domingo, 1 de agosto de 2010

É desconcertante!

Como referi em texto anterior foi com manifesto desagrado que ontem os diversos partidos políticos acolheram as palavras da ministra da Educação sobre a avaliação do desempenho escolar dos alunos. Assim, a ministra, em declarações à imprensa de hoje, propôs-se lançar num futuro próximo um debate à escala nacional sobre o assunto, no qual possam intervir os diversos parceiros educativos.

O que num dia se toma como certo, defendendo-se a sua bondade até às últimas consequências, no dia seguinte é posto em causa com base em dúvidas que antes eram certezas, avançando-se novas certezas que daqui a dois ou três dias se tornarão dúvidas...

Nada de novo se vislumbra neste cenário. Apenas nos recorda o funcionamento do sistema educativo, que já temos por tradicional: sem linhas condutoras claras e seguras, definidas em função do direito que os alunos têm de aprender e do dever que os professores têm de ensinar.

E isto com base em argumentos incoerentes e mal explicados, emergentes de tendências política momentâneas e do agrado e conveniência social, que abusivamente se chamam “pedagógicos”.

É desconcertante!

32 comentários:

Anónimo disse...

Quanto ao direito que os alunos têm de aprender: eu diria o dever que os alunos têm de aprender. É interessante notar que não é costume falar-se de deveres de alunos ou de jovens. Parece que se supõe que eles ainda não adquiriram as noções de dever e de ética. Os professores é que têm o dever de não só ensinar como de motivar. É o contrário do que se pensou durante décadas. Dantes, os alunos é que tinha o dever de serem bem comportados e estudiosos não cabendo deveres aos professores. Hoje inverteu-se: se não há rendimento escolar a culpa é do professor que não motivou ou não é bom pedagogicamente. O jovem é, por definição, isento de culpa.
Incidentalmente no meu caso, e pode ser excepção, não sei, foram os piores professores pedagogicamente que mais e melhores recordações me deixaram. Explico melhor. Foram os menos paternalistas e que menos explicavam que mais contribuíram para a minha autonomia intelectual.

cs disse...

a verdade é que não sabemos onde pôr os nossos filhos, não para aprovações por decreto, mas para aprenderem qualquer coisinha que seja. Esta é a verdade crua e nua.

Ana disse...

Pode-se motivar ao mesmo tempo que se ensina. Pode-se brincar ao mesmo tempo que se trabalha no duro. Pode-se ser pedagógico e ao mesmo tempo exigente. Pode-se ser tudo o que se exige a um bom professor (se bem que hoje em dia já ninguém saiba muito bem o que é isso e o que tal implica...), mas nem o melhor do mundo poderá ensinar quem não quer ser ensinado. E quando o papel de educador recai sobre o professor, e por educador entendo o ensino das regras básicas de convívio em sociedade, e não sobre os pais...enfim. Cada dia que passa é mais um dia em que digo a mim própria: assim não dá. E, para mim, começa a acabar. O que antes era uma paixão, ensinar, converteu-se numa fonte de desilusão, escravatura e ignorância.

Desconcertante é a intenção de que os "chumbos" estejam em vias de extinção... muito bem!!! clap clap clap! falta mesmo esta: não precisam de trabalhar no duro, não precisam de aprender, podem ficar ignorantes para todo o sempre que, não faz mali, o papá governo e a mamã ministra não dão tau tau, pelo contrário, dão-te o canudo sem teres de aprender a ler sequer!...

E é com revolta e pena que cada dia me inclino mais a abandonar algo que já estou a dar como perdido...

Helena Damião disse...

Caro Anónimo das 18:17
Acompanhando o que tenho escrito neste blogue, percebe-se que não desvalorizo o dever de aprender, que os alunos têm de assumir progressivamente, até se tornarem autónomos nesta matéria. Mas como esse dever não é inato, terá de lhes ser ensinado. Trata-se, aliás, de um ensinamento que há muito constituímos como um direito humano fundamental.
Porque, nas palavras de H. Arendt, estamos a falar crianças e jovens que chegaram há poucos anos ao mundo e não o conhecem como os adultos, estes reconhecem-lhes o direito de serem ensinados, para que se possam tornar sujeitos conscientes e livres, pessoas, no sentido pleno da palavra. A nossa geração tem esse dever agora, como as novas gerações o terão no futuro.
Cumprimentos,
Helena Damião

Fartinho da Silva disse...

