domingo, 13 de dezembro de 2009

UM MUSEU DE ASTRONOMIA EM LISBOA


Post convidado de António Mota de Aguiar:

Numa das colinas de Lisboa, com vista deslumbrante sobre o Tejo, está situado o Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), em tempos passados também chamado Observatório da Tapada ou ainda Observatório da Tapada da Ajuda.

Seria um imponente edifício se não estivesse tão mal conservado e se os jardins à sua volta não se encontrassem num abandono total, com árvores caídas, troncos secos espalhados pela superfície envolvente, um ar de desleixo e abandono generalizado.
O lugar à noite está desprotegido – apesar das supostas entradas controladas – e,por isso, já foi assaltado, tendo sido levados objectos que certamente continham informações de astronomia importantes.

Recentemente, lemos no sítio do OAL, hoje sob a tutela da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que o Estado (em razão da crise económica), restringiu os subsídios a algumas actividades científicas e culturais, tendo o pessoal sido também reduzido.

Mas o OAL tem um potencial arquitectónico e histórico enorme. A história que levou à construção do OAL é já por si fascinante, envolvendo os grandes astrónomos europeus da segunda metade do século XIX, além do malogrado D. Pedro V e do seu irmão D. Luís, como mecenas do observatório. Em 1878, o OAL falhou um projecto internacional – “La Carte du Ciel”: o Estado português não tinha o dinheiro que teria levado os estudos em Portugal para o domínio da Astrofísica, a par de várias potências da época.

As personagens que dirigiram o OAL, desde a sua entrada em funcionamento em 1867 e pelo menos até 1930 são, elas também, importantes figuras da ciência portuguesa, num momento histórico em que a nossa astronomia atingiu um certo brilho internacional. Nomes como Frederico Augusto Oom, Campos Rodrigues, Frederico Oom e Filipe Folque, Melo e Simas, estão associados à história do Observatório e as lutas que travaram em prol da astronomia portuguesa são importantes páginas da nossa história científica.

O interior do OAL é majestoso, já que foi construído para ser um grande observatório de astronomia. No seu interior encontram-se instrumentos de precisão importantes, além de telescópios que, em tempos passados, deram grande prestígio à ciência astronómica nacional.

Talvez por o país atravessar actualmente uma crise económica, há hoje uma motória falta de apoio financeiro: possuímos um património histórico deste tipo esquecido no cimo de uma colina de Lisboa. Um observatório astronómico deste tipo não é um museu de ciência nem um planetário, pelo que requer uma análise diferente. Como contributo assinalo o que me parece relevante para pôr de pé o OAL, que, na minha opinião, devia passar a ser um museu de astronomia:

• Antes de mais era necessário fazer as obras necessárias no edifício de forma a voltar à sua beleza anterior.
• Seria necessário arranjar o jardim à sua volta.
• Construir um pequeno restaurante com esplanada no jardim.
• Fazer uma campanha junto das escolas para que elas trouxessem os alunos a visitar o museu.
• Fazer uma campanha junto das agências de viagens, para que estas dêem a conhecer este tipo de museu (haveria certamente pessoas interessadas em visitar o museu de astronomia).
• Organizar visitas guiadas, onde seria exposta a história do património arquitectónico, dos astrónomos acima citados, e da astronomia de alta precisão realizada no OAL. E uma síntese para que os visitantes compreendessem como e onde se realiza hoje a investigação científica neste campo.

Se se alegar que o Estado não tem dinheiro para recuperar o edifício nem o jardim circundante, direi que a erosão, as intempéries climatéricas e os ladrões farão o necessário para que, dentro de alguns anos, o que ficar deste espólio histórico seja irrelevante.

A actividade do museu não colidiria com as actuais actividades pedagógicas e científicas levadas a cabo pelo OAL, porque o observatório é constituído por um segundo edifício. Os dois tipos de actividade antes se complementariam.

António Mota de Aguiar

1 comentário:

Paisano disse...

O grande "azar" de certas áreas da ciência é que talvez pela sua antiguidade não consigam obter o interesse de uma Fundação.

A Fundação Gulbenkian não pode ser pau para toda a obra.

A Fundação Champalimaud tem como objectivos a biologia e a saúde e só compartilha com o Observatório a mesma vista sobre o Tejo, logo que tiver as suas próximas instalações.

Quando olhamos para o restante do nosso Universo empresarial encontramos um vazio universal pois a maioria desse mundo empresarial nada está virado quer para o Mundo Exterior (Astronomia) quer para o Mundo Biológico (Botânica- Agronomia).

E, segundo consta este último vazio (empresarial) consegue ser mais absoluto que o vazio exterior (universal).

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