domingo, 22 de agosto de 2010

O MOTOR CAÍDO DOS CÉUS


Não, a peça mais surpreendente do Museu Romano-Germânico, mesmo ao lado da catedral de Colónia, na Alemanha, não é o belíssimo chão de mosaico de Dionísio, que foi encontrado "in situ" quando se escavava durante a Segunda Guerra Mundial um abrigo anti-aéreo (e que consegue superar os de Conímbriga). O que mais me surpreendeu foi encontrar, no meio de tantos e tão ricos fundos romanos e pré-romanos, um motor enferrujado, dificilmente reconhecível, de um avião-caça da Luftwaffe que caiu em Enger-Pödinghausen, Herford, no estado de Nordrhein-Westfalen, em Novembro de 1944, e que, ao fim de 66 anos, foi encontrado por acaso numa escavação arqueológica.

Estava enterrado no solo a 4,5 metros de profundidade, tal foi a violência da queda. Mas foi ainda possível encontrar testemunhas oculares da queda, alemães que se lembram de ter recolhido o piloto, ejectado de páraquedas (uma sua pistola e um seu crucifixo foram também escavados por arqueólogos e são mostrados junto ao motor no segundo piso do museu). O avião era um Messerschmitt Bf 109 G 6/Y e o motor era Daimler-Benz,

Dois anos antes, mais precisamente a 30 de Maio de 1942, tinha havido um dos primeiros grandes ataques aéreos da história, com 1100 caças bombardeiros da Royal Air Force a semear a esmo bombas sobre a cidade. O burgo ficou quase arrasado, como mostram alguns postais ilustrados (embora a preto e branco) que os turistas hoje gostam de comprar. Num mar de ruínas ergue-se, solitária e altiva, a catedral. Que os pilotos tenham conseguido poupar uma das jóias da arquitectura gótica que demorou mais de 600 anos a construir mas que poderia ter sido destruída em poucas horas só mostra a sua perícia. Perícia que é comprovada pelo facto de a defesa antiaaérea alemã só ter conseguido abater 43 aviões dos 1100 que enxamearam o céu sobre o rio Reno (uma perda de cerca de quatro por cento!). Nenhum destes aviões britânicos apareceu ainda em escavações arqueológicas, mas isso pode ainda vir a acontecer.

E o que não poderão dizer, se existirem, os arqueólogos daqui a milhares de anos quando descobrirem motores do século XX à mistura com pedras medievais?

3 comentários:

Anónimo disse...

Dirão o mesmo certamente que terão dito os que encontraram o motor em referência, se ainda existir... a profissão! JCN

António Piedade disse...

O que dirão os arqueólogos?
O que é que nos distingue do povo que enterrou o Disco de Nebra? Entre muitas outras coisas a noção de história, os registos, a documentação. Se esta não se perder sob o escopo do tempo, talvez os arqueólogos que venham a desenterrar o motor rodeado de pedras góticas, daqui a milhares de anos, encontrem também informação relativa ao motor, porque é que ali foi "caiu", talvez uma placa da exposição, com o nome do museu, com a história e características do motor, e com um dossier de imprensa num chip que até contenha a sua entre outras crónicas e textos a propósito do testemunho dos visitantes do museu que agora visitou...

António Piedade

Anónimo disse...

Que imaginação... só comparável à do sujeito que, dando pelo nome de arquólogo, acaba de encontrar um urso pintado, "aos saltos", numa rocha do concelho de Góis, supondo tratar-se de uma manifestação de arte rupestre do magdalense final, um dos períodos do paleolítico superior! Coisas da arqueologia "aos saltos"! JCN

AS FÉRIAS ESCOLARES DOS ALUNOS SERÃO PARA... APRENDER IA!

Quando, em Agosto deste ano, o actual Ministério da Educação anunciou que ia avaliar o impacto dos manuais digitais suspendendo, entretanto,...