Minha crónica do "Público" de hoje:
As notícias de meados de Agosto davam conta de que a economia alemã tinha crescido 2,2 por cento do primeiro para o segundo trimestre deste ano, um número recorde desde a reunificação, enquanto a economia portuguesa tinha crescido no mesmo período uns míseros 0,2 por cento. É caso para dizer que a locomotiva da Europa bem puxa, mas as carruagens da cauda teimam em não andar.
Se se quer perceber porquê, não há nada como dar um salto à Alemanha. Apartei-me do estio português a meio de Agosto, logo a seguir às notícias do crescimento desigual, em busca das razões da desigualdade. Para chegar ao aeroporto de Lisboa tinha-me socorrido de um táxi, mas, à chegada ao aeroporto de Colónia-Bona, tal já não foi preciso, pois logo um comboio me esperava, com rigorosa pontualidade, para me deixar, escassos minutos depois, na Hauptbanhof de Colónia, onde pude tomar o metro. O hotel onde fiquei deu-me depois um passe de transportes urbanos para os dias da estada, prática comum a várias cidades europeias. O sistema de transportes regional está bem planeado e funciona, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, de acordo com o afixado. As entradas e saídas do metro estão abertas, pois a fiscalização é apenas ocasional. Menschen bewegen (Mover pessoas) é a divisa da empresa de transportes urbanos. Tudo está feito para poupar tempo. Em Lisboa, apesar dos investimentos brutais realizados com dinheiros europeus (isto é, alemães) em detrimento de outras zonas do país, não há nem comboio nem metro até ao aeroporto. E toda a gente perde imenso tempo.
Sempre que regresso à Alemanha sei que reentro num país onde não só os relógios funcionam como as pessoas funcionam de acordo com os relógios, cumprindo os planos que estabeleceram. E pergunto de cada vez a mim próprio como é que os alemães conseguem lidar com o problema do tempo português quando se deslocam, em trabalho ou em férias, ao nosso país. Numa livraria, que as há boas na baixa de Colónia, comprei, por isso, o livro Gebrauchsanweisung für Portugal (Piper, 5ª edição, 2010), em português Manual de Instruções para Portugal, do jornalista Eckhart Nickel. O autor fornece as palavras-chave para sobreviver numa visita a Portugal: tempo e paciência (Zeit und Geduld). Escreve: “Percorrer Portugal em meios de transporte públicos exige tempo e paciência”. Conjecturo que a segunda palavra só existe na língua alemã por causa da eventual necessidade de deslocação ao extremo oeste da Europa... Não foi há muitos anos que uma colega alemã ficou estupefacta por nem sequer encontrar horários de autocarros em Portugal. Tinha simplesmente de esperar com a necessária paciência pelo próximo. Agora, o jornalista queixa-se de que os horários de transportes são dados de um modo encriptado. Por exemplo, os horários de autocarro têm notas de rodapé do tipo: “De 16/9 a 30/6 aos sábados (ou sextas feiras se for feriado) ou segundas-feiras (ou terças-feiras se for dia seguinte a feriado)”. Essas indicações, convenhamos, desanimam qualquer passageiro, que, se desesperar na espera, terá de chamar um táxi. O autor previne os visitantes a Portugal: “Quem tem tempo, é aqui um rei, mas quem não tem não devia cá vir. Pois até os horários de abertura [de serviços] não passam de meras recomendações: dentro deles ser-se-á com sorte atendido por funcionários que se movem com a velocidade de uma lagosta num aquário”.
Já éramos assim antes do 25 de Abril e pouco mudámos. Curt Meyer-Clason, que dirigiu o Instituto Goethe em Lisboa nos anos 70 do século passado, escreveu nos seus Diários (Portugiesicher Tagebuecher, Athenäum, 1979), numa entrada de 1972: “O tempo português é uma substância que se deixa evaporar”. Como é que um povo que não faz planos claros, não tem serviços públicos decentes e não respeita quaisquer horários pode aspirar ao mesmo produto interno bruto que os alemães? Como é que um país cujo primeiro-ministro se compraz em chegar atrasado a eventos oficiais pode apanhar o comboio da Europa? Não pode. Ainda que tenha muito tempo e paciência.
