quarta-feira, 15 de abril de 2009

Como não discutir ideias


A virtude epistémica é rara. Tão rara que pessoas que são obrigadas a seguir procedimentos epistemicamente virtuosos na sua profissão não a aplicam depois fora dela. Na longa cadeia de investigadores da humanidade — cientistas, filósofos, historiadores — o preconceito, cegueira ideológica e pura trapaça intelectual sempre estiveram presentes, em maior ou menor grau. Com o tempo, contudo, alguns investigadores conseguiram um pequeno milagre, que é único na história da humanidade: impuseram procedimentos científicos epistemicamente virtuosos. Isso revolucionou a medicina, por exemplo, mas também a astronomia ou a física ou a química. Jorge Buescu explica muito bem alguns aspectos desses procedimentos no prefácio do seu maravilhoso O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias.

Há vários aspectos do que faz um procedimento epistémico ser epistemicamente virtuoso, mas quero falar apenas de um deles: a discussão aberta. Ao contrário do que acontece em comunidades epistémicas fechadas, cujos princípios fundamentais não podem ser postos em causa, para que uma comunidade seja epistemicamente virtuosa tem de estar aberta à discussão de tudo, incluindo os seus princípios fundamentais. Mas há duas incompreensões comuns com respeito à discussão aberta.

A primeira é a ideia de que a abertura de espírito, necessária para conduzir uma discussão aberta, implica a aceitação de qualquer teoria ou ideia. Imagine-se que sou físico. E desenvolvi uma teoria lá em casa, revolucionária. Fui muitíssimo crítico e recusei os fundamentos de toda a física contemporânea. E depois queixo-me quando os outros físicos são igualmente críticos com a minha teoria e a recusam por não resistir às críticas. A confusão aqui deveria ser evidente, mas não é: eu estou tolamente a exigir a aceitação passiva da minha teoria, ao mesmo tempo que eu fui muito crítico em relação às teorias amplamente estabelecidas. Claro, estou a fazer isto porque sou parvo e a minha teoria tem uma propriedade que, aos meus olhos, a faz ser muito mais valiosa do que as outras: é minha. Mas isto não é uma atitude epistemicamente virtuosa, pois uma teoria não é mais ou menos plausivelmente verdadeira por ser minha ou do Chico.

A segunda incompreensão diz respeito ao que é uma discussão aberta. Há a tendência para pensar que uma discussão aberta procede assim: eu uso todos os truques, retórica, indícios e areia que encontrar a favor da minha posição, e o outro gajo faz a mesma coisa, e depois logo se vê quem ganha. Esta visão da discussão é ainda um resquício de um dos maiores vícios da humanidade: a ideia de que há métodos automáticos de procura de verdades, que garantam resultados independentemente da virtude epistémica das pessoas envolvidas. Acontece que isto é falso. Não há indícios empíricos, resultados matemáticos, argumentos cogentes ou seja o que for que convença uma pessoa epistemicamente viciosa, que quer afirmar que a neve é azul e a relva cor-de-rosa, contra tudo e contra todos. Sem homens e mulheres de boa vontade, sem honestidade intelectual, não há metodologias que possibilitem o alargamento do nosso conhecimento.

Para uma discussão ter relevância cognitiva não pode ser um combate retórico (no mau sentido da palavra “retórica”). Não pode cada um dos intervenientes no debate limitar-se a puxar a brasa à sua sardinha, seleccionando cuidadosamente os dados a seu favor, escondendo todos os dados contra a sua posição. Fazer isto é supressão de provas (omissão de dados), e suprimir provas é epistemicamente vicioso. Caso nas ciências, na história ou em qualquer outra área cognitiva se procedesse desta maneira, jamais se conseguiria sair do mesmo sítio — porque recorrendo a esses procedimentos de contrabando tudo é possível continuar a defender contra todas as evidências e todos os argumentos. Nada pode convencer uma pessoa teimosa, apostada em não se deixar convencer.

Para uma discussão aberta ter relevância cognitiva cada um dos intervenientes no debate tem de procurar ser imparcial, avaliando cuidadosamente as ideias, argumentos e indícios. Damo-nos ao trabalho de discutir porque ninguém consegue sozinho pensar em todas as hipóteses relevantes e ninguém consegue ser perfeitamente imparcial: precisamos que os outros nos corrijam. Mas isto só funciona se cada um se esforçar por ser imparcial. Numa discussão com relevância cognitiva cada um contribui crucialmente para o avanço da nossa compreensão quando está a ver aspectos relevantes que outros não vêem, e lhes chama a atenção para isso. O reverso disto é tornar impossível o debate cognitivamente relevante por estar o tempo todo a chamar a atenção para aspectos que não resultam de uma crença genuína na sua relevância, mas apenas no seu valor combativo, para destruir o “adversário”.

