[A educação] “é um desastre completo. Nem daqui a 30 ou 40 anos nos livramos dos erros que andamos a fazer hoje” – Silva Lopes.
Um comentário, datado do passado dia 7 de Agosto, ao meu post “Boston, Mestrados e Ensino” tece considerações nos dois parágrafos iniciais que se transcrevem:
1.º §: “ Agora começamos a puxar o fio à meada e saber de onde vem essa gente, Portugal é um país tão provinciano que qualquer diploma no estrangeiro, mesmo em universidades duvidosas vale mais que ouro cá no burgo!”
2.º§; “Creio que qualquer jardineiro que tire um curso profissional em qualquer país do mundo, mas sobretudo Inglaterra ou Estados Unidos, têm equivalência automática a um mestrado de arquitectura paisagista cá em Portugal!”
Este deslumbramento pelas novidades que nos chegam do estrangeiro tem raízes profundas em Portugal. O próprio Eça, no século XIX, o reconheceu: “Portugal é um país traduzido do francês em calão”.
Antes deste verdadeiro bodo aos pobres em reconhecer diplomas universitários anglo-saxónicos (e não só) sem crédito que os recomende minimamente é uma novidade de anos recentes. Tempos houve, de parcimónia extrema (aliás, idiossincrasia bem nacional de passar de um extremo ao outro), em que graus académicos alcançados em universidades estrangeiras, por vezes de maior mérito do que as portuguesas, fazia andar de Herodes para Pilatos os seus detentores para obterem o seu reconhecimento oficial. De há escassos anos para cá foi o que se viu. O próprio Estado português enviou os seus dilectos filhos tirar uma espécie de cursos de Verão em Boston (a que forem concedidas equivalências aos mestrados universitários portugueses) para a docência de professor adjunto das escolas superiores de educação que proliferaram em terreno húmido que torna exaustiva a sua enumeração. A primeira escola superior de educação que abriu foi a de Viseu com a publicação da Portaria n.º 250/83.,de 4 de Março, era então ministro da Educação Fraústo da Silva.
Destinavam-se estas escolas a formar, unicamente, professores do 1.º ciclo do básico e educadores de infância com o grau de bacharel, o que seria uma evolução em termos “académicos” relativamente às escolas de ensino médio do magistério primário que lhe serviram de berço com um passado de mérito. Com as escolas superiores de educação ocorreu que os respectivos alunos passaram a sair com mochilas repletas de teorias pedagógicas e órfãos de competências para o ensino do LEC (ler, escrever e contar).
Mas pior do que isso foi a concessão que lhes foi dada de poderem passar a ministrar cursos para a docência do 2.º ciclo com o desastroso êxodo da sua população escolar destinada ao ensino das primeiras letras desertarem para cursos em que já havia um excedente de licenciados universitários para um ensino até aí da sua exclusiva pertença.
Corria a notícia sobre a possibilidade dos licenciados pelas escolas superiores de educação poderem vir a leccionar também no 3.º ciclo do básico. Numa audiência havida com a secretária de Estado da Educação, Ana Benavente, uma das vestais do sagrado altar do eduquês, aproveitando a ocasião chamei a sua atenção para o facto de a Lei de Bases do Sistema Educativo o não permitir. Sem se dar por achada, fazendo jus à ambiguidade dos políticos, “bamboleando três vezes a cabeça como quem prefacia uma revelação ponderosa” (Camilo Castelo Branco), sem deixar de mostrar um ar agastado, respondeu-me: “Mas a lei muda-se de um dia para o outro! "
Tinha razão! O mal está na ligeireza com que em Portugal se fazem e desfazem reformas do sistema educativo, se promulgam e se derrogam leis, quer sejam boas ou más, justas ou injustas, redigidas em prosa escorreita ou mancas de redacção. Desta forma, um dos males de que enferma o ensino superior português reside, em parte, no facto do ensino politécnico andar à deriva na procura de uma identidade própria na profusão de textos legislativos que não são peixe nem carne, dando azo a que essa indefinição, propositada ou não, faça com que os alunos do politécnico, embora enjeitando deveres, queiram tomar para si os já exíguos direitos dos universitários. A exemplo do adágio, também a mim, “não me apraz porta que muitas chaves faz!”
