quinta-feira, 12 de abril de 2012

O valor simbólico das palavras

Chegou-me às mãos o livro Reinventar Portugal, saído no passado mês de Fevereiro, na Editorial Estampa. Com textos de diversas personalidades das mais distintas proveniências, detenho-me num que tem por título Reflexão sobre o sentido de ensinar, da lavra de Maria do Carmo Vieira.

Detenho-me de modo particular numa passagem sobre o texto poético que esta professora diz, e eu sei que assim é, ser "bastante menorizado" no ensino básico (página 183).

Como podemos explicar isso (a interrogação é minha), se as crianças são "atraídas pela musicalidade das palavras, essência da poesia, não constituindo motivo de perturbação o facto de, por vezes, não compreenderem integralmente o seu significado"?

E continua: "Esta é a nossa experiência, passada e presente: a leitura de poemas desde a infância e o trabalho de análise daí decorrente desenvolvem a imaginação, capacidade crucial em todo o acto criativo, artístico ou científico, e despertam as crianças para o valor simbólico das palavras e para a sua sonoridade, treinando a interpretação e fazendo nascer uma afeição pela poesia que, fortalecida por uma convivência regular, na sala de aula, prolongar-se-á naturalmente no tempo."

Pode perguntar-se o que tem o ensino da poesia a ver com a necessidade de reinventar - voltar a inventar - o nosso país, neste estranho início de século? Tem tudo a ver.

Nacionalismos à parte, que não interessam para aqui, a (única) possibilidade de ganharmos consciência, sensibilidade e dignidade é reinventar a educação, ainda que isso não se faça de uma vez, ainda que seja preciso recuar para voltar a avançar, ainda que isso leve anos a conseguir.

Mas sempre sem deixar de ter os olhos postos naquilo que nos permite encontrar-nos connosco próprios. Para isso serão vários os conhecimentos que teremos de oferecer às novas gerações. A poesia está entre eles, ou, melhor, pelo "valor simbólico das palavras" de que é feita, sobressai entre eles.

8 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Temos o dever, melhor, a obrigação, de ensinar (repito, ensinar) às crianças, aquilo que (julgamos que) sabemos.
Temos igualmente o dever, digo, obrigação, de mostrar/revelar ou pelo menos de não esconder, a beleza das coisas às crianças: a beleza da poesia, a beleza da música, a beleza da matemática, a beleza/ferocidade (aqui com algum cuidado...) da vida, etc.
E as crianças, de modo geral, saberão integrar cada um desses enriquecimentos.
Por isso, é nosso dever, corrijo, é nossa obrigação, não correr de (suposta) teoria pedagógica em (suposta) teoria pedagógica na procura de (supostas) técnicas mágicas de ensinar e de aprender. Porque, ensinar e (des)aprender foi o que a humanidade sempre fez. E também porque há aspetos da arte que se aprendem/desenvolvem sem que sejam propriamente ensináveis...
Mas, como é que se diz isto a tantos "(psico)pedagogos" que não dão (nem nunca deram) aulas a crianças?
E quando alguma coisa dizem ou escrevem fazem-no comummente da forma mais "secante" possível, para usar os termos de alguns adolescentes que eles supostamente saberiam fazer aprender.
E aqui incluo os "eminentes" técnicos para a educação da OCDE.

Nota: De modo "macarrónico" escrevi este comentário. Fi-lo propositadamente, a fim de melhor ilustrar certos estilos ditos "pedagógicos". A ver se me faço entender melhor...

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor José Baptista da Ascensão;

Os filhos, dão-nos a preocupação - pela necessidade de educação, e levam os pais a tentar entender os problemas ligados ao ensino; é nesta situação que eu me encontro – esforço-me pois, por entender qual o melhor caminho, numa tentativa de “fugir” ao que o acaso vier a impor.

Após algumas leituras sobre o assunto começa-se a ter ideias daquilo que julgamos nós ser o mais indicado (influenciados diretamente por essas leituras, naturalmente).

Acontece, porém, não poucas vezes, que as coisas no nosso país surgem muito contraditórias, onde já não devia contradições; e não há pelo menos para outros.
Em demasia, seguramente, pois não se trata só de pequenos pormenores, - trata-se sobretudo de questões fundamentais - o que só nos diz que, tanto podemos ir no bom ou mau sentido, aguardemos...