É pena que pessoas que, enquanto historiadores ou cientistas ou filósofos, são perfeitamente capazes de seguir metodologias epistemicamente virtuosas adoptem depois o tom e os truques rasteiros típicos de deputados abrutalhados numa assembleia legislativa. Imagine-se o que seria uma pessoa abrir uma revista académica como a Nature ou a Mind e encontrar artigos com esse género de truques rasteiros; imagine-se o que seria numa conferência os cientistas ou historiadores ou filósofos adoptarem a atitude cavalar dos deputados, gritando cada um por seu lado, vociferando truques de retórica, frases feitas, jogos de espelhos e tudo isso. Infelizmente, é precisamente esse o ambiente de alguns blogs de cientistas, historiadores e outros académicos, incluindo este, e isso é desastroso. A atitude esquizofrénica de pensar que os procedimentos epistemicamente virtuosos das ciências só se aplicam às ciências é inaceitável; precisamos tanto mais desses procedimentos quanto mais vagos e difíceis e polémicos e acientíficos são os temas em debate.
Imagem: Dia de Sorte, de Michel Le Roux

38 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, amigo Desidério, é verdade o que dizes.
Só uma pergunta: quem é que me chamou besta, ou grande besta, sem eu ter feito absolutamente nada? Quem é que começou? Até tu já admitiste isso num comentário qualquer. Não me apetece ir aos arquivos ver onde está isso, mas está aqui.
Tu começas e depois vens queixar-te que os outros gritam? Já reparaste bem no estilo de coisas que já escreveste por nas caixas de comentários?

Só mais uma coisinha: poupa-nos essa conversa sobre o método científico. Toda a gente sabe disso. E o "Imaginem que sou um físico..." não me soa nada bem. Ou se é ou não se é, não se pode imaginar, embora tu penses que sim.
Bons e melhores posts é o que te desejo, meu querido amigo. A ver se apareces para um café. Desculpa lá este ruido final.
luis

Anónimo disse...

Desidério Murcho diz:


"A virtude epistémica é rara."

Certamente irá autodescrever-se como virtuoso.

"Tão rara que pessoas que são obrigadas a seguir procedimentos epistemicamente virtuosos na sua profissão não a aplicam depois fora dela."

Veremos onde é que isto conduz. Ainda não sabemos quem estabelece os critérios de virtude epistémicos e com que autoridade.


"Na longa cadeia de investigadores da humanidade — cientistas, filósofos, historiadores — o preconceito, cegueira ideológica e pura trapaça intelectual sempre estiveram presentes, em maior ou menor grau."

O Desidério, naturalmente, está imune a tudo isso.

"Com o tempo, contudo, alguns investigadores conseguiram um pequeno milagre, que é único na história da humanidade: impuseram procedimentos científicos epistemicamente virtuosos."

Ainda não sabemos quando e como isso aconteceu.


"Isso revolucionou a medicina, por exemplo, mas também a astronomia ou a física ou a química."

Uma coisa sabemos. É que essas revoluções aconteceram quando se postulou a regularidade e racionalidade do Mundo, da vida e do homem.

Galeno revolucionou a medicina quando passou a tratar o corpo humano como sistema integrado.


"Jorge Buescu explica muito bem alguns aspectos desses procedimentos no prefácio do seu maravilhoso O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias."

Acreditamos.


"Há vários aspectos do que faz um procedimento epistémico ser epistemicamente virtuoso, mas quero falar apenas de um deles: a discussão aberta."

Quando o Desidério começa assim, normalmente acaba a defender e a praticar a censura.


"Ao contrário do que acontece em comunidades epistémicas fechadas, cujos princípios fundamentais não podem ser postos em causa, para que uma comunidade seja epistemicamente virtuosa tem de estar aberta à discussão de tudo, incluindo os seus princípios fundamentais."

Até aqui, tudo bem.


"Mas há duas incompreensões comuns com respeito à discussão aberta."

Atenção, acho que vêm aí problemas.

"A primeira é a ideia de que a abertura de espírito, necessária para conduzir uma discussão aberta, implica a aceitação de qualquer teoria ou ideia."

Acho que vai começar aqui a fazer pontaria à heterodoxia.


"Imagine-se que sou físico. E desenvolvi uma teoria lá em casa, revolucionária. Fui muitíssimo crítico e recusei os fundamentos de toda a física contemporânea. E depois queixo-me quando os outros físicos são igualmente críticos com a minha teoria e a recusam por não resistir às críticas."

A verdade é que muitas das ideias que começaram por ser rejeitadas pela maioria dos críticos, acabaram depois por ser aceites.

Nem sempre é claro quando é que uma ideia não resiste aos críticos ou os críticos resistem à ideia.

"A confusão aqui deveria ser evidente, mas não é: eu estou tolamente a exigir a aceitação passiva da minha teoria, ao mesmo tempo que eu fui muito crítico em relação às teorias amplamente estabelecidas."

A única resposta para isto é a discussão permanente de todas as ideias, mesmo aquelas tidas por verdadeiras e intocáveis num determinado momento.

"Claro, estou a fazer isto porque sou parvo e a minha teoria tem uma propriedade que, aos meus olhos, a faz ser muito mais valiosa do que as outras: é minha. Mas isto não é uma atitude epistemicamente virtuosa, pois uma teoria não é mais ou menos plausivelmente verdadeira por ser minha ou do Chico."

Claro. Mas também não é viciosa pelo simples facto de ser rejeitada por toda a gente.

No século XIX um médico austríaco lembrou-se de dizer que os cirurgiões deveriam lavar as mãos entre duas operações cirúrgicas e foi ridicularizado e marginalizado por causa disso. Morreu na miséria. E afinal, tinha razão.


"A segunda incompreensão diz respeito ao que é uma discussão aberta. Há a tendência para pensar que uma discussão aberta procede assim: eu uso todos os truques, retórica, indícios e areia que encontrar a favor da minha posição, e o outro gajo faz a mesma coisa, e depois logo se vê quem ganha."

