segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Money makes the education go round - 2

Texto na sequência de outro que poderá ser lido aqui:

Espero que o leitor não me interprete mal quando afirmo que o investimento no ensino e na aprendizagem não pode ser apresentado como estando directa e linearmente dependente de “incentivos financeiros”. Obviamente, não defendo o empobrecimento dos professores, defesa que se fez em tempos que se esperam passados, sob o pretexto destes, por terem sido alvo de um “chamamento interior”, decidirem dedicar-se a uma missão, mais do que a uma profissão. Obviamente, também não defendo que devam ser retiradas todas as bolsas de estudo aos alunos, pois sem elas seria impossível a muitos deles estudarem.

O que defendo é que os “incentivos financeiros” não podem ser apresentados como condição necessária e suficiente para ensinar e para aprender, pois entendo que estas duas actividades têm valor em si mesmas.

Sabemos que o ensino e a aprendizagem não acontecem no vazio, que estão relacionadas com as circunstâncias em que ocorrem, e sabemos também que as circunstâncias lhes podem ser favoráveis ou desfavoráveis, mas, ainda assim, não podemos confundir a essência do ensino e da aprendizagem com as suas circunstâncias.

O que nos diz a pedagogia sobre o assunto, no que respeita ao ensino? Nesta área disciplinar fizeram-se investigações sobre as principais preocupações dos professores? Se sim, as preocupações com os “incentivos financeiros” são as mais evidenciadas?

A resposta é a seguinte: dispomos de numerosas investigações sobre o assunto, realizadas em diversos países, desde os anos de 1960 até ao presente. Os resultados de estudos de revisão dessas investigações indicam que as preocupações dos professores se situam em aspectos como: indisciplina na turma, motivar os alunos para aprender, lidar com alunos que manifestam diferenças individuais (de aprendizagem, culturais,. etc.); planificar e concretizar o trabalho em sala de aula; estabelecer comunicação com pais; sobrecarga do trabalho administrativo; dificuldade de aplicar as orientações curriculares e outras da tutela, dada a sua frequente mudança e inadequação.

Ou seja, parece que as grandes preocupações dos professores se centram no seu trabalho, que é ensinar. Mais concretamente, parecem estar preocupados em fazer bem esse trabalho e referem preocupar-se com os impedimentos que encontram no caminho para chegar a esse fim.

2 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Ora, professora Helena Damião: isto é que é colocar as coisas onde devem ser colocadas. Não estão em causa inovações, especialmente as que merecem o nome, as diferenças, especialmente as que conseguem o mesmo por outros caminhos, ou as emulações, quando há condições para que se repita o sucesso que se pretende. Mas deixemo-nos de propagar panaceias, de trazer à colação propostas espúrias ou, dito de outro modo, de tentar fazer fumo, porque a realidade é muito dura e não estamos em tempo de a poder ignorar. E muito menos de lhe poder fugir.

Fartinho da Silva disse...

Cara Helena Damião,

As preocupações referidas por si em relação às verdadeiras preocupações dos "professores" do "ensino" público são acertadas, mas julgo não terem sido apresentadas com adjectivação suficiente. Em Portugal, os "professores" foram transformados em escravos com as seguintes funções:
- principal: funcionários administrativos;
- restantes: animadores sócio-culturais;
- psicólogos;
- sociólogos;
- marketeers;
- entertainers;
- pais e mães de "alunos";
- amigos de "alunos";
- colegas de "alunos";
- secretários de "alunos";
- diplomatas;
- quando sobra algum tempo é-lhes oferecida a possibilidade por parte da tutela de estudarem, prepararem aulas, elaborarem e corrigirem testes, fichas de trabalho, reflectirem, ou seja de fazerem o seu VERDADEIRO trabalho.

Mas esta situação deve-se, claramente, à falta de uma missão muito clara daquilo que deve ser a "escola" e em consequência daquilo que deve ser o futuro de Portugal.

Um dia, alguém fará a avaliação da produtividade "docente" em Portugal e concluirá aquilo que todos sabemos há demasiado tempo - a produtividade é muito próxima dos 15%, uma vez que o trabalho restante nada tem a ver com o cerne da actividade docente; e provavelmente teremos mais uma grande dose de populismo saloio e muito kaviar com o ministério da "educação" a atribuir as culpas aos... "professores"!!

Durante o pouco tempo em que trabalhei como "professor" do "ensino" secundário público, verifiquei que 85% do meu tempo foi consumido nas actividades seguintes:
- produção de relatórios idiotas;
- elaboração de formulários absurdos;
- participação em reuniões para discutir o sexo dos anjos;
- "formação" sobre questões de senso comum.

Trabalhava em média 60 horas por semana!!

Como pragmático que sou, fiz as contas ao tempo que demoraria a ficar completamente desactualizado científicamente e concluí que não necessitaria de mais de 5 anos. Verifiquei que na prática não se podia reprovar (palavra proibida) ninguém, verifiquei que mais de 60% dos "alunos" do 10ºano não sabiam escrever um texto com mais de dois parágrafos, verifiquei que 80% dos "alunos" não sabiam realizar cálculos mentais e reparei que se colocava algum "aluno" fora da sala de "aula", a "direcção" considerava que eu não compreendia os "alunos"! Nesse dia tomei a decisão de, apesar de pertencer aos quadros do ministério da "educação", abandonar o "ensino" público!

Não estou NADA arrependido, mas tenho imensa pena de quem por lá continua a vegetar... tanto "professores" como "alunos"! Coitados! A grande maioria deles não tem qualquer futuro...

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