filosofia a minha profissão e ainda bem porque faço profissão daquilo que gosto e posso dedicar-me ao que gosto sendo pago para tal. É que, além de ser bom fazer filosofia, é muito bom e útil ensiná-la.:-)
abraço
Rolando Almeida

Gustavo disse...

Desidério, mais um texto excelente. Tanto em Portugal quanto no Brasil, de fato a filosofia não gera dinheiro - o que é um pouco culpa de nossa cultura e um pouco culpa dos próprios professores, pelo motivo que expuseste bem.
Aliás, no Brasil temos um agravante em relação a Portugal: aqui, um professor ganha verdadeiramente mal. Um professor de nível secundário do Estado recebe no Brasil o equivalente a uns trezentos Euros de salário mensal. Como querer melhorar o nível do nosso professor de filosofia e fazer com que ele produza riqueza, se ele não tem dinheiro nem mesmo para adquirir livros, seu instrumento de trabalho, com os quais poderia gerar mais dinheiro?
Afinal, para ganhar dinheiro com filosofia é preciso filosofar. Para filosofar é necessário consumir filosofia. E para consumir filosofia é imprescindível ter dinheiro.

Anónimo disse...

"E, ao mesmo tempo, raras vezes se tornou tão evidente a distinção entre o exercício da Filosofia como acto de liberdade radical e eterna (...) e esta actividade prosseguida pelos «filósofos-funcionários» (os «professores públicos») (...)"

E quem paga a subsistência de quem quer exercer essa liberdade radical?
O que há de errado em pretender explicar como a filosofia se pode converter em algo mais palpável para a sociedade em geral e até em algo lucrativo?
O problema é que muitas vezes a filosofia é vista como algo estratoférico que o cidadão comum não compreende e olha com desdém porque não compreende a utilidade.
Parece-me perfeitamente legítimo que se pretenda dar retorno à sociedade - e um retorno quantificável.
Creio ser obrigação moral de todos devolver à sociedade (seja de de forma for) parte aquilo que certamente recebeu.
Não me parece aceitável haver quem se limite a exercer "liberdade radical" apenas recebendo e sem ter que prestar contas nem resultados a ninguém.

Anónimo disse...

lembrei-me, assim de repente, que é muito fácil ser mecenas com o dinheiro dos outros...

Alexandre Sousa disse...

Sobre a nota-de-rodapé autoria Kyriu
apontamento UCRiverside (USA)

OJO! não há quase nada do âmbito universidade-empresa, aptidões profissionais a partir das graduações, etc. e coisa e tal, que possua aplicabilidade na Europa.
A sua citação, vale pelo facto de mostrar que os graduados em Filosofia, nos States, não vão para o caixote do lixo.

Se der um passeio pelos sites do MIT, tão idolatrado pelo nosso MCTES, vai ver que não consegue replicar nenhuma daquelas sessões de trabalho (lições???) num curso equivalente da Europa do Sul, por exemplo.
As empresas europeias, de qualquer sector económico, excepto as filiais da Procter & Gamble ou da IBM, p.ex., não têm nada que ver com as suas congéneres americanas.
Os patrões europeus são patrões não são CEOs... que o diga Michael Porter há 13 anos atrás quando foi apresentar em Stª. Maria da Feira o estudo sobre a competitividade de Portugal. Não houve um único (Belmiros, Amorins, Caetanos, etc.) que não dissesse que daquilo sabiam eles...
Por aqui me fico!
Foi bom estar à conversa com gente preocupada com os outcomes da Filosofia.

Anónimo disse...

Cara Alexandra

A minha citação servia tão somente para ilustrar actividades de pessoas formadas em filosofia em que não é habitual pensar. Saltar da ideia de um mercado que apenas absorve na via do ensino ou na academia (investigação). Depois gostaria de saber que dados possui para afirmar categoricamente que na Europa não há pessoas/gestores com visão capazes de fazer o mesmo que nos USA. Ou a Europa é só Portugal? Bem, se for, que se lixe, quem perde é quem não tem visão (e, de certa forma, quem está ao lado).

Francamente, não acho relevante (para o intuito inicial). Acho mais relevante a necessidade de ensinar filosofia no ensino secundário não para dar prazer ou cultura geral mas para ajudar os alunos a pensar e fomentar o espírito crítico. Se isso se tem conseguido é outra conversa. Mas espero que um dia lá cheguemos. O Sr. Darwin resolverá o assunto creio...

Anónimo disse...

Outra via de incursão. O que são os filósofos? Na linha nominalista de Bourdieu são aqueles que fazem filosofia e aos quais as pessoas os designam como filósofos, e cuja profissão é a de filosofar e ministrar filosofia. O que se afigura, embora minimalista, o mais acertado. Mas com isto, além de não se responder à questão, arquitecta-se uma fuga. Mas não se pense que este indigesto raciocínio se aplica apenas à filosofia. O mesmo ocorre com a sociologia, a história, a economia, a matemática, a psicologia, o direito... Não vale apenas encontrar uma definição, porque se conhecem, de cada um dos ramos citados, mais de cem definições, e todas elas são boas, isto é, todas juntas fazem uma boa definição, porque se juntam todos os parâmetros, características, valores, propriedades, qualidades, utilidades, que provavelmente se encontrarão em cada uma. Por isso eu gostaria de saber se alguém sabe o que é um filósofo, nesta outra via de incursão.

