quarta-feira, 7 de março de 2012
Os raios X há 95 anos
Crónica a propósito do 95º aniversário do jornal "O Despertar":
Nesta edição, de 2 de Março, que celebra 95 anos de existência de “O Despertar” quero deixar, para além dos votos de que conte muitos mais, o meu agradecimento pelo papel que, nos últimos anos, este jornal tem tido na divulgação de ciência.
De facto, este periódico tem vindo a dedicar espaço regular à ciência e, entre crónicas e notícias, tem contribuído para uma maior proximidade entre a cultura científica e os seus leitores.
Há 95 anos, ou seja em 1917, quando foi lançada a primeira edição desse jornal, a radiação electromagnética genericamente designada por raios X foi notícia.
Os raios X, assim baptizados em 1895 por Wilhelm Röntgen (1845-1923) por desconhecer a sua natureza, compreendem, em rigor, a radiação electromagnética de comprimentos de onda entre 0,005 e 1 nm (1 nm é igual à milionésima parte do milímetro). Desde a sua descoberta acidental que as suas aplicações nunca mais pararam de ser úteis, quer seja para compreender a íntima natureza da matéria (como é que os átomos que formam os cristais, as proteínas, o ADN, etc., estão dispostos no espaço a três dimensões) quer seja no dia-a-dia da medicina, primeiro através das radiografias, depois através das tomografias axiais computadorizadas (TAC), entre outras aplicações no estudo do Universo.
Dizia eu que, em 1917, os raios X foram notícia pelo facto de ter sido atribuído o Prémio Nobel da Física ao inglês Charles Barkla (1877-1944) pelo seu trabalho sobre a difração dos raios X por diversos elementos. Talvez o “O Despertar” tenha publicado essa notícia.
Curiosamente, um outro assunto relacionado com os raios X, nesse ano de 1917, não foi notícia nem nesse, nem em qualquer outro jornal generalista. Se tivesse sido noticiado, o conhecimento que ficou desconhecido teria poupado muito trabalho aos físicos que desenvolveram, no início dos anos 60 do século XX, os princípios do que viria mais tarde a ser designado por TAC. Estes cientistas desconheciam, aparentemente, que um matemático nascido em Děčín (hoje cidade checa), de seu nome Johann Radon (1887-1956), tinha criado, já em 1917, toda a matemática necessária para derivar dados tridimensionais a partir da combinação de um determinado número de feixes de raios X. Ou seja, Radon tinha mostrado como obter uma função a partir de uma série infinita de projecções, o que ficou conhecido por transformada de Randon na área da geometria integral.
Hoje, 95 anos depois e em relação com uma não notícia, endosso os meus parabéns a este jornal conimbricense.
António Piedade
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