Reproduzo aqui um comentário deixado por mim noutro blog sobre este mesmo tema:

Assisti à entrevista da Ministra da "Educação" na SIC há poucos minutos atrás e fiquei assustado com tanta ignorância sobre o sistema de ensino.

As suas palavras e utopias são exactamente as mesmas de quem defendeu o Maio de 68. Será possível que não percebe que estamos em 2010??

Nunca denominou os alunos como alunos, mas sempre como crianças e uma vez como jovens!! Será possível? É curioso verificar que nunca apelidou os professores de adultos licenciados ou mestrados ou doutorados... mas sim como professores. Porquê esta diferença?

Este tipo de discurso, típico do Maio de 68, ternurento, giro e fofinho é o oposto daquilo que necessitamos... a senhora fará alguma ideia daquilo que se passa nas nossas salas de "aula"?

Saberá a senhora Ministra que há alunos (sim, alunos) pagos com o dinheiro dos contribuintes que não fazem RIGOROSAMENTE nada nas aulas e fora delas?

Saberá a senhora Ministra que há alunos (sim, alunos) pagos com o dinheiro dos contribuintes que GOZAM com os professores dizendo "Tem que me passar, senão tem negativa na sua avaliação!", "Tem que me passar, senão leva nas orelhas do Director", "Se tem que me passar, porque raio tenho que estar atento?", etc.?

Saberá a senhora Ministra da Educação que o tempo das fofuras, das pieguices e da ideologia kaviar travestidas de pedagogia já lá vai?

Sinceramente, estou de boca aberta com tanto disparate.

Quando é que este país se liberta dos fantasmas da ditadura e das borbulhas da adolescência e mete as mãos ao trabalho de forma a poder crescer e chegar à idade adulta?

Anónimo disse...

a única que coisa que me anima é ter a certeza absoluta de que esta gente não fica muito mais tempo nos gabinetes da 5 de outubro...

Anónimo disse...

Não ficarão... resquícios? JCN

platero disse...

acabe-se com as reprovações - JÁ

mas todas. Não só nos diversos níveis de ensino

faz algum sentido que se chumbe nos exames de Condução?

nos exames para progressão nas carreiras
de Polícias
GNRs e afins?

faz algum sentido que se tenham
maus resultados
nos exames médicos
a que somos com regularidade submetidos?

acima de 10 para o PSA
ou de 200 para níveis de colestrol?

abaixo pois com todas as reprovações
de preferência cortando o mal pela raíz
-que o mesmo é dizer
acabando de vez
com os EXAMES

Anónimo disse...

Caros anónimos das 23:40 e 00:09
O que dizem não é mais do que a posição anti-políticos, hoje muito generalizada (e de raiz anti-democrática, diga-se). Mas não resolve nada nem ajuda em nada. Vejamos. Ficam pouco tempo na 5 de Outubro. Não é rigoroso. Podem ficar muito, dependendo dos resultados eleitorais e de outros que não vale a pena explicar mas resultam da Constituição (salvo golpe militar o que neste momento parece pouco provável). Ficarão resquícios? A resposta é: claro que sim. Note-se que não é possível viver sem políticos que se pensarmos bem, somos todos nós incluindo os que ridicularizam os políticos caso tenham valor e capacidade para chegarem lá. O caminho não é fácil, é preciso, entre outras coisas, algum saber e conhecimento. Mas para ridicularizar os políticos não é preciso nada, basta ter acesso a um blogue e saber ler e escrever, mesmo que mal.

Ana Cristina Leonardo disse...

Sem ironia: pobres crianças!

Nuno Silva disse...

Há uns anos tive a oportunidade de ir passar umas férias à Dinamarca.

É sem dúvida um país diferente. Com pessoas diferentes. Diferentes desde pequenos, porque as famílias onde nascem e crescem são diferentes.