Discussão aberta sujeitar todos os argumentos a contra-argumentos, a partir de todas as perspectivas possíveis.


"Esta visão da discussão é ainda um resquício de um dos maiores vícios da humanidade: a ideia de que há métodos automáticos de procura de verdades, que garantam resultados independentemente da virtude epistémica das pessoas envolvidas. Acontece que isto é falso."

Tudo está em saber quem define a virtude epistémica. Sendo certo que esse conceito é controverso e deve estar, também, sujeito à crítica.

"Não há indícios empíricos, resultados matemáticos, argumentos cogentes ou seja o que for que convença uma pessoa epistemicamente viciosa, que quer afirmar que a neve é azul e a relva cor-de-rosa, contra tudo e contra todos."

Ou que a vida surgiu por acaso, quando não existe evidência nenhuma de que isso aconteceu.

Ou que tudo surgiu por acaso do nada, quando este explodiu.


"Sem homens e mulheres de boa vontade, sem honestidade intelectual, não há metodologias que possibilitem o alargamento do nosso conhecimento."

O problema começa quando alguns começam a tentar colocar-se numa posição de superioridade intelectual, sem fazerem o mínimo esforço de fundamentar essa opinião.


"Para uma discussão ter relevância cognitiva não pode ser um combate retórico (no mau sentido da palavra “retórica”). Não pode cada um dos intervenientes no debate limitar-se a puxar a brasa à sua sardinha, seleccionando cuidadosamente os dados a seu favor, escondendo todos os dados contra a sua posição."

O problema é que as coisas não são assim tão simples. As nossas visões do mundo condicionam o modo como seleccionamos os dados.

Daí que seja necessário submeter os dados, a selecção dos dados e as visões do mundo que as condicionam à crítica.

"Fazer isto é supressão de provas (omissão de dados), e suprimir provas é epistemicamente vicioso."

Mas o que são provas? Que discurso evidencialista tão simplista! Duas pessoas podem ter as mesmas "provas" e ter uma interpretação completamente diferente acerca do seu significado.


"Caso nas ciências, na história ou em qualquer outra área cognitiva se procedesse desta maneira, jamais se conseguiria sair do mesmo sítio — porque recorrendo a esses procedimentos de contrabando tudo é possível continuar a defender contra todas as evidências e todos os argumentos."

Mas que é isso de evidências? Onde é que está a evidência de que a vida surgiu por acaso? Ninguém observou isso na natureza ou em laboratório. Ninguém sabe como isso seria possível. O que é que a evidência conta nesse caso?

Se muitas pessoas acreditam que a vida surgiu por acaso, fazem-no não por terem evidências, mas apenas porque a isso obriga a sua visão do mundo naturalista.


"Nada pode convencer uma pessoa teimosa, apostada em não se deixar convencer."

Muito menos se conseguirá quando não se tem argumentos convincentes.


"Para uma discussão aberta ter relevância cognitiva cada um dos intervenientes no debate tem de procurar ser imparcial, avaliando cuidadosamente as ideias, argumentos e indícios."

Quem é imparcial? Todos somos, de uma maneira ou de outra, influenciados por visões do mundo. Todo o pensamento assenta em premissas mundividenciais indemonstráveis. Ninguém é verdadeiramente imparcial. Daí que seja importante clarificar as premissas de que se parte.

"Damo-nos ao trabalho de discutir porque ninguém consegue sozinho pensar em todas as hipóteses relevantes e ninguém consegue ser perfeitamente imparcial: precisamos que os outros nos corrijam. Mas isto só funciona se cada um se esforçar por ser imparcial."

Mas a imparcialidade é sempre impossível. Mesmo para crêr que é possível pensar autonomamente e chegar a conclusões verdadeiras sobre o mundo temos que aceitar premissas que não podemos demonstrar empiricamente.


"Numa discussão com relevância cognitiva cada um contribui crucialmente para o avanço da nossa compreensão quando está a ver aspectos relevantes que outros não vêem, e lhes chama a atenção para isso."

Isso pressupõe que cada um contribua com a sua opinião, qualquer que ela seja e por mais radicada que ela se encontre na respectiva mente.


"O reverso disto é tornar impossível o debate cognitivamente relevante por estar o tempo todo a chamar a atenção para aspectos que não resultam de uma crença genuína na sua relevância, mas apenas no seu valor combativo, para destruir o “adversário”."

Isso é interpretação. Uma coisa é destruir o adversário, o que é mal. Outra coisa é destruir os seus argumentos, o que é inteiramente legítimo.


"É pena que pessoas que, enquanto historiadores ou cientistas ou filósofos, são perfeitamente capazes de seguir metodologias epistemicamente virtuosas adoptem depois o tom e os truques rasteiros típicos de deputados abrutalhados numa assembleia legislativa."

Todas as pessoas podem defender as suas ideias, ainda que de forma veemente, contundente e até cáustica.

O que interessa é saber se os argumentos avançados resistem à crítica.

"Imagine-se o que seria uma pessoa abrir uma revista académica como a Nature ou a Mind e encontrar artigos com esse género de truques rasteiros;"

Na verdade, estudos recentes mostram que muitos desses artigos são os mais errados que se publicam, dada a tendência dos seus autores de "sobre-venderem" (overselling) os seus argumentos. É melhor tentar outro exemplo.


