Em 11 de Setembro de 1891 Antero Tarquínio de Quental, o poeta que dissertava pelas noites de Coimbra para, propositadamente, acordar as consciências, despedia-se da sua vida com o Atlântico no horizonte. Fez hoje, portanto, cento e vinte anos.
Nocturno
Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...
Como um canto longínquo – triste e lento –
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!"
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5 comentários:
Um tiro dando na boca,
Antero não se matou,
mas tão-somente calou
a grande dor que o sufoca!
JCN
DISPARIDADE
Antero, grande Antero, a tua dor
maior não foi que a minha, podes crere,
só que não tenho, Antero, o teu pendor
para, ao teu jeito, em versos o dizer|
Falece-me o teu génio, o teu talento,
a tua natureza de Poeta,
que foi razão também do teu tormento
a par da tua vocação de asceta.
Morreste por afecto incontrolado
frente ao vapor que te levou do lar
as pupilas aceites por legado.
Eu, presa de um amor sem paralelo
que Deus do meu convívio quis levar,
terei de cada dia... revivê-lo!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Corrijo, no 2º verso, a gralha "crere" por "crer". JCN
"MIRAGEM"
Antero de Quental, meu Santo Antero,
que electrizaste a minha juventude
pela tua bondade e porte austero,
ao mesmo tempo generoso e rude,
ainda agora sei, quase de cor,
os teus sonetos todos, mais de cem,
que são para o meu gosto os de maior
beleza e perfeição que fez alguém!
Também pelo Ideal, quando estudante,
lanças quebrei na liça com denodo,
armado em destro cavaleiro andante.
Tirando o Amor, Antero, é manifesto
que em vasa tudo deu, como de resto
contigo sucedeu: fumaça e lodo!
JOÃO DE CASTRO NUNES
EVOCAÇÃO ANTERIANA
Nas ruas de Coimbra ainda agora
ressoa a voz de Antero, irreverente,
anunciando a luz de nova aurora
prestes a vir das bandas do nascente!
Estou a imaginá-lo, como outrora,
na escadaria da Sé Nova, à frente
de toda a estudantada sonhadora
a declamar, soberbo, eloquente!
Odes modernas, revolucionárias,
sonetos a rondar a perfeição,
que assombro ouvi-lo nessa posição!
De capa, em pé, feições visionárias,
tudo em Coimbra evoca, dessa altura,
a sua carismática figura!
JOÃO DE CASTRO NUNES
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