Uma das coisas que me saltou à vista foi um sistema de venda ao público usado em algumas localidades rurais da Jutlândia que consiste no seguinte: o pequeno agricultor, ocupado que está com os seus deveres, não pode estar ao mesmo tempo numa loja e, por isso, coloca um espaço de auto-compra à entrada do seu espaço agrícola; nesse espaço ele coloca os seus produtos, etiquetas com os preços e um potezinho para os cliente deixarem o pagamento dos produtos que levarem, fazendo o seu próprio troco. E pensei para comigo «caramba, isto é muito simples e bastante eficaz mas jamais em tempo algum poderia ser usado em Portugal».

Será que alguém, que tenha a voz pública que eu não tenho, pode explicar de uma vez por todas aos sucessivos ministros da educação que esta pequena situação retrata o porquê de não podermos tentar transferências de sistemas e métodos, de qualquer tipo e em qualquer área da vida, dos países nórdicos para o nosso? Porque… são sem dúvida países diferentes, com pessoas diferentes; diferentes desde pequenos, porque as famílias onde nascem e crescem são diferentes.

Se alguém puder fazê-lo, seguem os meus agradecimentos.

Anónimo disse...

Meu caro amigo: há muita maneuira de "ridicularizar" a classe dita "política". A mais difícil é de flor ao peito e chapéu alto, sorrindo: não tem defesa. É que a troça destrói, mas a ironiqa... fere e magoa. Vamos a eles! JCN

Anónimo disse...

Sorrindo de mim próprio, corrijo duas gralhas: "maneuira" por "maneira" e "ironiqa" por "ironia". Maldito teclado! JCN

Anónimo disse...

Vossemecê tem cada uma, senhor Platero! JCN

joão boaventura disse...

O fim das retenções segundo Marcelo Rebelo de Sousa aqui.

joão boaventura disse...

Quando

"a ministra, em declarações à imprensa de hoje, propôs-se lançar num futuro próximo um debate à escala nacional sobre o assunto, no qual possam intervir os diversos parceiros educativos."

semioticamente, está a dizer que:

se sente incapaz de realizar qualquer processo que ponha o comboio da educação a andar nos carris certos, tantos são os problemas por resolver, tantos são os desentendimentos dentro e fora do Ministério, tantos são os ruídos que já não há espaço nem tempo para pensar na tranquilidade de que gozou o Marquês de Pombal para dizer:

"vamos enterrar os mortos e cuidar dos vivos",

que o mesmo é dizer: "enterrar o passado e tratar do futuro".

Se não aprendemos com o Marquês de Pombal, engtão não podemos apagar o passado.

Anónimo disse...

Já agora explique o que é isso de semiótica. Poder fazer uma pergunta destas mostra a vantagem do anonimato (de que alguns não gostam mas eu adoro).

Anónimo disse...

Caro Anónimo de 2 de Agosto das 12:01, palavras como "Política" e "Democracia" têm sido usadas tantas e tantas vezes, ditas por tanta gente e com cada intenção que começam a ser apenas e só ruído.
Querem transformar as escolas em ATLs, por mim tudo bem. Depois não venham queixar-se do país em que vivem. Resquícios só ficarão se nós deixarmos.

joão boaventura disse...

Com a declaração de que “temos que ver qual a solução mais adequada”, a Ministra continua centrada no pecado capital do “chumbo”, como se pode ouvir na entrevista dada ontem, na SIC, problema que, apesar de falado hoje, já vem do passado e continua retido no passado.

Assim, ocorre o dito dos brasileiros: faz que anda mas não anda.

Insisto que se mantém muito viva e actual a ideia esquecida, a sentença do Marquês de Pombal:

“enterrar o passado e tratar do futuro”.

Anónimo disse...

Caro Nuno Silva:
Os dinamarqueses andam sempre a tentar fugir ao fisco. O truqe que descreve é demasiado primário para cá e não passaria facilmente. O princípio que defende está correcto: o que resulta num país pode não resultar noutro. Aqui seriam logo denunciados pelos vizinhos de que estavam a vender sem factura nem controle de receitas.

platero disse...

JCN

prazer em reencontrá-lo
- aguerrido como sempre

abraço

joão boaventura disse...