Um comentário, datado do passado dia 7 de Agosto, ao meu post “Boston, Mestrados e Ensino” tece considerações nos dois parágrafos iniciais que se transcrevem:
1.º §: “ Agora começamos a puxar o fio à meada e saber de onde vem essa gente, Portugal é um país tão provinciano que qualquer diploma no estrangeiro, mesmo em universidades duvidosas vale mais que ouro cá no burgo!”
2.º§; “Creio que qualquer jardineiro que tire um curso profissional em qualquer país do mundo, mas sobretudo Inglaterra ou Estados Unidos, têm equivalência automática a um mestrado de arquitectura paisagista cá em Portugal!”
Este deslumbramento pelas novidades que nos chegam do estrangeiro tem raízes profundas em Portugal. O próprio Eça, no século XIX, o reconheceu: “Portugal é um país traduzido do francês em calão”.
Antes deste verdadeiro bodo aos pobres em reconhecer diplomas universitários anglo-saxónicos (e não só) sem crédito que os recomende minimamente é uma novidade de anos recentes. Tempos houve, de parcimónia extrema (aliás, idiossincrasia bem nacional de passar de um extremo ao outro), em que graus académicos alcançados em universidades estrangeiras, por vezes de maior mérito do que as portuguesas, fazia andar de Herodes para Pilatos os seus detentores para obterem o seu reconhecimento oficial. De há escassos anos para cá foi o que se viu. O próprio Estado português enviou os seus dilectos filhos tirar uma espécie de cursos de Verão em Boston (a que forem concedidas equivalências aos mestrados universitários portugueses) para a docência de professor adjunto das escolas superiores de educação que proliferaram em terreno húmido que torna exaustiva a sua enumeração. A primeira escola superior de educação que abriu foi a de Viseu com a publicação da Portaria n.º 250/83.,de 4 de Março, era então ministro da Educação Fraústo da Silva.
Destinavam-se estas escolas a formar, unicamente, professores do 1.º ciclo do básico e educadores de infância com o grau de bacharel, o que seria uma evolução em termos “académicos” relativamente às escolas de ensino médio do magistério primário que lhe serviram de berço com um passado de mérito. Com as escolas superiores de educação ocorreu que os respectivos alunos passaram a sair com mochilas repletas de teorias pedagógicas e órfãos de competências para o ensino do LEC (ler, escrever e contar).
Mas pior do que isso foi a concessão que lhes foi dada de poderem passar a ministrar cursos para a docência do 2.º ciclo com o desastroso êxodo da sua população escolar destinada ao ensino das primeiras letras desertarem para cursos em que já havia um excedente de licenciados universitários para um ensino até aí da sua exclusiva pertença.
Corria a notícia sobre a possibilidade dos licenciados pelas escolas superiores de educação poderem vir a leccionar também no 3.º ciclo do básico. Numa audiência havida com a secretária de Estado da Educação, Ana Benavente, uma das vestais do sagrado altar do eduquês, aproveitando a ocasião chamei a sua atenção para o facto de a Lei de Bases do Sistema Educativo o não permitir. Sem se dar por achada, fazendo jus à ambiguidade dos políticos, “bamboleando três vezes a cabeça como quem prefacia uma revelação ponderosa” (Camilo Castelo Branco), sem deixar de mostrar um ar agastado, respondeu-me: “Mas a lei muda-se de um dia para o outro! "
Tinha razão! O mal está na ligeireza com que em Portugal se fazem e desfazem reformas do sistema educativo, se promulgam e se derrogam leis, quer sejam boas ou más, justas ou injustas, redigidas em prosa escorreita ou mancas de redacção. Desta forma, um dos males de que enferma o ensino superior português reside, em parte, no facto do ensino politécnico andar à deriva na procura de uma identidade própria na profusão de textos legislativos que não são peixe nem carne, dando azo a que essa indefinição, propositada ou não, faça com que os alunos do politécnico, embora enjeitando deveres, queiram tomar para si os já exíguos direitos dos universitários. A exemplo do adágio, também a mim, “não me apraz porta que muitas chaves faz!”
