Por Eugénio Lisboa
O humor é uma coisa muito séria.
Penso que é uma das maiores e mais
antigas riquezas nacionais
que devem
.ser preservadas a todo o custo.
James Thurber
A coisa mais negligente, para não dizer a mais feia, que podemos fazer, é descobrirmos um tesouro e não badalarmos logo esta descoberta a amigos e conhecidos, para que dela também possam beneficiar. É tão criminoso como descobrir o chocolate e ficar calado. Não se faz! O que é bom é para repartir.
Dei com a Ana Cristina Leonardo, quando o meu filho João Luís me ofereceu o seu pícaro e fabuloso romance O CENTRO DO MUNDO, que desafia a imaginação do mais pintado. Depois, apareceram as suas crónicas no suplemento ´IPSILON, do PÚBLICO, de tal modo cintilantes de inteligência, verdadeira cultura e humor sonso, fininho e manhoso (os ingleses chamam-lhe humor “sly”, que talvez se possa também traduzir por sacaninha), que achei francamente ranhosa a periodicidade com que eram publicadas. Resmunguei com os meus botões: “Se o PÚBLICO desse conta do valor destas crónicas, publicava-as semanalmente.” Acontece que o PÚBLICO ou deu conta ou ouviu o meu resmungo enviado para o éter.
E passámos a ter, todas as semanas, à sexta feira, o prazer e o privilégio de ler as crónicas de Ana Cristina Leonardo, que são sérias, da maneira
mais séria e competente que há de o ser: recheadas daquele humor que os lusíadas cultivam tão pouco, com excepção de gente (pouca) com o talento de um José Sesinando.
Dos humoristas tem-se dito muita coisa, mas o mais frequente – e tem um fundo de verdade – é dizer-se que não são, em geral, uma tribo feliz. O notável crítico e ensaísta literário britânico, Cyril Connolly, autor do muito conhecido ENEMIES OF PROMISE, punha a coisa nestes termos: ” Os humoristas não são homens felizes. Como Beachcomber e Saki e Thurber, eles ardem enquanto Roma toca violino.”
Ser humorista é uma profissão de alto risco, sobretudo se exercida num milieu de gente com pouca vocação para o humor e que mais depressa afina do que ri. É precisa uma grande arte, para gozar fininho, todo o tempo, com o parceiro, e sair incólume desse exercício. Era isso mesmo que avisava George Bernard Shaw, quando dizia: “Mark Twain e eu estamos muito na mesma posição. Temos de pôr as coisas de tal maneira, que levem as pessoas que, normalmente, nos teriam enforcado, a acharem que estamos só a brincar.”
Ana Cristina Leonardo exercita-se, da maneira mais culta e atrevida, nesta arte de ensinar, divertindo-nos com o seu finíssimo senso de humor e pisando galhardamente a fronteira do risco. E quem não gosta de arriscar-se é melhor não se meter nestas andanças.
Se, como sugere Connolly, ela também pertence à tribo dos infelizes, não sei, porque não tenho o privilégio de a conhecer pessoalmente. Mas sempre direi que, quando leio o seu discurso recheado de ensinamentos e humor sacaninha, prefiro pensar que talvez ela desminta o aforismo do autor de ENEMIES OF PROMISE.
Eugénio Lisboa
Caro Eugénio Lisboa, nem sei como lhe agradecer este texto. Como acabo de dizer ao seu filho, vou abrir um vinho. Muito obrigada e mais não digo que até pareceria mal. (só um acrescento: o humor está tão perto da tragédia que sim, concordo com Connolly. Aliás, tenho para mim que a literatura portuguesa cultiva tão pouco o pícaro porque por aqui é mais drama, dramazinho e dramalhão). Repito-me: muito obrigada!
ResponderEliminarNão tem de quê, cara Ana Cristina (permita-me tratá-la assim). Que está obrigado, e muito, somos nós, os seus leitores fiéis. Creia.
EliminarJá agora, o blog dela: https://wwwmeditacaonapastelaria.blogspot.com/
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