Anónimo disse...

Caro Desidério,
Se do que escrevi se infere que a filosofia não deve ser paga, peço desculpa. É claro que deve ser paga, como a ópera e as artes - e isto precisamente porque são coisas que «são valor» mesmo que não «criem» directamente valor. O facto de uma coisa ser um valor em si mesma não significa de modo nenhum que seja a sua própria recompensa.
O que me irrita é a posição de quem pensa que só é útil e só tem valor aquilo que é directa, óbvia e imediatamente aplicável à produção de bens e serviços, como se esses bens e serviços não tivessem também, na sua utilização final, de servir para outras coisas além de produzir mais bens e mais serviços.

Desidério Murcho disse...

Caro Sarmento

Compreendo agora a sua posição, mas nada do que eu disse sugere que só tem valor aquilo a que produz mais bens e serviços. Isso é uma inversão da compreensão das coisas: é porque há coisas que têm valor intrínseco que podemos atribuir a outras valores instrumentais e é tolo, concordo consigo, pensar que só pode ter valor intrínseco o que tiver valor instrumental. A filosofia tem valor intrínseco, o dinheiro não.

Quanto ao pensar radical e tudo isso do leitor JOPP, a questão é que só há duas maneiras de fazer filosofia: com muito tempo e dedicação ou como amador, nos intervalos de outra actividade qualquer que nos pague a vida, dado que não podemos viver do ar, por mais radical que seja o nosso pensamento. No primeiro caso, ou somos ricos, para podermos viver sem ganhar dinheiro, ou somos pagos por fazer filosofia, como eu. No segundo, teremos de andar a perder tempo fazendo outra coisa qualquer e por isso não termos a disponibilidade, a energia e o tempo para nos dedicarmos totalmente ao tal pensamento radical.

Eu defendo o profissionalismo em filosofia, como o defendo na pintura ou na música: é muito mau para a filosofia, a pintura e a música que as pessoas não possam dedicar-se totalmente a estas actividades por terem de trabalhar noutra coisa qualquer para ganhar dinheiro.

O que está em causa é isto: se os profissionais destas actividades devem ser pagos para fazer essas actividades, quem vai pagar? Como disse o Kyriu, é fácil ser mecenas com o dinheiro dos outros. Eu não acho que seja possível subsidiar estas actividades só com dinheiros privados, derivados directa ou indirectamente dos produtos e serviços que estes profissionais produzem. Terá sempre de haver apoios estatais.

Mas devemos reduzir isso ao mínimo necessário e devemos estimular tanto quanto possível a mentalidade empresarial, empreendedora, geradora de produtos e serviços susceptíveis de serem consumidos pelo grande público. Afinal, que sentido faz os contribuintes gastarem parte dos seus impostos para financiar a pintura, a música e a filosofia, se realmente não têm qualquer interesse, por mínimo que seja, nestas coisas?

Alexandre Sousa disse...

Kyriu: PF coloque o meu nome no masculino...

A questão é de cultura de empresa. Os alemães ou os holandeses, pior ainda os franceses, não querem copiar os norte-americanos. São concorrentes directos em sectores como a Banca, Automóvel, Farmácia e por aí fora; se não houver diferenciação, não vamos lá.
Esta história da globalização, sempre que possível é mesmo só num sentido.

1 abr

JOPP disse...

O que é um «pintor profissional», senão um operário da construção civil?
O que é um «músico profissional» senão um operário de outro tipo, devidamente treinado para executar/repetir as composições de outrém?
E, face às duas analogias propostas, o que é então um «filósofo profissional»? E que exemplos se encontram, na história da Filosofia, de «filósofos profissionais»?
É que os exemplos contrários são abundantes e recorrentes. Recordo desde já o caso de Espinosa, que abandonou casa, fortuna e herança, para poder prosseguir o seu trabalho (e que trabalho!), enquanto sobrevivia graças à sua actividade como polidor de lentes. É evidente que um tal exercício de liberdade não está ao alcance de qualquer um: é necessário reunir coragem, amor à sabedoria (precisamente!) e um imenso desapego para com as mundaneidades. E isso, claro, não se concilia com o modelo social da voracidade consumista, nem com os padrões de vida propagados pelos anúncios televisivos.
Seria Espinosa um «amador»? Talvez. Depende do sentido, e do tom, que quisermos dar ao termo.
Entretanto, tomo boa nota de que, em sua opinião, «devemos estimular tanto quanto possível a mentalidade empresarial, empreendedora, geradora de produtos e serviços susceptíveis de serem consumidos pelo grande público».
Não me parece que isso tenha grande coisa a ver com a filosofia. Creio porém que, em boa justiça, também não se lhe pode creditar a ideia, mas apenas a divulgação dela. Quem disse que a vida em sociedade se reduz a tal mentalidade, ou sequer ao comércio de produtos e serviços?
Pode vender-se a filosofia analítica a retalho? Alguém me avia 250 gramas de Ontologia?
Mas voltemos ao velho e amador Espinosa, para ver o que pensava ele da vida em sociedade, já em meados do século XVII: «Dos fundamentos da república, tais como os expusemos anteriormente, se segue com a maior evidência que o seu fim último consiste, não em dominar os homens, em contê-los pelo temor e em submetê-los ao direito de outrém, mas pelo contrário em libertar cada um do temor para que ele viva em segurança na medida do possível, ou seja para que ele preserve o melhor possível o seu direito natural a existir e a agir sem perigo para si mesmo nem para outrém. Não, digo eu, o fim da república não consiste em transformar os homens de seres racionais em bestas ou em autómatos. Ele consiste, pelo contrário, em que o espírito e o corpo deles cumpram em segurança as suas funções, e em que eles mesmos utilizem a livre Razão, sem rivalizarem com o ódio, a cólera ou a perfídia, e sem se confrontarem com a malevolência. Portanto, o fim da república é de facto a liberdade.» (Tratado Teológico-Político, XX, 6).
Como último nota, reforço a precisão linguística: o termo aqui usado é «cumpram» - e não «comprem».