16 comentários:
Sinais de Deus
Caro Rui
No anterior post é posta a hipótese de que:
“Tendo sido Valter Lemos um dos contemplados com o mestrado de Boston que o habilitou a ser nomeado professor adjunto da Escola Superior de Educação de Castelo Branco, de 1985 a 1990, , o seu mestrado foi obtido no tempo de João de Deus Pinheiro.”
O que acontece é que os cursos de dois meses, nos idos de 80, devem ter ocorrido no Governo do Bloco Central (1983-1985), com Mário Soares, Primeiro Ministro, e José Fraústo da Silva como Ministro da Educação (1983-1984), e Santana Castilho, Subsecretário de Estado para os Assuntos Pedagógicos (1982-1983).
O mestrado de Bóston da actual Ministra da Educação foi reconhecido pela Universidade Nova de Lisboa em 1984, logo, os mestrados bostonianos foram anteriores, e decorreram na vigência de José Fraústo da Silva que autorizou, em 1983, a “concessão do grau de mestre, em diversas especialidades, em vários estabelecimentos de ensino superior”, segundo o portal da Assembleia Nacional, o que vem confirmar a asserção do blog Psitacídeo, bem como o corte radical deste sistema por Roberto Carneiro.
Falta a confirmação normativa sobre se de facto Roberto Carneiro acabou com os mestrados bostonianos. Há ainda zonas cinzentas.
Agora começam a clarificar-se as coisas.
Razão tinha eu em duvidar da reputação da Universidade de Boston baseada na opinião de duas pessoas e em que uma nem se sabe quem é.
Os comentários dos leitores é que vieram esclarecer algumas coisas.
Primeiro, a universidade de Boston é excelente, está na posição 56 de um ranking mundial e 310 lugares acima da melhor universidade portuguesa, Coimbra (366). Por lá passaram 6 prémios Nobel. Apesar disso, e usando sempre espírito científico, poderíamos duvidar da qualidade dessa universidade em ciências de educação durante o início dos anos oitenta, data em que foram tirados os tais mestrados.
Mas pelos vistos não se trata da qualidade da Universidade de Boston mas sim da curta duração dos tais cursos de verão que foram equiparados a mestrados. Não era isto que se depreendia do que dizia o tal professor reformado.
Segundo: mas este boato de que os tais cursos de verão, de apenas dois meses, que foram equiparados a mestrados, está por demonstrar!!!
Realço que um comentário ao post do blogue (referida num comentário ao post anterior) diz:
Para quem está tão preocupado com a validade e qualidade do mestrado da Ministra, fico espantado com a leviandade com que se fala do que não se conhece nem se procura conhecer. Seria relativamente fácil saber que aquele mestrado - de Set 1983 a Janeiro de 1985 - incluiu 4 semestre, um dos quais em Boston (o tal «curso de Verão»)e os restantes em Portugal. Seria também muito bom que muitos dos nossos mestrados tivessem a qualidade daquele «curso de Verão».
E agora, Rui? Será que os posts dos blogues que afirmam isso não passa de uma invenção de alguém? Confirmaste? Será que o tal mestrado que dizes que foi apenas de dois meses num verão, não foi mesmo um mestrado a sério, como o diz o comentador que contraria esta tese? Podes confirmar a tua afirmação?
Eu gostava de ver isso confirmado.
Mas não me admirava que se calhar tenhas razão e que tenha havido uns mestrados anteriores a 85, como o da ministra, que foi reconhecido em 84, e que tenham sido apenas uns cursos de 2 meses.