"...imagine-se o que seria numa conferência os cientistas ou historiadores ou filósofos adoptarem a atitude cavalar dos deputados, gritando cada um por seu lado, vociferando truques de retórica, frases feitas, jogos de espelhos e tudo isso."

Não foi Ludwig Wittgenstein que tentou agredir Karl Popper com um atiçador? O Desidério habita neste planeta, ou anda noutra galáxia?


"Infelizmente, é precisamente esse o ambiente de alguns blogs de cientistas, historiadores e outros académicos, incluindo este, e isso é desastroso."

Que dramatismo. Ninguém morre com uma robusta troca de ideias. Se isso afecta a sua compleição delicada e sensibilidade, talvez fosse melhor mudar de ambiente.


"A atitude esquizofrénica de pensar que os procedimentos epistemicamente virtuosos das ciências só se aplicam às ciências é inaceitável;"

Ficamos sem saber o que é isso de virtude epistémica, quem a define, com que autoridade e com que intenções.


"...precisamos tanto mais desses procedimentos quanto mais vagos e difíceis e polémicos e acientíficos são os temas em debate."

Enfim. Logo devia ter desconfiado que não chegávamos a lado nenhum.

Lufiro disse...

"Ficamos sem saber o que é isso de virtude epistémica, quem a define, com que autoridade e com que intenções."

Para ficar com uma ideia, consulte.

http://plato.stanford.edu/entries/epistemology-virtue/

cumps,

Luís Rodrigues

António Daniel disse...

Acima de tudo, podemos inscrever esta análise na refutação do intelectualismo moral socrático. O saber não é sinónimo de atitude ética, indispensável para a sustentação argumentativa. Na história de ciência e da filosofia encontramos imensos casos de arremeço argumentativo. Popper e Kuhn desenvolverem alguma animosidade! Talvez Nietzsche tenha razão ao apontar a Vontade de Poder como leit motiv da criação. Aliás, Russell em O Poder desnvolve este tema. A par do conhecimento, deve estar a atitude ética de honestidade e humildade que Sócrates aludiu. Ou talvez, ele próprio, não pretendesse isso...

António Daniel disse...

Onde diz «arremeço» deve ler-se «arremesso». Peço desculpa. Aqui está um exemplo de humildade.

Carlos Pires disse...

É difícil pensar numa definição de "virtude epistémica" que seja compatível com os comentários anónimos.

Vitor Guerreiro disse...

O texto refere diversas vezes quais são esses critérios. Se os "anónimos" não fizessem questão de tudo colocar no registo da autoridade e da competição macacal para ver quem urina mais longe teriam lido:

a) abertura da discussão (da qual se discute duas incompreensões)
b) esforço no sentido da imparcialidade.

É curioso as pessoas afirmarem peregrinamente que a imparcialidade é impossível e passarem todo o tempo a acusar os outros de terem um entendimento enviesado das coisas.

A imparcialidade não é impossível só porque alguns de nós não têm disponibilidade para fazer esse esforço. A partir do momento em que qualquer pessoa pode ter consciência de ter cometido um erro, não é preciso mais para mostrar que a imparcialidade é possível. Se a imparcialidade fosse impossível a consciência do erro seria impossível.

É critério de virtude epistémica tudo o que sustenta, promove, fortalece a discussão e troca genuínas de ideias e não a troca infantil de bocas foleiras e postas ad hoc que por aqui se vê.

Anónimo disse...

Carlos Pires, em que é que você é menos anónimo do que um anónimo "normal"? Já imaginou a quantidade de Carlos Pires que há em Portugal e no resto do mundo?
Importa-se de me explicar qual é a importância de, numa discussão de ideias, alguém assinar Zé, não assinar, ou assinar Carlos Pires?
Basta o nome ou quer também a morada e o número do BI? É para poder fazer-me uma visita e atirar-me com o atiçador?
Desculpe mas eu acho-me tão anónimo quanto você.
Cumprimentos,
António Williams Araújo

Rolando Almeida disse...

Williams,
E qual a vantagem de dizermos o nosso nome verdadeiro na vida real? Há alguma?
Por acaso não tem razão no que diz já que o nosso nome, além de estar devidamente assinado remete para links onde pode ver o nosso trabalho e identificação inclusivé dos locais onde desenvolvemos a nossa profissão. Vir para os comentários sem assinar é tão só um acto de cobardia merdosa.

Barba Rija disse...

Desidério, bom texto. Meus parabéns.

Quanto aos anónimos, bem, pobres de espírito existem aos magotes, e a internet tanto liga os inteligentes como os idiotas e quanto a isso nada podemos fazer. Apenas sugiro que se não tiverem nada a acrescentar, podem ir embora. É que também não me parece nada epistémico apenas contribuir para o aumento da relação ruído/sinal.

Quanto ao Popper e a Kuhn, como foram referidos aqui, bem, apenas tenho a lamentar a sua referência e existência! Não tenho nada senão o desprezo profundo por quem não consegue admitir que houve progresso científico nos últimos 400 anos, e que tudo não passa de mudanças de "paradigmas".

marina disse...

Gostei muito. Normalmente , quando nos damos ao trabalho de analisar imparcialmente e com curiosidade as ideias dos outros , as nossas avançam bastante. Há sempre qualquer coisa que nos escapou , às vezes importante , e que o outro viu. E reformulamos tudo. È bem bom viver sem certezas.

Helena Ribeiro disse...

Pretendo usar este texto nas minhas aulas, adaptado e devidamente identificado, claro! Parabéns por ele!

