Por Eugénio Lisboa
MORRER
(Para desmentir a máxima de La Rochefoucauld, segundo a qual, os homens não conseguem olhar de frente nem o sol nem a morte).
Morrer é nunca mais ir conhecer
tanta coisa bela que se vai criar,
tanta coisa bela que se vai criar,
é dizer adeus ao que vai haver,
é ir estar ausente do abrasar.
Estar morto é não ter acontecido,
é o estado de antes de nascer,
é o retorno ao ainda não ter sido,
é o que quer que seja o não ser.
Para o morto, não há qualquer recurso,
não existem, na morte, tribunais.
Está fechado qualquer percurso,
naqueles territórios radicais!
O morto é muito mais que esquecido,
tornou-se um fantasma descabido.
A ARTE DE VIVER
(Depois de um soneto sobre a morte - que se não tema -, um sobre o gosto de viver e de brincar! As antíteses são belos motores de arranque).
E quanto se vive, quando se vive?
E quanto se vê que não é declive
gozarmos o calor em que se vive?
O prazer é coisa que se arquive?
Será de contratar um detective,
para vigiar o quanto se vive?
Pois não é melhor que se reactive,
em Pisa, Florença ou Telavive,
o fogo que, com gosto, se adjective?
A verdade é que, até hoje, mantive
o gozo que, sem custo, entretive,
a mastigar os frutos que obtive,
a afagar a vida que em mim vive
e, com bom cuidado, sempre detive!
Eugénio Lisboa
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