domingo, 4 de setembro de 2011

Ingresso no ensino superior: o antigo exame ad hoc e as actuais provas de acesso para maiores de 23 anos


"O pior governo é o que exerce a tirania em nome das leis e da justiça” (Barão de Montesquieu, 1689-1775).

Num sistema educativo, com fracos caboucos de uma deficiente “instrução primária”, abrindo brechas nas paredes do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e em que o ensino secundário tenta que as suas traves de madeira não sejam atacadas pelo caruncho da ignorância, com a Lei de Bases do Sistema Educativo, corporizou-se a louvável exigência que deve presidir à entrada no ensino superior com o seguinte articulado: “O acesso a cada curso do ensino superior deve ter em conta as necessidades em quadros qualificados e a elevação do nível educativo, cultural e científico do País, podendo ainda ser condicionado pela necessidade de garantir a qualidade do ensino” (Lei 46/86, de 14 de Outubro, art.º 12, n.º 3). Todavia, não descortina vestígios dessa qualidade “legal” a professora universitária Maria Filomena Mónica quando escreve: “Devido à irresponsabilidade dos governos, ao populismo dos parlamentares à cobardia dos docentes, a universidade degradou-se para além do razoável (PUBLICO, 08/12/2003).

Porém, e lamentavelmente, anos depois, o Decreto-Lei 64/2006, de 21 de Março, passa a atribuir “a organização e realização das provas da competência a júris nomeados pelo órgão legal e estatutariamente competente do estabelecimento de ensino superior a que se destinam”. Ou seja, passam-se a abrir, de par em par, janelas de ignorância a escolas de ensino superior que se debatiam com a falta de candidatos à respectiva matrícula deixando-os, agora, entrar à balda para não terem que encerrar portas criadas em quase cada esquina em tempo de vacas gordas.

O ensino superior, que eu denomino de pré-facilitismo (mesmo deixando de fora as exigências do Estado Novo) por não pactuar com atentados à sua seriedade, exigia, como condição, sine qua non de acesso, o curso do ensino secundário ou equivalente ou, em alternativa a verdadeiros autodidactas, o exame ad hoc. Em contrapartida, o ensino superior pós-facilitismo contenta-se com "provas de acesso ao ensino superior para maiores de 23 anos” elaboradas e levadas a efeito nas próprias escolas como que a modos de um salto à vara com a fasquia a um palmo do solo.

Ou seja, o Estado, ele próprio, fomenta todo este processo que constitui um verdadeiro atentado para com o esforço e a própria dignidade de todo e qualquer aluno que se tenha sujeitado em árduo trabalho a um ensino secundário regular que nada tem a ver com a escandalosa facilidade das Novas Oportunidades.

Mas detenhamo-nos, agora, sobre o exame ad hoc para maiores de 25 anos a quem o “laissez faire, laissez passer” do actual sistema de ensino superior passou uma criminosa certidão de óbito sem atender ao facto de que “não há nada mais relevante para a vida social do que a formação do sentimento de justiça”, como sentenciou o jurisconsulto Ruy Barbosa, co-autor da Constituição da Primeira República do Brasil.

A responsabilidade da elaboração da prova de Língua Portuguesa do exame ad hoc era cometida a um júri nacional, constituído por seis individualidades que, para além disso, procediam à classificação das provas tendo poderes para decidirem sobre os pedidos de reapreciação. Sem classificação positiva nesta prova era o candidato eliminado à partida por se considerar que quem não dominasse suficientemente esta importante matéria não devia transpor os umbrais do ensino superior. Depois seguiam-se provas específicas versando matérias dos programas do ensino secundário. Por exemplo, para a Faculdade de Direito de Coimbra essas provas determinavam conhecimentos de História, Filosofia e uma Língua viva. Os dados relativos ao exame ad hoc do ano de 2001 dão-no conta da inscrição de 3658 candidatos ao ensino superior tendo sido admitidos para a prova de Língua Portuguesa 1135 e aprovados apenas 647.