As notícias de meados de Agosto davam conta de que a economia alemã tinha crescido 2,2 por cento do primeiro para o segundo trimestre deste ano, um número recorde desde a reunificação, enquanto a economia portuguesa tinha crescido no mesmo período uns míseros 0,2 por cento. É caso para dizer que a locomotiva da Europa bem puxa, mas as carruagens da cauda teimam em não andar.
Se se quer perceber porquê, não há nada como dar um salto à Alemanha. Apartei-me do estio português a meio de Agosto, logo a seguir às notícias do crescimento desigual, em busca das razões da desigualdade. Para chegar ao aeroporto de Lisboa tinha-me socorrido de um táxi, mas, à chegada ao aeroporto de Colónia-Bona, tal já não foi preciso, pois logo um comboio me esperava, com rigorosa pontualidade, para me deixar, escassos minutos depois, na Hauptbanhof de Colónia, onde pude tomar o metro. O hotel onde fiquei deu-me depois um passe de transportes urbanos para os dias da estada, prática comum a várias cidades europeias. O sistema de transportes regional está bem planeado e funciona, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, de acordo com o afixado. As entradas e saídas do metro estão abertas, pois a fiscalização é apenas ocasional. Menschen bewegen (Mover pessoas) é a divisa da empresa de transportes urbanos. Tudo está feito para poupar tempo. Em Lisboa, apesar dos investimentos brutais realizados com dinheiros europeus (isto é, alemães) em detrimento de outras zonas do país, não há nem comboio nem metro até ao aeroporto. E toda a gente perde imenso tempo.
Sempre que regresso à Alemanha sei que reentro num país onde não só os relógios funcionam como as pessoas funcionam de acordo com os relógios, cumprindo os planos que estabeleceram. E pergunto de cada vez a mim próprio como é que os alemães conseguem lidar com o problema do tempo português quando se deslocam, em trabalho ou em férias, ao nosso país. Numa livraria, que as há boas na baixa de Colónia, comprei, por isso, o livro Gebrauchsanweisung für Portugal (Piper, 5ª edição, 2010), em português Manual de Instruções para Portugal, do jornalista Eckhart Nickel. O autor fornece as palavras-chave para sobreviver numa visita a Portugal: tempo e paciência (Zeit und Geduld). Escreve: “Percorrer Portugal em meios de transporte públicos exige tempo e paciência”. Conjecturo que a segunda palavra só existe na língua alemã por causa da eventual necessidade de deslocação ao extremo oeste da Europa... Não foi há muitos anos que uma colega alemã ficou estupefacta por nem sequer encontrar horários de autocarros em Portugal. Tinha simplesmente de esperar com a necessária paciência pelo próximo. Agora, o jornalista queixa-se de que os horários de transportes são dados de um modo encriptado. Por exemplo, os horários de autocarro têm notas de rodapé do tipo: “De 16/9 a 30/6 aos sábados (ou sextas feiras se for feriado) ou segundas-feiras (ou terças-feiras se for dia seguinte a feriado)”. Essas indicações, convenhamos, desanimam qualquer passageiro, que, se desesperar na espera, terá de chamar um táxi. O autor previne os visitantes a Portugal: “Quem tem tempo, é aqui um rei, mas quem não tem não devia cá vir. Pois até os horários de abertura [de serviços] não passam de meras recomendações: dentro deles ser-se-á com sorte atendido por funcionários que se movem com a velocidade de uma lagosta num aquário”.
Já éramos assim antes do 25 de Abril e pouco mudámos. Curt Meyer-Clason, que dirigiu o Instituto Goethe em Lisboa nos anos 70 do século passado, escreveu nos seus Diários (Portugiesicher Tagebuecher, Athenäum, 1979), numa entrada de 1972: “O tempo português é uma substância que se deixa evaporar”. Como é que um povo que não faz planos claros, não tem serviços públicos decentes e não respeita quaisquer horários pode aspirar ao mesmo produto interno bruto que os alemães? Como é que um país cujo primeiro-ministro se compraz em chegar atrasado a eventos oficiais pode apanhar o comboio da Europa? Não pode. Ainda que tenha muito tempo e paciência.
26 comentários:
A organização do espaço/tempo é fundamental nas sociedades modernas. Já Georg Simmel tinha, logo na abertura do Século XX, notado a importância da estandardização da vida social em torno de padrões temporais para a construção de sociedades verdadeiramente modernas.
