Resposta dada no "Sol" de hoje à última crónica de Inês Pedrosa aquele semanário:
A tragédia do que foi a educação nos últimos trinta anos em Portugal quem mais feriu foi as crianças pobres, as que não tinham livros em casa, nem pais que pudessem ensiná-las ou pô-las a estudar nas escolas diferentes, como aquela em que – aposto – Inês Pedrosa, pôde, felizmente, pôr a filha a estudar.
Foram trinta anos de crime e irresponsabilidade, a deixar que as crianças pobres entrassem na escola pública sem nada e saíssem dela sem coisa nenhuma. Miseravelmente, polpotianamente, sacrificadas à ideologia obscurantista. Um analfabeto deixa de ser um analfabeto por lhe oferecerem um diploma de doutoramento?
O resultado desses trinta anos de delírio estão aí, aos olhos de todos, nos resultados da educação e na realidade social (o abandono escolar não parou, o fosso entre pobres e ricos não deixou de aumentar, etc., etc, todos os indicadores foram já mais do que divulgados), cultural, política, económica.
Mas valerá a pena tentar explicar ou pedir lucidez a quem não entende o óbvio e não vê a realidade mais do que gritante à sua volta? Não vale. Inês Pedrosa é claramente um daqueles seres que acredita no que deseja acreditar.
Relevante é o saber e a competência do ministro e a determinação que está a demonstrar. Aguardemos os resultados. Virão muito depressa. E é disso que andam com medo.
Guilherme Valente
8 comentários:
Prezado Dr. Guilherme Valente: Permita-me relevar do seu texto este pequeno/grande parágrafo: " Um analfabeto deixa de ser um analfabeto por lhe oferecerem um diploma de doutoramento?"
Distribuir diplomas a granel, é fácil. Difícil é dar-lhes a seriedade e a honestidade que deviam merecer num país em que se formam licenciados em vãos de escada e se aceitam teses de doutoramento que são simples redacções ou, pior do que isso, cópias da antiga 4.ª classe do antigo ensino primário.
A propósito escrevia Francisco Sousa Tavares, anos atrás: "estamos a formar não um país de analfabetos como até aqui, mas um país de burros diplomados".
A Senhora conhece bem «a escola» quando afirma "Os ricos terão sempre vantagens – mas essas vantagens esbatem-se com a continuação do trajecto escolar, quer porque as escolas secundárias estão apetrechadas com computadores e bibliotecas quer porque o peso dos professores e do ambiente extra-familiar se vai tornando mais importante à medida que as crianças se transformam em jovens e ganham autonomia"... (continua a falar de meninos de 9 anos? Ou só daqueles que conseguem chegar ao secundário?) Pergunto só: quem marca mais a criança? O professor do 1ºCEB ou o do Secundário?
A escolaridade obrigatória em Portugal é gratuita, mas no próximo ano cada manual para o 1º ciclo vai custar em média 9€... (que não podem futuramente ser utilizados por outros alunos) e só no 1º CEB são em norma 3 manuais mais 2 de fichas... (façam-se agora as contas!).
E se todos os pais se recusassem a comprar esses manuais?????
A propósito do comentário de Armando Inocentes:
Este ano paguei um pouco mais que cinquenta euros, sim
um pouco mais que cinquenta euros!, por um manual de
12º Ano da disciplina de Física.
Cuidei que cumpri o meu dever, ainda antes de as aulas
terem início.
Pois que se fique sabendo: o professor da disciplina
nem sequer liga ao manual. E isto não é uma crítica ao
professor. Para que conste.
PS: Este comentário é apenas um humilde apontamento.
Pois não li a crónica de Inês Pedrosa, que é o motivo
do "post" de Guilherme Valente.
Afinal, cansado que ontem estava, nem reparei que a
crónica de Inês Pedrosa estava facilmente acessível.
Não sei o que a levou a gastar o seu tempo,
escrevendo-a. Nem eu vou desperdiçar o meu tempo,
comentando-a. Mas poderia dizer-lhe que eu era um
menino desprotegido (de uma família pobre) e que senti
grande contentamento quando fiz o exame da quarta
classe, lá por volta dos (meus) onze anitos. E senti
muito gosto porque mostrei, sobretudo a mim próprio, um
"atestado" de capacidade.
Diferentes, que os seres humanos são...
E ainda bem.
Professor Rui Baptista;
É muito mau haver doutores analfabetos.
Mas é também mau os cérebros pobres que produzem homens medíocres.
Do livro “como se forma uma inteligência” (autor Dr. Toulouse) – da Biblioteca Cosmos (direção do Professor Bento Jesus Caraça) retiro uma transcrição para dar o significado do que eu considero ser os “cérebros pobres” e “homens medíocres”.
“O bom sentido popular, por outro lado, não se deixa enganar pelos factos da inteligência. Uma pessoa poderá ser muito instruída, graduada em todas as Faculdades e laureada em cursos superiores, ser até possuidora de cátedra e ter funções eminentes e, contudo, continuar a ser um pobre cérebro. O seu criado de quarto não ficará deslumbrado por esses títulos; pensará que apesar de tudo, o seu amo não é inteligente; e não se enganará. Desta forma se explica o fracasso de certos indivíduos notados na escola, alunos de prestígio, que se converteram em homens medíocres.”
Um bom exemplo é António Barreto (sociólogo) poderia ser outro, há tantos;
António Barreto diz num documentário televisivo, e escrevo de memória: que a lei agrária com o seu nome (lei barreto) era boa, tudo era pensado e indicado à realidade do páis; só descuidou um pormenor, e diz ele - com à-vontade surpreendente - que só mais tarde compreendeu que a sua reforma nunca poderia ter sido viavél sem que houvesse a adesão voluntária das massas trabalhadoras”.
Professor Rui Baptista, haverá melhor exemplo pelos resultado e conclusão (qual verdade de La Palisse), de falta de inteligência, e de homem com cérebro pobre que se tornou medíocre.
Não basta pois a certas personalidades deixar crescer o cabelo e puxa-lo atrás para mostrar a sua testa e assim parecer doutor; nem tão pouco o país proporcionar-lhes oportunidades (com recursos e meios) o que para outros não passaria de uma quimera; nada lhes servirá no branqueamento da verdade, pois o bom sentido popular não se engana.
A História fará justiça certeira, assim espero.
Liberte-mo-nos de certas amarras intelectuais.
Cordialmente,
O texto de Inês Pedrosa representa o nosso triste passado, não representa o futuro!
Caro Guilherme Valente:
Concordando em absoluto consigo sobre a questão em causa (a necessidade de avaliar, com exames a sério, os conhecimentos dos alunos, a começar pelo 1º Ciclo), há que referir que o nosso amigo Doutor Nuno Crato está a cometer alguns erros: as turmas de 30 alunos sem antes se mudar o Estatuto do Aluno, os Mega-Agrupamentos com a indisciplina que isso acarreta, a poupança a todo o custo com os professores e funcionários das Escolas a pagarem (do bolso ou com o desemprego) a fatura toda. Será que Giga-Agrupamentos, com 30 estabelecimentos de ensinos, 350 professores e 3.000 alunos, geridos por telefone de uma Escola Secundária, irão funcionar?
Nunoi Crato, para poupar no próximo ano 370 milhões de euros vai sacrificar toda uma geração e dar cabo da Escola Pública - e digo isto porque conheço e gosto de Nuno Crato...
Exames escolares a meninos de 9 anos mantêm as classes sociais estáticas
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