História da ocupação dos tempos livres dos Ministros da Instrução da Lusitânia

Ciclo Antes de 1975

No ensino primário do séc. XIX publicaram-se sete reformas gerais e outros tantos regulamentos – primário e secundário
1835 – Obrigatoriedade escolar consagrada na Carta Constitucional (artº 145, § 30º)
1836 – Passos Manuel – Criação do ensino liceal
1844 – Costa Cabral – Reforma do ensino liceal
1860 – Fontes Pereira de Melo – Regulamento dos Liceus
1880 – Luciano de Castro – Reforma do Ensino Liceal (82,4% de analfabetos) (0,8%
na Noruega, 0,36% na Dinamarca, 0,4% na Suécia e 0,51% na Alemanha)
1894 – Jaime Moniz – Reforma do Ensino Secundário
1901 – Hintze Ribeiro
1905 – Eduardo José Coelho – Reforma do Ensino Liceal
1911 – Reforma de 29 de Março (78,6 % de analfabetos)
1918 – Alfredo de Magalhães – Reforma do Ensino Liceal
1919 – Joaquim José de Oliveira – Reforma do Ensino Liceal
1921 – Leonardo Coimbra – Reforma do Ensino Liceal
1926 – Ricardo Jorge – Reforma do Ensino Liceal
1931 – Cordeiro Ramos – Estatuto do Ensino Secundário (30 % de analfabetos)
1936 – Carneiro Pacheco – Reforma do Ensino Liceal
1947 – Pires de Lima – Reforma do Ensino Liceal
1956 – Leite Pinto
1963 – Reforma da Matemática Moderna – Sebastião e Silva
1967 – Galvão Teles – Reforma Curricular - Criação do Ciclo Preparatório do Ensino Secundário
1973 – Veiga Simão – Reforma do Ensino
1974 – Reforma do Ciclo preparatório

Fim do Ciclo

(continua)

TRUK disse...

retenção em vez de reprovação - pior
:
cheira-me a processo escatológico

Anónimo disse...

E porque não... prisão preventiva? JCN

joão boaventura disse...

Caro TRUK

Retenção é o resultado da reprovação, mas retenção ou reprovação; quer um quer o outro, são sempre escatológicos.

joão boaventura disse...

2 - História da ocupação dos tempos livres dos Ministros da Instrução da Lusitânia

«Precisamos do pessimismo da razão e do optimismo da vontade.» (Stefano Rodotá)

Trailer do ciclo anterior (antes de 1975:

1835 – Obrigatoriedade escolar
1880 – Luciano de Castro – Reforma do Ensino Liceal (82,4% de analfabetos)
1911 – Reforma de 29 de Março (78,6 % de analfabetos, o que constituía para Trindade Coelho “um verdadeiro sudário”).
1920 – 66,2% analfabetos
1931 – Cordeiro Ramos – Estatuto do Ensino Secundário (60 % de analfabetos)
1940 – 62% analfabetos
1950 – 42% analfabetos
1960 – 33% analfabetos
1970 – 26% analfabetos, relembrando que, em 1880, 90 anos atrás: (0,8%
na Noruega, 0,36% na Dinamarca, 0,4% na Suécia e 0,51% na Alemanha), depois de sete reformas e sete regulamentos no séc XIX, e 14 reformas no séc. XX, até 1974.

Ciclo Depois de 1975

1975 – Ministério da Educação e Cultura – Manuel Rodrigues de Carvalho (04.12.1974- 26.03.1975), e José Emílio da Silva (26.03.1975-10.09.1975)
Lançamento do Ensino Unificado. Profundas mudanças com grande convulsão interna, devido ao processo revolucionário que transformou os Liceus (8.200 professores e 122.354 alunos) e as Escolas Técnicas (13.500 professores e 126.140 alunos), em Escolas Secundárias, porque “éramos todos iguais”, donde a impossibilidade de Liceus para os ricos e Escolas Técnicas para os pobres.

