quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Os melhores?

Da entrevista dada pelo economista José Manuel Félix Ribeiro a Teresa de Sousa e publicada no "Público" de hoje, transcrevo esta história:
"Trouxemos cá o presidente da Infosys [empresa indiana líder mundial nas tecnologias da informação], o senhor Murty, para uma coisa sobre as tecnologias da informação. Queríamos trazer alguém de topo no sector e que fosse indiano. O senhor foi capa da Time mas aceitou vir cá com muita facilidade, trouxe a mulher e umas amigas da mulher que eram goesas, foram aos Jerónimos e tudo isso. A certa altura, quando o trazíamos do aeroporto, perguntámos-lhe porque é que nunca tinha investido em Portugal. Ele respondeu que, para isso, tinha que ter resposta a algumas perguntas prévias. Quais eram as perguntas? Como é que é a relação das vossas crianças com a matemática; a partir de que ano é que escrevem e falam inglês correctamente; como é que estão de talentos; e quantos engenheiros informáticos formam por ano.

(...) Levámo-lo à Agência de Investimento, onde foi muito bem recebido e lhe explicaram que Portugal era fantástico, não tinha greves, era flexível, o IRC era de 25 por cento. Ele ficou calado todo o tempo. Até que lhe perguntaram o que é que achava. Ele respondeu mais ou menos isto: "Achei tudo muito interessante, mas só quero fazer uma pergunta: eu posso premiar os melhores ou não?""
Se um dia se vier a cumprir o sonho igualitarista do "eduquês" com a abolição dos chumbos pelo Ministério da Educação, que respostas daríamos ao empresário indiano? A verdade seria que as nossas crianças saberiam ainda menos de matemática e de inglês, que os talentos não poderiam ser apurados, que o número de engenheiros informáticos não interessaria pois o diploma não valeria nada e que os melhores não poderiam ser premiados pela simples razão de estar proibido haver melhores. O "eduquês" tem ódio aos melhores.

11 comentários:

Anónimo disse...

Nem sei que diga deste Post!
A pergunta do José Manuel não é bocado tonta? Não sabe toda a gente que as grandes companhias estão a fazer outsourcing na Índia? E porquê? É fácil, porque, lá, um engenheiro informático ganha cerca de dois ou três mil euros... por ano. É por isso. Nem que sejam quatro mil, é muito barato.
Por isso, porque é que eles quereriam vir para Portugal se toda a gente está a ir para lá?!
Claro, com essas condições de mão de obra barata, e se eu fosse o Murty, também me podia rir e dar um bocado de tanga aos pedinchões portugueses, podia fazer as exigências que me apetecesse.
Mas aquilo lá pela Índia não anda muito católico:

The experience of one customer shows that some Indian firms will not only have to overcome the wage spiral, they will have to offer better value. Kana Software, a customer service software and solutions provider in Menlo Park, Calif., brought its product development operations back to the United States from India, following an unsatisfactory experience working mainly with Indian provider HCL Infosystems, of New Delhi.

e

Emani voiced a complaint that is common among Indian IT companies—that Indias colleges and universities must do a better job of educating the Indian work force so that Indian companies will not have to spend exorbitant sums training new recruits.

aqui: http://www.eweek.com/c/a/IT-Management/Is-India-Losing-Its-Wage-Edge/

Mas esta treta de dar a Índia como um país exemplar, um país que ainda está dividido em castas e em que só as castas mais altas e com dinheiro têm acesso à educação é completamente ridícula.
Vou pôr os dados que pus num post anterior:

Despite growing investment in education, 35% of the population is illiterate and only 15% of the students reach high school.

link: http://en.wikipedia.org/wiki/Education_in_In

Isto é que é um país exemplar na educação?!

Digam lá ao Murty que pode vir para cá e que pode premiar quem lhe apetecer, isto é uma verdadeira democracia, não temos castas. Mas digam-lhe que se quer dar um premiozito que se veja, tem que ser pelo menos uma coisa igual a um salário inteiro, anual, daqueles que ele paga lá na Índia.
Sobre o eduquês nem falo, só digo que tomara os gajos lá na Índia terem educação para toda a gente como nós temos.
Educação vamos tendo, parece-me é que de espírito crítico não vejo nada, nadinha, nem dos catedráticos da catedrática Coimbra. Valha-nos Deus e as alminhas do pregatório!
luis

joão boaventura disse...