Em Portugal, vivemos ainda numa espécie de limbo, sempre entre uma certa modernidade e, sobretudo, promessas de modernidade e as temporalidades tradicionais que, no seu conjunto, tendem a tratar com desdém o rigor no uso do tempo como forma fundamental de orientação e organização da vida social.
Mas a questão não se reduz a um problema «cultural». Recordo-me eu, há anos atrás, ainda nos meus vinte e poucos anos de idade, de fazer trajectos por estradas, perto de Lisboa, no sentido contrário ao das massivas filas que diariamente entram na Capital. Pensava eu então nos enormes custos económicos e ambientais das enormes filas em que camiões carregados de géneros e mercadorias passavam várias horas antes de chegarem aos locais que iriam abastecer.
Para simplificar, o modelo sócio-económico que tem presidido ao processo de metropolização da zona de Lisboa, por exemplo, é verdadeiramente um dos maiores problemas do nosso País e em que ninguém fala, sobretudo quando se trata de cruzá-lo com os dois domínios que referi. Os custos económicos e ambientais da distensão do espaço e, concomitantemente, do tempo de deslocação entre as residências e o trabalho são uma factura pesadíssima, que todos temos de pagar. Este é um debate fundamental e que está por fazer. Suspeito que vai continuar assim. Mas a economia, o ambiente e, em geral, a qualidade de vida de muitos indivíduos e famílias dependerão, nas próximas décadas, estreitamente daquilo que ninguém debate.
Dr. Fiolhais, espero que tenha tido uma boa viagem a Alemanha. Sei que ja passou bastante tempo nesse pais para o conhecer bem. Mas eu tambem la vivi tres anos recentemente e acho a sua comparacao injusta. Os transportes na Alemanha sao carissimos, mesmo em comparacao com o nivel de vida dos Alemaes. Dado o estado de pobreza da populacao portuguesa, aumentar os custos de transporte em Lisboa seria quase impossivel. O que torna muito dificil qualquer investimento. De resto, tenho a dizer que apesar dos Alemaes se orgulharem da sua pontualidade, os comboios sofrem sucessivos atrasos o que ja me fez perder varias ligacoes e ate voos. Na cidade do porto por exemplo tem um metro do aeroporto que o poem no centro em 30m. Os horarios dos autocarros sao de facil consulta e ha varios paneis digitais que indicam quando vem o proximo autocarro. Eu diria que o manual que refere precisa de uma actualizacao. O problema aqui tambem passa pelo facto de nao estarmos preparados para ceder informacoes sobre os nossos servicos noutra lingua que nao a oficial numa altura em que a europa aboliu as fronteiras. Eu diria que portugal nao e nada "tourist-friendly" e nesse aspecto devera ser dos piores da Europa pois ate a Grecia soube montar uma industria turistica decente, que é a unica industria que os tem salvado da bancarrota.
No entanto as suas assercoes iniciais e finais sao certeiras. A crise Europeia so serviu para encobrir o verdadeiro estado de Portugal e, agora, em altura de retoma Europeia torna se claro: Portugal nunca esteve em crise, esteve e esta sim, num estado continuo de empobrecimento devido a falta de competitividade, iniciativa, rigor e excelencia necessarias para sobreviver na era da globalizacao. Escrevo lhe com tristeza, Portugal esta desorientado, perdeu o Norte (tambem literalmente, basta ver a pobreza nesta regiao) e nao se ve luz ao fundo do tunel. Como bem o disse no aritgo, isto tudo comeca logo nas atitudes do nosso primeiro.
Vivo na Alemanha desde há 6 anos, na Frankfurt que bem conhece, e com a distância de Portugal que esta temporada me proporciona consigo identificar e compreender os sintomas de que fala.
Existe de facto uma grande displicência na utilizição do "tempo" de terceiros, o que torna cara todo o tipo de sincronização social.
Sem dúvida que, na Alemanha, o nível de exigência social no que diz respeito a gestão de tempo é muito mais elevado. É, no entanto, um modelo longe da perfeição, e dado que a sua crónica apenas descreve as vantagens deste sistema, gostaria de acrescentar alguns factos e opiniões.
