domingo, 6 de novembro de 2022

Gosto do silêncio e mais ainda da tua voz

Gosto do silêncio e mais ainda da tua voz.

É uma voz distante o silêncio

E a terra a tremer ou o sopro do vento.

E do corpo ansioso é o ventre.

O silêncio adensa-se nas intempéries.

O silêncio é o coração que volta atrás,

A casa, para mover o inamovível tempo.

O silêncio povoa de folhas verdes

A face do prédio

E cora como um fruto maduro.

O silêncio percorre cabisbaixo a rua

E observa de soslaio o muro.

Alguém bate à porta e não ouço a tua voz.

No entanto, caminho em silêncio,

Através de um longo corredor.

De súbito, por detrás de mim,

Ouço a tua voz, pela primeira vez.

Olho-te de soslaio,

Coro como um fruto.

Teu inefável rosto guia-me a uma sala vazia,

A uma olaia, a uma janela e a um café.

Perguntas-me pelas deduções.

Fico em silêncio, frio como uma laje.

Já só tenho palavras para deduzir a Deus. 

Gosto da tua voz,

Mas ninguém falou para mim.

Mas não quero ouvir mais ninguém.

Sem comentários:

Enviar um comentário

1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome.
2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas".
3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias.

EM DESLOUVOR DAS EPOPEIAS

As epopeias só celebram guerras, matanças e cornos assinalados, corridas tontas por plainos e serras, gritos, berros, brados misturados, via...