segunda-feira, 2 de julho de 2007

O UNIVERSO EM BANDA DESENHADA




















Minha crónica do último "Sol":

Durante milhares de milhões de anos, o Universo existiu sem sexo. As células vivas dividiam-se simplesmente ao meio sem se cruzarem. Até que, a certa altura, como mostra a “História do Universo em Banda Desenhada I” (Gradiva, 2007), as cadeias de ácido nucleico de uma célula se começaram a juntar às de outra. Diz uma das células na página 17, coladinha à outra: “Só estou a fazer isto, Anita, porque quero que os teus descendentes sejam uma melhoria em relação a ti!” Responde a outra: “Egoísta!” E comenta o autor duas páginas mais adiante: “O sexo era bom para as diferenças individuais e as diferenças individuais eram boas para a sobrevivência. Os seres sexuais sobreviveram e os que se saíram melhor foram os que gostavam mais de sexo – razão por que o sexo sabia bem então, sabe bem agora e só pode saber melhor ainda amanhã!”

O autor é Larry Gonick, um cartunista norte-americano, que tem formação científica avançada (completou uma licenciatura e um mestrado em Matemática na Universidade de Harvard). No seu sítio orgulha-se de ter habilitações a mais para a sua profissão. O livro que saiu agora em português é o primeiro de uma série de quatro – até ver... - que nos trazem desde o “Big Bang” até à Revolução Americana. O terceiro da série ganhou o Harvey Prize, uma espécie de óscar dos livros de cartunes.

O facto de esses livros serem aos quadradinhos pode enganar, levando a pensar que se trata de livros “light”. Não são: são apenas leves no sentido em que tratam a ciência e a história mais pesadas de um modo original. O primeiro volume tem, como os outros, uma extensa bibliografia no final. E vê-se que o autor estudou muito os assuntos antes de lhes pegar com o seu lápis aguçado e o seu humor inconfundível. Não é fácil ser leve quando o assunto, como a teoria da evolução, é pesado. O astrofísico Carl Sagan comenta na contracapa: “O volume 1 é extraordinário”, ao que o arqueólogo Richard Leakey acrescenta: “Não é simplesmente uma BD, mas uma boa história, que me dá gosto recomendar”. A mim também.


4 comentários:

JSA disse...

Posso perguntar porquê "cartunes"? Sinceramente parece-me uma palavra ridícula. Se não existisse uma palavra portuguesa, poder-se-ia pensar num aportuguesamento da palavra inglesa, mas não é o caso. Temos a "banda-desenhada", tradução do francês (antes francófono, dada a influência belga) "bande déssiné", que nem sequer é a mesma coisa que o anglófono "cartoon", dado que este se reporta mais a banda-desenhada de tira, de piada (ao estilo Calvin&Hobbes).

Que não queira usar o termo "cartoon", posso compreender. Que não use "banda desenhada" e prefira uma coisa esquisita como "cartune" é que me é estranho. Na língua não se aplica sempre a lógica científica que transforma "meson" em "mesão".

Carlos Fiolhais disse...

Trancrevo o que está em baixo do sitio
CiberDúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Fiolhais

[Pergunta | Resposta]
As palavras cartune/cartum, cartunista

[Pergunta] A propósito da onda incendiária que alastra nestes dias pelo mundo islâmico, por causa dos desenhos satíricos publicados nalguns jornais europeus sobre Maomé, tenho visto escrito na imprensa portuguesa sistematicamente a palavra inglesa "cartoon(s)". Acontece que a palavra já se encontra aportuguesada, e dicionarizada: cartune(s) e cartum (forma preferida pelos brasileiros).
João Carlos Araújo :: Lisboa :: Portugal

[Resposta] É como diz, "cartoon" já tem correspondência na nossa língua: cartune e (no Brasil) cartum. Assim como o substantivo cartunista.
[Vide Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, Grande Dicionário da Porto Editora, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e Aurélio.]
Cf. "Cartoon"
J. M. C. :: 06/02/2006

JSA disse...

Obrigado então, fica o esclarecimento. Pareceu-me estranho o uso da palavra (ignorância minha sobre o assunto) mas, como demonstrou, parece estar perfeitamente correcto. Fiquemo-nos então por uma questão de preferência, em que a minha continuará a ir para "nada desenhada", agora com o conhecimento da palavra "cartune".

Anónimo disse...

Já que vamos numa de Português, permitam-me:
"Os seres sexuais sobreviveram ...."
Não haveverá desatenção na tradução?
Parece-me que deveria ser "Os seres sexuados sobreviveram ..."
É que me parece que "sexual" é aquilo que é referente ao sexo e não aquilo (ou aquele) que tem sexo. Esse será "sexuado".
Parece-me, mas quando chegar a casa vou ver nos dicionários que lá tenho.
Cumprimentos.

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