sexta-feira, 18 de maio de 2007

Vale a pena ler

Título: Terrorismo, Direitos Humanos e a Apologia do Governo Mundial
Autor: Louis P. Pojman
Tradução: Célia Teixeira
Revisão: Desidério Murcho
Editor: Bizâncio, 2007, 176 pp.

Esta é uma obra que defende que a globalização implica a necessidade de uma maior cooperação à escala mundial baseada em legislação internacional eficaz. A melhor forma de fazer cumprir as promessas da globalização é criar um governo mundial. Numa prosa clara, Pojman começa por nos expor as ameaças do terrorismo internacional, de que ninguém está livre, comparando-o com as antigas formas de terrorismo essencialmente direccionadas para alvos específicos, examinando, ao mesmo tempo, os vícios e virtudes do nacionalismo. Por fim, defende que leis internacionais eficazes, que combatam o terrorismo e promovam a paz, exigem um «nacionalismo moderado» o qual, em última instância, será compatível com um governo mundial. Pojman conclui com uma nota positiva e defende uma vez mais que, com as estratégias que propõe, será possível derrotar o terrorismo internacional.

7 comentários:

José Luís Malaquias disse...

Como defensor, desde há muitos anos, da ideia de um governo mundial com verdadeira força e capacidade de imposição da ordem, folgo em ver este livro publicado entre nós.

Tornou-se um chavão dizer que a esquerda é contra a globalização e que a direita é a favor. Na realidade, só no papel é que é assim.

A globalização parte do pressuposto que todos os países podem comercializar livremente os seus produtos em todos os mercados mundiais, livres de tarifas e proteccionismos. Isso implica, na nossa mente, que os países ricos do Norte possam vender livremente a sua manufactura aos países pobres do Sul. Por isso, a direita é, à primeira vista, mais a favor da globalização do que a esquerda. Porém, podemos perguntar-nos. Qual é o produto económico que o Sul poderia exportar para o Norte? Esse produto é a mão-de-obra, que é excedentária no Sul e deficitária no Norte. Ou seja, o Sul compensaria em correntes migratórias e posteriores remessas de emigrantes os fluxos de mercadorias que lhe chegam do Norte.

Mas, nessa altura, a direita trava a fundo e acaba com todas as veleidades de globalização ao nível da livre circulação de trabalhadores.

Ou seja, o modelo de globalização que a direita tanto apregoa é um modelo manco, em que o Norte pode exportar os seus excedentes para o Sul, mas o Sul não pode exportar os seus excedentes para o Norte. Caem então por terra todos os supostos benefícios económicos da globalização. Esta globalização é a globalização dos ricos. Não é a globalização dos pobres. Por isso, antes de reclamarmos a eliminação das barreiras ao comércio, temos de nos perguntar se estamos mesmo dispostos a abolir TODAS as barreiras e a sustentar os fluxos migratórios que irão provocar profundas mudanças sociais e culturais nos nossos ricos e recostados países.

Um governo mundial seria uma boa sede para lidar com essas e outras questões.

Desidério Murcho disse...

Caro Malaquias

Outro livro, até bastante mais profundo e detalhado do que este, é o Um Só Mundo, de Peter Singer (Gradiva), que defende de modo realista maneiras de nos aproximarmos de uma globalização bem pensada e benéfica. Penso que gostará de ler.

José Luís Malaquias disse...

Muito obrigado pela sugestão.
Esta questão é-me muito cara.

Aparentemente, a única globalização que se pode fazer é a que interessa às multinacionais.

A Sony, por exemplo, levou a tribunal uma empresa que comprava PS3 nos EUA antes de elas sairem na Europa, para as vender no continente europeu, pois a Sony queria controlar todos os parâmetros do seu mercado. Quando é que sai em cada país, a que preço, com que características.
Os DVD vêm divididos por regiões, para que os europeus não possam ter acesso simultâneo aos mesmos conteúdos que os norte-americanos.
Os sites de vendas online restringem aquilo que se pode comprar consoante os países de onde é feita a encomenda.
A mesma empresa vende o mesmo produto em dois países por preços completamente diferentes, mas proíbe a venda de um país para o outro, recusando-se a prestar assistência se o produto vier do que eles chamam "grey markets".

Ou seja, as grandes empresas recolheram os benefícios da globalização mas lutam a todo o custo para que os seus mercados continuem segmentados, para poderem optimizar os seus lucros, impedindo a livre competição dos preços em benefício dos consumidores.

Isto, a somar à questão de fundo que expus no meu primeiro comentário, faz-me pensar que não precisamos de menos globalização mas sim de muito mais globalização. Mas uma globalização que se aplique a tudo e a todos. O governo mundial não será depois mais do que uma consequência inevitável, quando for necessário regular todos esses fluxos económicos e migratórios.

Na verdade, o governo mundial já existe. Se formos ver as listas dos conselhos de administração das maiores empresas do mundo, há uma enorme sobreposição de quadros, o que faz com que o controlo das grandes empresas esteja nas mãos de um número muito pequeno de pessoas. Essas pessoas detêm hoje mais poder do que muitos governos nacionais. Portanto, a questão não é a formação de um governo mundial, pois ele já existe. A questão é submeter esse governo mundial a controlos democráticos.

Anónimo disse...

Já agora, o livro de Naomi Klein, No Logo, o Poder das Marcas, publicado entre nós pela Relógio D`Água, é um extenso relato in loco do outro lado da globalização e que recomendo a leitura.
Abraço
Rolando Almeida

Desidério Murcho disse...

Caro Malaquias

Diz "a questão não é a formação de um governo mundial, pois ele já existe. A questão é submeter esse governo mundial a controlos democráticos." Nem mais! A cegueira dos que lutam contra a globalização parece-me ser idêntica às do que lutavam contra a livre circulação de pessoas e bens no espaço europeu. O que devemos é alargar a pouco e pouco esta experiência a todo o mundo.

Paulo disse...

Pois, também sou a favor da globalização, mas convém andar não demasiado depressa. Um passo de cada vez, que é para não acontecer o mesmo que aconteceu com a abolição de fronteiras: facilitou as trocas comerciais legais, mas também as ilegais (eu, pelo menos, penso que com os antigos controlos, situações como a da escravatura de portugueses em Espanha não sucederiam com tanta facilidade. Não estou a defender o regresso aos mesmos controlos, mas poderiam talvez ter sido substituidos por um esquema mais leve e ágil. Talvez).

Assim como com o incremento e vulgarização das viagens intercontinentais, aumentou o fenómeno das espécies invasoras, que trazem problemas novos.

O meu ponto é que, sempre que se vislumbra a globalização de algo de útil, vêm logo os fanáticos da globalização tentar apressar as coisas, não dando tempo a pensar-se nas más consequências do processo, impedindo assim que se pensem nas soluções que poderiam, pelo menos, mitigar os efeitos nefastos.

Passamos a vida a correr atrás do urgente e deixamos as coisas importantes para trás, só lhes pegando quando se tornam urgentes, pensando então em soluções rápidas mas que não são as melhores, por causa da pressa.

Anónimo disse...

Lá vamos nós outra vez...

Como contraponto às, na minha opinião , péssimas recomendações de leitura, sugiro "The Road to Serfdom" de F. Hayek.

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