Eu lembro-me bem que houve técnicos de agricultura, que apenas com o quinto ano antigo e dois "de poda" (como se dizia), que depois do 25 de Abril ficaram com o pomposo título de engenheiros agrários.
E também acredito que tenhas alguma razão sobre a maneira como os politécnicos funcionam e sobre as capacidades dos seus alunos.
Devias era fundamentar sempre muito bem as tuas afirmações, percebes?
Também acho um bocado teoria da conspiração que por algumas pessoas terem ido tirar um mestrado a Boston o nosso ensino esteja como está.
Aquela tua citação do Camilo é um exagero! Será que a mulher também bamboleou a cabeça 3 vezes?! Aquela citação não está ali a fazer nada!
Fazes-me sempre lembrar um dos livros do Lucky Luke em que um criminoso tinha a mania das citações e as fazia por tudo e por nada de uma maneira completamente ridícula, tipo: "Sim. (Hamlet, 3 acto)". Imagino que o autor das piadas do Lucky Luke se baseou nalgum Rui lá da terra!
Sabes uma coisa? Cita mas é o tal despacho que dá a equiparação dos cursos de verão a mestrados, isso é que eu queria ver citado e reproduzido.
Ah, e não te esqueças de me mandar um email para me perguntar algo ou para me ofereceres um café!
Até logo.
luis
É aquilo que se sabe há tanto tempo e a pergunta nunca formulada por inconveniência: para quando o separar de águas de politécnicos e universidades? cada qual com o seu sistema e cursos próprios?
É desmazelo, é interesses? Quantas mais décadas andaremos a suster o sistema politécnico que de técnico tem muito pouco?
Meu caro João ( 9 Agosto: 00:53 ):
Como diz há zonas cinzentas (ou na penumbra de uma questão que se tornou quase tabu), não só, como escreve, se foi Roberto Carneiro que acabou com os mestrados obtidos na Universidade de Boston exportados para Portugal ou se foi ele próprio o seu mentor.
Uma coisa pode ser adiantada: esses mestrados tinham como objectivo a passagem das escolas do magistério primário a escolas superiores de educação, havendo ainda escolas do magistério primário a funcionar nos idos de 89. Pelo que é de minha memória foi mais ou menos nessa altura que tiveram início os já famosos, e muito cantados, mestrados de Boston. A passagem dos cursos do magistério primário a escolas superiores de educação teve suporte na Portaria 352/86, de 8 de Julho. Essa passagem foi feita de forma faseada. Era na altura ministro da Educação e Cultura João de Deus Pinheiro, facto que, por si só, não leva a atribuir-lhe a paternidade desses mestrados. Por seu turno, Roberto Carneiro foi ministro da Educação de 17 de Agosto de 87 a 31 de Outubro de 91.
Estão lançados por si e por mim dados para uma discussão em que o verdadeiro interesse, segundo julgo, não está propriamente saber em que “reinado” tiveram início os mestrados cozinhados em panela de pressão e quem foi o seu cozinheiro. O importante, parece-me, é que eles aí estão para servir clientelas de validos (sem acento) que se fecham em copas num assunto que se quer permanecido no segredo dos deuses. Seja como for, ficou em ambos nós a pulga na orelha. E por aquilo que julgo conhecer de si o assunto não está encerrado. Nem para mim!
Comentários como este seu tem a subscrevê-lo o interesse que trazem aos post’s no processo de busca da verdade dos factos como é desejo, aliás, da linha doutrinária do “De Rerum Natura”.
"Alea jacta est"! Sendo esta uma tribuna aberta serão bem-vindas novas e sérias achegas.
Adenda ao meu comentário anterior:
Começo por citar o pensamento que Einstein tinha afixado na parede do seu gabinete em Princeton, segundo João Lobo Antunes: “Nem tudo o que conta pode ser contado, e nem tudo o que pode ser contado conta”.
