sexta-feira, 22 de julho de 2011

Verbos da economia


Voltamos a destacar a crónica de J.L. Pio Abreu saída no "Destak" de hoje:

Há verbos simples e complicados. Os mais simples são aqueles que não têm argumentos. O verbo chover e nevar não têm qualquer argumento. Simplesmente chove ou neva, sem que se queira saber o que é que chove ou para quem é que neva. Mas o verbo rir, tal como morrer e chorar, tem um argumento. Se existe riso, é porque alguém está a rir: eu, o vizinho do lado, a plateia ou o boneco animado.

Depois temos os verbos com dois argumentos: matar, ferir, pintar, e tudo aquilo que alguém ou alguma coisa tem de fazer acontecer noutra coisa ou alguém: o António feriu o Joaquim, o carro matou o transeunte, o artista pintou o quadro. Os verbos com três argumentos são mais complicados, porque temos de pensar em três coisas à volta deles: alguém deu uma moeda ao pobre, o João trouxe o automóvel de casa, o Rui enviou uma carta à namorada ou o barco levou os navegantes até à costa.

Os verbos mais complicados têm quatro argumentos. Exemplos: um coleccionador trocou com outro uma moeda por um selo, o Francisco comprou um automóvel no stand por trinta mil euros, eu emprestei dinheiro ao Estado por um certo juro. É certo que as expressões matemáticas podem relacionar mais argumentos. Mas no discurso verbal, o limite fica por aqui. O curioso é que os verbos mais complexos, que mais obrigam a pensar, se usam no domínio da economia. Nem toda a gente consegue ter na cabeça quatro argumentos ao mesmo tempo. Será por isso que os políticos mal se entendem sobre assuntos económicos?

J.L. Pio Abreu

2 comentários:

Cláudia S. Tomazi disse...

Verbo da economia - navrer
17.The point could be ilustrated from the history of the verb navrer originally meaning ’to wound (physically)’, it came to be used figuratively, no doubt through hyperbole, of moral wounds, while still for a long time a living metaphor. Gradually, however, the word came to apply exclusively to the moral sphere and lost its original meaning, thus becoming a dead metaphor – no metaphor at all in the fact. At least a part of this historical process can be witnessed all over again in the case of the verb blesser, which when used, as it often is, of moral wounds, is a living metaphor.
Book - The French Language in the Seventeenth, Contemporary opinion in France
Pg.420, Peter Rickard

maria disse...

é capaz. mas entendem isto perfeitamente : se eu favorecer este ganho tanto. 3 argumentos , não é ? ou 4 ? ou talvez só entendam o binómio favorecer/ ganhar e todinhos os argumentos à volta do seu umbigo cheio de cotão e bactérias. escapa-se-lhes um argumento , de certeza , importantíssimo : mas prejudico aquele , o que sustenta a base . e a longo prazo , com este que se lhes escapou , desequilibram tudo. e lá temos de gramar pirâmides invertidas na economia , que , sem pé , se afundam. glu , glu..

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