Mas para que se não pense poder eu estar a tirar conclusões depreciativas, por um qualquer parti pris, das provas de acesso para maiores de 23 anos, trago ao conhecimento público elementos que não são ignorados pelas instâncias oficiais por a lei determinar expressamente que “o Observatório da Ciência e do Ensino Superior deve ser informado com dados estatísticos relativos aos resultados das provas de acesso para maiores de 23 anos”.

Um desses exemplos reporta-se aos resultados de uma escola superior de gestão do ensino politécnico em que os resultados das provas de acesso para maiores de 23 anos foram os seguintes (2011/2012): candidataram-se 43 indivíduos, não compareceram 2 , tendo sido aprovados, portanto, 41, o que em termos estatísticos dá 100% de aprovações. E, quiçá, por se tratar de um escol de verdadeiros” autodidactas” houve um 18, um 17, dois 16, senso a média geral dos candidatos de 14 valores.

Não se fosse dar o caso de se tratar de excepções “excepcionais” debrucei-me, depois, sobre os resultados, desse mesmo ano lectivo, de uma escola superior de tecnologia também do ensino politécnico. Os resultados foram ainda mais reveladores: dos 34 candidatos houve uma percentagem de 100% de aprovações, destacando-se nas classificações mais elevadas dois 19, quatro 18, seis 17, sendo a média geral dos candidatos de 15 valores.

Sem necessidade de mais comentários, porque, como diz o povo, pelo andar da carruagem se vê quem vai lá dentro, perante estas duas situações que não me atrevo, sequer, a adjectivar quando comparadas, por exemplo, com os exames do 12.º ano, só me resta evocar Albert Einstein: “É fundamental que o estudante adquira uma compreensão e uma percepção nítida dos valores”.

Mas será possível “uma percepção nítida dos valores” com as “Provas Especialmente Destinadas a Avaliar a Capacidade de Frequência do Ensino Superior dos Maiores de 23 anos”? Mesmo com esta nova e extensa nomenclatura, como se fosse possível que mudando o nome às coisas elas mudassem também. Não mudam! Mesmo que a nudez do rei tenha a cobri-la uma cabeça coroada à medida das suas conveniências.

(Meu artigo de opinião publicado hoje no jornal "Público").

22 comentários:

Anónimo disse...

Caro Rui

Mas eu não vejo os reitores das universidades a manifestarem-se contra isto, nem a maioria dos professores, cujo aumento exponencial de alunos na universidade lhes é benéfico nem que sejam criando cursos a patacos como foi pródiga a década de 90 do século passado, pois que as universidades assim se financiam devido ao seu modelo, mas contra o qual não "vejo" muitas vozes a erguerem-se.

Estes exames de mais de 23 nunca deveriam ter existido, mas estou em crer que se tratou de uma estratégia para captar sobretudo pessoas de meia idade que tiram cursos por realização pessoal sem depois irem engrossar o desemprego pois a esmagadora maioria já tem emprego certo.
Não sei as percentagens mas arriscaria a dizer que entre 5 a 10% são trabalhadores estudantes e destes a maioria terá mais de 35 anos com família constituída e emprego certo e grande parte funcionários públicos.


O estado é o primeiro a corromper aquilo que legisla por ganancia ao dinheiro devido aos interesses instalados.

Urge começar a limpar a casa, voltar a nivelar por alto as universidades, não só em termos dos novos alunos mas dos professores a cujas cadeiras o corpo se colou e conhecimento cientifico pouco ou nada produzem..

Davis Gouveia disse...

Um artigo muito pertinente. Há mesmo uma escola do ensino politécnico, que curiosamente este ano não divulgou os resultados no site, em que é comum ver alunos com 5/20 a português e 1/20 a matemática, e como miraculosamente conseguem um 18/19/20 na entrevista, conseguem entrar às dezenas em cursos de gestão/contabilidade. A universidade até tem aumentado as vagas no pós-laboral para se aproveitar desta procura, e criado cursos muito bem pagos de "matemática zero" para estes alunos que não têm praticamente bases nenhumas na disciplina.

