Artigo de opinião recebido de António Mota de Aguiar:
Alguns dos que se congratularam por ver o Tratado de Lisboa entrar em vigor, como é o meu caso, ficaram admirados, para não dizer chocados, por verificar a falta de transparência na nomeação do Presidente do Conselho da Europa, o belga Herman van Rompuy, e da Alta Representante para os Negócios Estrangeiros, a britânica Catherine Ashton, os dois cargos máximos da União Europeia (UE).
O Sr. Herman van Rompuy será o presidente do Conselho europeu, que tem como objectivo fixar as orientações políticas e estratégicas da UE, representando-a ao mais alto nível.
A baronesa Catherine Ashton foi encarregada de contribuir para elaborar a política externa e de segurança da UE, para além dirigir um novo serviço externo, do qual fazem parte os diplomatas dos Estados membros, tendendo para a criação de uma cultura diplomática europeia comum.
No caso de Herman van Rompuy, conhece-se o seu talento para chegar a consensos entre flamengos e valões. Já no caso de Catherine Ashton, a baronesa não tem nenhuma experiência para o cargo que ocupa (além disso, nunca foi eleita para nenhum cargo, isto é, foi sempre nomeada). Reconhece-se tão só o mérito de ter contribuído para a aprovação do Tratado de Lisboa pela Câmara dos Lordes britânica e, desde Outubro passado, de ter sido Comissária para a área do Comércio no gabinete de Durão Barroso.
Serão os currículos destas duas pessoas suficientes para liderar com eficiência os lugares que vão ocupar, com todos os problemas gravíssimos que o mundo hoje enfrenta? Analistas do El País e do Le Monde escreviam recentemente sobre estas nomeações:
- “Se desconocen sus opiniones (de Catherine Ashton) o ideas en el mundo de las relaciones externas”.
- “Ce sont des personnalités de faible envergure qui ont été nommées”.
Talvez tenha sido o baixo perfil destas duas pessoas para os cargos que vão ocupar que valoraram os responsáveis máximos europeus, receosos da perda das suas prerrogativas nacionais. Se for este o caso, então a UE vai avançar a passo de tartaruga!
Critique-se também o facto de ter sido atribuído um alto cargo a uma cidadã de um país que não faz parte da zona euro nem do espaço Schengen, além de ter desvalorizado ao longo dos anos, como é bem sabido, a construção europeia.
A nomeação destas duas personalidades, desconhecidas da quase totalidade dos 500 milhões de europeus, de uma forma tão secreta e tão rápida não augura grandes sucessos na condução da política europeia, e agravará o distanciamento dos cidadãos relativamente às instituições.
A meu ver, a única forma de defender os interesses da Europa consistirá em responder aos desafios de desenvolvimento económico, social e político, fortificando a coesão dos povos europeus, com base nos padrões de democracia e liberdade da UE. Mas, para isso, é preciso uma forte vontade política. Oxalá as duas pessoas escolhidas venham num futuro próximo a dissipar as dúvidas e preocupações que os europeus têm neste momento a seu respeito.
António Mota de Aguiar
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA
A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à in...
4 comentários:
Não podia ter começado de pior maneira. Basta notar que teve de ser aprovado à revelia do eleitorado. Com o eleitorado não o seria. A Europa vai continuar assim: a fugir dos cidadãos?
A explicação é simples.
A UE foi estabelecida para acabar com as guerras europeias, v.g. 1.ª grande Guerra (14-18), 2.ª grande guerra (39-45), logicamente com ponto de partida na nevrálgica Alemanha-França e depois Alemanha-países-outros-europeus.
Posto isto, porque o isto é genético, teria de haver outras guerras: a guerra de que os grandes países continuam a ser grandes países, v.g. Alemanha e França.
Isto para dizer que, não estando a Alemanha e a França nos poleiros da UE, não interessa nem a um nem ao outro, grandes cabeças nem grandes astros nessas posições, v.g. Durão Barroso (petit Portugal), Rompuy (petit Belgique), Ashton (a small England).
Da guerra de armas passámos à guerra psicológica.
Além disso, como já várias vezes aqui citei, o velho Lenine já tinha avisado que a UE nunca se faria e se acaso o conseguir quem passa a mandar é a Alemanha.
A Alemanha e a França estão com os olhos muito atentos para ninguém lhes passar à frente. É um esquema diabolicamente bem pensado, por isso só apoiam as pequenas cabeças (pequenos liliputianos) nos poleiros da UE, porque incapazes de enfrentar os dois Golias.
Agora, cada um que tire as suas conclusões.
Cumpriu-se o ideal de Manuela Ferreira Leite. A democracia foi interrompida por uns dias até se fazerem as reformas precisas segundo os inteligentes. Depois voltou-se à normalidade.
Tudo concluído, única ilação:
Quando todos se sentirem culpados aí vai começar a democracia.
Entretanto a democracia continua no papel.
Enviar um comentário