Comecemos pelos comboios. Sim, existe uma cobertura territorial alargadissima, mas são, na generalidade, pouco pontuais. Sobretudo nas linhas regionais (pelo menos aqui em Hessen) e mesmo nas de longa distancia. É dificil perdoar atrasos sistematicos de 20/30 minutos em linhas rapidas de longa distancia que custam cerca de 150 euros.
A Deutsche Bahn representa um sistema pesado, corrupto, e caro, subvencionado pelo estado e, até agora, sem concorrência interna. Não é sem razão que, apesar de grandes esforços, não se conseguiu estabelecer em nenhum dos países vizinhos.
Uma descrição mais ou menos humorística de alguns problemas pode ser lida em:
https://www.amazon.de/Senk-vor-tr%C3%A4welling-trotzdem-ankommen/dp/3451298090
Os problemas da Deutsche Bahn são, aliás, paradigmáticos e tipicamente alemães. O principal denominador comum da sociedade alemã é o desejo de reduzir a insegurança. De prever os problemas, mesmo os interpessoais, e de criar regras que ditem os comportamentos desejados para evitar conflictos. Este desejo leva a um sistemático sobredimensionamente de soluções e sistemas, tornando-os caros e difíceis de gerir, e com overheads administrativos enormes.
A um nível social mais corriqueiro, a procura sistemática de segurança leva as pessoas a planear festas com 1 ano de antecedência, porque os bons restaurantes / hotéis ficam cheios com um ano de antecedência. Ou a decidir com meses de antecedencia todos os seus programas de fim-de-semana.
Num ponto de vista mais profissional, processos de procura de emprego, mesmo em tempos de vacas gordas, demoram normalmente entre 4 e 10 meses. Esta mora, em areas como as tecnologias de informacao e extremamente perniciosa, porque o mundo não espera que os interpretes do modelo alemão ajustem as suas expectativas e regras para melhorar os seus produtos. No final, isto exige, de toda a gente, muita... muita... paciência.
Todas as culturas tem formas diferentes de lidar com o tempo (http://www.amazon.com/Geography-Time-Misadventures-Psychologist-Differently/dp/0465026427). E nao me parece que o crescimento do PIB (feito neste momento na alemanha muito a custa da reducao significativa do poder de compra das classes media e baixa) seja a metrica mais adequada para a sua avaliacao, embora seja claro que Portugal precise muito de melhorar estes dois aspectos.
Termino com um muito obrigado pelas crónicas.
Na Alemanha os cronistas também escrevem sobre o que não sabem? Foi à Alemanha e não viu! Então, conseguiu explicar esse crescimento de 2,2% que refere? Mais valia não ter ido e ter estudado. Comece assim: exportações para a China, graças ao crescimento desse país promovido pelos incentivos públicos do seu governo.
Siga para a Alemanha, duplicação do défice orçamental no primeiro semestre de 2010 relativamente ao período homólogo. Exactamente o contrário do que o governo dos seus heróis alemães exige aos outros que façam.
Fortes incentivos dos Estados federados que compensam alguns cortes do governo central.
Isto é, um forte política de incentivo estatal, repito, exactamente o que a Alemanha exige aos outros que façam.
Siga por aqui que encontra explicações mais correctas. Quanto mais não seja, tem a originalidade de tentar analisar a realidade e não limitar-se a repetir chavões preconceituosos, mais velhos do que a sua avó e do que da minha, evidentemente.
Percebeu? O "sucesso" alemão deve-se a medidas públicas de expansionismo e não à estúpida austeridade que aplicam por cá e em outros países.
Pinto
Deliciosa a sua abordagem sobre Portugal e os portugueses. Estive em Berlim e reconciliei-me com os alemães por poder apreciar o seu renascimento após a 2ª Guerra Mundial!
Claro, é bom que haja planos e organização e que as coisas funcionem mas o estilo português, a meu ver, tem muito de mediterrânico, somos diferentes dos europeus do norte e nordeste. Está muita coisa mal, perdemos muitas vezes o comboio, mas numa situação de caos lidamos muito melhor que qualquer alemão.
PASSOS TROCADOS
Enquanto nós, os portugueses de hoje,
não conseguirmos calendarizar
o tempo irreparável que nos foge,
nada fazendo para o valorar;
enquanto a nossa vida decorrer
sem rei nem roque, ou seja, ao Deus dará,
deixando de cumprir algum dever
adiado para o dia de amanhã;
enquanto, ante o correo recebido,
a tempo e horas não lhe respondermos
como em qualquer país culto e polido;
enquanto francamente não tivermos
pontualidade em nossos compromissos,
nós mais não somos que europeus remissos!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Concordo com as observações sobre os transportes, mas o parágrafo de abertura não faz qualquer sentido. Como física deveria saber que uma observação não diz absolutamente nada.