As coisas não só não mudaram como estão claramente pior, com algumas universidades/politécnicos a se aproveitar do sistema para ganhar mais alunos e dinheiro.

joão boaventura disse...

Caro Anónimo das 18:20

Está correcto o que diz, relativamente à manutenção dos concorrentes nos respectivos empregos, donde concluir-se o desnecessário dos estudos.

Acontece que muitos deles, por via dos estudos alcançados, conseguem, nos empregos em que trabalham, promoções, como ocorre em funcionários bancários, relativamente à economia e gestão.

O que já representa um ganho útil.

Cordialmente

Mónica disse...

sou a favor dos exames ad hoc, o espirito universitario não deveria ser esse, o da livre e universal frequencia? a realidade é q tem revelado que a universidade se está a tornar num emprego, um espaço cheio de regras, horarios, soberbas, arrogâncias, queimas, festas, burocracias e pouca investigação.

para exemplos de alunos mediocres que se abrem portas sem a condição da lingua portuguesa contraponho os professores universitarios (professores profissionais :P) na área da engenharia que a falar e a escrever metem nojo.

Anónimo disse...

Caro João

Tem razão que é um ganho útil para esses trabalhadores estudantes e indirectamente para o pais, não foi nesse ponto que eu quis criticar, mas sim que o estado tomou medidas demasiado facilitistas como os maiores de 23.

Rui Baptista disse...

Acabo de receber este mail do Professor Doutor João Boavida.

Como o prezado leitor compreenderá foi com grande orgulho que o recebi e o transcrevo:

“Caro Dr. Rui Baptista

Um excelente artigo. Os meus parabéns! Li-o no Público e acho muito bem que ele apareça num jornal de referência.
Há muita gente a brincar com coisas sérias, e isso é intolerável.
Um abraço. Aprecio muito essa sua capacidade de luta contínua e incessante. E esclarecida, claro.

(Pode publicar este comentário. Eu não o faço porque não sei como.)

J. Boavida”


Um abraço grato meu Caro Professor.

Rui Baptista

Rantanplan disse...

"...área da engenharia que a falar e a escrever metem nojo."

Já há muito que Portugal tem ignorantes a formar outros ignorantes. E agora? Como vamos quebrar o ciclo?

José Batista da Ascenção disse...

Ontem apeteceu-me comentar este texto, que já havia lido na versão em papel. Mas sabia que me sairiam palavras duras e contive-me. Hoje, opto por comentá-lo, sabendo que me sairão (essas) palavras duras. Paciência. Cá vai.
O que Rui Baptista põe a nu é apenas a corrupção, a miséria e o crime (crime, em termos éticos, morais e factuais, que não legais, obviamente...) em que se transformou o nosso sistema de ensino. Com a aparente conivência ou, pelo menos, a apatia de todos, com excepção daqueles que nunca se calaram.
Depois, bem podemos andar à procura de sistemas de avaliação de professores que nunca resolveremos os problemas na origem. Não que eu seja contra a avaliação, entenda-se, mas o mal está a montante, e se a avaliação for desenhada pelos protagonistas do costume, há-de incluir a corrupção do costume, e não retirará nenhum incompetente do sistema de ensino. Quem escalpeliza bem este assunto, pelo que fui lendo, é o nosso benquisto João Boaventura.
Estou em crer que é por isso que o senhor Ministro da Educação vai dizendo que a avaliação de professores não é o problema principal... Vejo-o como uma pessoa sensata e lúcida a tentar gerir uma floresta de hienas com todos os sectores desenquadrados, e, sem quadrantes, como pode ele encontrar-lhes qualquer bissectriz?
Desejo-lhe a máxima sorte, confio nele, mas não lhe invejo o lugar. E vou tomar cuidado com a expressão destas minhas impressões - isto é, calar-me - para não ser acusado de louvaminhas, coisa para que nunca tive jeito.
Obrigado, caro Rui Baptista. E desculpe a prosa.

joão boaventura disse...