Exactamente como o Desporto para os ricos e a Educação Física para os pobres. O Desporto considerava a Educação Física como sendo dos intelectuais. A Educação Física considerava o Desporto como sendo dos musculados. Paradoxalmente, a Educação Física seria da esquerda, por, dos pobres, e o Desporto, da direita, por, dos ricos.
1976 – Ministério da Educação e Investigação Científica - Victor Manuel Rodrigues Alves (23.07.1976-23.01.1978),
Ministério da Educação e Cultura - Mário Augusto Sottomayor Cardia ( 23.07.1976-23.01.1978) Início do 7.º ano Ensino Unificado, e começo da conflitualidade entre os de elite (liceu) e os pobres (escola técnica); a mistura heterogénea tornou-se explosiva porque ninguém é igual a alguém.
1977 – 8.º ano Ensino Unificado (20,5% analfabetos); mais uma conflitualidade.
1978 – Ministério da Educação e Cultura - Carlos Alberto Lloyd Braga (29.08.1978-22.11.1978)
Ministério da Educação e Investigação Científica - Luís Francisco Valente Oliveira (22.11.1978-07.07.1979)
Começa o 9.º ano Ensino Unificado, com alterações sistemáticas das matérias curriculares; mais uma conflitualidade.
1979 – Ministério da Educação – Luís Veiga da Cunha (07.07.1979-03.01.1980)
Início 10.º e 11.º ano Ensino Unificado; mais uma conflitualidade.
1980 – Ministério da Educação e Ciência – Vítor Pereira Crespo (03.01.1980-04.09.1981)
1981 – Ministério da Educação e das Universidades – Vítor Pereira Crespo (04.09.1981-12.06.1982)
Criação do 12.º ano; total da conflitualidade concluído (21% analfabetos)
1982 – Ministério da Educação – João Fraústo da Silva (12.06.1982-09.06.1983)

(continua)

joão boaventura disse...

3 - História da ocupação dos tempos livres dos Ministros da Instrução da Lusitânia

«Precisamos do pessimismo da razão e do optimismo da vontade.» (Stefano Rodotá)

1983 – Ministério da Educação – José Augusto Seabra (09.06.1983-15.02.1985)
Relançado o Ensino Técnico Profissional, e no Ensino Secundário passa a haver
4 tipos de cursos; Cursos Gerais (via de ensino); Cursos Técnico-Profissionais (10.º, 11.º e 12.º anos); Cursos Profissionais (10.º ano seguido de estágio); Cursos Complementares Liceais e Técnicos, em regime nocturno (10.º e 11.º). É o retorno à origens para atenuar a conflitualidade, porque afinal não somos todos iguais; solução: o antigo Liceu passa a Ensino Secundário, e a antiga Escola Técnica passa a Ensino Técnico Profissional.
1985 – Ministério da Educação – João de Deus Pinheiro (15.02.1985-12.06.1985) e Ministério da Educação e Cultura – João de Deus Pinheiro (06.11.1985-17.08.1987)
1986 – Entrada de Portugal na União Europeia.
Lei de Bases do Sistema Educativo reorganiza a estrutura do Sistema Educativo,
prolongando escolaridade obrigatória de 6 para 9 anos, e consequente redução do Ensino Secundário para 3 anos
1987 – Ministério da Educação – Roberto da Luz Carneiro (17.08.1987-31.10.1991)
1989 – Reforma curricular. Criação de 50 Escolas Profissionais promovidas por 95 entidades diferentes, com 2.688 alunos. Criação de novo perfil de Ensino Secundário Predominantemente Orientados Para o Prosseguimento de Estudos (CSPOPE), e Cursos Secundários Predominantemente Para a Vida Activa (CSPOVA), mais conhecidos por Cursos Tecnológicos. Criação de Ensino Recorrente. (11% analfabetos)
1991 – Ministério da Educação – Diamantino Durão (31.10.1991-19.03.1992)
1992 –Ministério da Educação – António Couto dos Santos (19.03.1992-07.12.1993)
1993 – Ministério da Educação – Manuela Ferreira Dias (19.03.1992-07.12.1993)
Generalização da Reforma do Ensino Secundário de 1989.
1995 – Ministério da Educação – Eduardo Marçal Grilo (28.10.1995-25.10.1999)
1997 – Atingido o número recorde de alunos (470 mil); 70% dos jovens entre os 15 e os
18 anos de idade. Uma equipa do Ministério prepara a reforma do Ensino Secundário (antigo Liceu), mas os professores ignoram o seu conteúdo, e a reforma é adiada.
1999 – Ministério da educação – Guilherme de Oliveira Martins (25.10.1999-14.09.2000)
Eurostat – Em Portugal 46% dos jovens entre os 18 e os 24 anos abandonam os estudos (a média comunitária é de 21%).
2000 – Ministério da Educação – Augusto Santos Silva (14.09.2000-03.07.2001)
2001 – Ministério da Educação – Júlio Pedrosa da Luz (06.04.2001-06-04.2002). Metade dos analfabetos que existem nos 15 países da União Europeia são portugueses. (dados publicados em Fevereiro de 2001).
2002 – Ministério da Educação – David Justino (06.04.2002-17.07.2004)
PSD/CDS suspendem projecto de reforma do PS e criam outros dispositivos para 2002/2003, entre eles os da avaliação dos alunos, mas os problemas agravam-se, e a reforma de Justino foi adiada para 2003/2004
2004 – Ministério da Educação – Maria do Carmo Seabra (17.07.2004-12.03.2005)
2005 – Ministério da Educação – Maria de Lurdes Rodrigues (12.03.2005-26.10.2009)PS
2009 – Ministério da Educação – Isabel Alçada (26.10.2009-?.?.?)
2010 - 9% analfabetos – Em 1880: Noruega 0,8%, Dinamarca 0,36%, Suécia 0,4%, e Alemanha 0,51% .

