Excessivo contentamento. Esta é a qualificação que me ocorre ao ouvir os discursos do senhor Primeiro Ministro e da senhora Ministra da Educação sobre os resultados obtidos pelos nossos alunos no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes, 2009.
Esta afirmação não assenta em qualquer suspeita sobre a qualidade do Programa nem a falhas graves na sua aplicação em Portugal.
Na verdade, trata-se dum Programa de monitorização da aprendizagem, que os sistemas educativos promovem, assente em pressupostos consistentes, que orientam a sua operacionalização e concretização. Tal enquadramento norteia o trabalho de recolha de dados, que é apoiado e supervisionado por peritos internacionais. Também o tratamento e apresentação desses dados, bem como as conclusões e sugestões deles decorrentes têm sido feitas com grande rigor e pertinência.
Podemos (e devemos) questionar os pressupostos que guiam o Programa, o qual apesar de independente não deixa de partilhar a filosofia da organização que o promove (OCDE), mas dentro dessa filosofia denota coerência e transparência.
Assim, a afirmação que acima fiz decorre do facto de serem muitos os alunos não abrangidos pelo Programa que levantam problemas sérios em termos de aprendizagem e serem também muitos os alunos abrangidos que se situarem abaixo da média global obtida. Um nível satisfatório de literacia na Leitura, na Matemática e nas Ciências generalizado é, portanto, um objectivo ainda distante, o que nos deve deixar bastante apreensivos.
Por outro lado, na melhoria dos resultados, não podemos desprezar o papel do treino no modelo de exames que o Pisa apresenta, assente essencialmente em problemas. Os exames nacionais têm seguido esse modelo, o mesmo acontecendo, progressivamente, com escolas e professores. Trata-se dum aspecto que emerge nos processo de avaliação e que pode iludir em parte os resultados.
Por outro lado, ainda, a evolução apurada no nosso sistema educativo não nos deve fazer esquecer as inúmeras dificuldades com que a educação escolar se confronta, desde a formação de professores, até ao ensino-aprendizagem em sala de aula e avaliação, passando pelas orientações curriculares e programáticas, pela avaliação do desempenho docente, pela produção e uso dos manuais escolares... Dificuldades que muitos (bons) professores, encararam e procuram superar, mas, deve sublinhar-se, com grande esforço, indo além do horário, sem compensações.
Faltou, pois, alguma reserva nos comentários políticos aos resultados do Pisa, o que em nada teria ofuscado a melhoria de resultados que felizmente conseguimos, antes lhe dava mais realismo.
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13 comentários:
Excessivo retraimento
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Esta afirmação não assenta em qualquer suspeita sobre a qualidade do post nem a falhas graves nas intenções da sua autora.
...
Gostou do tom? Podia continuar no seu tom. Que tal começar por falar bem quando é devido e depois ir ao resto? Há imensos posts que se usam os resultados do PISA para falar mal da política educativa, e agora que o PISA melhora, em vez de se manifestar satisfação... fala-se nos defeitos do PISA e nos efeitos das médias? Francamente!
Interessava perceber/identificar realmente os factores que contribuiram para esta melhoria...
"Podemos (e devemos) questionar os pressupostos que guiam o Programa". É a primeira vez que a vejo escrever isso. Foi distracção minha?
Deitar foguetes a mais
leva sempre o pessoal
a pôr reservas morais
às razões do festival!
JCN
O problema são as interpretações simplistas dos resultados. Objectivamente, os resultados medidos melhoraram. Porquê? Porque, em termos médios, os alunos portugueses efectivamente melhoraram, ou porque outras variáveis intervieram. E no caso de a melhoria ser real (o que não se percepciona nas escolas), teria sido pelas causas apontadas pelo governo? Se ficamos satisfeitos assim, então já tanto faz.
João
"Por outro lado, na melhoria dos resultados, não podemos desprezar o papel do treino no modelo de exames que o Pisa apresenta, assente essencialmente em problemas. Os exames nacionais têm seguido esse modelo, o mesmo acontecendo, progressivamente, com escolas e professores. Trata-se dum aspecto que emerge nos processo de avaliação e que pode iludir em parte os resultados."
Confesso que tenho alguma dificuldade em perceber esta sua observação. Mas então os exames não devem apresentar problemas para os alunos os solucionarem? Era capaz de explicitar melhor o seu pensamento sobre esta matéria?
PJ
Reflexão sobre o excerto "Por outro lado, na melhoria dos resultados, não podemos desprezar o papel do treino no modelo de exames que o Pisa apresenta, assente essencialmente em problemas".
Infelizmente a maior parte(por vezes a totalidade) das questões que os exames apresentam não são problemas, mas meros exercícios cuja resolução passa (quase) exclusivamente pela utilização de algoritmos sem necessidade de úma reflexão sobre os dados.
Concordo plenamente que o contentamento é excessivo e duvido muito da melhoria da qualidade de ensino nos últimos anos
Regina Gouveia
Não estamos em tempo de ilusões:
DEATH OF FREE WILL:
http://static.infowars.com/2010/12/i/media/Death%20of%20FreeWill_12_11_10r.pdf
Outra síndrome estranha é esta, a do "suicídio" de cientistas, uma praga que desde os anos 50 pegou que nem peste.
http://origin.wtsp.com/news/mostpop/story.aspx?storyid=156837&provider=top
O curioso desta melhoria é que a mesma assentou na subida para o triplo do peso das escolas privadas na amostra, passando de cerca de 5% nos dois PISA anteriores para mais de 14% no PISA 2009...
E depois ouvimos os políticos e os funcionários (cuja grande maioria fugiu das escolas a sete pés) do Ministério da Educação enaltecer a "escola" pública e blá, blá, blá!!
Enfim...
Não fossem os alunos das escolas privadas e estaríamos aqui a ter mais uma depressão com os resultados no PISA 2009, mas este ponto não interessa nada para os defensores do status quo...
Sabem o que mais gostei nesta história da carochinha do PISA?
É que os "jornalistas" lambe-botas saíram logo da toca!
Dos problemas reais da educação em Portugal nunca falavam!
Mas desta fantochada, foi logo.
Até a anterior ministra de má memória foi lembrada!
Como se já tivesse sido premiada o bastante com o tacho que tem!
O que me parece não estar a ser salientado nos comentários aos resultados do PISA é que o progresso português existe mas é muito ténue. De facto subir vinte e poucos pontos em quase 700 possíveis é pouco. Cerca de 3%. Ou seja, bem dentro da variabilidade de dados deste tipo. Claro que sem os dados brutos não é possivel dizer muito mais. Os progressos relativamente aos outros não querem dizer nada. Se calhar foram eles que pioraram.
Pedro Nunes, Porto
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