Ao colega José Batista da Ascenção, pela simpática observação que me leva a martelar, uma vez mais, a quase exaurida avaliação.

Espero que a falácia da avaliação morra de parto tardio.

Para mim o problema maior reside na pessoa que vai avaliar porque:

- se é externo, além do distanciamento em relação ao colega a avaliar, oferece ainda a desvantagem de o sistema de ensino do avaliador não corresponder ao método que usa;

- se é interno, além da proximidade em relação ao colega a avaliar, oferece a mesma desvantagem
da do observador externo.

O cenário não oferece nenhuma credibilidade nem isenção possível, considerando ainda outros considerandos nefastos, resultante da apetência lusitana de saber por portas e travessas, outros segredos:

- se é externo, conhecerá possivelmente alguns colegas que trabalham na escola do futuro avaliado, poderá querer indagar, junto desses colegas, das suas impressões relativamente à próxima vítima, para uma avaliação mais justa, em confronto com a sua observação da aula, donde pode resultar:
# se os colegas têm boa impressão do professor a avaliar, e se a aula correu mal, o avaliador pode deduzir que os colegas o enganaram, e quem vai sofrer as consequências é o avaliado;
# se os colegas têm má impressão do professor a avaliar, e se a aula correu bem, o avaliador pode deduzir que os colegas o enganaram, e fica na dúvida sobre o verdadeiro valor do observado.

A partir destes cenários possíveis, outros haverá, sedo improvável encontrar, no ambiente deletério, que desde o 25 de Abril, se implantou na educação nacional, o avaliador justo, isento, sabedor, acima de todas as suspeitas.

Por isso, mantenho que o avaliador é o lado negativo, porque não forma, não corrige, não aconselha, não sugere. Limita-se a comunicar superiormente as suas impressões escritas, nas costas do avaliado. NEGATIVO.

Por isso, mantenho que a figura do inspector é o lado positivo, que deverá desempenhar o mesmo papel do apóstolo S. Paulo, sempre presente em cartas de acompanhamento e de conselhos, enquanto não puder estar presente, para então corrigir, sugerir, emendar, trocando impressões sobre os métodos possíveis, ou até gestão do tempo no percurso da matéria, seu adiantamento ou atraso, sempre na presença do avaliado, ao qual o inspector se apressará a ir mais vezes, se as dificuldades se mantêm. POSITIVO.

O avaliador limita-se a dizer ao Estado que o professor é Bom, se houver empatia, ou que não presta, se houver antipatia. E quem vai comprovar e conferir, como diz o anúncio do Pingo Doce ? O professor fica entregue a si mesmo, e os alunos que se sujeitem ao que há.

O inspector limita-se a compartilhar os problemas do inspeccionado, numa atitude formativa, que vai beneficiar o professor e os alunos.

Cordialmente

Rui Baptista disse...

Caros comentadores: Em devido tempo, responderei aos vossos amáveis e esclarecedores comentários.

Entretanto:

- Esqueci-me de referir neste meu post (aliás, como no próprio artigo do Público) que os cursos do ensino politécnico por mim referidos eram oficiais. Faço-o agora, com o pedido de desculpas por uma omissão involuntária.

- Acabo de publicar neste blogue um post intitulado "Um estudo cabo-verdiano sobre inspecção educativa que merece ser lido, meditado e devidamente reflectido", ademais numa altura em que o sistema de avaliação docente vai novamente ser posto em cima da mesa das negociações entre o Ministério da Educação e sindicatos docentes.

Negociações que não pressagiam um clima de salutar e necessário entendimento num início de ano escolar em tempos económicos e sociais difíceis que não devem permitir o eterno jogo do gato e do rato.

Rui Baptista disse...

