sábado, 3 de março de 2012

COIMBRA EM 24 HORAS


Tive recentemente de receber um visitante da Sorbonne, Paris, que só podia estar em Coimbra durante exactamente um dia. Tive, por isso, de fazer primeiro mentalmente e depois na prática um roteiro que aqui fica registado, como sugestão a quem tenha de ciceronear convidados.

Apanhado ao fim do dia o visitante no Hotel Astória, que conserva o seu charme apesar de não possuir o conforto dos hotéis modernos, o rumo foi a pé, pelo Parque da Cidade, até ao Parque Verde, para um jantar de peixe e vinho do Dão no restaurante Portuguesa. Da Ponte Pedro e Inês vê-se o casario iluminado, encimado pela Biblioteca Joanina e pela Torre universitária, agora resplandecente pelo restauro. Havia fados na À Capella, o bar da Rua Corpo de Deus, o que permitiu passagem nocturna pela Porta da Almedina.

Na manhã seguinte, o dia começou com a visita ao Mosteiro de Santa Clara a Velha, um das jóias da cidade. Seguiu-se, muito perto, a Quinta das Lágrimas, com o jardim medieval, a Fonte dos Amores e a Colina de Camões. E, ao lado, uma volta rápida pelo Portugal dos Pequeninos, uma espécie de cápsula dos tempos do Estado Novo. De carro, apesar de ter de se dar uma volta escusada (o trânsito em Coimbra tem razões que a razão desconhece), o acesso foi fácil até Santa Clara a Nova, onde o carro passa à justa pela porta, para ver a vista de postal ilustrado e o interior da igreja, que bem precisa de restauro. Descida rápida até à Baixa (o Bragaparques, apesar de caro, é conveniente), para, atravessando a profunda ferida urbana que fez o projectado metro, desfrutar de uma bica e um pastel no Café de Santa Cruz e de uma visita ao antiquíssimo Mosteiro de Santa Cruz, onde uma mini-exposição na Sala do Capítulo, contíguo ao extraordinário claustro (a paz absoluta no centro da cidade!), mostra relíquias de São Teotónio. Ainda houve tempo para um pulo até ao Pátio da Inquisição, onde a visita ao Centro de Artes Visuais (que só abre de tarde) teve de ser substituída pela dos socalcos exteriores ao Teatro da Escola da Noite, onde há um inesperado plano de água.

Recuperada a viatura, não sem antes ver a Praça Velha (há novidades por perto, como o alfarrabista nas traseiras da Igreja de São Bartolomeu), ala que se faz tarde até à Alta. Almoço no Café Couraça, com vista para a Mata do Botânico, que aguçou o apetite para o passeio pós-prandial no Jardim Botânico. Na Universidade, a Biblioteca Joanina, a Capela e a Sala dos Capelos fazem parte do inescapável circuito turístico, mas mostrei também o novo (o Anfiteatro de Fernando Távora) e o velho (antigas salas azulejadas de Direito) fora do circuito. Seguiu-se o Museu Nacional de Machado de Castro, com um giro pelo criptopórtico e pela mostra sobre o carro eléctrico de Coimbra, enquanto a exposição principal não reabre. Por último, depois de breve entrada na Sé Nova, uma visita longa ao Museu da Ciência, começando pelo Gabinete de Física Experimental, o “Museu dos Bichos” e a Galeria de Minerais, todos eles no Colégio de Jesus, para terminar, após um lanche na Cafetaria do Museu, no Laboratorio Chimico. No regresso ao hotel, ainda houve tempo para ver, embora só por fora, a Sé Velha e a Torre do Anto. A noite caía e as 24 horas de Coimbra terminavam. Se mais tempo houvera, Coimbra mais teria para oferecer.

2 comentários:

Anónimo disse...

E que bela visita e tão bem organizada! Parabéns.
Só um breve reparo linguístico, uma troca de consoantes: é pós-prandial, visto que em latim a palavra para almoço é prandium. Uma questão de somenos, mas que merece ser corrigida. Peço desculpa pelo reparo.
I.Martins

Carlos Fiolhais disse...

Cara/o I. Martins
Já emendei, obrfigado pelo reparo.
Cordialmente
Carlos Fiolhais

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