segunda-feira, 12 de março de 2012
Livros com Química: O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde
Texto retirado das minhas notas compiladas para a palestra Livros com Química realizada no âmbito do Chá das Três no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.
O Estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde foi publicado por Stevenson em 1886 e conta-nos a história de um médico que desenvolve uma fórmula para separar a sua parte má (Mr. Hyde) da sua parte boa (Dr. Jekyll). Trata-se obviamente de uma fantasia, pois não parece que seja possível desenvolver um preparado que conduza a alterações anatómicas tão radicais como as que são descritas no livro. No entanto, existem hoje fármacos que induzem alterações radicais de comportamento e mesmo de personalidade. A tragédia desenvolve-se com Mr. Hyde a tomar progressivamente o lugar do Dr. Jekyll, acabando ambas as personagens por morrer com o suicídio de Mr. Hyde. Este só o faz porque não consegue voltar a ser o Dr. Jekyll para poder fugir a ser apanhado pelos crimes que cometeu. Para além da transformação acontecer cada vez mais frequentemente, o Dr. Jekyll não consegue voltar a reproduzir a fórmula após ter acabado um dos reagentes. De facto, para além dos aspectos relacionados com as alterações de personalidade induzidas por fármacos e os mecanismos do vício que estão implícitos ao longo da história, o livro revela vários aspectos do que é uma investigação química mal conduzida. O Dr Jekyll não consegue reproduzir a fórmula, conclui numa carta, porque tinha usado um reagente impuro. Toda a investigação foi mal conduzida. Não foi verificada a pureza e real composição dos reagentes. Não existia um caderno de laboratório credível que permitisse a outros investigadores confirmar ou reproduzir os resultados. O caderno do Dr. Jekyll só tem datas e indicações sobre o sucesso das suas tentativas. Finalmente fez ensaios em si mesmo sem ter acautelado os possíveis efeitos secundários. Actualmente, um possível fármaco passa por um grande número de testes em células e modelos animais antes de ser experimentado em humanos.
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