Anónimo disse...

As mesmas questões podem ser colocadas à Astrofísica ou à Física de partículas. Qual é a utilidade de andar a perscutar o Cosmos? Para que serve gastar muitos milhares de milhões de euros com um tunel de colisão de hipotéticas partículas?

Qual é o dinheiro que cada uma destas coisas gera? Algum será certamente, mas nunca tanto como o investido. Basta pensar que, na Europa C, a quase da totalidade do dinheiro dedicado à Ciência encontra-se nestes projectos.

Se querem que a Filosofia dê lucro, então peçam o mesmo à Astrofísica ou à Física de Partículas. O resultado será, como é fácil perceber, um desastre.

Anónimo disse...

Jopp,
Se aplicar a sua analogia à medicina talvez fique confuso, mas quando se trata da filosofia ou mesmo das artes já se lança a achega que se pode e deve fazer uma "rage against the world" e viver do nada. Há filósofos que foram pobres e fizeram boa obra e outros que foram ricos e fizeram igualmente boa obra. Curiosamente, a maior parte dos filósofos viveram em sociedades mais abastadas. E que problema decorre daí? Não existe qualquer relação entre ser-se rico ou pobre e ser-se filósofo, com a nota de que sendo-se pobre, poucas possibilidades existem de se ser filósofo ou jardineiro.
Rolando A

Anónimo disse...

Argumento cinico (mas realista :O)):

1) os americanos (quase) so' pensam em ganhar dinheiro;

2) as universidades americanas teem grandes departamentos de filosofia;

3) pagar os salarios e o funcionamento desses mesmos departamentos sai caro;

4) desconfio que mesmo nos casos em que consiguem um balanco economico positivo, poderiam fazer mais dinheiro de outra forma;

5) mesmo assim, nao deixam de ter esses departamentos de filosofia a funcionar.

Parece inevitavel concluir que uma das duas hipoteses sera' verdadeira: (i) a filosofia e' a excepcao em que os americanos decidiram desperdicar dinheiro; (ii) fazer as elites cultivar a filosofia ajuda, de alguma forma, a manter as condicoes favoraveis para continuar a ganhar dinheiro.

Problema: como e' que a filosofia ajuda os americanos a ganhar dinheiro? (alem da trivialidade que e' a venda dos livros - algo de importancia fundamental para os filosofos pprofissionais, mas irrelevante para o sistema)

Desidério Murcho disse...

Caro JOPP

Espinosa herdou o negócio da família, mas precisamente porque isso lhe roubava tempo para estudar, decidiu alienar o negócio e passar a viver de poucos recursos. Mas tinha de viver de alguma coisa, apenas procurava perder o mínimo de tempo possível com essas coisas que lhe davam o dinheiro necessário para subsistir.

É absurdo elogiar esta situação, JOPP. Espinosa teria preferido não ter de se preocupar com a sua subsistência, se tivesse podido ganhar a vida como filósofo, coisa que não lhe foi possível fazer — porque as universidades da altura eram uma choldra ainda pior do que hoje: o pensamento original era desprezado e rejeitado. Se está a defender que devemos voltar todos à situação de Espinosa, aposto que está a ser hipócrita porque aposto que você não está disposto a fazer isso. É fácil dizer aos outros para passarem o inverno com frio, ou para viverem numa casa a cheirar a mijo, para cumprirem o ideal ascético e idiota do filósofo. Isto é não compreender o facto de os filósofos, como qualquer intelectual ou artista, estarem dispostos a fazer muitos sacrifícios para poder fazer o que gostam de fazer — e pensar que esses não são sacrifícios mas sim virtudes que os próprios filósofos adoravam.

O mesmo podemos dizer dos pintores: vá falar com eles e logo vê se eles acham muita graça a viver num quarto sem janela, passar fome e não ter segurança social nem reforma, para poderem pintar umas telas geniais. Desculpe, mas a sua perspectiva, apesar de muito comum, é pura e simplesmente de uma aristocracia salazarista inaceitável. A menos que defenda, claro, que estas actividades são só para ricos, como Descartes, que pôde viver sem trabalhar. E nesse caso filósofos como Kant ou Heidegger, que tinham de dar aulas na universidade para poderem ganhar a vida, seriam encarados como meros “pintores de paredes”.

Desidério Murcho disse...