É por exemplo para mim contraditório a questão das avaliações dos alunos (e a falta de parcimónia nos exames em geral). Esta ideia que tenho, e já o disse aqui no DRN, é uma conclusão minha, que retiro das leituras dos textos didáticos do Professor José Sebastião e Silva.

Vêm este assunto a propósito da critica que o Senhor faz a respeito dos "eminentes" técnicos para a educação da OCDE, e a noticia dessa Organização, que “A avaliação dos alunos está demasiado concentrada nas «notas» atribuídas” pode aceder-lhe neste link http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=567483

Lida a noticia, da OCDE, não tenho dúvidas que hoje estamos-nos a afastar daquilo que preconizava o Professor José Sebastião e Silva, pois a verdade é esta, nunca caminhámos naquela direção com sentido de dever e responsabilidade; veja-se ao que chegou o ensino (mas, direção que, no entanto, vai de encontro ao que a OCDE hoje defende, e refiro este particular, os exames, avaliações e necessidades de formação dos Professores).

Agora, permita-me, gostaria de colocar algumas questões, como acima disse, este assunto preocupa-me:

Qual a razão da sua crítica aos técnicos OCDE, agora que estamos a ir num sentido contrário às recomendações desta Organização?

E enquanto – "aguardemos..." – se o caminho se revelar espinhoso? Irá alguém desta vez assumir a responsabilidade de alguma coisa?

Porque não acatamos as recomendações da OCDE e fazemos um trabalho impecável e com responsabilidade, e de uma vez por todas?

Estaremos já tão irremediavelmente perdidos, que já não nos seja possível encontrar o caminho por onde os outros andam há muito?


Cordialmente,

Manuel Galvão disse...

Adultos iletrados saem da igreja, após ouvirem a homilia do sr. prior, dizendo: Falou tão bem, o sr. padre!!! E não perceberam nada…

José Batista da Ascenção disse...

Caro Joaquim Manuel Ildefonso Dias

Das recomendações da OCDE, para exemplificar, realço

uma: os alunos devem participar na sua avaliação.

Não sei o que pensaria sobre isto o Professor Sebastião

e Silva. Dele tenho apenas (ainda guardo) um conjunto

de livros de exercícios de matemática dos meus tempos

do ensino complementar dos liceus.

Mas não concordo com a ideia de que devamos (sequer

aceitar) ser juízes em causa própria. Esta prática é

muito usada entre nós até para alguns professores

justificarem as classificações que atribuem... O que

acho absolutamente lamentável. E não falo de cor. Tenho

em conta a realidade que vivo, há décadas.

Depois há o suposto desvelo com que (hipocritamente) se

quer ser amigo dos alunos. Inversamente proporcional ao

desprezo e esmagamento a que se sujeitam os pais deles,

professores incluídos. O que significa que, mal estes

alunos saiam do ensino, e procurem o mercado de

trabalho, serão então esmagados sem dó nem piedade pela

bruteza de quem os fragilizou para a vida. É o que a

nossa escola tem feito.

E sabe, começo a ver certas instituições internacionais

de relevo como organizações fornecedoras de lugares

(tachos) para ocupação de políticos (e técnicos)

profissionais de diversos países que perderam

oportunidades e credibilidade nos seus próprios países.

Vou dar-lhe alguns (poucos) exemplos proibidos e

escandalosos, mas elucidativos.

Lembra-se de um primeiro ministro chamado A. Guterres

que, embora homem de bons princípios, foi tremendamente

incompetente e nada corajoso? Ocupa agora um alto cargo

internacional, que, não obstante, espero que desempenhe

o melhor possível.

Lembra-se de outro primeiro ministro chamado D.

Barroso, que não sabia o que fazer com as contas nem

com o resto no seu país? Ocupa um elevado cargo na

Europa, ganha bem, está confortável, apenas tendo que

fazer o que a França e sobretudo a Alemanha mandam. Vá

lá que ao menos fala bem línguas. Pode portanto

entender-se bem com quem manda nele.

Lembra-se de outro que foi candidato a presidente da

república e vice-primeiro ministro depois de ter sido

líder de um partido durante muitos anos, chamado F.

Amaral? Depois de perder toda a credibilidade política

no seu país ainda foi presidente da assembleia geral

das nações unidas, o que deve ter sido muito bom...

para ele.

Por isso me preocupo muito com a realidade do meu país.

E conto com as pessoas do meu país. Especialmente com

aquelas que trabalham sem a perspetiva de altos cargos

nem altos vencimentos nem altas honrarias.

