sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A CIÊNCIA EM DIRECTO?!



Minha crónica no "Diário de Coimbra".

Vivemos de facto tempos simultaneamente entusiasmantes e estranhos.

Entusiasmantes, porque as novas tecnologias de informação e os agentes do “mass media” permitem, a qualquer um de nós, assistir quase em directo ao processo científico e ao resultado de determinada experiência. Entusiasmantes, compaginadamente, porque pressentimos a emergência de novas descobertas, em diversas áreas científicas, que podem mudar paradigmas actuais.

Não é de hoje. Foi assim com o Homem na Lua, há mais de 40 anos. Nesse caso, não se tratou só da transmissão de uma experiência científica (a comprovação de que as nossas leis da gravidade estão, a esta escala, mais ou menos correctas) mas também a concretização de um feito tecnológico.

Desde então, verificamos a massificação do fenómeno informativo. Não me espantaria, se determinado canal de informação televisivo transmitisse em directo uma certa experiência, com os resultados a serem comentados pelos próprios investigadores e enquadrados, no conhecimento geral, por um comentador científico, sentado no estúdio com o pivot do programa informativo.

Mesmo “sem saber ler nem escrever”, qualquer um de nós poderia compreender o que se estaria a passar se o comentador conseguisse traduzir por miúdos a necessária terminologia científica.

Uma vez que alguma da investigação científica é financiada por todos os contribuintes, o cidadão poderia verificar, em directo, antes da telenovela das nove, as dificuldades, os sucessos, os erros, as angústias, os resultados e as suas eventuais aplicações na resolução de problemas comuns. Por exemplo, na “luta” contra um determinado tipo de cancro que estivesse a corroer a vida do personagem principal da telenovela!

É claro que o processo científico é longo e não me parece muito exequível agendar directos para ver o resultado final. Por outro lado, como sabemos, em ciência não há resultados finais. Mas há sempre resultados, mesmo que muitas vezes indiquem que chegamos a um beco sem saída, ou que a pergunta directriz da hipótese inicial foi mal formulada.

Compreendo que um “não”, a verificação de um erro, não seja muito estimulante. Mas faz parte da verdade. E seria muito formativo transmitir a verdade, em palavras simples e tangíveis. Não tenho dúvidas de que o cidadão comum se interessaria e se entusiasmaria com esta demanda pelo conhecimento verdadeiro e útil.

Na arena da ciência em directo, mesmo que em diferido, chamo a vossa atenção para "Journal of Visualised Experiments", revista em formato Web onde os cientistas demonstram e comentam os resultados das suas experiências utilizando todo o potencial que emerge dos "new media".

Vivemos tempos estranhos.

Para captar a atenção de todo o mundo, a NASA antecipa a publicação de um artigo na revista Science através de expectativas que são instantaneamente disseminadas, com avidez de espectáculo, por todas as agências de comunicação. É compreensível que a agência espacial norte-americana precise de se evidenciar “galacticamente” para captar financiamentos. Mas o aproveitamento empolado que disso faz alguma comunicação social deturpa o rigor da mensagem científica e cria uma história de ficção.

Com a leitura do artigo em causa, a análise mostra que há novidade. Uma bactéria é capaz de substituir fosfato por arsénico. Contudo, é muito interessante comprovarmos mais uma vez que as bactérias, seres unicelulares, continuam a ter esse potencial intrínseco à vida, o de esgrimir todos os argumentos bioquímicos para sobreviver. É assim há pelo menos 3,6 mil milhões de anos.

Brevemente, abordarei a interacção do elemento arsénico e seus compostos com os seres vivos.

António Piedade

4 comentários:

Anónimo disse...

Sou viciado nos seus textos .

Victor

Unknown disse...

"Para captar a atenção de todo o mundo, a NASA antecipa a publicação de um artigo na revista Science através de falsas expectativas que são instantaneamente disseminadas, com avidez de espectáculo, por todas as agências de comunicação. É compreensível que a agência espacial norte-americana precise de se evidenciar “galacticamente” para captar financiamentos."

<--- esta frase está a disseminar um erro.
Nem a NASA disseminou falsas expectativas, nem a NASA deu espectáculo.
A NASA emite comunicados de imprensa, a dar conta das suas conferências de imprensa, regularmente.
Não houve nada de anormal nisto. É frequente!

Existem alguns jornalistas, os bons, que seguem a NASA e os seus comunicados, e daí que depois têm 2 ou 3 dias para contactar os cientistas em causa, e escreverem um artigo sobre a descoberta, a sair no dia da publicação na revista científica.
A NASA, e muitas outras instituições científicas fazem isto, embargam os artigos, para os jornalistas poderem ter tempo para escreverem os artigos e falarem com os cientistas, em vez de fazerem as coisas "em cima do joelho".

Já os outros jornalistas, os maus, preferem disseminar mentiras que leram num site qualquer de um blogger que tinha acordado bêbado nesse dia.
E assim as mentiras são disseminadas.

E no entanto, seria tão fácil consultar alguns sites da especialidade, como o astroPT, e dava para perceber com 2 dias de avanço qual seria a famosa descoberta...
Mas claro, "pesquisa" é uma palavra que não consta no dicionário do mau jornalismo.

Culpar a NASA pelos maus jornalistas não faz qualquer sentido...

Anónimo disse...

QUIMERAS... EM DIRECTO

Ouvir falar estrelas entre si
talvez um dia venha a ser possível:
é só questão de se atingir o nível
que nos permita circular ali.

Pelo caminho que a tecnologia
a passos de gigante vai trilhando,
é de prever, não seabendo quando,
que isso se dê mais dia menos dia.

Quem sabe até se com auscultadores
não poderemos conversar com Deus
sem recorrer aos seus embaixadores?!

Tecnologicamente... chegaremos
todos à fala, como filhos seus,
incluindo os vermes de que descendemos.

JOÃO DE CASTRO NUNES

Goislândia disse...

No 3º verso da 2ª quadra, substituo a gralha "seabendo" (=se sabendo) por "se imagina", ficando pois:

é de prever, não se imagina quando,

JCN

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