Caro MP-S

Os norte-americanos investem muito dinheiro na investigação fundamental. Passaram a fazer isso depois da segunda guerra mundial. Antes disso, eram um pouco como em Portugal: pensavam que só dava dinheiro a investigação aplicada, industrial.

Não devemos fazer a falácia do falso dilema: ou as universidades são auto-subsistentes e geram lucro directo, ou não podem gerar quaisquer receitas e têm de viver exclusivamente dos impostos dos contribuintes. A verdade é que as universidades ganham muito dinheiro com muitos produtos e serviços, em países desenvolvidos (não em Portugal), mas precisam mesmo assim do financiamento público e privado.

Este post fez-me ver uma coisa: precisamos de convidar um economista que conheça bem os mecanismos e modelos de financiamento universitário para explicar às pessoas como estas coisas funcionam. Mas tem de ser alguém que conheça não apenas a realidade nacional. Conhecem alguém?

JOPP disse...

Escrever-se que «Espinosa herdou o negócio da família, mas precisamente porque isso lhe roubava tempo para estudar, decidiu alienar o negócio e passar a viver de poucos recursos» é uma simplicidade que não se esperava ouvir de um professor universitário de filosofia - quando se sabe que o mesmo Espinosa foi excomungado pela comunidade judaica de Amsterdão, à qual pertencia (o que implicava não apenas a habitual sanção religiosa, mas, muito praticamente, a interdição a todos os outros membros da comunidade de comerciarem ou comunicarem com ele), que sobreviveu a uma tentativa de assassinato logo aos vinte e poucos anos, e que não apenas passou o resto da vida refugiado em várias cidades holandesas (dado ser ostracizado também pelos católicos), como, pela mesma razão, apenas publicou duas obras em vida, uma das quais sob anonimato.
É, de resto, uma simplicidade à qual falta rigor e fundamento, enquanto lhe sobra desplante e ilusionismo.
Admiro a verve, mesmo quando ela resvala para o pé do chinelo. Mas sei bem que, quando faltam os argumentos, a prosa ou o discurso costumam ser desviados para o insulto e para os ataques pessoais. Isso é uma verdade antiga.
O mais triste é que continuam a faltar as tais respostas a perguntas muito simples e cruciais, retiradas do argumentário anterior: o que é afinal um «pintor profissional», um «músico profissional», ou, como agora que se avançou para o vago e para a generalidade, um «artista profissional»?
Mais duas notas históricas: Descartes pôde viver sem trabalhar (isto claro, se considerarmos, como você faz, que a obra por ele deixada não é «trabalho»)porque se acoitava sob a protecção dos poderosos, como muitos outros fizeram e fazem, ainda hoje. É uma das maneiras possíveis de se viver - mas cada qual escolha a que achar mais conveniente.
Por último, a mais antiga: «O melhor de todos é aquele que pensa por si, compreendendo o que em seguida e no fim será melhor» Hesíodo, Os Trabalhos e Os Dias (c. 800 a.C.)

Anónimo disse...

Jopp,
Profissional é fazer de uma actividade o seu ganha pão devidamente renumerado. Quanto a mim, repito, se o Jopp ou alguém me quiser pagar para fazer e divulgar a filosofia, aceito sem reservas. caso contrário, terei mesmo de continuar com os meus recursos, a bem de todos.
Porque é que esta questão do sinheiro e da filosofia não se coloca para, por exemplo, a matemática? é que se passa a mesmíssima coisa com a matemática. Acontece que esta goza de outro prestígio social e por essa razão podemos gastar rios de dinheiros públicos com o seu ensino, mesmo sem grandes resultados, que ninguém questiona a autoridade cultural da matemática. De resto estou convencido que o post do Desidério pretendia mostrar isto mesmo: que o dinheiro é tão preciso para a filosofia, como para a matemática ou para a apanha de morangos. Só que existe uma tendência imbecil para se pressupor que o filósofo é um amante diletante das questões profundas e que, por isso, pode comer erva e beber água choca. Mas a verdade é que os filósofos são como todos os outros. Há os bonzinhos e os cabrõezinhos, há os que colocam gravata e os que andam de pijama o tempo todo, os que apreciam Mozart e os que curtem Napalm Death, os que gostam de Tarkovsky e os que aproveitam as horas livres para ver uns filmes porno. No meio de todas estas opções, há filósofos que são muito bons no que fazem e outros que nem por isso. mas todos, todos, tem de pagar a conta da água, telefone, luz e super mercado. E nisto não há problema algum. Já agora: sou profissional da filosofia e no meu gosto pessoal convive pacificamente a obra de Mozart com a dos Napalm Death
até breve
Rolando Almeida

JOPP disse...

Caro Rolando,

como «profissional de filosofia» (já agora, não quer explicar-nos o que é isso?) deveria ter percebido que não se trata aqui de questões de gosto, mas sim de uma ética.
Felicidades

Desidério Murcho disse...

Caro JOPP

A sua cronologia está errada; Espinosa não foi excomungado antes de começar a fazer filosofia, e não foi por isso que abandonou o negócio da família; abandonou o negócio porque este lhe ocupava demasiado tempo, tempo de que ele precisava para fazer filosofia. E a questão fundamental é que Espinosa teria preferido obviamente viver directamente da filosofia, se isso tivesse sido possível. Você vê o que Espinosa teve de fazer para poder fazer filosofia e pensa que ele adorava estas condições. Isto é falso.

