Na sequência do post anterior, seleccionou-se um poema de Alexandre O´Neill, um poema prenunciador do esquecimento, do afastamento dos nossos clássicos da educação escolar.
A UM POETA QUE DEIXOU DE COMPARECER NAS ANTOLOGIAS
Tinha de suceder deixares de suceder
a ti próprio.
Já Bocage não és? - claro! -
e quem sabe se alguma vez o foste?
Digo-te mais : nunca o serás,
nem apocrifamente
Não almejavas tanto?
Bravo, rapaz, parece que caíste
em ti!
Como queres que uma antologia se acrescente
sem, tarde ou cedo, se diminuir?
Sabes por que se diz « gemem os prelos»?
Não penses que é por ti.
Sê razoável!
Teus versos hão-de espiritualizar muita família.
Entre netos, uma velha senhora esquecerá a meio
um soneto dos teus.
Se a sorte não te for de todo adversa,
um lusófilo, algures,
citará entre barras versos da tua lavra
uma elegante nota de rodapé
In Alexandre O'Neill (1995). Poesias Completas. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, p. 529.
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3 comentários:
Olha que tu, meu poeta,
não tiveste melhor sorte:
também levaste um bom corte
em tudo quanto é selcta!
JCN
não se pode meter tudo nos manuais
porque o triunfo está no sofrimento
que sai das nossas veias e se espraia
está no olhar de quem nos fixa atento
se o mundo hesita em nos vestir a saia
está na lágrima que não rolasse
dos nossos olhos mas que há-de ir, um dia
ao cantar-nos banhar-te a face
fria
ESTÁ na dança cujo ritmo e passos
ficaremos de pé intactos vivos
nos dedos quedos e braços lassos
dos que depois de nós serão cativos
há tantos e com nomes menos importados
O Senhor dos Queijos precisa de afinar... o cavaquinho! É cada arranhadela!... JCN
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