Os 2,2% foram totalmente fora do comum nestes últimos 10 anos. A economia alemã está tão parada ou mais que a portuguesa. Não são decididamente a carruagem económica da Europa desde o século passado.
Sobre questões de pontualidade e da sua influência na produtividade gosto sempre de dar este exemplo.
O expoente máximo da pontualidade é normalmente associada à Suíça.
Pois bem, nesse país os serviços têm horário afixado. Uma loja terá um horário exposto na porta como sendo por exemplo das 9:00 as 18:00.
Proponho que tentem ir comprar alguma coisa às 17:50, mesmo que apenas demorem 5 minutos a ir buscá-la e pagá-la. Tentem! Não serão bem sucedidos porque embora o horário afixado seja um, as lojas encerram quando bem entendem, tipicamente 15 a 20 minutos antes do horário afixado. A regra é completamente arbitrária e não regulada. A desculpa é que fechar a loja demora os tais 15 a 20 minutos, como se o utente tivesse algo que ver com isso.
Isto é ainda mais extremo em serviços públicos.
O exemplo dos transportes públicos alemães é completamente ridículo quando qualquer pessoa bem informada sabe que os comboios têm atrasos da ordem da meia hora com grande frequência.
Acho espantosos estes comentários...
Só posso tirar uma conclusão:
Portugal é muito mais organizado que a Alemanha!!!
O exemplo do fecho das lojas é ainda mais espantoso... estamos tão mal habituados à nossa desorganização e egoísmo que não conseguimos perceber a enorme diferença de organização e de sentido de responsabilidade existente nestes países...
As lojas e centros comerciais fecham mais cedo para os clientes, porque por lá respeitam-se os horários de trabalho dos trabalhadores. Por cá, todos sabemos como funcionam, as lojas e centros comerciais fecham muito para lá da hora marcada sem qualquer respeito por quem lá trabalha e para dar satisfação aos egoísmos e falta de organização dos clientes...
Se alguém tentar entrar num centro comercial em Almería, Espanha, não entra. Ponto final parágrafo. Os clientes têm que ter respeito por quem trabalha nestes espaços, quer queiram quer não. 10 minutos antes do fecho destes espaços comerciais, os seguranças vão fechando corredor a corredor e quando chega a hora, o centro comercial está quase fechado. Por cá sabemos como é...
Quando é que deixamos a nossa adolescência e passamos ter comportamentos de adultos?
Enfim...
Por mais vil que seja o patrão, há sempre quem lhe ache graça e goste de lhe lamber as botas.
Tinha este blogue por ser um pouco para o intelectual, com laivos de snobismo bacoco. Agora após este post, verifico, que também foi dada guariada a um certo provincianismo bacoco.
No estrangeiro é que é bom, aqui é tudo mau.
Só ainda não consegui perceber, porque razão, sendo o povo alemão tão esperto e organizado, ainda não descobriu esta esparrela em que caiu com a entrada na UE, e continua a insistir no desbaratar de dinheiros para as carruagens que não querem anadar.
Será porque em vez de andar a perder dinheiro, como afirma o autor da prosa, a Alemanha anda mas é a ganhar, e não será pouco, basta ver, por exemplo, o que aconteceu à indústria e agricultura de Portugal e Grécia após a entrada na UE e quem é o principal forncedor de bens e serviços da UE, de onde vêm os submarinos, os carros etc.
Digam lá que não foi um bom negócio para os germânicos, não é todos os dias que se consegue alargar de forma massiva o mercado de potenciais clientes. E ainda há quem ache que eles estão a ser explorados os coitadinhos.
Lá parvos eles não são.
Fartinho da Silva.
O horário é o exposto no estabelecimento para os utentes. Eu como utente não tenho nada que ver se demoram 15 minutos ou 8 horas a fechar a loja. Não me diz respeito nem quero saber e tenho o direito a ser atendido no horário de atendimento. Muito simples.