Um filósofo profissional é alguém que faz da filosofia a sua actividade principal, sendo remunerado por isso. A vantagem do profissionalismo é permitir que qualquer pessoa, seja rica ou não, possa dedicar-se à filosofia, sem ter de viver miseravelmente. (A propósito, Espinosa não teria morrido tão novo caso tivesse tido uma vida melhor, o que significa que poderia ter-nos deixado mais escritos filosóficos importantes.)

Muitos filósofos foram e são profissionais neste sentido; outros, não. Há bons e mais filósofos profissionais, tal como há bons e maus filósofos não profissionais.

O que não vejo é qualquer argumento sólido para aceitar a sua ideia aristocrática de que um filósofo tem de ou ser rico para viver sem precisar de ganhar dinheiro porque já o tem, ou de viver desdentado e mal nutrido para ter satisfazer uma imagem romântica tonta do filósofo abnegado.

Descartes só parcialmente precisava de protectores; tinha recursos próprios, herdados da família.

Temos em português duas biografias destes dois filósofos que aconselho, ambas publicadas na Europa-América: a de Descartes é da autoria de Grayling e a de Espinosa é da autoria de Nadler.

Anónimo disse...

Caro Jopp,
Sou profissional de filosofia porque sou pago para a ensinar. De outro modo ouço Mozart mas ninguém me paga para o ouvir.
Não Jopp, não é uma questão de ética aquela que se está a discutir: é uma questão profissional que envolve a filosofia como actividade. Claro que essa questão envolve o gosto ou a moral.
Rolando A.

JOPP disse...

Espinosa nasceu em 1632; trabalhou no negócio familiar a partir dos 13 anos, e enquanto prosseguia os seus estudos. O pai dele faleceu em 1654. Espinosa geriu o negócio em conjunto com o seu irmão até 1656, o ano em que foi excomungado. Foi no seguimento dessa excomunhão que escreveu a maior parte dos seus textos e publicou a sua primeira obra («Primeira e segunda partes da filosofia de René Descartes, demonstradas à maneira dos geómetras, seguidas dos Pensamentos Metafísicos» - 1663, dois anos após ter encetado o projecto da «Ética», que apenas será publicado após a morte do autor, em Fevereiro de 1677).
A minha cronologia está inteiramente correcta - e, em matéria de referências filosóficas, há muito que não confio nas traduções publicadas pela Europa-América.

Vejo-me forçado a repetir ainda uma vez que continuam a haver perguntas sem resposta: todas elas, afinal, indo no mesmo sentido - o que é que entende afinal por «pintor profissional», «músico profissional», «artista profissional» e, já agora, «filósofo profissional»? Como é que tais noções se coadunam com a sua defesa da universidade-empresa? Como é que elas se compatibilizam com as regras do comércio e com a noção de «mercadoria»?

Sugiro que, em vez de perder tempo a tentar adjectivar «as minhas ideias», se preocupe em demonstrar cabalmente as suas. Bem precisa.

Anónimo disse...

Jopp,
mais um acrescento:
O Jopp pede para eu lhe explicar o que é um profissional de filosofia, mas, logo de seguida, refere que como profissional de filosofia eu deveria ter percebido que se trata de uma questão de ética. Quer isto dizer que afinal o Jopp sabe o que é um profissional de filosofia, até porque sabe o que um profissional de filosofia deve e não ter percebido. E isto Jopp, sim, é uma questão ética.
Rolando Almeida

JOPP disse...

«As gentes comuns têm um profundo respeito pelos especialistas de todo o género. Ignoram que a razão pela qual se faz profissão de uma coisa não é o amor dessa coisa mas do que se lucra com ela - e que quem ensina alguma coisa raramente a conhece a fundo; pois se a estudasse como deveria, em geral não lhe restaria tempo para ensiná-la.»
Arthur Schopenhauer, A Arte de Ter Sempre Razão (1830), Lisboa: Frenesi, 2006

Desidério Murcho disse...

Caro JOPP

Já expliquei o que é um filósofo profissional: tal como um pintor ou músico ou editor profissional, é alguém que faz dessa actividade a sua actividade principal, e é ganha a vida com ela.

Schoppenhauer gostaria de saber que é usado por si como se fosse a voz do oráculo -- seria a maior das ironias, pois ele sempre protestou contra os oráculos. Mas eu já percebi que tem dificuldade em pensar sem ser por cabeças alheias.

A questão permanece: diga-me como posso eu fazer filosofia sem ter de "prostituir-me" dando aulas, e eu ficar-lhe-ei muito agradecido. (Schoppenhauer vivia dos livros que publicava e das aulas que dava. Tal e qual como a maior parte dos filósofos hoje.)

Registei o seu pedantismo: claro, as traduções da Europa-América são para ignorantes, e não para você, superiormente culto e que vive do ar. Mas serão assim tão más que até as cronologias estão mal traduzidas? Infelizmente nada posso dizer sobre a qualidade de tais traduções, porque li os livros no original e divulguei-os no jornal Público muito antes de terem sido publicados em Portugal. E que tal, como troca de pedantismos?

