As instituições têm a sua honra. Ou deviam ter. Uma instituição de serviço público, ou para o público, às vezes centenária, ou quase, ou mais que centenária, devia ter o seu código de honra.
Um princípio de ação. Digno. Um comportamento responsável. E por isso respeitável, ou seja, merecedor de respeito, e que por isso sentimos desejo e necessidade de respeitar. E um comportamento exemplar. Isto é, que todos podem e devem seguir, que é um modelo de ação e execução, que mostra, na prática, como as coisas se devem fazer, e que os seus modos e métodos são de facto para o bem de todos. E para si mesma, se as coisas forem entendidas como deve ser.
Uma instituição honrada honra-se e honra o público a que serve, e que, em última análise, a justifica. E torna-o mais educado e colaborante. Uma instituição que não se honra a si mesma não honra obviamente ninguém. Mas uma instituição destas, que não tem códigos de honra, é um inimigo público, e com tal devia ser tratada. Uma instituição honrada é uma força que apoia os cidadãos, na qual eles se sentem seguros; uma instituição que não preserva uma nobreza de procedimentos e de atitudes, todos desconfiam dela. E com razão. E na verdade torna-se inútil. Ou pior ainda, transforma-se num parasita.
Felizes os povos que respeitam e têm orgulho nas suas instituições. Felizes os povos que têm instituições em que podem confiar e em que se revêem. Ai dos povos que têm instituições de que desconfiam, porque têm motivos para isso, onde não se revêem, de que não se orgulham ou, pior ainda, que sentem muitas vezes como grupos de irresponsabilidade anónima e às vezes ilimitada.
Instituições financeiras, como algumas que provocaram imensos prejuízos aos portugueses, por ganância sem medida e ausência absoluta de honra de alguns dos seus responsáveis; autarquias que são agências de emprego para familiares e amigos, ou onde os funcionários, sem brio, se sentem donos dos lugares e trabalham o menos que podem; construtoras com equipas de advogados para, servindo-se dos buracos da lei, levarem as obras para o dobro do orçamentado, seguradoras que utilizam estratagemas para que as pessoas desistam dos seus direitos, e subtilezas legais miudinhas para fugir às suas obrigações, órgãos de comunicação social que deseducam sistematicamente criando notícias a partir de não-factos, ou que escolhem um “inimigo” e o perseguem até à destruição, por motivos obscuros, ou mesmo sem motivos, clubes de futebol que criam empresas fictícias em paraísos fiscais para fugirem ao fisco, como ainda agora se viu, são instituições sem honra.
Os exemplos pouco dignos, abundam, infelizmente, entre nós. São instituições sem honra que a todos envergonham. Que se desonram e nos desonram a todos. São cancros sociais que nos desmotivam, deseducam e degradam.
João Boavida
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
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3 comentários:
Caro João Boavida:
Penso que Jorge de Sena tudo resume:
"Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela."
Na edição de 16 do corrente, no jornal «i», na página 2, e sobre o nosso colega Fernando Charrua,noticia-se que o tribunal obrigou o Estado a pagar ao mesmo 12 mil euros por "danos morais".
Ana Sá Lopes diz que "crime houve, não se encontrou foi o autor material." E termina dizendo que "o que é imoral é que quem na administração pública tem o poder de viabilizar este tipo de saneamentos políticos não tenha, depois, de pagar a conta dos danos morais."
É para isto que servem as instituições: para nós pagarmos os erros dos incompetentes!
Um abraço cordial.
Armando Inocentes
Caro Professor Boavida
Voltaire dizia, a este propósito, que nunca criticava as instituições pelo seu mau funcionamento, mas sim as pessoas, porque aquelas eram o espelho destas.
Carroll Quigley esclarece este pensamento de Voltaire resumindo-o em “tudo começa como místico e acaba em político”, ou dito de outra forma, os “instrumentos” convertem-se em”instituições”.
Para o autor um “instrumento” é uma organização criada com a finalidade de satisfazer as necessidades sociais com a eficácia que se propôs, considerando que as pessoas que nela trabalham vivem em harmonia e têm boas relações para que o “instrumento” cumpra o seu objectivo. O instrumento é simbolicamente uma organização “mística” porque pretende preencher necessidades sociais reais com eficiência.