Mas há por aí um link que me colocou uma questão discutível: usar como exemplo discursivo Platão e a Teoria da Caverna? Estamos a falar de Simbologia e Filosofia, não são passíveis de se desmontar com tanta leveza...

Anónimo disse...

Rolando Almeida, então acha importante que se diga onde se vive e onde se trabalha? Não concordo mas gostava de ouvir a sua justificação.
Gostava de ouvir, também, a sua opião sobre o Rogério Casanova, um famoso bloguista, que também escreve crónicas na revista Ler, mas que não desvenda a sua identidade.
Ou sobre o famoso Pipi, que editou um livro mas recusou sempre revelar a sua pessoa.
Ou o Thomas Pynchon, que recusa dar entrevistas e revelar onde vive.
Gostava de saber a sua opinião sobre o assunto.
Lamento mas ainda não tenho um perfil no blogspot.
Cumprimentos,
António Williams Araújo

Helena Ribeiro disse...

Desidério Murcho,Boa noite:

Poderia, por favor, identificar a imagem fantástica que associa ao seu artigo?

Desde já grata

Carlos Pires disse...

Caro António Williams Araújo:

Como explicou o Rolando Almeida, nem todos somos anónimos.

O anonimato nem sempre é mau.
Um dos mecanismos explicados pelo Jorge Buescu no livro referido pelo DM é (espero não escrever mal a palavra) é o chamado "Referee" - a submissão anónima de artigos, que serão apreciados por especialistas também anónimos. O objectivo é conseguir apreciações imparciais e livres do peso dos nomes.
O anonimato nesse caso significa que o autor do artigo não sabe quem são os especialistas e estes não sabem quem é o autor (ou autores) do artigo - mas claro que os editores da revista sabem.
Se o anonimato de alguns comentários tivesse essas características, seria uma coisa boa. Mas é preciso reconhecer que não é o caso: nesses comentários o anonimato é quase sempre um guarda-chuva para a falta de rigor, superficialidade, ausência de esforço de justificação, etc.

Cumprimentos.

Helena Ribeiro disse...

Boa noite outra vez, Desidério Murcho:

Peço imensa desculpa pela distracção, acabei de ver a referência da imagem.

Anónimo disse...

Carlos Pires, obrigado pela sua resposta. Sim, estou perfeitamente a par de como funciona o processo de submissão de artigos, é parte da minha vida.
Gostava de ouvir uma resposta sobre os casos do Casanova e do Pipi.
Acho o rigor importantíssimo, apesar de não o achar incompatível com um triste anonimato como o meu. Peço desculpa por ainda não possuir um perfil no blogspot mas as minhas ocupações não me permitem muito tempo para vida dos blogues, embora goste de dar uma espreitadela.
Cumprimentos,
António Williams Araújo

marina disse...

Bem , rapaziada que discute anonimato : ele há gente que não está nem aí nos 15 minutos de fama e que não dá qualquer importância a quem é. e mais , sabe que quanto mais se expõe mais defeitos lhe encontram. nem todo anonimato é mau , algum é apenas sinónimo de humildade , tem deveras virtude , todos iguais , todos bons, todos maus.
Não ligo nenhuma à identificação pessoal de ideias. gosto delas ou não. servem-me ou não. de resto quem as emitiu será homem ou mulher como eu. deus seguramente não é.

Rolando Almeida disse...

Caro António,
Simplesmente acho educado que as pessoas se identifiquem quando conversam umas com as outras e não faço distinção entre a internet e a vida real. Os exemplos que deu, como poderia ter dado muitos outros, são casos diferentes. Não são pessoas que se encontram num determinado local umas com as outras para conversar, que é o que nós fazemos nas caixas de comentários dos blogs. E se aceitamos pacificamente que nos apresentamos com o nosso nome quando estamos ao vivo uns com os outros, por que razão nos escondemos no ciberespaço? Isto é que o Wiliams tem de justificar, se quiser. O ónus da prova está do seu lado e não do meu.

Rolando Almeida disse...

António,
Mais uma coisa: não sei se me expliquei bem. A forma como comunicamos na internet não é muito diferente da forma como comunicamos no dia a dia. Comunicar artisticamente, por exemplo, é diferente. Os Residents, mítico projecto musical norte americano, nunca revelaram a sua verdadeira identidade e apresentam-se como se de uns freaks se tratassem. O universo artístico está cheio dessas coisas, dos pseudónimos, disfarces, etc.. mas nós aqui não somos artistas. Somos pessoas comuns, com alguma formação que que desejamos aperfeiçoar a nossa formação com a facilidade que a internet nos dá para nos encontrarmos com uma curiosidade que nos é comum. Se estamos interessados em discutir coisas sérias, por que razão não nos identificamos?
Como lhe disse, aceitamos isso pacificamente na vida dita "real", aquela que vivemos fora do espaço net. Para ser coerente temnos de fazer o seguinte: se eu não vejo razão alguma para me identificar com o nome verdadeiro na net, que razões vejo eu para o fazer na vida real? Então vou passar a não me identificar na vida real.

Anónimo disse...