O tipo de afirmações que você faz é o que me faz ter nojo da pior cóltura portuguesa. É uma coutada de tias de Cascais, que serve apenas para exibir imaginadas superioridades intelectuais e sociais. ("Já leste o Hesíodo no original? Ah, filho, é outra beleza!") É uma cultura falsamente anti-materialista, mas profundamente hipócrita, feita por quem nunca teve dificuldades financeiras nem sabe o que é ter de trabalhar 7 horas numa fábrica. Feita por quem nasceu em berço de oiro e despreza as pessoas que têm as mãos sujas porque têm de trabalhar para viver. E que depois conta histórias sobre as maravilhas do amadorismo -- porque basicamente são pessoas incapazes de serem seriamente profissionais em qualquer actividade. Ou seja: são os Egas e os Carlos da Maia -- mas infelizmente a mensagem do Eça nunca foi entendida por esta mesma gente que ele tão acertadamente criticou.

Valter Boita disse...

Sou incapaz de concordar com a extravagância intelectual, sem querer ser ofensivo, da posição de Jopp, mesmo que uma boa porção da história da filosofia a sustente.

Do século XX não me vem neste momento à memória o caso de nenhum filósofo que não tenha estado relacionado com as instituições que empregam profissionais (liceus(universidades, por exemplo) e que, por essa razão, cuidou da filosofia de um modo profissional, ou tenha caído no disparate de alguns artistas de destruir a sua obra, ou deixá-la ao encargo de um qualquer Max Brod.

Se é algo que cada dia que passa me irrita mais é verificar que muitas pessoas que estudaram filosofia insistem em encarar o termo filósofo como um título, quase nobiliárquico, atribuído sabe-se lá por que entidade régia, ao invés de significar todo aquele que se dedica à filosofia, fazendo investigação ou divulgação.

E creio ainda que é improfícuo ver a realidade filosófica de um modo maniqueísta: ou filosofia continental ou filosofia analítica. Admito que sou muito mais interessado pela tradição continental, mas isso não pode justificar que deixe de acreditar que é preciso dignificar a filosofia de um modo geral, passando por esbater alguns mitos sobre os quais ela se alimentou, apesar de estarem errados.

O desafio da filosofia para o século XXI tem de passar pela desmistificação de alguns pressupostos, tais como a ideia de que o filósofo é um ser retirado da realidade, imagem bem presente no quadro de Rembrandt (mas este viveu no século XVII!) ou um “idiota” que não serve para nada, presente na obra de Dostoievski.
Ser-se filósofo hoje não tem de ser uma imitação do que era ser filósofo no século XVII, já para não regredir mais na história.

Desde a inserção da Filosofia nas Universidades, ela deixou de ser mera especulação amadora (por muito respeito que tenho pelo significado da palavra amador), feita por uns gurus e seus discipulos num pórtico ou num jardim peripatético, (por muito bela que possa ser essa imagem), para ser profissional. Mesmo Platão que condenava a escrita em detrimento do diálogo, reparou atempadamente que a filosofia não sobreviveria só de “conversa” e simpósios.

JOPP disse...

Schopenhauer raramente deu aulas, e a sua obra maior, «O Mundo como Vontade e Representação» não tinha sequer vendido 400 exemplares dez anos após a data de publicação. Na realidade, Schopenhauer era abastado, embbora vivesse frugalmente, e no final da vida doou em herança tudo o que tinha ao cão, agastado com a natureza humana.
De facto, você não acerta uma!
Mas o pior é não conseguir achar caminho para sair da teia em que se enredou.
Fico esclarecido sobre a qualidade do que ensina.
Por mim, não tenho nada para ensinar. Limito-me a estudar.

Desidério Murcho disse...

JOPP, você não está a falar a sério. Para começar é irrelevante se o seu herói nunca deu aulas e era rico. Isso até prova o que eu sempre disse: você quer fazer da filosofia uma coutada de quem pode viver dos rendimentos. É este pensamento aristocrático a que me oponho. Mas é irrelevante que o seu herói nunca tenha dado aulas nem vendido um único livro nem procurado ganhar dinheiro com isso porque muitos outros filósofos o fizeram. Mas a verdade é que o seu herói dava aulas por algum motivo; era para quê, para descontrair a laringe? Por outro lado, os livros populares dele não se vendiam mal; além disso, mesmo que se vendesse mal, a verdade é que se vendiam -- e portanto você pode dizer-lhe como me disse a mim: "Venda-me aí 20 euros de ontologia". Acresce que um dos ensaios mais interessantes do seu herói, sobre o livre-arbítrio foi escrito para... um prémio filosófico que... envolvia ganhar não apenas prestígio mas... DINHEIRO.

E repito a pergunta: conte-me como faz para viver da filosofia sem ter de trabalhar numa universidade! A não ser que seja pelo menos moderadamente abastado, como o seu herói, ou vive do ar ou está a contar lérias e tem de ganhar dinheiro de alguma maneira.

Valter, deixe-me só dizer-lhe que essa história do analítico e do continental não me interessa para nada. Há boa e má filosofia. Ponto. O que se passa é que sob a capa desta ou daquela filosofia "radical" fazem-se autênticas fraudes intelectuais -- veja-se a denúncia de Sokal. E aqui até dou razão ao JOPP: esta gente não deveria ser paga para fazer estas coisas.