É pura e simples falta de organização e só um saloio não o consegue admitir. O mesmo saloio que não é capaz de pensar criticamente e que como um boi a olhar para um palácio come toda a porcaria desde que venha de fora. Quando a mesma porcaria vem de Portugal a já é inadmissível.
Para estes saloios (e proliferam por aqui com fartura) não há esperança...
E para os saloios do costume cá ficam alguns factos (com referência e tudo):
Two years ago, it was broken axles. Last year, it was a dangerous lack of brake maintenance. This summer, air conditioning systems on high-speed ICE trains have shown a tendency to break down. German trains have become notoriously unreliable -- and both passengers and politicians have had enough.
Rarely is the gap between stereotype and reality deeper than when it comes to the German rail system. Foreigners arrive in Germany convinced that trains run like clockwork, arriving and departing within seconds of the scheduled time. A first ride in a high-speed ICE, as it whispers through the countryside at speeds upwards of 250 kilometers per hour (155 miles per hour), is unlikely to alter this image of German efficiency-in-motion.
Those who live in Germany, however, know better. Complaining about Deutsche Bahn's almost chronic delays has become a favored pastime of frequent travellers. Train conductors' rather tortured efforts to make announcements in English ("Sank yoo vor travelling wis Deutsch Bahn") are also a frequent source of mirth.
Deixem de ser estúpidos e pensem pela própria cabeça utilizando a realidade e não contos de fadas.
Caro Anónimo,
Tenho um amigo que trabalhou na HP na Irlanda e no segundo dia preparava-se para fazer mais horas porque tinha chegado atrasado e tinha conversado mais do que devia nas horas de trabalho, os colegas pegaram-lhe no braço e disseram algo como:
"Meu amigo, se pensas que ficas aqui a trabalhar mais horas estás muito enganado. Tu és nosso colega, quer queiras quer não. Aprende a vir a horas, trabalha mais no teu horário de trabalho e aprende a respeitar as famílias dos teus colegas."
Se o Caro Anónimo soubesse o que dizem as pessoas que trabalham nos centros comerciais portugueses dos saloios dos portugueses....
E até lhe digo mais, há trabalhadores do Pingo Doce que fazem apostas a quantos tugas chegam 5 minutos antes de a loja fechar...
Conto-lhe mais uma história curiosa ou talvez não. Em 2004 fui ao cinema com diversos colegas de conferência em Bruxelas e adivinhe quem chegou depois do filme ter começado? Pois... adivinhou, portugueses e agora adivinhe quem apostou em como haveria portugueses a chegar depois de começar o filme? Pois, até portugueses apostaram. Agora adivinhe quem se atreveu e ganhou a apostar os minutos de atraso em relação ao início do filme? Foram muitos, suecos, alemães, holandeses, valanos, catalães, e até portugueses... sabe quem ganhou? Um holandês que apostou 20 minutos depois do início do filme.
Posso-lhe garantir que a nossa fama de desorganização e falta de respeito para com os outros é deveras comprometedora...
Mas que posso eu fazer? Também tenho vários maus hábitos e não me custa admitir e muito tenho feito para os alterar desde que conheci os hábitos de povos muitos mais desenvolvidos e ricos que o nosso. Desafio-o a fazer o mesmo. Pode não conseguir, mas pelo menos tenta e ao tentar perceberá como é difícil e talvez, então, entenda porque estes povos são tão produtivos. Lembre-se que estes povos foram obrigados a organizar-se e a respeitarem-se uns aos outros porque com Invernos tão difíceis não poderiam fazer de outra forma... era a própria vida que estava em jogo.
O Fartinho da Silva começa a ser ridículo. Como percebe que não tem razão recorre ao velho truque de chamar nomes: "É pura e simples falta de organização e só um saloio não o consegue admitir."
A teoria do Senhor Fiolhais de que por cá é tudo mau é um lugar comum mais ou menos ridículo. Leia no Público de hoje (6 de Setembro) as teses racistas do Senhor Sarrazin e limpe as mãos à parede. O pior é que a percentagem de alemães que acha que Sarrazin tem razão é assustadoramente elevada. E que acha de Sarkozy e os ciganos? Aquilo é que é civilização, organização e produtividade! Senhor Fiolhas: viaje menos e estude mais. Se estudar verá que nem precisa de ir aos sítios observar...