Caro anónimo (4. Set.; 18:28): Sobre uma possível apatia (que refere) dos reitores da universidade em deixarem correr o marfim, ou cair os braços de desânimo, em questões em que deviam ser mais enérgicos, julgo que este excerto da académica Maria Filomena Mónica, sempre na primeira linha de uma linha crítica devidamente fundamentada, nos pode esclarecer sobre o assunto. Escreveu ela: “Devido à irresponsabilidade dos governos, ao populismo dos parlamentares e à cobardia dos docentes, a universidade degradou-se para além do razoável” (“Público”, 08/12/2003).

Mais palavras, para quê? Todas as críticas que se possam fazer por acréscimo a este lamentável estado de coisas correm o risco de, como diz o povo, fazer chover no molhado (embora se saiba, por outro lado, que “água mole em pedra dura tanto dá até que fura”). Daí, o muito interesse da sua crítica a que me associo com a solidariedade de um combatente do mesmo lado da trincheira contra os dislates que se têm abatido sobre o sistema educativo nacional, seja ele básico, secundário ou superior.

Rui Baptista disse...

Caro Davis: Sempre o rei Midas a comandar coisas sérias e, mais do que isso, de interesse nacional que leva a que, como bem critica e escreve, que “as coisas não só não mudaram como estão claramente pior, com algumas universidades/politécnicos a se aproveitar do sistema para ganhar mais alunos e dinheiro”.

Actualmente, em declarado período de crise económica, reproduzem-se as épocas de saldos nas casas comerciais. No acesso ao ensino superior, os saldos ao desbarato, para poderem manter as portas abertas, deixaram de ser excepção para se tornarem em regra altamente perniciosa para o país. Ou seja, uma regra que protege os falsos autodidactas (como escreveu um autor brasileiros, “ignorantes por conta própria”) e prejudica quem “queima as pestanas” em noites insones de aturado e árduo estudos secundários.

Quanto ao facto que relata de haver uma escola politécnica que este ano não divulgou no seu site os resultados das provas de acesso para maiores de 23 anos, atrevo-me em aventar duas possíveis razões: Varrer para debaixo do tapete a vergonha desses resultados ou, ao contrário da letra de uma canção brasileira (“você não tem um pingo de vergonha"), ter havido da parte dos seus responsáveis um pingo de vergonha, Mesmo nos terrenos mais pantanosas, por vezes, florescem nenúfares. Haja, pelo menos, essa remota esperança!

Rui Baptista disse...

Corrigenda ao meu comentário (7.Set.; 01:53): Na 2.ª linha do 3.º §, em que escrevi "por mim referidos", corrijo para "por mim referenciados".

Rui Baptista disse...

Prezada Mónica: Como deve ter reparado a intenção do meu post, entre outras motivações, teve como objectivo principal mostrar a diferença abissal entre o exigente exame ad hoc e a verdadeira palhaçada das provas de acesso para maiores de 23 anos. Cheguei a um ponto que mais critico o facto desses candidatos poderem chegar ao fim dos respectivos cursos, outra verdadeira palhaçada, do que neles terem tido ingresso.

Temo que esteja a ser demasiado exigente para com os professores universitários de engenharia no que tange ao domínio da linguagem oral e escrita. A exemplos, que possa apresentar, contraponho eu outros exemplos de uns tantos que dominam perfeitamente, e com muito brio, o uso escorreito de um português bem falado e escrito com apreciável nível literário.

Aliás, a Mónica, se quiser ser justa, concordará comigo. Mais: que o mau domínio da Língua pátria faz mossa em próprios estudantes e licenciados universitários de Letras, e não só!

Rui Baptista disse...

Caro Rantanplan: Pergunta bem propositada e não menos a propósito: “Como vamos quebrar o ciclo?” Padece este ciclo do ciclo vicioso (passe a redundância) do canídeo que anda atrás da própria cauda tentando mordê-la!