Assim, é quase um tabu falar-se, e muito menos esclarecer, a data em que se deu início à ida, por concurso público, da primeira leva de licenciados que se deslocaram a Boston para obterem o "mestrado" em Ciências da Educação, através de uma espécie de convénio para consumo interno de Portugal.
Mas esta uma discussão que corre o risco de ter como pano de fundo o sexo dos anjos quando o que importa verdadeiramente saber é o reflexo que a entrada dos turcos em Constantinopla teve para as escolas superiores de educação com teorias esotéricas sobre a educação e hinos de louvor a teorias pedagógicas que as tomaram de assalto e em que a prioridade das prioridades foi pôr no patamar de cima das prateleiras teorias pedagógicas coladas com cuspo (para utilizar uma palavra da gíria académica) pondo em caves bafientas, e nada frequentadas, princípios científicos que devem estar presentes nas aprendizagens dos alunos do ensino superior.
Esta a questão, o resto é paisagem, aquela paisagem de que nos falou Eça: “Portugal é Lisboa, o resto é paisagem”.
Comentário (9 Agosto; 09:12):
A resposta ao seu comentário, que levanta problemas interessantes de escalpelar, será dada bevemente.
No Curso de Verão de Português para Estrangeiros, de 60 minutos, a funcionar na Facudade de Letras da Universidade do Porto, aos alunos estrangeiros que tenham frequência universitária ou sejam graduados, e concluam o curso com aproveitamento, são concedidos 4 créditos ECTS (european credit transfer and accumulation system) (sistema europeu de transferência e acumulação de créditos), cuja aplicação é regulada pelo Decreto-Lei n.º 42/2005, de 22 de Fevereiro.
Os créditos indicam, sob a forma de valor numérico (de 1 a 60) atribuído a cada módulo, o volume de trabalho que o estudante terá de prestar para cada um deles.
Portugal, de acordo com a Declaração de Bolonha, assinado pelos ministros europeus em 19.06.1999, a introdução dos ECTS alterou os paradigmas educacionais, e entre eles, o processo de formação deixou de ser centrado no ensino e passou a ser centrado na aprendizagem, ou seja, no estudante e a carga de trabalho dos estudantes neste sistema, passou a consistir no tempo requerido para completar todas as actividades de aprendizagem planeadas tal como aulas teóricas, seminários, estudo individual, preparação de projectos, exames, etc.
Isto,para dizer que na Boston University é adoptado o sistema de créditos designado GAAP (Generally Accepted Accrediting Practices), cuja equivalência com os ECTS se podem situar dentro destes valores: (15 horas estudo GAAP)= 2 Créditos= ECTS (30 horas de estudo)
Os Cursos de verão na Boston>Boston University, são contemplados com 3 créditos USA ( como pode ser visto aqui, mas estão longe de chegarem aos dois meses. Ora o ciclo de estudos conducente ao grau de mestre tem 90 a 120 créditos e uma duração normal compreendida entre três e quatro semestres curriculares de trabalho dos alunos, mas desconheço que equivalência é atribuída, dado que não há nenhuma relação directa entre as horas de contacto com os docentes e os créditos.
Por exemplo uma aula teórica pode representar três horas de estudo por parte do estudante enquanto um seminário de duas horas pode necessitar uma semana completa de trabalho, além de não se poder relacionar os créditos com o status ou prestigio, porque os créditos ECTS apenas representam a carga de trabalho medida em tempo. Nada dizem a respeito do status da unidade curricular ou do prestigio do docente.
Posto o que, e porque não foi possível aceder aos cursos de verão da BU dos idos de 80, também não nos é possível averiguar se os referidos cursos de Valter e da actual Ministra, foram de dois meses, ou mais, ou até menos, como os actuais que decorrem. Para desfazer este equívoco só os dois detentores dos mestrados. Parece contudo que preferem alimentar as dúvidas, ou manter o boato, se é que de boato se trata.