Missphilosophist disse...

Eu e as minhas amigas andamos a verificar duas ideias correntes hoje em dia as quais são muito prejudiciais para a convivência em sociedade, principalmente para quem seja formatado pela filosofia e elas são: estar absolutamente fora de moda discutir juízos e conceitos, além de ser feio, não vale a pena impôr ou propõr uma ideia sob a outra; pensamos em escrever um manifesto cujo conteúdo traria apenas novos caminhos de compreensão acerca do mundo e da vida. Isto tudo para dizer o quê: que em primeiro lugar devemos respeitar a opinião dos outros, em segundo não tentar impôr o nosso ponto de vista, em terceiro simplificar a maneira mais agradável de conversar e trocar ideias; em quarto se possível propõr uma construção renovada de pensamentos em prol do bem comum! A actividade filosófica às vezes entristece-me porque se torna muito individualista e normativa, encerra-se numa panóplia de histórias e argumentos que com orgulho pensa ter sempre razão. A única coisa que quero dizer com isto tudo é que assim não vamos a lado nenhum, a sociedade não entenderá o tamanho de tanta discórdia, nem os próximos aceitarão com tranquilidade as coisas boas que temos para oferecer; devemos olhar para a frente e não para trás e não perder tempo a ver quem tem mais ou menos cultura filosófica. Penso que uma das maravilhas da filosofia é a tremenda capacidade de raciocínio mas mais ainda é a procura pelo desconhecido e imprevisível! Um bem haja a todos!

Valter Boita disse...

Caro Desidério,

quando afirma tão taxativamente que "essa história do analítico e do continental não me interessa para nada. Há boa e má filosofia.", é uma atitude que pouco se coaduna com realidade filosófica portuguesa; trata-se de uma realidade confrontar os estudantes do ensino superior com uma atitude, bem prosélita por parte de alguns professores, de defesa dogmática de uma das tradições, como se de religião se tratasse.

Depois há uma outra situação que a mim me diz bastante, dado que as duas tradições assumem uma atitude metodológica e epistemológica diferente perante a Filosofia. E creio que é nestas divergências que reside a insegurança da filosofia no ensino secundário. Numa disciplina como a História, por exemplo, não se debaterá sobre qual a "corrente" ou escola de historiadores que deve orientar os conteúdos e as metodologias nos Programas curriculares. E noutras disciplinas essa confusão certamente que não existe. Eu não estou a enunciar a crença de que ha uma corrente que determina o que é ensinável ou não em filosofia. Mas parece-me importante reflectir sobre isto: o que deve ser ensinável em Filosofia, sem se correr o risco de sugerir problemas e teorias que apenas "agradam" aos autores de Programas? Que "factos" filosóficos é que devem ser relevantes ensinar no 10/11 anos? E porquê estes e não outros? Não estou a pedir-lhe que responda a esta pergunta, porque eu já conheço a sua posição e concordo com a eficácia dela no ensino secundário. Mas, precisava de ler qualquer coisa a este respeito. COnhece alguma obra que trate deste problema de didáctica da filosofia, isento no que toca às posições das escolas e tradições?

Quanto à denúncia de Sokal, não estou familiarizado com ela. Poderia dizer-me se existe bibliografia disponível em português sobre este assunto?

Um abraço e agradeço-lhe a sua atenção

Joana disse...

valter boita:

Aqui no DRN (Literacia científica: à procura do arco-íris) (tem links no texto)

No entanto, algo que sempre me intrigou é o facto de aqueles que equivalem a ciência a lendas e mitos sentirem necessidade de recorrer a termos científicos, que não entendem, na defesa de teses no mínimo duvidosas. Esta necessidade é magistralmente exposta por Alan D. Sokal (New York University, Estados Unidos) e Jean Bricmont (Université Catholique de Louvain, Bélgica) no livro «Imposturas Intelectuais» (publicado pela Gradiva, claro) .


Alan Sokal foi o autor em 1994 de uma paródia célebre, o Sokal Hoax. Sokal, num nonsense patafísico que faria inveja a Boris Vian, disserta sobre as implicações filosóficas e sociais das ciências naturais e da matemática. A revista «Social Text» não só aceitou publicar o artigo «Transgredir as fronteiras: em direcção a uma hermenêutica transformativa da gravitação quântica», como o incluiu numa edição especial. Considero absolutamente imprescíndivel a leitura da análise do embuste por Paul Boghossian, traduzida pelo Desidério e disponível em formato pdf. As repercussões desse artigo catalisaram a escrita do livro, que li muito recentemente e recomendo.

Sokal e Bricmont pretendem mostrar que esses erros não são involuntários nem acidentais, mas que constituem imposturas deliberadas que pretendem impressionar e intimidar com uma pseudo erudição científica uma audiência ingénua e cientificamente iliterata. Como no título do artigo de Sokal, os autores criticados usam e abusam de termos científicos impenetráveis ao público alvo em contextos completamente non sequitur e recorrem deliberadamente a uma linguagem obscura, difícil ou mesmo impossível de entender, para vender puro lixo pseudo científico como lucubrações profundas.

Desidério Murcho disse...

