“Para tudo isto os sindicatos têm dado uma mãozinha, não raro, intervindo, com desenvoltura, em áreas que não são nem da sua vocação nem da sua competência” (Eugénio Lisboa, “Jornal de Letras”, nº 964, 2007).
Mesmo depois de Moscovo ter deixado de ser o sol da terra, nada como o clima de instabilidade social e económica que se vive na Europa para o aparecimento de hipotéticos salvadores de desgraças nacionais. Assim, numa espécie de solução miraculosa para os problemas do sistema educativo nacional, a Fenprof, pela voz de Mário Nogueira, seu “eterno” secretário-geral, em entrevista ao caderno “O mundo da criança” (série 2, Edição nº 4, Setembro 2011), em cuja capa se destaca uma bem sorridente fotografia sua, a página inteira , que contrasta com o azedume da sua mensagem em páginas interiores em que se faz personagem mediática com o seu habitual estilo, hoc volo, sic jubeo, sit pro ratione voluntas (quero isto, ordeno isto, que a vontade sirva de razão), com este aviso para os mais relapsos: “Todos os portugueses, e não apenas os professores, têm que perceber que não há mais espaço para ‘quintinhas’…”
Só dificilmente não se poderá deixar de atribuir este seu alerta à existência de mais de dezena e meia de sindicatos docentes, anátema perdulário que não recai sobre outras profissões que, no seu conjunto e neste particular, ficam muito aquém deste número.
A dar-se o caso de uma dessas “quintinhas” ser uma Ordem dos Professores, seria talvez altura soberana para a Fenprof fazer um esclarecimento público, devidamente esclarecedor nos respectivos fundamentos, sobre a sua feroz oposição à respectiva criação em que os mandatos directivos teriam um determinado prazo de duração não constituindo, como tal, um penoso encargo para o, já por si, debilitado erário público por serem pagos pela quotização dos respectivos associados. Em minha opinião (e como é sabido as opiniões valem o que valem), uma outra possível razão para esta posição será o facto da Ordem dos Professores acabar com o monopólio sindical, “em áreas que não são da sua competência nem da sua vocação”. Situação insólita que não encontra paralelo em qualquer outra profissão tida de interesse público em que o Estado delega poderes de representatividade por a ter como garante da sua dignidade e capacidade de se responsabilizar pelos actos de uma profissão com estranha exclusão dos professores que são, para Fernando Savater, professor de Ética na Universidade do País Basco, “a corporação mais necessária, mais esforçada e generosa, civilizadora de quantos trabalham para satisfazer as exigências de um Estado democrático”. Uma razão que salta à vista desarmada seria a de a Ordem dos Professores diminuir drasticamente a quotização que enche os cofres sindicais mais ricos podendo conduzir, mesmo, à implosão de sindicatos de menor expressão associativa.
Seria a criação da Ordem dos Professores, uma profiláctica medida para libertar Mário Nogueira de andar a pregar em áreas que lhe não dizem respeito directo. Por exemplo, à pergunta que lhe foi feita, na aludida entrevista, se não sentia que “andou a pregar no deserto”, respondeu : “Não, muito pelo contrário. Se não tivéssemos ‘pregado no deserto’ [forma majestática por se referir a ele próprio e à Fenprof?], se calhar ainda este teria mais ‘camelos’ e encontraríamos menos ‘oásis’ do que aqueles que vamos encontrando…” Esta é uma sua faceta metafórica minha desconhecida. As suas entrevistas são normalmente pouco dadas à subtileza da adivinhação para o leitor descodificar a sua prosa que, desta feita, mistura um pregador no deserto, camelos e oásis.
Em tempos, defendeu a Fenprof a tese de que “o campo de intervenção [de uma ordem profissional] restringe-se ao plano de questões ética e deontológicas que não são, para já, questões centrais das preocupações dos professores”. Assim pode acontecer para a maioria dos professores filiados naquela organização sindical, não para aqueles que não passaram procuração para ele dizer quais são as “questões centrais das preocupações dos professores”. Ainda para mais em conclusão abusiva por uma percentagem numerosa de professores não estar, sequer, sindicalizada, e numa altura em que a Plataforma Sindical – por vezes, em descaracterização doutrinária ou mesmo estatutária - se desmoronou, a exemplo do muro de Jericó!
Mesmo depois de Moscovo ter deixado de ser o sol da terra, nada como o clima de instabilidade social e económica que se vive na Europa para o aparecimento de hipotéticos salvadores de desgraças nacionais. Assim, numa espécie de solução miraculosa para os problemas do sistema educativo nacional, a Fenprof, pela voz de Mário Nogueira, seu “eterno” secretário-geral, em entrevista ao caderno “O mundo da criança” (série 2, Edição nº 4, Setembro 2011), em cuja capa se destaca uma bem sorridente fotografia sua, a página inteira , que contrasta com o azedume da sua mensagem em páginas interiores em que se faz personagem mediática com o seu habitual estilo, hoc volo, sic jubeo, sit pro ratione voluntas (quero isto, ordeno isto, que a vontade sirva de razão), com este aviso para os mais relapsos: “Todos os portugueses, e não apenas os professores, têm que perceber que não há mais espaço para ‘quintinhas’…”
Só dificilmente não se poderá deixar de atribuir este seu alerta à existência de mais de dezena e meia de sindicatos docentes, anátema perdulário que não recai sobre outras profissões que, no seu conjunto e neste particular, ficam muito aquém deste número.
