Talvez devido às críticas que agora começam a chover do interior do seu próprio partido (primeiro Marcos Perestrello no "Expresso" e depois Edmundo Pedro no "i") à acção recente do Ministério da Educação, o Secretário de Estado da Educação Valter Lemos deu uma entrevista de fundo, em jeito de balanço de mandato (nas respostas, a ministra quase não existe), ao jornal "As Beiras", que foi publicada na edição de 29 de Agosto. O conteúdo e o tom geral da entrevista, com o título "Estamos a construir a escola do futuro", dada pelo governante agora candidato a deputado pelo círculo de Castelo Branco percebem-se só a partir de alguns excertos:
Sobre o objectivo do Ministério:
- "O objectivo unificador de todas as medidas políticas era o de conseguir melhorar os resultados escolares. "
Sobre o descontentamento nas escolas:
- "Temos essa espuma dentro das escolas, provavelmente aqui à porta do ministério e nos blogues, mas nas salas de aula não foi assim. Ali as medidas de política tomadas resultaram. (...) Dificilmente me lembro de um período de que as escolas se possam orgulhar tanto em relação ao resultado do seu trabalho".
Sobre a avaliação dos professores:
- "A avaliação é uma das garantias de que a escola presta contas, e de forma transparente, à sociedade".
Sobre as "novas oportunidades":
- "(...) estamos a fazer uma operação que até do ponto de vista civilizacional é um orgulho para o país".
Sobre o Magalhães:
- "A esmagadora maioria das crianças que receberam o Magalhães, ou o computador do e-escola não teriam nos próximos anos o acesso à informação. (...) Por isso considero de uma pobreza de espírito inacreditável alguns comentários feitos a propósito do Magalhães".
O Conde Cagliostro, esse grande mago das palavras e das curas milagrosas, não teria dito melhor...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
6 comentários:
Caros professores portugueses, de todos os níveis de ensino: convençam-se que a sociedade fora das escolas, ao contrário do que se passa no seu interior, mudou muito. Mais cedo ou mais tarde vão ter de acompanhar estas mudanças.
Caro José,
Quem assim comenta também tem a obrigação de se informar sobre o que efectivamente se passa nas escolas portuguesas. Ao contrário do que afirma o Sr secretário de estado, nunca se trabalhou tão mal nas escolas. Do que me é dado a observar, os professores cada vez colaboram menos uns com os outros, cada vez partilham menos materiais, recursos, etc. Dedicam-se mais a organizar eventos de escasso (ou nenhum) interesse pedagógico, para obterem mais uns pontinhos na avaliaçãozita da treta, do que a concertarem, entre si, estratégias para combater o insucesso. Até porque não é necessário. O que é necessário é aplicar testes com questões resolvidas na última aula para aumentar as taxas de sucesso. Se, ainda assim, as notas forem fracas, após a correcção, aplica-se o mesmo teste.
Fui, este ano, colocada numa escola básica (2º e 3º ciclos). Já sei que a taxa de sucesso, nas turmas que “herdei” da professora que saiu, foi de 100%. Sou professora de Física e Química. Ai de mim se algum dos meus alunos não se interessar pelo estudo das Leis de Newton... Terei, com certeza, uma entrevista marcada com a Directora... É por estas e por outras que cada vez mais aparecem alunos, em Ciências e Tecnologias, que não conseguem sequer resolver uma equação de primeiro grau e que insistem em reduzir metro quadrado a metro!. Nos últimos dez anos leccionei no ensino secundário e nunca vi tanta ignorância como agora.
Diga-me, a sociedade mudou assim tanto que há mercado de trabalho para um engenheiro que não sabe dividir 5 por 5? É que, segundo alguns dos meus ex-alunos, que querem ser engenheiros, mas não sabem do quê, o resultado desta operação é..zero!
Vai-nos sair bem cara a factura deste sucesso estatístico.
Cláudia
Caro Prof. Carlos Fiolhais,
Em relação à entrevista do sr. secretário Valter Lemos.
- "O objectivo unificador de todas as medidas políticas era o de conseguir melhorar os resultados escolares. "
a) Quais resultados? Os estatísticos, de gráficos elegantes, a bater os 100% ou os de avaliação de conhecimentos e de formação de alunos?
Sobre o descontentamento nas escolas:
- "Temos essa espuma dentro das escolas, provavelmente aqui à porta do ministério e nos blogues, mas nas salas de aula não foi assim. Ali as medidas de política tomadas resultaram. (...) Dificilmente me lembro de um período de que as escolas se possam orgulhar tanto em relação ao resultado do seu trabalho".
b) apresentar excelentes desempenhos para eliminar pressões e evitar justificações... as estatítiscas escondem mais do que mostram!
Sobre a avaliação dos professores:
- "A avaliação é uma das garantias de que a escola presta contas, e de forma transparente, à sociedade".
c) o modelo de avaliação foi elaborado precipitadamente. Sou a favor da avaliação, mas tem de ser realizada ponderadamente. No meu caso, o meu avaliador foi meu aluno, é bacharel, enquanto em possuo licenciatura e pós-graduações, além de possuir quase mais 13 anos de serviço.
Sobre as "novas oportunidades":
- "(...) estamos a fazer uma operação que até do ponto de vista civilizacional é um orgulho para o país".
d)Sim e não. A ideia é óptima, enquanto o processo é pouco feliz e enganador.
Sobre o Magalhães:
- "A esmagadora maioria das crianças que receberam o Magalhães, ou o computador do e-escola não teriam nos próximos anos o acesso à informação. (...) Por isso considero de uma pobreza de espírito inacreditável alguns comentários feitos a propósito do Magalhães".
e) Não seria preferível atrubuí-lo num percurso escolar mais tardio? antes de mexer no computaor é necessário entender as operações, etc. Não é por teclar 6 * 3 e obter 18. É preciso saber realizar as operações e ter poder crítico sobre os resultados. Sem poder crítico, não há possibilidade de colocar questões, outras soluções e desenvolver a mente.
João Moreira
Subscrevo as afirmações da Cláudia.
p.s.: ao leitor "José" - "mudar" não é sinónimo de simplificar. Mal dos profs. se não acompanham o evoluir da sociedade. Mudar tem de se entender como adaptar-se aos novos desafios (os alunos de hoje são bem diferentes dos de há 20 anos, tanto em termos de anseios, como de acessos, como de possibilidades, etc.)
João Moreira
Este Valter Lemos não é um prato. É um serviço de louça inteiro.
Este humorista tem futuro!...
Mário Rodrigues
Muito bom post
Enviar um comentário