Em média, nos quinze países da União Europeia, 46% dos indivíduos afirma ler jornais quase todos os dias da semana. Os níveis mais elevados observam-se na Finlândia (77,8%), na Suécia (77,7%), na Alemanha (65,5%) e no Luxemburgo (62,7%), enquanto nos países do sul se verificam os níveis mais baixos: 25,1% em Portugal, 24,8% em Espanha e 20,3% na Grécia. É também nestes três últimos países que um maior número de indivíduos afirmam nunca lerem jornais, respectivamente, 30,5%, 23,4% e 25,5%. (Eurobarómetro, 2002)

(continua)

joão boaventura disse...

4 - História da ocupação dos tempos livres dos Ministros da Instrução da Lusitânia

«Precisamos do pessimismo da razão e do optimismo da vontade.» (Stefano Rodotá)

À maneira de Conclusão final resumida e estereotipada:

Monarquia Constitucional
40 anos + 7 Ministros da Instrução
Cada Ministro teve em média 6,5 anos a sobraçar a pasta.
Resultado: 78,6 % de analfabetos, o que constituía para Trindade Coelho “um verdadeiro sudário”

I República
16 anos + 54 Ministros da Instrução
Cada Ministro teve em média 4 dias a sobraçar a pasta
Resultado: 66,2 % de analfabetos, i.é, – 14,4 %

Estado Novo
47 anos + 28 Ministros da Educação
Cada Ministro teve em média 1,5 ano a sobraçar a pasta
Resultado: 26 % de analfabetos, i.é, – 11,6 %

Estado Democrático
33 anos + 33 Ministros da Educação
Cada Ministro teve 1 ano a sobraçar a pasta.
Resultado: 9 % de analfabetos, i.é, – 2,6 %

TOTAL
133 anos + 122 Ministros da Educação
Cada Ministro teve em média 1 ano a sobraçar a pasta
Resultado: Em relação ao séc. XIX com 78,6 %, chegámos ao séc. XXI com 9 % .

Usando a linguagem desportiva de pedir ao atleta mais um esforço para alcançar o pódio, cada Ministro também podia ter feito mais um esforço para chegar ao objectivo de erradicar o analfabetismo.

Não se diga que passar de 78,6 % do séc. XIX para 9 % no séc. XXI foi um grande passo. Não foi, e repito porquê:

Em 1880 (séc. XIX): havia
0,8% de analfabetos na Noruega,
0,36% na Dinamarca,
0,4% na Suécia
0,51% na Alemanha.

Pelo andar da nossa carruagem chegaremos a estes números… quando ?

joão boaventura disse...

