terça-feira, 9 de agosto de 2011

EM QUE ANO NASCESTE?


Mais um outro conto da dúzia que está pendurada no “Cordel de Ciência”, ilustrados por Diana Marques, iniciativa promovida e inaugurada no Pavilhão do Conhecimento aquando da comemoração do seu 12º Aniversário, no passado dia 25 de Julho de 2011. Passe por lá e leve-os consigo pela mão!
Entretanto… E na continuação de pedidos de alguns leitores que não passam por Lisboa... Aqui vai.


"Entre algarismos, operações de adição e de subtracção, o lápis e a borracha dançam por entre os dedos de Lídia. Compenetrada em operações algébricas, nem se apercebe da aproximação de seu avô materno, o senhor Joaquim.
- Fazes os teus trabalhos de casa, Lídia? - pergunta-lhe em tom atento.
- Não. Já os acabei ontem - respondeu Lídia num ápice. – Descobri umas relações entre datas, e estou muito entusiasmada com isso!
- Entre datas? Que datas? – perguntou-lhe o avô, sobrancelha erguida para a curiosidade.
- Datas de nascimento entre pais e filhos. Vou espantar-te, queres ver?
- Claro. Estou muito curioso.
- Em que ano nasceste avô?
-Nasci em 1937, minha neta matemática! – disse o senhor Joaquim, no meio de um riso cúmplice.
- E em que ano é que a minha mãe, a tua filha, nasceu?
- A tua mãe nasceu em 1967 – afirmou Joaquim, sem pestanejar.
Lídia aponta as datas no cimo de uma folha nova, e fita o avô à procura da antecâmara do espanto. Sem esperar muito tempo, informa-o com uma interrogação.
- Isso quer dizer que no ano em que a minha mãe fez 37 anos, o avô tinha 67 anos de idade. E isso aconteceu em 2004. Está certo, avô?
- Parece-me que sim. Mas ainda não percebi aonde queres chegar. O que é que pretendes demonstrar? Onde é que reside essa tua descoberta matemática, que ainda há pouco te entusiasmava tanto? – responde o avô Joaquim, com ar desafiador.
- Não reparaste na coincidência?! Na troca, aparentemente coincidente, entre os números correspondentes às idades e às dezenas dos anos de nascimento? Vou-te então enunciar a minha descoberta - afirmou Lídia, com toda a confiança que lhe cabia nos olhos cintilantes.
- Entre pai e filho, aliás é melhor dizer, entre progenitor e descendente, é possível encontrar um, e um só ano, em que o número de anos de vida do descendente é igual às dezenas do ano em que o progenitor nasceu! – disse Lídia, com ares de grande universalidade.
O Avô, meio desconfiado com a afirmação da neta, sentou-se ao seu lado, pegou num lápis para assentar outros números no papel.
- Ora vamos lá ver se a tua relação numérica se verifica com outros exemplos. O teu tio nasceu em 1954. Quando ele fez 37 anos, e isso aconteceu em 1991, eu tinha a jovem idade de…1991-1937 = 54 anos! Espantoso! - disse o senhor Joaquim, iluminando Lídia com o seu olhar.
- Parece que tens razão! – continuou o avô - No ano em que o teu tio completou a idade (37) correspondente às dezenas do ano do meu nascimento (1937), eu aniversariava o número de primaveras (54) igual às dezenas do ano em que ele nasceu (1954)! Como é que descobriste isto, Lídia?
- A sonhar com números e com as pessoas que me são queridas, meu querido avô! É que hoje faço 12 anos. Lembravas-te disso?
- Como me poderia esquecer! – diz Joaquim com alegria.
- Ao acordar - recorda Lídia - comecei a brincar mentalmente com esta minha idade, uma dúzia de anos, e com a idade da minha mãe, que faz neste ano de 2011, 44 anos de idade. Queira encontrar uma relação matemática qualquer que nos unisse ainda mais. Uma espécie de número de ouro, mas algo que fosse só nosso. E, sem querer, encontrei uma relação que me parece ser válida, não só para mim, mas para todos!
- No teu caso, e no da tua mãe, em que ano é que a relação que encontraste se verifica? – pergunta-lhe o avô para a animar.
- Só no ano 2066, ainda falta muito tempo. Nesse ano eu cumprirei 67 anos de vida. A minha mãe, que nasceu em 1967, terá a vetusta idade de 99 anos. De facto, eu nasci em 1999!
- Espero estar cá para confirmar isso – diz o avô Joaquim, no meio de uma grande gargalhada.
Os lápis e as borrachas ficam sobre o papel, enquanto neta e avô, de mão dada, passeiam pelas datas de nascimento de outros familiares, à procura de um exemplo, só um, que deite por terra a universalidade do enunciado que Lídia descobriu."

António Piedade

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