Carta recebida de Joaquim Marques da Silva e publicada aqui com autorização do autor:
Ex. Mo Sr. Prof. Doutor Carlos Fiolhais:
Permita-me entrar na sua Caixa de Correio, para dizer-lhe do meu agrado pelo artigo de opinião que o doutor tão sabiamente redigiu, no Jornal “O Público” de 05/09/010, no qual, por outras ocasiões já ter lido outros de sua sábia autoria.
Primeiro tenho que me apresentar ao doutor: Sou reformado com 70 anos, 28 dos quais vividos e trabalhados na Alemanha. Tenho apenas o 9º ano, mas sempre fui um curioso que gostou de saber e aprender. Com a leitura do seu artigo, tenho que confessá-lo que nunca li alguma coisa que tanto me tocasse. Dentro da minha modéstia, sempre pactuei pelo rigor dos horários e do cumprimento dos meus deveres.
Há 10 anos chegado ao meu País já reformado, vi no caos e desordem em que o meu País estava mergulhado, mas 10 anos passados, não se vê melhoras, mas o contrário. Transportes públicos, que horror… Vivo a 20 quilómetros da Cidade do Porto, e a 10 da Sede do meu Concelho Santa Maria da Feira, e para me deslocar a qualquer delas, ou com Carro próprio, ou será necessário uma manhã ou todo o dia, para uma simples consulta no Hospital ou outro serviço. O público é servido por uma empresa que não está interessada em cumprir horários nem melhorar os serviços, porque as Autarquias pagam e alimentam a/ou as empresas com o transporte dos Estudante. Como é possível um País sair do marasmo em que sempre esteve? Vivo numa “Cidade” perdão numa aldeia com pretensões a Cidade, que é Fiães, com 12 mil habitantes aproximadamente. Se não fora alguma renovação e progresso, e servida por uma boa Escola Secundária,
teríamos os mesmos problemas de há 70 anos.
Voltemos de novo á Alemanha; lá os exemplos vêm de cima. Aqui de cima vem lixo e mentiras, ninguém é responsável nem responsabilizado.
Tinha lá várias conversas com entendidos e meus conhecidos alemães, para lhes dizer que os dinheiros que para cá vinham era para aquilo que todos nós sabemos. A frase é forte mas eu aplico-a: engordar porcos.
Pelo tempo que lhe roubei e mais pela minha ousadia, quero pedir-lhe sinceras desculpas.
Joaquim Marques da Silva
Fiães, 05 de Setembro de 10
Caro J. M. Silva:leia o anónimo das 22:39 e ... reflita.
Caro Anónimo das 22:39 horas,
Não fui eu que disse o que afirma. Verifique. Obrigado.
Fartinho da Silva: tem razão, como aparece o seu nome confundi. As minhas desculpas.
Não resisti a parabenizar este excelente artigo. Acrescento que não seria necessário comparar este país com a Alemanha. Basta confrontá-lo com o Zimbabwe para nos darmos conta que vivemos numa fossa profunda de mentalidades tacanhas.
Enquadrado neste tópico, lembro um pequeno episódio que ocorreu no tempo em que recorria aos comboios como meio de transporte para a escola que frequentava no Porto:
Chega uma senhora vermelha como um pimento e esbaforida à bilheteira da estação de Ovar e pede um bilhete para o Porto. De seguida pergunta:
- Já passou o comboio das oito?
Responde-lhe o bilheteiro:
- Está aí mesmo a chegar o das sete.
Na verdade, quando chegou o comboio das sete, já passava das oito.
Nós, os portugueses, quando olhamos para o comboio da Europa, com tantas carruagens, pensamos que é difícil perder uma coisa tão grande. Todavia é como alguém o disse: é grande mas não estica.
Acredita mesmo que a Alemanha puxa o comboio e os outros não querem andar? Viva a Alemanha benemérita....
Caro S. Marques: a mim aconteceu-me bem pior na Inglaterra. São uns atrasados mentais... como nós...
Nem tudo funciona mal em termos de Transporte Público em Portugal. Exemplos: FERTAGUS, Comboios Urbanos CP-Porto, Metro do Porto, Metro do Sul do Tejo.