Para este ciclo muito tem contribuído uma acção sindical que se atém à avaliação docente como o símio se agarra às bananas. Nada mais importa do que ganhar tempo para levar a água de uma avaliação docente de facilitismo que não ponha qualquer obstáculo à chegada ao topo da montanha do último escalão independentemente de qualquer mérito que favoreça os medíocres e faça cair sobre os costados dos bons professores o látego da indignidade de poderem até serem por aqueles ultrapassados.

Perante o que se está a passar, me parece que este ciclo seria ultrapassado com a criação de uma Ordem dos Professores que garantisse uma formação adequada a quem exerce a docência, “ad libitum”, sem estar devidamente titulado para isso. Não se desse o caso, por exemplo, da existência da Ordem dos Engenheiros ainda hoje teríamos universidades privadas a venderem diplomas de licenciatura (ditas) em engenharia como quem atribui diplomas sem qualquer valor facial como as notas falsas de euros. Esta uma possível explicação para o facto de uns tantos sindicatos assumirem funções que fogem à respectiva alçadas quando fazem saber, “urbi et orbi”, não ser necessário um código deontológico docente. Eles lá sabem, e eu também sei, porque fogem eles de uma ordem profissional como o diabo foge da cruz!

Rui Baptista disse...

Corrigenda: Na ante-antepenúltima linha do último § do meu post (8.Set.; 00:16), corrijo a palavra "alçadas" para alçada.

Rui Baptista disse...

Caríssimo JoséBatista da Ascenção:Finalmente, e com o proveito de sempre em manter diálogo consigo, cá estou eu a responder ao seu comentário.

Ao contrário do que escreveu “sem palavras duras” por retratarem apenas a verdade, essa sim, dura. A realidade do sistema educativo português que já não vai com mezinhas de curandeiros ou a habilidade do bisturi por mais esforçado que seja o cirurgião e mais bem afiada esteja a respectiva lâmina.

Como pode um sistema educativo andar para a frente quando a Fenprof mesmo antes de se sentar à mesa das negociações amanhã com o actual Ministro da Educação, Nuno Crato, já se aproveita da ampla audição de meios de propaganda televisivo, escrito ou falado para dizer que não assina qualquer acordo.

Pensava eu, na minha ingenuidade, que a minha idade e experiência de vida não deviam desculpar, que as negociações serviam para limar arestas divergentes e, só no caso de elas não serem alcançadas, então sim, iam as negociações por água abaixo.

Mas não. A Fenprof assume-se com pitonisa de fácil adivinhação por profetizar um futuro que é sempre o mesmo: oposição sistemática a qualquer tipo de avaliação que tenha a cobertura do mérito. Ou seja, que não faça chegar ao pico do Everest o esforçado alpinista ou quem o alcance em viagem de helicóptero. Os sindicalistas docentes profissionais atingem-no ainda mais facilmente através de um sistema de avaliação “inter-pares” que querem fazer passar por virtuoso, embora cheio de defeitos. Como podem ser avaliados no acesso a escalões docentes quem não dá aulas? É o mesmo que tentar avaliar a competência de um piloto de fórmula 1 em pistas de carrinhos de choque das feiras...Aliás o próprio ingresso na carreira docente não distingue tem uma carta de condução séria de uma outra, como se dizia no meu tempo de rapaz, de uma outra ganha através das embalagens da "Farinha Amparo"! Mas isso é outra história...

Rui Baptista disse...

Com o devido e necessário pedido de desculpa, substituo o período finaldo meu comentário anterior por este:

Aliás o próprio ingresso na carreira docente não distingue uma carta de condução a sério de uma outra, como se dizia no meu tempo de rapaz, ganha através das embalagens da "Farinha Amparo". Sempre que um condutor se distinguia pelo sua aselhice ao volante, não se livrava do dichote: “Ouve lá! Tiraste a carta na farinha Amparo?” Mas isso é outra história…

Mónica disse...

obrigada pela resposta personalizada :D em resumo sim sou exigente com os professores, muito mais do que com os candidatos a alunos era essa a m contribuição para a discussão se os professores e o ensino forem exigentes os "maus" alunos eventualmente entram mas não saem (bem sucedidos) e parece-me q a sua resposta ao rantanplan "como quebrar o ciclo" confirma a minha opinião (abstenho-me de discutir sobre ordens, sindicatos e afins)

n sei se devia insistir no assunto mas não me convenceu :DDD

Rui Baptista disse...