Está-se a discutir muito os mestrados de Boston. Não sei se valem alguma coisa ou não, até porque o ranking da Universidade de Boston vale o que vale: quem foi que o fez? Com base em quê? Com que interesse? E já agora, o ranking serve para o quê?
Não sou Mestre em coisa alguma. Sou um simples licenciado (pré-Bolonha) mas gostava também que alguém discutisse a qualidade de alguns mestrados e doutoramentos que por cá se fazem. É que a mim faz-me uma grande confusão ver algumas pessoas a dedicar-se vários anos investigar, investigar e investigar para fazer um doutoramento, enquanto que outras de "uma penada" têm o assunto arrumado... e não me venham com a justificação que a duração de um doutoramento é variável; não é razão suficiente.
Mais importante do que ter um mestrado ou um doutoramento (certamente por mérito de que o tem), o que conta é a maneira como encaramos os problemas e os resolvemos. E por vezes basta um gesto tão simples como deixar o conforto do gabinete e contactar (ou interagir, como agora se diz) com a realidade. Pode ser arrebatador.
Com o que se vai conhecendo do estado da educação neste país,
"Estou tocado pelo medo e pelo espanto".
(Frank James, irmão de Jesse James, por sua vez citando Hamlet, Acto I, Cena I, em "Jesse James" da série "Lucky Luke" por Morris & Goscinny)
Eu gosto de citações e gosto sempre de citar as minhas fontes.
Dervich
Meu Caro Emanuel Mendonça:
Sobre os mestrados da Universidade de Boston , começo por lhe dizer que dada a confusão de datas (e a omissão de outras) começo a pensar que nem todos os mestrados (de entre eles o de Isabel Alçada) foram gerados na barriga de aluguer dos famosos “mestrados” de verão de (ou mesmo de veraneio) destinados a preencher os lugares de professores adjuntos das escolas superiores de educação que iam sendo criadas a eito e sem jeito pelo país fora.
Consultados alguns blogues a confusão não se desfaz de forma alguma. Por vezes, ainda aumenta. Desse pecadilho não está livre o que aqui tenho escrito (com a ajuda preciosa de alguns comentários que lhe são feitos) com a intenção de iluminar aspectos que muitas pessoas o poderiam fazer melhor com a chancela dos seus próprios exemplos; e o não fazem. Eu, por meu lado, prosseguirei nessa busca.
Quanto às licenciaturas e aos mestrados de antes de Bolonha (a.B) e depois de Bolonha (d.B), a confusão de graus académicos nasceu com a tradução de “bachelor” (bacharel) por licenciado. Como eu costumo dizer, este facto veio criar quase a necessidade de um dicionário para descodificar os graus académicos portugueses relativamente a eles próprios e aos graus congéneres estrangeiros.
Quanto aos doutoramentos. Inicialmente, antes de Bolonha as escolas superiores de educação estavam unicamente mandatadas para atribuir o grau de bacharel, depois o de licenciado lutando para que pudessem atribuir o grau de mestre; depois de Bolonha (e mesmo antes) lutaram por atribuírem o grau de doutor, único grau que se tem mantido na pertença da universidade. Não tendo o ensino politécnico possibilidade de o ministrarem começaram a estabelecer convénios com universidades estrangeiras e parcerias com universidades nacionais não percorrendo avenidas largas mas chegando lá por veredas. Para encurtar razões, há mestrados e doutoramentos e há mestrados e doutoramentos. O nome é o mesmo, a qualidade não o é.
Como já disse, e repito, tempos houve em que o doutoramento outorgado pelas universidades de maior prestígio mundial tinham que passar pelo crivo de um funil estreitíssimo para terem equivalência em Portugal. Hoje é o que por aí se vê…
Daí o seu desabafo com um fundo de verdade e de realidade: “Mais importante do que ter um mestrado ou um doutoramento (certamente por mérito de que o tem), o que conta é a maneira como encaramos os problemas e os resolvemos. E por vezes basta um gesto tão simples como deixar o conforto do gabinete e contactar (ou interagir, como agora se diz) com a realidade. Pode ser arrebatador”.
