quarta-feira, 3 de agosto de 2011
O GENOMA DA BATATA
Crónica publicada no "O Despertar".
Quando comer a próxima batata (cozida, assada, frita, etc) acompanhe-a com o conhecimento íntimo que sobre ela foi recentemente publicado na revista Nature. Ao trincar a próxima batata imagine que está a saborear o genoma deste tubérculo, cujo conjunto de genes que codificam proteínas é agora melhor conhecido.
Publicado no passado dia 10 de Julho naquela revista pelo consórcio internacional (29 grupos de investigação provenientes de 14 países) dedicado à sequenciação do seu genoma desde Janeiro de 2006, sabemos agora que este é constituído, pelo menos, por 39 mil genes que codificam proteínas (quase o dobro dos existentes no genoma humano) distribuídos em 12 cromossomas.
O genoma existente em cada uma das células da batata é estruturado por quatro cópias destes 12 cromossomas (48 cromossomas no total), enquanto o humano só possui uma cópia de 23 cromossomas (46 cromossomas). A relação complexa que se estabelece entre os genes, do tetraplexo cromossómico do genoma da batata, tem tornado a sua compreensão muito difícil.
O consórcio internacional, que sequenciou 840 milhões de bases (o humano possui cerca de 340 milhões) do ADN (ácido desoxirribonucleico) da batata para chegar ao resultado agora publicado, enfrentou inúmeras dificuldades no mapeamento dos genes, entre elas a grande heterozigosidade que existe mesmo numa única das inúmeras variedades da batata. A variabilidade genética, específica e singular a cada indivíduo (o mesmo é válido para nós), apresenta uma elevada frequência na batata.
Da batata são conhecidas actualmente mais de 3000 variedades, que se consubstanciam em cores, tamanhos, formas e valores nutritivos, e é, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a terceira principal fonte de alimento agrícola (depois do trigo e do arroz), tendo em 2009 sido produzidas 330 milhões de toneladas. A batata é, na dieta, uma importante fonte de amido (um carboidrato ou hidrato de carbono polímero de glicose), proteínas, substâncias antioxidantes, vitaminas e sais minerais.
O conhecimento da composição e estrutura do seu genoma pode permitir a redução substancial do tempo, actualmente de 10 a 12 anos, necessário para obter por cultivo novas variedades. Isto é importante, quer para encontrar variedades resistentes a pragas e doenças que afectam o seu cultivo, quer para obter tubérculos mais produtivos e com maior qualidade nutritiva.
A batata, cujo nome científico é Solanum tuberosum L., foi "encontrada" pelos espanhóis no Peru em 1536. Disseminada rapidamente por toda a Europa, foi primeiramente, e durante muito tempo, utilizada como medicamento devido às suas propriedades “energizantes”.
No final do século XVIII, a batata era cultivada por toda a Europa instalando-se progressivamente na alimentação de base europeia. A sua dominância agrícola na Irlanda, por exemplo, era tão grande que a seca nos plantios de batata ocorrida em meados do século XIX, causou a morte de milhões de pessoas e é apontada como um dos principais motivos para a imigração massiva daquele povo para os Estados Unidos da América.
António Piedade
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10 comentários:
A Solanum tuberosum tem tantas variantes genéticas
é mais uma sopa de variedades...
isto sem falar das suas primas genéticas
como a Solanum nigra e afins
o tomate tamém é uma solanáce3a
é da famelga
Trigo Arroz e Milho
porque mesmo que a batata tenha ligeiramente mais peso em termos de produção
a batata é essencialmente àgua....
enquanto os cereais são essencialmente energia concentrada
e o milho além de óleo e tortilas e corn flakes
ainda é a principal fonte de ração para a engorda da carne que comemos.....
penso eu de que...
Só vossemecê... e o Pinto da Costa! Valha-o o demo! JCN
Mas porquê ir em busca de novas variedades se grande parte das variedades "originais" deixaram de ser cultivadas...talvez aí esteja o segredo!
Vejam o artigo que saiu na National Geographic de Julho (ed. portuguesa) sobre a domesticação. É muito interessante/alarmante ver como se abandonou o cultivo ou criação de grande parte das variedades domésticas nos últimos 100 anos. Perde-se uma grande fonte de biodiversidade e de conhecimento acumulados em milhares de anos de domesticação.
Cara Diana,
Uma questão e observação muito pertinentes. Em vários domínios estamos a esbanjar o conhecimento forjado ao longo de milhares de anos de cultura humana...
Confesso que fiquei fascinada pelo artigo, mas também bastante alarmada. Não fazia ideia de que realmente existissem tantas variedades de seres domesticados, tirando os animais de companhia (cujas variedades por vezes parecem mais aberrações).
É uma artigo de leitura muito recomendável!!
E fiquei muito curiosa com as variedades de batata que subsistem ainda na América do Sul, com formas e cores completamente desconhecidas [para mim]...e sabores que devem ser também muito diferentes do que estamos habituados.
Os bancos de sementes tentam salvar alguma dessa variabilidade genética, mas e o conhecimento acumulado acerca delas?? Como e onde melhor cultivá-las...como as cozinhar...etc...seria muito importante também preservar esse aspecto cultural!
Mas então entram em cena as grande empresas de venda de sementes e o cultivo massivo de umas poucas de variedades...dando a entender que são de alto rendimento, mas por outro lado exigindo doses brutais de pesticidas/fertilizantes, etc. Como foi esta falácia possível?
ok, fico-me por aqui...nota-se que gostei mesmo do tema, não é? :)
Na linha do pensamento do Demo da Gra Pia, só nos falta... andar à batatada!
Cara Diana Barbosa,
acabo de ler o seu comentário e de visualizar o seu perfil no Blogger e penso que seria uma mais-valia para um projecto de divulgação de Ciência, sem fins lucrativos, que tenho em mente.
Deste modo, gostaria de falar consigo, via e-mail, acerca deste assunto!
Caso esteja interessada, deixo-lhe aqui o meu endereço electrónico: jpcalafate@gmail.com
Peço desculpa aos autores do De Rerum Natura e aos leitores deste blog, pelo facto do meu comentário não ter que ver com o "post".
Em todo o caso, acho muito interessante esta crónica, como aliás nos tem habituado António Piedade, e achei pertinente o comentário da Diana.
Os meus melhores cumprimentos!
A princípio, batata viera por fonte nutritiva. Geneticamente, responde desenvolver ciclos de produção.
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