A dar-se o caso de uma dessas “quintinhas” ser uma Ordem dos Professores, seria talvez altura soberana para a Fenprof fazer um esclarecimento público, devidamente esclarecedor nos respectivos fundamentos, sobre a sua feroz oposição à respectiva criação em que os mandatos directivos teriam um determinado prazo de duração não constituindo, como tal, um penoso encargo para o, já por si, debilitado erário público por serem pagos pela quotização dos respectivos associados. Em minha opinião (e como é sabido as opiniões valem o que valem), uma outra possível razão para esta posição será o facto da Ordem dos Professores acabar com o monopólio sindical, “em áreas que não são da sua competência nem da sua vocação”. Situação insólita que não encontra paralelo em qualquer outra profissão tida de interesse público em que o Estado delega poderes de representatividade por a ter como garante da sua dignidade e capacidade de se responsabilizar pelos actos de uma profissão com estranha exclusão dos professores que são, para Fernando Savater, professor de Ética na Universidade do País Basco, “a corporação mais necessária, mais esforçada e generosa, civilizadora de quantos trabalham para satisfazer as exigências de um Estado democrático”. Uma razão que salta à vista desarmada seria a de a Ordem dos Professores diminuir drasticamente a quotização que enche os cofres sindicais mais ricos podendo conduzir, mesmo, à implosão de sindicatos de menor expressão associativa.
Seria a criação da Ordem dos Professores, uma profiláctica medida para libertar Mário Nogueira de andar a pregar em áreas que lhe não dizem respeito directo. Por exemplo, à pergunta que lhe foi feita, na aludida entrevista, se não sentia que “andou a pregar no deserto”, respondeu : “Não, muito pelo contrário. Se não tivéssemos ‘pregado no deserto’ [forma majestática por se referir a ele próprio e à Fenprof?], se calhar ainda este teria mais ‘camelos’ e encontraríamos menos ‘oásis’ do que aqueles que vamos encontrando…” Esta é uma sua faceta metafórica minha desconhecida. As suas entrevistas são normalmente pouco dadas à subtileza da adivinhação para o leitor descodificar a sua prosa que, desta feita, mistura um pregador no deserto, camelos e oásis.
Em tempos, defendeu a Fenprof a tese de que “o campo de intervenção [de uma ordem profissional] restringe-se ao plano de questões ética e deontológicas que não são, para já, questões centrais das preocupações dos professores”. Assim pode acontecer para a maioria dos professores filiados naquela organização sindical, não para aqueles que não passaram procuração para ele dizer quais são as “questões centrais das preocupações dos professores”. Ainda para mais em conclusão abusiva por uma percentagem numerosa de professores não estar, sequer, sindicalizada, e numa altura em que a Plataforma Sindical – por vezes, em descaracterização doutrinária ou mesmo estatutária - se desmoronou, a exemplo do muro de Jericó!
2 comentários:
Creepy!
Fui à procura do que seria esta publicação:
"Dar voz aos mais jovens é também uma vertente de referência para nós. Neste sentido, apostamos na Revista Mundo da Criança[...]"
"Um excelente veículo de comunicação com os mais novos, apostando em cores vivas, alegres e apelativas. Porque as crianças também são uma prioridade para nós."
http://www.publicacoesdirectas.pt/?mundodac
O conteúdo desta edição de Setembro, essencialmente composta de entrevistas a representantes de sindicatos, está descrito aqui:
http://educar.wordpress.com/2011/09/13/uma-interessante-manobra-de-spin-sindical-com-um-aviso-as-hostes-a-mistura/
Ainda que o Mário Nogueira posso fazer lembrar o monstro das bolachas dos marretas, faltam-lhe as cores vivas para agradar às crianças...
Caro anónimo: O objectivo da publicação desta revista, como cita, é:"Dar voz aos mais jovens é também uma vertente de referência para nós. Neste sentido, apostamos na Revista Mundo da Criança[...]"
Dar voz aos mais jovens? Hoje em dia, há maneiras de disfarçar as rugas das fotografias. Grande maldade, portanto, da revista em causa apresentar os seus entrevistados "mais jovens" com a verdadeira idade de imagens não retocadas.
Estão ali retratados, com excepções de alguns jovens para compor o ramalhete, a brigada do reumático de um sindicalismo de fins do século XIX a que o bigode de sargento prussiano ajuda a compor.
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