Quem tiver a paciência de aceder ao Google e fazer uma consulta aos sistemas educativos nos diferentes países africanos, certificar-se-á que a maioria deles estão a trabalhar exactamente como o nosso Governo em matéria de educação.

A partir daqui é uma blasfémia e uma afronta que fazemos aos países europeus quando confrontamos os seus sistemas educativos e respectivos resultados com os países sub-saharianos (Portugal, Espanha, Itália e Grécia).

Se dermos uma vista de olhos pelo mapa, verificamos que estes virtuais sub-saharianos estão mais próximos dos reais sub-saharianos.

Que há gente válida e de valor ? Sem dúvida. Mas falta-lhes liderança séria, honesta, sem mácula, sem manchas, sem habilidades, sem manha, sem artimanhas, sem golpes, sem espertezas saloias, com vergonha.

Na linguagem futebolística, tão do agrado dos políticos, falta, na governação um líder e um bom balneário.

Até lá, sub-saharianos até à medula.

joão boaventura disse...

Uma gralha danosa.

Na 2.ª linha onde está "fazer", os que corrigiram para "fizer" repararam o dano.
Por isso lhes estou grato.

joão boaventura disse...

Para complementar o meu anterior comentário acrescento a opinião de Groce-Spinelli (Les enfants de Poto-Poto, Paris: Grasset, 1967, 34), a propósito do fosso que separa a maioria que deu o salto para a modernidade, e o poder que mantém o atraso:

"Le désarroi d'un continent ! L'Afrique a cet égard ne déçoit pas. Elle offre à chaque instant le spectacle d'une prodigieuse inadaptation."

Assim o sistema educativo lusitano.

Anónimo disse...

A solução seria... premiar "os piores"! JCN

Anónimo disse...

Visitei vários locais da India e leio muito sobre este país.
Não sei se o autor do post conhece e se tem a noção do modus vivendi deste povo!
Sugiro que tente ver na Sic noticias uma reportagem que passou ontem à noite sobre a condição da mulher na Índia...
Subscrevo a qualidade, e chega de mediocridade...mas não sei se o caminho é com análises como as do autor do post!
Há lugar para todos, para os que chumbam, para os médios e para os excelentes.
A excelência em termos de resultados académicos, algumas vezes, vale o que vale. A a título de exemplo, lembro a justiça deste nosso pobre país em que a juizes chegam os brilhantes alunos, mas vejam a justiça que temos. Chegam a médicos só os melhores e vejam como se comportam alguns deles nos hospitais e centros de saúde.
Acabem com os rótulos e lutem pelo profissionalismo e competência porque nem sempre os brilhantes são os melhores exemplos.
O exagero é inimigo de qualquer virtude!
Rui

Anónimo disse...

O ser "melhor" não evita ser "cavalgadura"! JCN

joão boaventura disse...

Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

Mário Quintana

Anónimo disse...

Ao meu jeito:

Haja coisas difíceis na existência,
raiando quase a impossibilidade,
a fim de, sem nenhuma ambiguidade,
pôrem à prova a nossa eficiência!

Haja na nossa vida turbulência
e riscos de iminente tempestade
para, com a maior tranquilidade,
fazermos face a toda a contingência!

Haja himalaias a transpor na rota
dos nossos passos sem qualquer receio
de exaustos nos quedarmos pelo meio!

Tiremos o vocábulo derrota
da nossa linguagem, não pensando
alguma vez em como, em onde ou quando!

JOÃO DE CASTRO NUNES

joão boaventura disse...

Precisão

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fracção de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exactidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exactidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

Clarice Lispector

Anónimo disse...

Meu caro Dr. João Boaventura:

Tudo oxalá tivesse a precisão
de uma cabeça de alfinete
ou de um poema
de singeleza extrema
gravado a canivete
no tronco de um chorão!

JCN

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