3.ª linha do penúltimo § do meu comentário a Emanuel Mendonça: ter, em vez de terem
Meu Caro Emanuel Mendonça:
Depois de inúmeras consultas estou em situação de dizer, de fonte segura, que os famosos mestrados na Universidade de Boston resultaram de um acordo entre o Governo Português e a Universidade de Boston para a formação de professores adjuntos das futuras escolas superiores de educação, alguns realizados em 84 e outros em 85.
De um estudo de 31 páginas, da autoria de João Pedro da Ponte, do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências de Lisboa, intitulado “A Educação Matemática em Portugal: os Primeiros Passos duma Comunidade de Investigação”, são referenciadas na respectiva bibliografia 13 teses de mestrado para professores de matemática e o nome dos seus autores (12 delas com a data de 85 e uma com a data de 84). O mestrado em Análise Social da Educação de Isabel Alçada na Universidade de Boston (1984), referenciado no próprio Portal do Governo de Portugal, configura-se, como tal, com a primeira leva de mestrandos que se dirigiram aos Estados Unidos.
Curiosamente em nenhuma destas consultas é referida a duração destes mestrados, o que faz pressupor que os dados que circulam na Net a este respeito (2 meses no verão) são seguros pela garantia de não haver, como seria de esperar, nenhum desmentido oficial ou sequer um esclarecimento devidamente fundamentado por parte dos detentores destes mestrados com equivalência em universidades portuguesas. E,como diz a “vox populi”, “quem cala consente”.
Olá, Rui Baptista!
Houve os mestrados de Boston, há quem grafe antes "Bosta", há os licenciados de Bolonha e há os licenciados da "Borgonha", licenciaturas feitas ao fim-de-semana durante um ano... Noutros tempos o Eça dizia que éramos um país de bacharéis. Pois hoje já somos um país de licenciados, amanhã de mestres e, lá para depois de amanhã, um país de doutores... É o que dá a inflação ter também chegado à educação...
De qualquer dos modos, que nunca a arte e o engenho faltem para denunciar estas e outras situações iníquas e, até, menos claras e transparentes.
Caro Anónimo (12 Agosto; 23:07):
A educação, toda ela, está a precisar de uma grande vassourada a começar pelos sindicatos docentes que iniciaram o descalabro na dignidade da profissão docenteao inscreverem sócios sem formação alguma.
Alguém já pensou o sindicato dos médicos a permitir (ou melhor, a fomentar mesmo) a inscrição de alunos do 1.º ano de medicina ou de outros cursos?
Pois foi isso que sucedeu com a Fenprof a servir de locomotiva a um comboio pejado de ignorantes. No seu comentário, recorda, a crítica de Eça aos bacharéis aos magotes. No caso de Ramalho, enaltecia Eça o facto de ele não ser bacharel e...ter saúde.
Ora, hoje Portugal tem licenciados pós-Bolonha que com isso não se contentam caminhando para os mestrados. É este um país de loucos que cede a pressões sindicais de toda a ordem.
miguel torga
quantas vezes me lembro em 1978 -80 la em coimbra no dom duarte os stores que se diziam advogados ou engenheiros e que de repetente eram professores, pois nem eram boms como professores, nem concerteza era boms com engenheiros ou advogados.. foi assim que o 25 de abril trouxe nos lotes de incompetentes e impostores que nos davam aulas a copiar toda a aula o que eles liam nos livros e como os livros mudavam todos os anos, nem aprendiam eles nem os alunos..somos um pais de mestres impostores que so vivem para parecer, e ter, ninguem se lembra da etica e do dever do bom ensino, e de por a gente capaz a ensinar aos alunos.. é o pais que temos, a começar por sermos gouvernados por mestres burros e impostores...que nem administrar o pais sabem...
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