Rolando, obrigado pela sua achega, embora eu ache que não há muita diferença entre um blogguer como o Casanova, que emite a sua opinião e comenta no seu blogue, e a nossa situação. Ou o maradona, outro ilustre blogguer que também não se abstém de conversar com os seu leitores, apesar de manter o anonimato. Não percebi bem como é que demarca essa fronteira entre nós e eles.
Se quer que lhe diga a verdade, na vida real, converso com muitas pessoas de quem não sei o nome, sou muito fraco a memorizar nomes, e às vezes demoro meses a aprende-los.
Para mim é-me completamente indiferente que você responda por Rolando ou por Ronaldo, que viva seja onde for, e que tenha a profissão que tenha, que não sei qual é (parece-me que é professor de filosofia, imagino que na UM), porque tenho que confiar na sua palavra, no seu perfil. Apenas preciso de uma pequena identificação para o distinguir nos comentários, porque o resto parece-me completamente acessório.
De qualquer maneira, tem o direito a ter a opinião que tem e a dirigir-se apenas a quem acha que o merece. Eu tenho uma personalidade mais bonacheirona, gosto de conversar com todas as pessoas (quase todas), e não me preocupo muito em sequer saber os seus nomes.
Não leve a mal a minha opinião e mais uma vez peço desculpa por ainda não ter tido a oportunidade de prencher o meu perfil do blogspot.
Cumprimentos,
António Williams Araújo

Anónimo disse...

Sobre o "Williams", a partir do momento em que se chama "Williams" (como poderia se AnonimoXPTO_720) para o distrinçar de outros possiveis anónimos e não termos de cair no

anónimo das 16:30

anónimo das 17:23

parece-me perfeitamente pacifico...

carolus augustus lusitanus disse...

Indo na onda dos «anonimatos», porque não lançarmos um repto aos «bloggers residentes» (digamos assim) para um dia destes nos encontramos por aí num convívio onde nos possamos conhecer (melhor) e discutirmos (os) vários assuntos sobre os quais aqui apenas conseguimos dar umas opiniões - eu acho que muitas vezes os «ruídos» (que desviam o fio condutor da discussão) não deixam aprofundar a discussão de que se partiu, para descambar em impropérios, coibindo-nos, assim - a mim acontece-me isso - de continuarmos a discutir o tema de que se partiu.

É apenas uma opinião que fica no ar...

Rolando Almeida disse...

Williams,
Percebo, mas não concordo. Tem razão quando refere que o nome é pouco importante ou o menos importante. Mas seguindo o seu argumento por que não hoje me chamar Rolando, amanhã Ronaldo e depois de amanhã Ricardo? Afinal, para que raio tenho um nome inscrito nos registos civis? Realmente isso não é o mais importante. Trata-se de um acordo que funciona. Se as pessoas tem um nome, por que razão não o usam em determinadas circunstâncias? Realmente quando me chamaram Rolando poderiam chamar-me Cebola. Há quem me chame Socorrista aqui nos comentários. Já houve quem me chamasse besta, urso, etc... Na realidade já me chamaram muitos nomes e qualquer um deles não altera o que penso e as minhas ideias. Neste ponto estou de acordo. É uma questão de nos organizarmos e de ser desagradável estar a falar com anónimos com assinamos os nossos textos, quando tornamos públicas as nossas ideias, os nossos erros e equivocos. Depois disso a experiência em blogs diz-me que a generalidade das pessoas que não assinam fazem-no porque usam as caixas de comentários para insultar as pessoas e pouco mais. Há excepções, com efeito.
Não sou proofessor da UM. Sou professor de filosofia no ensino secundário, na ilha da Madeira, é verdade.
abraço e obrigado

Vitor Guerreiro disse...

Ouvi por aí que Platão tem uma "teoria da caverna"? Não queiramos roubar o emprego aos espeleólogos.

Anónimo disse...

Tenho algumas questões relativas à imagem que acompanha este post:
1. O copyright desta imagem pertence ao sr. Desidério Murcho?
2. Se não pertencer, qual é fonte? E qual é a licença que acompanha a imagem?
3. Eu encontrei uma imagem igual (até o nome do ficheiro é igual - leroux.jpg) noutro site, mas não tenho a certeza que o dono do site tenha autorização para reproduzir esta imagem. O sr. Desidério tem?
Paula

joão boaventura disse...

Eu levo ou deixo?

Contam que certa vez Rui Barbosa, ao chegar em casa,
ouviu um barulho estranho vindo do quintal.

Chegando lá, constatou que havia um ladrão
tentando levar seus patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e,
surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:

- Oh, bucéfalo anácroto!
Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro
de profanares o recôndito da minha habitação,
levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo;
mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto
que te reduzirei à quinquagésima potência do que o vulgo denomina nada!!!!!!!

E o ladrão, confuso, respondeu:

- Doutor, eu levo ou deixo os patos?

joão boaventura disse...

Um filósofo que tinha necessidade de passar para a outra margem do rio perguntou a um barqueiro se o poderia levar:

- Sim posso, entre.

Como a remada era lenta, o filósofo quis entabolar conversa para passar o tempo da viagem:

- O Sr. sabe ler?
- Não, não sei.
- Então vai perder muitos anos da sua vida
- E contas de somar e subtrair, ao menos.
- Também não, nunca me ensinaram.
- Então, lá se vão mais uns anos da sua vida.

Tendo havido uma descarga na albufeira, uma onda bem alta ameaçava a embarcação o que levou o barqueiro a perguntar ao filósofo:

- O sr sabe nadar???
- Não, não sei!!!
- Então perdeu a vida toda.

Anónimo disse...