A "ineficiência" tem a ver com opções políticas. Apenas. Os Portugueses não são uns "atrasadinhos", em comparação com os Alemães e outros. Fazem-nos depender do carro porque isso alimenta uma economia artificial de construção de estradas e receitas fiscais, como o IA e o ISP. Essa é a realidade. Nunca vivi na Alemanha mais de 30 dias. Mas já vivi 5 anos em Inglaterra. Se quiser levar o pópó para o centro de Londres pago 12 Euros por dia, em taxa de congestão. Nunca experimentei estacionar no centro de Colónia, mas não deve ser uma experiência muito agradável para a carteira.
Agora, com a medíocre elite que nós temos, até que ponto medidas de contenção do automóvel não seriam imediatamente vistas como "atentados ferozes" às "liberdades, direitos e garantias"? Quem é que não anda aí na gritaria pela manutenção do ruinoso negócio das SCUT´s?
manueltao@gmail.com
Por favor acabem com essas de que somos atrasados e de que estamos num país pobre e pequeno. Comparem com outros e, por favor, tenham mais espírito crítico. Coisa que não peço a C. Fiolhais, ele diz umas coisas e mete-se no seu refúgio e não entra em polémicas com a plebe. Caro Manual Tão: as elites que temos são tão medíocres como as dos outros. Ou prefere Blair e Bush com as sua aldrabices criminosas de armas de destruição massiva? Eles mostraram as provas a Duraõ Barroso, lembra-se? Que aconteceu a este depois de mostrar que em aldrabice não ficava atrás dos patrões? A Europa escolheu-o para um alto cargo? Quem o escolheu é tão medíocre como as nossas elites ou mais?
É engraçado que estajam sempre a apontar os países germânicos e nórdicos como os bons exemplos, dizendo que tudo o que corresponde à cultura latina é mau. Ora, não são também a França e a Itália países latinos? E não são também dois dos países mais ricos da Europa e do Mundo? Eu já estive na Alemanha, na Dinamarca, em França e em Itália, e digo que gostei muito mais de trabalhar nestes 2 últimos do que nos 2 primeiros, tal como apesar de tudo prefiro a vida em Portugal do que a vida num qualquer país Escandinavo, precisamente pela nossa cultura mais relaxada. Há quem viva para trabalhar, e há quem trabalhe para viver.
Senhor Professor Carlos Fiolhais
Queira me perdoar, por tomar a iniciativa de lhes escrever "duas linhas".
Não nos conhecemos de parte alguma, porem quando nas minhas idas a Portugal,e com alguma regularidade, sempre leio os jornais, e em particular o PUBLICO, e no do dia 5 deste mês, vinha , o artigo de V:EX: "tempo e paciência"fiquei tao entusiasmado;com o seu artigo,pensei logo em felicita-lo, é uma grande realidade,aquilo que o Sr: descreveu,eu ja ando por estas terras, (Luxembourg, e Alemanha, e Bélgica, hà perto de 40 anos de luxembourg,sempre trabalhei com firmas Alemans,e e Belgas, mas da parte germanofone, mais conhecida , pour la nouvelle Belqique,digamos que sao antigos Alemães, sempre apreciei o profissionalismo,e pontualidade,quando é para iniciar os trabalhos, se marca a data e hora, e não falha , como combinado, mas se por ventura por ordem diversa não podem vir, tem a atenção, de em telefonar, com desculpas,e pedindo delicadamente, quando é que em da jeito, para virem, e não falha,outra parte interessante, é que durante o tempo que estão ao trabalho, não falam, não bebem (sö agua), isto é não fazem com os nossos compatriotas.
Tambem tenho tido firmas Portuguesas, daqui do Lux,algumas trabalham bem, mas em nada pontuais,e bastante pobre em finiçoes, e em linguagem popular, porcos nos trabalhos que efectuam sempre a falar alto e grosseiramente, digo-lhe Exm:Sr: estou cansado, e nao a credito que os Portuguêses em Portugal, venham a ser como na Alemanha, altamente qualificados,e também não fazem orçamentos "em cima do joelho".
Os operários (deutsche Arbeiter), todos dias antes de terminarem o dia, fazem limpeza,isto na minha área, montagem de janelas portas, aquecimento central, etc etc, na montagem a terminar uma janela ou porta, vem logo o colega, com o aspirador,e o outro com o gesso, chamam-se sincronização.
Perdão pelo tempo que lhe roubei,com o meu respeito
l'expression de mes sentiments plus distinguées
Manuel Mestre
luxembourg
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