A “instituição” é um “instrumento” que passou a assumir actividades e finalidades próprias, separadas dos objectivos para que foi criado, redundando na perda de eficácia porque as relações pessoais tornam-se fins em si mesmo, em detrimento dos fins da organização, isto é, as pessoas preenchem s suas próprias finalidades e não as da organização e, consequentemente, as da sociedade. E aqui a instituição será, simbolicamente, uma organização “política”, porque é um veículo para preencher as necessidades pessoais.
Isto para dizer que os serviços são secundarizados e as preocupações passam a incidir no progresso do pessoal que age de forma a obter vantagens, como condecorações ou promoções, donde resulta que as energias e o tempo se esgotam nos interesses pessoais.
Não se citam aqui exemplos, mas se se observar o enriquecimento ilícito ao longo dos últimos seis anos, as injustiças, os compadrios, as corrupções, teremos os exemplos acabados do que resulta passar do “místico” ao “político”.
Cordialmente
Ainda a propósito deste tema, e da tão debatida série histórica da avaliação dos professores, talvez seja oportuno dar uma síntese da mesma:
Na 1.ª República os professores não eram avaliados porque ainda se questionava o que era a escola e como devia ser o ensino, depois de fecharem as escolas religiosas e correrem com os jesuítas, porque em primeiro lugar estava a ideologia do Estado.
No Estado Novo, os professores eram avaliados politicamente:
- se da União Nacional era sempre muito bon e convidado para funções mais agradáveis social e economicamente falando;
- se não era da União Nacional o Estado Novo tolerava a sua existência mas sempre “vigiado e punido” politicamente.
No período do Estado de Direito que vai de 25 de Abril até 12.03.2005, início do XVII Governo Constitucional (i.º Socrático), a Revolução acabou com as avaliações políticas e iniciou a avaliação de “todos iguais, embora todos diferentes”.
No período do Estado de Direito que vai de 12.03.2005 a 23.03.2011, cobrindo dois regimes socráticos (XVII e XVIII Governos Constitucionais), havendo necessidade económica e financeira para os gastos descomunais de ostentação do regime, a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues que nunca fora avaliada como professora, graças ao critério revolucionário, mimetizou Nero mandando incendiar os professores com avaliações burocráticas, nomeando os “olhos e ouvidos do rei”, e antecipando uma Troika Nacional, para evitar os gastos exagerados com o professorado. De acordo com os critérios das “instituições” foi compensada com a nomeação de presidente da Fundação Luso-Americana.
No período do Estado de Direito que se iniciou em 05.06.2011, com o XIX Governo Constitucional Liberal, os fogos mantêm-se acesos e, por mero acaso, juntaram-se as duas Troikas (a Europeia e a Nacional), o que significa redução duplicada de despesas no pessoal ensinante para se poder cumprir o programa bi-troikano de enriquecer os pouco ricos, a fim de aumentar a lista dos homens mais ricos do país (só temos 4) que, pelo que tenho lido, será o novo critério a usar pelo Eurostat para avaliar a riqueza de um país, ou, segundo o critério do Moody’s, aumentar o rating dos 4 Bancos, e, consequentemente, aumentar a lista dos mais ricos.
O actual governo, em nome do interesse nacional dos ricos e dos banqueiros, já está a cumprir o programa troikano, e de acordo com o Moody’s, a limpar o “lixo”, desempregando professores, funcionários bancários, funcionários públicos, destacados sindicais, e outros não especificados, sem os quais o Estado não poderia nomear os 51 especialistas, em 42 dias.
Se bibilicamente havia 12 apóstolos e 77 discípulos para que a doutrina cristã se concretizasse, governamentalmente, podemos considerar que os 51 especialistas (apóstolos), necessitarão também do apoio (respeitando a proporção “apóstolo/discípulo”, de 12/77), de 327 “discípulos”, para arcarem com os trabalhos dos especialistas..
Há uma grande crítica a este chamamento de especialistas, mas as pessoas esquecem que nenhum dos Ministros tem o curso de “Ciências da Governação Estatal”. Claro que os especialistas também não, mas já é possível brincar às coisas sérias, armando estruturas que não funcionam porque tudo não passa de “instituições”, isto é, de “primeiro eu”.
Finalmente, e para não abusar do espaço e da paciência de quem lê, e para se ver que a história do BNP é irrisória, proponho que se dê uma vista de olhos pelo artigo do jornalista francês Gilles Lapouge A maior lavandaria de dinheiro do Mundo ameaça falir!, para melhor nos situarmos no mundo que julgávamos conhecer.
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