domingo, 13 de dezembro de 2009

Money makes the education go round - 1

Pagar-se a certos alunos para estarem na escola (apenas para estarem?) é prática generalizada nos sistemas de ensino ocidentais (ver aqui uma notícia curiosa). Não, não estou a falar de bolsas de estudo nem de mérito. Estas têm um longo passado, sendo claras as suas regras relacionadas com o rendimento académico. Estou a falar de incentivos financeiros, prémios para “obrigar” alunos em risco de exclusão a aceitarem o direito à educação, a cumprirem o dever de assiduidade…

Pagar-se a professores, em função do seu desempenho, para que eles melhorem esse desempenho pode também passar a ser prática generalizada em tais sistemas. Não, não estou a falar do ordenado decorrente do exercício da profissão, pois é óbvio que devem ser dados os meios financeiros que permitam aos professores viverem (e não apenas sobreviverem). Estou a falar de incentivos económicos, prémios para “atrair e conservar pessoal docente de alta qualidade”.

E como se determina se um docente é “de alta qualidade”? Avaliando-o.

Esta recomendação de associar os resultados da avaliação a recompensas financeiras é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e decorre de um estudo que essa organização recentemente realizou.

No relatório em se que dá conta desse estudo, aponta-se o “«caso radical» da Suíça onde os salários são discutidos caso a caso, todos os anos, entre as escolas e os professores" e de Singapura onde “os professores podem receber bónus equivalentes ao triplo do salário mensal”.

Mas - deve notar-se - nestes países parece existir a preocupação de que os alunos, de facto, aprendam, uma vez que existe uma monitorização consistente das aprendizagens, tendo, além disso, surgido resultados satisfatórios em programas de avaliação internacional.

Em países como Portugal, que não garantem uma monitorização das aprendizagens equiparável, e sendo o modelo de avaliação do desempenho docente fortemente contestado, parece-me que há razões para temer pela pobreza progressiva dos que (ainda) querem ensinar saberes científicos, que não ficam pelos saberes do senso-comum, subjectivos e profissionais (refiro-me ao que escrevi aqui), e que não se centram no desenvolvimento das oito competências sugeridas pela União Europeia (refiro-me agora ao que escrevi aqui).

Abstraindo do nosso caso, a questão mais geral e, afinal, essencial, é a seguinte: como sociedades esclarecidas que somos ou que queremos ser, para levarmos os alunos a investir na sua aprendizagem e para nos asseguramos que os professores exercem o dever de os educar bem, deveremos eleger como primeiro estímulo a recompensa económica?

Nota: Sobre este assunto ver artigo de Pedro Sousa Tavares, publicado no Diário de Notícias, em 8 de Dezembro de 2008.

3 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Em Portugal, o que devíamos talvez era oferecer grandes prémios aos nossos governantes para não mexerem mais no enxurdeiro em que transformaram o ensino. Já que tudo o que tocam fica definitivamente irrecuperável. Mais vale que façam autoestradas, combóios de alta velocidade em que não vamos ter dinheiro para andar, que arranjem altos cargos para os amigos e para eles próprios quando deixarem os cargos políticos, e por aí fora... Certo certo que poucas famílias haverá cá no "rectângulo" que não contem entre os seus um ou mais especialistas em "eduquês". E eles, e as suas famílias, precisam de sustento. De tal forma que talvez a coisa só se reconheça intrinsecamente mal, até pelos próprios, quando eles mesmo tiverem que se combater ferozmente uns aos outros... Mas aí, onde estaremos nós, os restantes?...

Rui leprechaun disse...

Hummm... interessante e provocador! :)

Aqui, falo mais dos incentivos financeiros aos alunos do que aos professores, mas talvez em ambos os casos se esteja a falhar o essencial... ou a verdadeira motivação e gosto de ensinar e aprender!

Esse é que é o busílis da questão.

Afinal, as crianças são ou não naturalmente curiosas? E não será essa curiosidade... o gosto de saber e experimentar... a mola real que deve impelir ao gosto pelo conhecimento? Bem, assim em abstracto soa lógico e evidente.

Contudo, algum obstáculo deve haver nesse percurso do ensino, pois, tal como recorda Einstein:

É um milagre que os métodos modernos de instrução não tenham estrangulado totalmente o sagrado espírito da investigação, porque esta delicada planta, além do estímulo, precisa de liberdade para sobreviver. Sem ela, naufragará e arruinar-se-á, sem dúvida. É um grande erro pensar que o prazer de observar e investigar se pode promover por meio da coerção e do sentido de dever.

O "dever" de assiduidade... oh really? E haverá algum prazer a ele associado, para além de uns trocados ou até o tal loto francês já de milhares?!

Dito de outro modo, será que o ensino tradicional ainda reflecte, mesmo parcialmente, essa coerção e sentido do dever a que o físico alemão se refere?

Um século é muito tempo na evolução das sociedades modernas. A diferença entre a geração dos nossos pais... pré II Grande Guerra... e a actual, na transição do milénio, é considerável. Logo, independentemente desse rigor dos saberes científicos, não é possível transpor para os dias de hoje o mesmo modelo de ensino no qual fomos educados... that is a BIG nonsense!

As experiências na utilização de gadgets electrónicos no ensino, relatadas aqui por professores, são um exemplo da criatividade necessária que vai de encontro aos gostos, interesses e necessidades dos alunos. Porque não são estes que se devem adaptar à escola, mas é esta que tem a obrigação de cativar e não destruir o tal espírito de sã curiosidade, sem o qual não há qualquer aprendizagem real e duradoura.

Como é sabido, existem muitas experiências pedagógicas concretas fora do ensino mais tradicional, de que são exemplo as escolas Waldorf e as que seguem as pedagogias Montessori, construtivista e outras.

O YouTube possui diversos vídeos sobre essas alternativas ao modelos clássico. Como introdução muito simples e sucinta, eis uma série de 7 vídeos em brasileiro, cada um com apenas 2 minutos e meio de duração - 3 e meio para o último.

Especial Escolas

Já agora, pelo que tenho lido fico com a impressão que algumas destas "modernices" não são lá muito bem acolhidas por aqui. Bem, eu não sou professor, nem sequer pai, logo não posso de facto discutir um tal tema do mesmo ponto de vista prático de quem anda no "terreno", como agora se diz.

Still the question remains:

Como conservar e mesmo incrementar a curiosidade e o gosto natural pelo saber... p'ra motivação crescer?

Só com dinheiro ou antes um mor prazer... poderá ser?

Of course it can... caro mio bene! :)

Anónimo disse...

Faz-se mais pela curiosidade de um aluno, um professor motivado e conhecedor de tudo o que se ensina, do que usar mil e uma técnicas "gadgetianas"...trust me i know.
E se querer uma reflexão científica a sério sobre isto, ide ao Science Direct e aos mais recentes artigos publicados sobre este assunto. Muitos dos que defendem " a escola deve adaptar-se aos alunos" terão one shocking surprise...


A Silva

O FÍSICO PRODIGIOSO

  Cap. 43 do livro  "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...