sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Centros escolares para o século XXI

Quando em Setembro de 2007 publiquei, neste blogue, o texto Quem abre uma escola fecha uma prisão estava longe de imaginar que as nossas escolas continuariam a fechar às dezenas, às centenas: neste ano são 701 e, tanto quanto me é dado perceber, o número aumentará no próximo ou próximos anos.

Só nestes dias tive conhecimento de que a reorganização da rede escolar a que temos assistido foi traçada há já cinco anos. Nessa altura, a discussão pública entre os parceiros directamente implicados – ministério da educação, pais e encarregados de educação, autarquias, professores e outros educadores, especialistas em ensino… – a ter sido feita, aconteceu em círculos restritos e dela pouco transpareceu, de modo que o país tem sido mais ou menos apanhado de surpresa.

O momento é de apreensão: autarcas que não sabem como resolver a questão dos transportes, pais e mães que mostram receios de mandar os filhos muito pequenos para longe de casa, especialistas que advertem para os múltiplos problemas que as escolas grandes levantam…

Atitude que contrasta com o imperturbável entusiasmo da tutela. Nada de positivo a salientar no funcionamento das escolas que tínhamos – algumas das quais haviam sido qualificadas como excelentes –, tudo a elogiar nos novíssimos centros e grandes escolares, como se neles estivesse a salvação para a educação nacional.

O discurso repetido até à exaustão assenta em dois argumentos:

Um argumento, mais geral, é que esses centros estão mais de acordo com as exigências da aprendizagem do século XXI. É uma grande frase, reconheço, mas só faria sentido se fossem explicadas clara e inequivocamente quais são, afinal, essas exigências.

Outro argumento, que parece concretizar o anterior mas que, em rigor, não o faz, é que tais centros garantem mais e melhores condições de sucesso aos alunos, uma vez que proporcionam uma socialização alargada, a inclusão social e vivência de cidadania, alimentação, transporte, biblioteca escolar, salas de informática, espaços para o ensino do inglês, da música e da prática desportiva.

Ainda que cada um destes aspectos mereça ser analisado em pormenor, detenho-me no seu conjunto para fazer notar que nele falta o que para alguns é essencial numa escola: assegurar, antes de mais, através da qualidade das orientações curriculares e programáticas e do ensino veiculado pelos seus professores, a aquisição de conhecimentos fundamentais, e que, nessa aquisição, se estimule a inteligência dos alunos.

Na imagem: Novo Centro Escolar de Seia

1 comentário:

Anónimo disse...

Compreendo a reacção generalizada, das populações, aos profissionais, até certa comunidade científica. Tudo o que muda incomoda. Mas como diz tudo já estava previsto desde há - pelo menos 5 anos!- e o que é que se fez entretanto para contrariar o movimento? A classe política - do lado do governo à oposição, não esquecendo os oportunistas dos autarcas - joga o seu papel e já não se pode acreditar no que diz. A comunidade científica mais próxima deste sector anda mais preocupada com a sua vida académica pessoal, infelizmente - por exemplo qual tem sido o papel dos departamentos de ciências da educação das várias universidades a este respeito e a outros em geral de âmbito curricular, mesmo que o governo não lhes dê ouvidos? Não existe uma posição pública assumida!
Não somos um país rico para manter simulacros de escola como casos que conheci (bem perto de Coimbra, há 8 anos atrás havia uma escola com 1 aluno e 1 professor e o Conselho Pedagógico do Agrupamento reflectia na possibilidade de manter essa escola aberta! Convenhamos!... Não sou adepto do fechar pelo fechar, mas vir agora argumentar que fechar uma escola é fechar uma aldeia - pra sermos mais imediatos na expressão - é conversa fiada - essas aldeias há muito que fecharam: fecharam quando se deixou de investir nelas através dum plano de desenvolivmento sustentável e se permitiu que as pessoas dali continuassem a sair como antes do 25 de abril e continuem... portanto tudo não passa dum modelo de sociedade por que se optou - não estou a dizer se o melhor - e deixemo-nos de hipocrisias e de argumentos tipo mais-do-mesmo como se ouve e vê nos media. Com o conhecimento científico que dominamos nas mais variadas áreas da acção, todos somos responsáveis pelo actual estado da situação e cada qual tem de assumir o que (não) fez/faz na devida altura. Não adianta, agora, continuar a chover no molhado...

jose costa

NO AUGE DA CRISE

Por A. Galopim de Carvalho Julgo ser evidente que Portugal atravessa uma deplorável crise, não do foro económico, financeiro ou social, mas...