E tenho uma funda esperança de que, com esses, Portugal

não acabará. Mas sei que passará muito mal. Os meus

filhos passarão muito mal. Admito que os seus também.

E quanto gostaria de estar enganado!

Com cordialidade.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor José Baptista da Ascensão;


Tenho a ideia de que as coisas se passam assim, exatamente como refere, infelizmente.
Reconheço por isso a justeza das suas palavras. São palavras sinceras de quem não fala de cor e fala por experiência sentida.

Aqueles a quem interessa, para a defesa do poderio, que as coisas corram mal estão do outro lado; lado oposto ao da maioria que se encontra já muito amarfanhada.
Mas esses que (em minoria é certo) tudo fazem para que as coisas sejam más, atingem os seus fins, que é desde logo descredibilizar, e para isso lançam coisas absurdas no sistema de ensino; mal tratam quem tiverem que mal tratar sem olhar a meios e com toda a arrogância, e por ai fora, enfim, o comum do que se assiste diariamente em muitas atividades profissionais.

Agora identificada a situação como má no ensino, há que encontrar o caminho certo e com toda a perspicácia, ainda que os resultados não sejam imediatamente visíveis, é disso que se trata, é disso que necessitamos urgentemente.

Na última das questões que coloco no meu anterior comentário surge-me na memória outro eminente Matemático que foi o Professor Aureliano Mira Fernandes; Ele dizia uma frase que eu, durante muito tempo, pensei que ele se referia às condições em que se trabalhava em Investigação em Portugal; mas não; não era essa a mensagem que ele queria transmitir.
Ele nessa frase referia-se aos exames. Descobri isso num depoimento do Professor Sebastião e Silva que cito parcialmente;

“Todos veneravam o Prof. Mira Fernandes, até ao ponto de o considerarem um semi-deus. (…); este professor que detestava exames , dizendo com o seu fino humor: "Deve haver poucos países onde as pessoas saibam tão pouco e percam tanto tempo a tentar saber o que os outros sabem".

Professor Baptista da Ascensão, encontra, nesta frase, a razão da minha última pergunta; e o sentimento de inquietação que me provoca o caminho em que seguimos – sempre a perder tempo.
É caso para dizer que destino estranho o nosso – agora que temos um Matemático a dirigir a educação, …

Ironia do destino, ou talvez não....



Cordialmente,

Armando Inocentes disse...

O problema do ensino em Portugal não está no haver ou não exames! O problema está em não termos conteúdos adaptados à realidade atual (não posso escrever «actual» porque por lei sou obrigado à grafia do atual) da criança e ao que ela aprende na chamada "escola paralela". As solicitações a que a criança está exposta são muitas (umas boas, outras más)! A escola sabe geri-las? E o ME?

O problema está em termos adaptado um pedagogia nova a conteúdos antigos a seguir ao 25 de Abril. Regressámos aos métodos antigos com roupagem nova - trocámos objetivos por competencias, é o Plano Anual de Atividades, é o Plano Curricular de Turma... - mas com os mesmos conteúdos antigos. Saber onde fica a serra de Sintra no mapa é uma coisa e conhecer a serra de Sintra é outra! Saber que a serra mais alta de Portugal não fica em Portugal Continental - provavelmente poucos sabem, mas menos a conhecem!

Excelente o post de Helena Damião! Por acaso alguém leu "O poeta faz-se aos 10 anos" de Maria Alberta Menéres? Gostaria que comentasse aqui quem tivesse lido esse livro!

E sim, é verdade, estamos "sempre a perder tempo". Antigamente era a sempre a redação sobre «a vaca» - e como dizia a Mafalda (do Quino), "A vaca dá-nos o leite. E a tinta que ela nos tira?". Só um exemplo: agora todos os anos (1º, 2º, 3º e 4º) contamos aos meninos a "lenda do S. Martinho"... e lá vai mais uma pintura de um desenho e uma ficha para os miúdos preencherem e outra para avaliarem a atividade e o relatório para o professor elaborar (Ah!! já me esquecia do magusto, isso sim, vale a pena! Tem castanhas assadas!!! Pena não poder haver geropiga na escola!).

Cumprimentos.

Armando Inocentes disse...

Ou será jeropiga?

Cláudia da Silva Tomazi disse...

realçado

FÁBULA BEM DISPOSTA

Se uma vez um rei bateu na mãe, pra ficar com um terreno chamado, depois, Portugal, que mal tem que um russo teimoso tenha queimado o te...