Olá, Valter

Sobre Sokal, o melhor mesmo é ler o livro dele, que aconselho vivamente:

http://www.gradiva.pt/livro.asp?L=2102

Não conheço bibiografia sobre o ensino da filosofia, que contraste a abordagem "continental" e a "analítica", nem me parece que tal coisa faça sentido. É um erro pensar que há qualquer metodologia de ensino própria da filosofia analítica que se distinga de uma putativa metodologia própria da filosofia dita continental. Nem houve da parte dos nossos professores qualquer escolha, mesmo que houvesse tal diferença: eles limitaram-se a ensinar as únicas bibliografias que conhecem e seguindo o único método anti-filosófico que conhecem, que é ensinar apenas a compreender mais ou menos e a repetir o que dizem os filósofos.

Se é analítico defender que a filosofia é o lugar crítico da razão e que estudamos os filósofos para avaliar criticamente as suas ideias e não para os adorar como deuses, então não há ensino filosófico da filosofia que não seja analítico. Mas é claro que isto é uma tolice. Poderia Nietzsche achar que ensinar filosofia era uma questão de andar a repetir o que disseram os grandes filósofos mortos, como quem repete mantras? Para mim, ensinar filosofia analítica seria ensinar a discutir as ideias de Lewis, Kripke, Davidson, Dummett, etc., etc., no secundário. Se me dizem que ensinar a discutir criticamente Heidegger ou Derrida é ensinar filosofia analítica, há algo de profundamente hipócrita nisto tudo. E o que há é isto: a filosofia tem sido prostituída no nosso ensino, por quem faz dela instrumento para outra coisa -- para fazer passar as suas ideias, atitudes e crenças aos estudantes. Mas isso nunca foi a natureza própria da filosofia.

Valter Boita disse...

Cara Joana e Desidério, agradeço-vos as vossas recomendações. Estive a pesquisar e encontrei alguns textos de Sokal na net, mas prefiro adquirir o livro!

PCD disse...

O meu comentário pode ser lido no endereço infra:

http://frenesi-livros.blogspot.com/2007/08/sociedade-de-mercado-e-o-reformismo.html

Paulo da Costa Domingos

Anónimo disse...

Saudações,

Percebe-se claramente que apesar de tantos comentários (tanto divergentes quanto congruentes) a resposta permanece menos importante que a pergunta.

Antes de responder qual o valor puramente capitalista da filosofia, me pergunto o que quero deixar como herança para as gerações futuras, se desejo "ensinar a pescar" ou "entregar o peixe".

Faço uso das palavras de Marilena Chaui em iluminar mais do que em responder, já que em filosofia o que importa é o que cada um pensa e não necessariamente quem está "certo" ou "errado". Talvez gostar do que faz seja o mínimo necessário, muito mais digno do que fazer porque é lucrativo, mas sem paixão.

"Inútil? Útil?

O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? Para que e para quem algo é útil? O que é o inútil? Por que e para quem algo é inútil?

O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando utilidade e a famosa expressão “levar vantagem em tudo”. Desse ponto de vista, a Filosofia é inteiramente inútil e defende o direito de ser inútil.

Não poderíamos, porém, definir o útil de outra maneira?

Platão definia a Filosofia como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos.

Descartes dizia que a Filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de
todas as coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes.

Kant afirmou que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana.

Marx declarou que a Filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e que se tratava, agora, de conhecê-lo para transformá-lo, transformação
que traria justiça, abundância e felicidade para todos.

Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia é um despertar para ver e mudar nosso mundo.

Espinosa afirmou que a Filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.

Qual seria, então, a utilidade da Filosofia?

Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for
útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes."

... agora, se toda esta utilidade será reconhecida e se alguém pagará por suas idéias, cabe a cada um fazer sua parte e verdadeiramente acreditar que um pensamento pode fazer diferença para o mundo.

Bons Ventos,
Wilhelm.

Anónimo disse...

Desculpe-me por meu modo errôneo de escrever, ainda sou novo e tenho muito de aprender.
Sonho em fazer filosofia, mas não tenho o apoio das pessoas com quem convivo, por causa de que não vêem futuro na profição.
Queria eu uma opinião de um filosofo sobre o assunto
Fasso pré-vestibular vou tentar a UFMG em belo horizonte com certeza devo de passar mas não sei se fasso filosofia pq não sei nem o piso salarial e nem sei quanto ganharia se desse aula todos os dias manham,tarde e noite?

Anónimo disse...

Quanto onda, ou seja, vejo que geraram comentários que oscilam periodicamente. Bom, a diferença é que na física consideramos que uma onda transporta unicamente matéria, mas aqui em uma pseudofilosofia geraram uma onda que transporta unicamente pensamentos. Mas parece que nossa onda já se dissipou tanto que perdeu sua amplitude, que pena, estava interessante surfar nesta onda.
É lógico que este comentário é de um Físico brincando, cai aqui e então também quis marcar o território.

navire disse...

o dinheiro movimenta o mundo, nós movimentamos o dinheiro, os melhores pensadores movem os homens... eu demorei muito para compreender isso mais é uma verdade.. e não uma falácia..

Direitos e dever(es)

Texto gentilmente oferecido por Carlos Fernandes Maia, professor de Ética.   O tema dos direitos e deveres desperta uma série de interrogaçõ...