Destacamos, como vem sendo hábito, a crónica do médico psiquiatra J.L. Pio de Abreu, no "Destak":
Neste pequeno mas mexido País, toda a gente já foi tudo, todos já se iludiram e desiludiram. E toda a gente se conhece o suficiente para perceber que nenhum outro é melhor que nós.
Mas acontece que, às vezes, os outros, aqueles que não são melhores que nós, têm, na verdade, mais sucesso. É aí que se instala a inveja, sobretudo essa inveja destrutiva que clama por justiça e vingança. Se os outros não são melhores do que nós e, apesar de tudo, conseguiram ir mais longe, é porque fizeram falcatrua.
É interessante descobrir que os futebolistas escapam a este destino: só neste caso, a inveja cede à admiração. Talvez seja porque, à partida, ninguém os conhece, vieram da periferia, não têm nomes de família. Mas também pode ser pela sobranceria com que ainda vemos os jogadores de futebol, coisa a que eles se prestam com uma humildade cultivada.
Também pode ser porque o futebol não estava nos planos de belezas desfeiteadas, homens mal-amados, princesas em declínio, actores sem plateia, personalidades apeadas, ressentidos em geral e todos aqueles que, sentados nas suas frustrações, vão descarregando o fel nas conversas casuais, nos comentários da internet ou em inesperadas janelas de protagonismo.
Todos incham de portugalidade com um golo bem metido. Mas quando olham para as pessoas a seu lado, para aqueles que podiam estar como eles, mas estão melhor ou mais activos, o mal da inveja aperta-lhes o estômago, dilata-lhes os olhos e transtorna-lhes o raciocínio.
J.L. Pio Abreu
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
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2 comentários:
Um texto muito interessante, obrigado pela contribuição.
É verdade! Cada golo que metem, enche-se de orgulho nacional o peito de grande parte de nós, povo português. De vez em quando ainda me aproveito disso para picar um colega, quando festejo sempre que a equipa adversária marca (sem me preocupar com que selecção seja). Dizem-me, furiosos:
-Tu não és português!
(Como se isso me importasse).
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