O processo de internacionalização da educação superior, iniciado há uma década, tornou-se irreversível e exige o engajamento das grandes universidades, sejam elas públicas ou privadas.
Atualmente, 3 milhões de estudantes estão fora do seu país de origem, e a expectativa é que em 2025 esse número suba para 8 milhões. Assim, a internacionalização deixou de ser apenas uma atividade acadêmica para se tornar um negócio. Singapura, que pratica um programa emblemático de atração de estudantes, extrai desse contingente 1,9% de seu PIB – o que não é desprezível – e no Reino Unido 30% dos estudantes de pós-graduação são de fora do país.
Agora, como diferenciar uma instituição de um país que pratica um programa de atração de estudantes estrangeiros sério das oportunistas? Essa é a equação que devemos resolver.
O primeiro sintoma de uma instituição séria é que ela permite a reciprocidade e enxerga a instituição brasileira como uma parceira, e não como um cliente. Para tal, as instituições devem negociar projetos e não quantidade de alunos. Tais projetos devem envolver trocas de estudantes e professores para que a integração seja completa. Vários programas de agências de fomento facilitam essa relação, mas, no entanto, se restringem à pesquisa e não contemplam a mobilidade de alunos de graduação.
Com o programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal, podemos desenvolver projetos conjuntos, multidisciplinares, com um grupo de alunos de graduação oriundo das duas escolas em igual número, orientado por dois professores, um de cada instituição. O grupo realiza um projeto previamente discutido entre os orientadores, sendo uma fase executada no Brasil e outra no exterior. Esse projeto deve assegurar a paridade no intercâmbio e estimular relacionamentos mais profundos na área de pesquisa.
Devemos pensar também naqueles alunos que não podem sair do País. Como inseri-los no processo de internacionalização? Ninguém pensa nisso, pois entende-se a internacionalização como um processo que exige a mobilidade estudantil, o que não é verdade. Uma alternativa interessante consiste em convidar professores de universidades estrangeiras para ministrar, na sua língua nativa, seu curso no Brasil. O Ciência sem Fronteiras contempla essa modalidade. Como é difícil a permanência de um professor por longo período, poderíamos utilizar o período de férias escolares para essa atividade. Nosso aluno teria um curso de uma universidade estrangeira, com certificação da instituição de origem, que poderia eventualmente ser utilizado para equivalência com disciplinas de seu currículo.
Comparado com as universidades de classe mundial, temos muito a fazer para nos integrarmos, como se deve, no processo de internacionalização. A quantidade de professores estrangeiros em nossas universidades é desprezível, apesar de haver um bom número de publicações em parceria com professores do exterior. No entanto, nosso país apresenta, no momento, condições de atrair jovens talentos para cursarem nossas universidades e para isso precisamos de um projeto de Estado para viabilizar essa proposta. A Austrália, cuja população é menor que a região metropolitana de São Paulo, absorve mais de um décimo dos estudantes estrangeiros em intercâmbio com políticas semelhantes.
Enfim, sendo audaciosos, devemos tentar seguir o exemplo dos Estados Unidos e da Suíça, os quais atualmente são os maiores importadores per capita de sua elite científica, e nos tornar, com facilidade, um hub latino-americano de destino dos jovens talentos.
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