Cardeal, essa ideia do jantar é boa mas não estou a ver os autores deste blogue a aturar-nos.
Eu adorava um jantarinho, especialmente se me deixassem sentar entre o Desidério e o Rolando!
Vamos a isso? Depois quero ver o Rolando a chamar merdoso a um anónimo como eu! Quero ver ao vivo, olhos nos olhos. Quero ver o Desidério a chamar-me besta. Da minha parte, prometo que lhes chamo nabos aos dois, sem o mínimo problema!
Combinem lá isso, mais para Agosto, porque eu estou emigrado e só lá para o verão é que posso aparecer, e apesar de ser transmontano, dou sempre um pulo à nossa maravilhosa capital, das cidades melhores da Europa, sem a mínima dúvida.
Rapazes, não tenhais medo de mim, eu gosto é de brincar e beber uns copos, botai lá jantarada!
E até levo o BI para vos chapar com ele nas ventas!
luis

Vitor Guerreiro disse...

e o que se infere desta parábola das ondas? Que nenhum filósofo sabe nadar? Que para nadar é preciso não saber ler? Ou isso também é uma parábola para uma afirmação muito profunda, polvilhada com uns grãos de "sabedoria concreta" acerca de coisa nenhuma?

Haddammann Verão disse...

Principios Institucionais do Capitalismo Meritocrático.

O poder da atividade social eflui da sabedoria (não da esperteza);

Toda função corresponde ao Mérito, ao talento, ao know-how;

O mérito reporta à aptidão ...

Todo relacionamento civil está vinculado à Justiça, Atenção, Gratidão, e à Não Usurpação;

A firmeza civil está na versatilidade ... na paradoxal maneira de ser das expressões;

Todo estado do ser civil comporta Reflexão e Desenvolvimento, e Consonância com compromisso Ambiental.

A integridade do ser civil está na dignidade ingene do ser ante sua evolução individual que remete-o à preservação da espécie humana.

A sustentação íntima do ser está em seus princípios e concordâncias com conceitos dos parâmetros de Justiça.

A sustentação civil propõe convivência cordial e atitudes importadas com eco-ambiência, e pode implicar inferência num Infinito Poder Orientador, ou, pautar-se na preservação da espécie, e na propiciação de consciência, e promoção da reflexão.

O porte da estrutura social recorre à estatura do ser em sua instância individual e civil; e considera princípios, leis, e diretrizes, e a evolução de suas versões paradoxais, que incide nos estudos de nossa espécie, e recorrência a ponderações concernentes à forma de ser da Natureza.

O máximo direito é o de preservação da vida, a propriedade da liberdade para estimular o fôlego de justeza dos parâmetros: dos limites, da inquietude da vida, dos propósitos, e da convivência.

Todo ser humano tem direito a usufruir de sua vida e do bem-estar que advém de suas produções e desempenho de busca de melhoria e eficiência, que concorrem para sua satisfação integral e para a beleza da Vida neste Planeta.

Declarado por Haddammann Veron Sinn Klyss
Pela concepção da História e pelo âmago das pessoas, e pela evolução até aqui.
2009 Ano de Transição da Evolução do Homo Sapiens sapiens faber psi.

joão boaventura disse...

Caro Vítor Guerreiro

Não. É só para aligeirar o ambiente.
E não tem outra intenção.

Anónimo disse...

Ninguém quer ir jantar comigo, que cambada de elitistas, não ligam oa povo, à ralé.
Isto é que vai uma epistemologia.

Acho que a parábola das ondas quer dizer que há outras coisas na vida que não a alta ciência e a alta cultura do Dr. Desidério. As coisas simples são muito importantes. De que vale ler muito se não se tem amigos ou uma boa namorada?
Claro que ninguém impede um filósofo de não ter isso, é evidente.
luis

Tiago Moreira Ramalho disse...

O texto está excelente, as usual.

Quanto aos comentários anónimos. Bom, dou por mim a pensar "de que me queixo eu?". Há gente bem mesquinha...

Cumprimentos

Anónimo disse...

Há aqui um caso que prova tudo dito neste artigo:
http://colombo-o-novo.blogspot.com/

Especialmente «Ao contrário do que acontece em comunidades epistémicas fechadas, cujos princípios fundamentais não podem ser postos em causa, para que uma comunidade seja epistemicamente virtuosa tem de estar aberta à discussão de tudo, incluindo os seus princípios fundamentais.»

Rui Baptista disse...

Caro João Boaventura: Julgo ter compreendido a intenção do seu comentário. Mas o João melhor o dirá. Por mais erudito que seja um indivíduo se não souber nadar e cair à água corre o risco de morrer afogado. Se não tiver cultura corre o risco de morrer inculto. Destas duas mortes venha o diabo e escolha a melhor...

Dito de outra maneira: nada melhor que saber nadar e ter cultura para ser um homem integral, aquele homem que Jean-Jacques Rousseau preconizou e defendeu: "Quereis cultivar a inteligência do vosso aluno? Cultivai as forças que a inteligência vai mobilizar. Exercitai-lhe permanentemente o corpo feito homem pelo vigor físico, em breve, o será também pela razão".

Não sei, porém, se seguia esta "teoria de vida" no terreno pedagógico do dia-a-dia. A fazer fé no testemunho de ter abandonado os filhos em orfanatos, temo bem estarmos em presença de um Frei Tomás: "Faz o que ele diz, não faças o que ele faz!" Retenho como válido, pelo menos (e do mal o menos): Faz o que ele diz no que respeita a uma educação completa dos jovens...