Para finalizar esta digressão dos egrégios ministros ocupando os seus tempos livres a divagar sobre coisas da educação, e a propósito, particularmente da realização do "homem novo" em 1975, onde revolucionariamente não pode mais ficar desigual, com os liceus para as elites e as escolas técnicas para os pobres, mas reconhecendo-se, com o andar da carruagem, que a mistura tinha sido explosiva, obrigando ao retorno de haver outra vez "escolas secundárias" ("liceus", recordaria o Estado Novo), e escolas técnicas, associei este acontecimento do nosso recente despertar para a realidade banida com outro similar ocorrido em Moçambique.

Num Congresso sobre o Desporto, realizado em Lourenço Marques, durante o Governo de transição (1974-1975), atarefei-me a recolher muita informação sobre o signo Desporto, e áreas com ele relacionadas, para que as pessoas tivessem uma base de conhecimentos sobre o passado, e a partir dele pudessem progredir o pensamento, e auxiliar a Frelimo a ponderar como poderia o Desporto ajudar a construir o "homem novo".

Entre toda a documentação colhida, uma havia que ilustrava a manutenção do pensamento, passada que fosse qualquer revolução. Respigado de um trabalho sociológico ponderava que as revoluções obnubilam as ideias, se transcendem, e alteram ou suprimem institutos e instituições, para, decorrido algum tempo - o tempo do esquecimento do passado - retomarem o que alteraram ou suprimiram.

Em Moçambique, como em Portugal, dois exemplos paradigmáticos.

Ana disse...

A senhora ministra haveria de gostar de saber que o seu neurocirugião (bata-se na madeira, por favor), caso os chumbos continuassem em vigência, teria chumbado em todos os exames da especialidade... :p

Ana disse...

É triste. Muito triste. Hoje foi um dia triste. O dia em que ouvi "olhe lá, mas isto é só um curso EFA". O dia em que decidi que só ensino quem quiser ser ensinado. O dia em que vou arrumar as minhas luvas.

joão boaventura disse...

Ainda a propósito do "homem novo" lusitanus e moçambicanus

O Novo Homem

O homem será feito
em laboratório.
Será tão perfeito como no antigório.
Rirá como gente,
beberá cerveja
deliciadamente.
Caçará narceja
e bicho do mato.
Jogará no bicho,
tirará retrato
com o maior capricho.
Usará bermuda
e gola roulée.
Queimará arruda
indo ao canjerê,
e do não-objecto
fará escultura.
Será neoconcreto
se houver censura.
Ganhará dinheiro
e muitos diplomas,
fino cavalheiro
em noventa idiomas.
Chegará a Marte
em seu cavalinho
de ir a toda parte
mesmo sem caminho.
O homem será feito
em laboratório
muito mais perfeito
do que no antigório.
Dispensa-se amor,
ternura ou desejo.
Seja como for
(até num bocejo)
salta da retorta
um senhor garoto.
Vai abrindo a porta
com riso maroto:
«Nove meses, eu?
Nem nove minutos.»
Quem já concebeu
melhores produtos?
A dor não preside
sua gestação.
Seu nascer elide
o sonho e a aflição.
Nascerá bonito?
Corpo bem talhado?
Claro: não é mito,
é planificado.
Nele, tudo exacto,
medido, bem posto:
o justo formato,
o standard do rosto.
Duzentos modelos,
todos atraentes.
(Escolher, ao vê-los,
nossos descendentes.)
Quer um sábio? Peça.
Ministro? Encomende.
Uma ficha impressa
a todos atende.
Perdão: acabou-se
a época dos pais.
Quem comia doce
já não come mais.
Não chame de filho
este ser diverso
que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência
é total: sem marca
de família, vence
a lei do patriarca.
Liberto da herança
de sangue ou de afecto,
desconhece a aliança
de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio,
e, per omnia secula,
livre, papagaio, sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo
da velha Criação,
eis que o homem feito
em laboratório
sem qualquer defeito
como no antigório,
acabou com o Homem.
Bem feito.

Carlos Drummond de Andrade
in 'Versiprosa'

"Crise da transmissão e febre da inovação"

Vale a pena ler o artigo de que se reproduz a identificação ao lado.   O seu autor, o francês François-Xavier Bellamy, professor de Filosof...