Prezada Mónica: Serei breve, mas não tão breve que não agradeça a sua contribuição para esta controvérsia.

Absolutamente de acordo consigo quanto à exigência na formação dos professores. Em todas as profissões organizadas em ordens profissionais tem havido a preocupação com a formação académica dos respectivos profissionais (exceptuo a formação de algumas ordens de criação recente que “democratizaram” essa exigência). Com a formação dos professores houve a preocupação (única) em arranjar "escolinhas superiores privadas" que, por artes mágicas, transformaram um diploma de ensino médio numa licenciatura desvirtuando a única (e pequena) diferença existente no Estatuto da Carreira Docente que estabelece a simples diferenciação de um escalão entre bacharéis (os tais professores com diplomas de ensino médio) e licenciados que chegam aos 9.º e 10.º escalões, respectivamente.

Mas este assunto não pode (e muito menos deve) ser abordado com ligeireza. Se se quiser dar ao trabalho encontrará, aqui, no “De Rerum Natura”, imensos post’s meus em defesa da criação de uma Ordem dos Professores e comentários em desacordo. Pela sua possível leitura ficará (ou poderá ficar) de posse de elementos prós e contras que ajudarão a complementar este meu modesto comentário.

Seja como for, acredite, ao contrário do que diz no seu comentário, não foi minha intenção convencê-la com o meu comentário anterior (como não é com este, acredite) porque, a exemplo de Ortega y Gasset, acredito que “cultura é frente ao dogma discussão permanente” . Daí o valor e o agradecimento que dou aos comentários que me são dirigidos nesse sentido. Esse, o caso do seu comentário.

Maria Afonso Sancho disse...

Pois...
..."a universidade se está a tornar num emprego, um espaço cheio de regras, horarios, soberbas, arrogâncias, queimas, festas, burocracias e pouca investigação. "...

Maria Afonso Sancho disse...

"Foge cão que te fazem barão!
- Mas fujo para onde se me fazem visconde?"
A versão atualizada seria "foge condor que te fazem doutor!
Mas fujo para onde se me fazem...?"
Aceito sugestões para a rima. ;)
Bem mas voltando ao tema que nos trouxe aqui.
Acho bem os exames ad-hoc caso se mantenha a qualidade. Mas esta não depende de mais burocracia para mascarar apenas um grande negócio de tortura de pessoas e de venda de diplomas?
O escandalo das praxes trouxe à tona o horror de torturas a que esta gente se submete pois julgam que aquilo é caminho para ser "sr. Dr". Os tais k foram endeusadas por tantas pessoas desde o inicio do sec XIX? ;)
E os sobredotados que são tão maltratados pelo ensino em Portugal? Porque obrigam os sobredotados a andar a marcar passo lento e o condenam a estupidificar?
Quem ganha com isto? Os alunos é que não é de certeza :/
Porque somos o unico país da europa onde não existe uma Mensa nacional? (Mensa.org)
Porque cá, quem se atrever a fazer testes para entrar na Mensa, numa escola apenas é gozado pelos colegas?
Porque tantos alunos acabam a drogar-se para conseguirem empinar tanta palha, coisa inutil k lhe é exigido para fingir que a escola seria boa?
Este culto da tortura, da burocracia e da mediocridade preocupa-me.
E para irem para estas escolas miseráveis, em que até nos jardins de infancia os torturam com praxes perversas... merecerão elas ter lá os nossos filhos ou netos?
Curiosamente as pessoas mais interessantes e conseguidas como seres humanos que conheço ou foram educadas em casa ou numa escola Waldorf.
Temos muito que pensar. E depois melhorar. :)

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