Rui Baptista disse...

Adenda ao meu comentário anterior: Na Roma Antiga, criticamente, dizia-se do cidadão, "não sabe ler e não sabe nadar". Em contrapartida, porque não aceitar, em nosso tempo e na nossa cultura, como coisa válida, sabe ler e sabe nadar?

O próprio Eça, entre ter saúde (é hoje aceite o benefício do exercício físico não levado a extremos da alta competição neste contexto)e ter diploma académicos, referindo-se à Ramalhal figura - que de si própria dizia ter nascido para "Hércules de feira" - não hesitou em reconhecer nele os seguintes predicados que cito de memória: "Tem saúde e não é bacharel. Grau académico correspondente à nossa licenciatura a.B. (antes de Bolonha).

Haddammann Verão disse...

O olho que te vê.
(Parte Um)
Seguramente uma coisa que o ser humano mais deve sentir asco na vida é a espreita, a vigia, o olho que esgueira ... A sensação de não ter liberdade, de estar como potencial culpado, um iminente criminoso, um ‘capaz’ de fazer ‘o mal’ a qualquer instante.
E as ruas lotam de câmeras em cima de todos, sua vida numa sociedade ‘tão moderna’ é mais presa do que a dos homens das cavernas com mêdo dos animais ferozes.
Quem e o que então nos vigia?
Esse é o foco deste texto.
Quem é o seu tutor? Até então nem sequer foi cogitado por você mesmo que uns aí se tomaram do esquisito problema psicológico de que São Mais Melhor de Bons para nos vigiar. Quem são os que nos vigiam?
A que raios de cabeças estamos presos mesmo fora das prisões, e que cabeças prenderam muitos e criaram tantas prisões? A que gigolô psicológico estamos nos vendendo, prostituindo nossa liberdade de viver, nossa civilidade, nosso bem-estar?
Alguém embaixo de sua janela passa com um cachorrinho, pra lá e pra cá, como quem não quer nada. Alguém que não tem nada a ver com a sua vida pergunta lá na esquina sobre você. A quem interessa isso? Isso é Sociedade?
Agora nós é que vamos olhar pra isso; sim, vamos olhar pra isso que nos olha, devagar.
“Havia algo de insano naqueles olhos ...” (Nenhum de nós). Que olhos são esses? O que e quem se presta a nos prejudicar? Faz de graça? Que ‘bondade’ é essa que nos espreita? Que ‘segurança’ é essa que pré nos incrimina? O que esses ‘protetores’ olhos querem de nós? Nós os conhecemos? Ou só eles nos conhecem? Vêem tudo de nós, mas nós sabemos onde estão, o que são? O que estamos sustentando com nosso próprio aprisionamento?
“O que está olhando pra você ...”?
Quem e o que está insuflando a violência e o nosso sofrimento, como sacrifício para sobreviver dela, para lucrar com a nossa desgraça?

Suzane Von Richthofen, O Sacrifício, O “Formato” Da Injustiça.

Quisera que ela tivesse nascido pensadora (uma investigadora exímia da Natureza), e talvez poderia ter saído de tal túnel em que a embrenharam. O jogo da manipulação do mais alto engendramento de domínio de um numeroso povo recai sobre um simples e único indivíduo, armando uma sombra de expectação, medo, para imposição de uma ‘disciplina’, para que se tenha na mão dos que se dispensaram de todo o escrúpulo, a arma da ‘moral’ e a do ‘respeito’ fabricadas tão ignominiosamente pelos manipuladores para nunca servirem a quem pensa que as têm e dubiamente estarem arranjadinhas para destroçar os que pensam que o escrúpulo é um suporte, um esteio. Porque a mira dos que ‘trabalham’ a vida alheia como reses, como fonte de lucro, como instrumento de imposturas, apanham surpresos os que imaginam, ou imaginaram, que tivessem como reserva de sobrevivência a dignidade.
O ‘jogo’ que apanhou essa garota, pegou Ayrton, pegou Pelé, pegou Abílio Diniz, pegou o Sílvio Santos, o Tim Lopes, o Marcus Menna, o Maestro Fleverson, e o coração e as entranhas de um pensador que nada, a nada se expunha para ser ‘escolhido’ ou mirado pela vista dos atormentadores da civilidade humana que maquinadamente tecem as tramas desse ‘jogo’. Enquanto a Civilidade Humana adular e sustentar com regalias os que se auto-proclamaram usurpadoramente como tutores e ‘aconselhadores’ da nossa vida, pela ‘esperteza’ que os faz borrar pra nós a fantasia de uma altíssima mentira, enquanto isso acontecer, descambaremos como Sociedade; e sentiremos sempre o gosto repetido de extinção de cada uma de nossas Civilizações.
Quando nossas riquezas e propriedades produzidas por nós com esmero trazem contentamento, e pensamos que a dignidade de conseguí-las nos dão suporte, aí vemos o espreitar das máfias, que se avolumam em ganância e em inumana insanidade, e todos vêem vidas, desastrosas vidas, rolarem em sofrimento sem explicação alguma que alinhave pra alguma gente sã como são tomadas de nós nossas felicidades. E os insanos se esbaldam na confusão, no alarido, no fervor da estupidez ludibriada, que esquenta o caldo da feiúra que desgraça a beleza da vida humana.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...