terça-feira, 13 de março de 2012

CASAR A CIÊNCIA COM O ENSINO SUPERIOR


O jornal universitário "A Cabra" pediu-me que indicasse uma ideia para o ensino superior. Indiquei-a e foi hoje publicada:

O alemão Wilhelm von Humboldt criou no início do século XIX o conceito moderno de universidade ao enfatizar o papel da criação de conhecimento. Hoje sabemos que a melhor maneira de transmitir novos conhecimentos às novas gerações é criá-los no local onde se transmitem. A ciência desenvolvida numa escola chega aí imediatamente. E o espírito científico paira aí permanentemente.

Em Portugal a ciência experimentou um processo explosivo nos últimos 20 anos. Mas uma parte do sistema científico foi montado à margem das universidades, embora mantendo ligações com elas. Surgiram, por exemplo, instituições privadas sem fins lucrativos, destinadas a absorver os financiamentos e a facilitar a vida aos investigadores, poupando-lhes a burocracia de uma Universidade que, por muito que se fale em autonomia, ainda está sob a alçada do ministro das Finanças. Criaram-se dentro da Universidade muitos, talvez demasiados, centros de investigação, que nem sempre correspondem à estrutura dos Departamentos. De facto, a maior parte dos investigadores científicos são professores e se, de manhã, têm de ensinar, na mesma manhã ou de tarde têm de investigar noutro lado. Contudo, a relação entre a ciência e o ensino superior não tem sido suficientemente debatida e, por isso, aprofundada. A relação entre as instituições privadas sem fins lucrativos e as Universidades é, quase sempre, pouco clara. A inserção dos Centros dentro da Universidade é confusa, pese embora algumas melhorias que se têm ensaiado. Muitos investigadores trabalham na Universidade sem terem os devidos direitos dentro dela.

Numa situação de aperto financeiro como a actual, a ocasião é boa para “casar” a ciência com a universidade. Pode-se dizer que já estão “casados”. Mas trata-se mais de uma “união de facto” em que as duas partes não se sentem muito ligadas, se não mesmo de um simples “namoro”, com os seus altos e baixos. Por exemplo, existe uma avaliação feita pela Fundação para a Ciência e Tecnologia às unidades de investigação, uma avaliação dos cursos pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior e ainda uma avaliação dos docentes organizado, de uma maneira muito discutível, por cada universidade. Ora, a melhor maneira de não ter uma boa avaliação da Universidade é ter muitas avaliações...

Os reitores e os directores de Faculdade deviam ter uma palavra mais forte sobre a organização e o financiamento da investigação. Percebe-se que o sistema tenha sido montado sem a sua intervenção, mas, graças ao progresso da ciência entre nós, a universidade melhorou muito e os líderes universitários têm hoje melhor consciência do papel da ciência. Sabem que as melhores escolas são aquelas onde a investigação está mais bem organizada e desenvolvida.

Quanto aos estudantes, eles lucrariam se, desde muito cedo na sua vida universitária, pudessem colaborar nos trabalhos de pesquisa. Adquiririam mais rapidamente o espírito científico. No 3.º ciclo do ensino superior, eles são, aliás, os protagonistas principais da investigação. Não há nova ciência sem eles.

2 comentários:

tempus fugit à pressa disse...

No 3.º ciclo, eles são, aliás, os protagonistas principais da investigação.....que exagero nem no 12º o são...e isso deve-se a um ensino de pseudo-ciência repetitiva desde há décadas e desinteressante

quanto aos investigadores e aos dinheiros direccionados para investigação perdem-se em muitos lados

e nem toda a investigação é nas ditas ciências experimentais
há muita ciência associal e afins

e muitos custos com gasoil pensões de 4 estrelas
e um macintosh novinho em folha pra servir de pesa papéis

hoje provavelmente um Ipad ou um Irak..para pôr os livres birtuais...

tempus fugit à pressa disse...

Os reitores e os directores de Faculdade deviam ter uma palavra mais forte sobre a organização e o financiamento da investigação...ao estylo do Brigadeiro Passos morgado e dos seus 500 mil em informática devoluta em wangs e similares de curta vida?
ou ao estylo do fungágá da bicharada e atribuição pelos departamentos e faculdades que o apoyaram na subida?

ou ao estylo do magnífico reytor e dinossauro excelentíssimo

ou aquele Jorge que fez da universidade de eboracum um buracum de panfletários e de investigação vazia

A azinheira esse fóssil económico 8000 contos
A azinheira um ecossistema de futuro...
A erosão e o seu contributo para a libertação de CO2

e outras pérolas do mesmo jaez...

ou os 30 dias em pensões beirãs de 3 e 4 estrelas que passavam por ano alguns machos alfa em pesquisas sobre a natureza das estagiárias (e estagiários e afins bolseiros da vida investigativa)

fora os cachimbos de raiz de nogueira
comprados pela Fundação dA fAculdade de tal...

agente compreend

50 ANOS DE CIÊNCIA EM PORTUGAL: UM DEPOIMENTO PESSOAL

 Meu artigo no último As Artes entre as Letras (no foto minha no Verão de 1975 quando participei no Youth Science Fortnight em Londres; esto...