domingo, 8 de agosto de 2010

CHUVA DE PERSEIDAS


Nova crónica de António Piedade saída no "Diário de Coimbra":

São Lourenço (ou Lourenço de Huesca), mártir e um dos primeiros sete Diáconos (guardiões do tesouro) da Igreja Católica, pereceu imolado sobre uma grelha ardente, sob a ordem do Imperador Romano, no dia 10 de Agosto de 258, na cidade eterna. Não sei precisar se esta data é segundo o calendário Juliano ou Gregoriano, mas inclino-me mais para este último. Não por ser este o calendário que seguimos aqui no ocidente, mas por o dia 10 de Agosto, em que se celebra a festa litúrgica católica em honra ao mártir cristão, se situar entre os dias em que é possível observar uma maior intensidade e número de estrelas cadentes a cruzar o zénite nas noites cálidas do Verão. É que a tradição popular baptizou a chuva de estrelas, que deslumbra por estes dias a abóbada estrelada, por lágrimas de São Lourenço. A sobreposição entre a data da sua morte e o acontecimento astronómico, faz-me situar o início da atribuição popular para depois de 1582, ano em que foi promulgado pelo Papa Gregório XIII o calendário com o seu nome. Ou seja, só no verão de 1583 é que o nosso planeta Terra, na sua inexorável translação à volta do Sol, sublimou um enxame de meteoros denominado por Nuvem Perseida por entre os dias 8 e 14 do mês de Agosto do calendário Gregoriano. Só por curiosidade, diga-se que o dia 10 de Agosto do nosso calendário seria o dia 28 de Julho no calendário Juliano. E dia 13 de Agosto, em que se prevê um pico na “percipitação” de estrelas cadentes conhecidas por Perseidas, corresponderia ao dia 31 de Julho segundo Júlio César.

Mas olhemos um pouco para o céu estrelado e deixemo-nos banhar por poeira cósmica. Uma estrela cadente, apesar do nome, não é uma estrela que acelera subitamente deixando um rasto atrás de si para nosso maravilhamento. É na realidade um meteoróide que entrou na atmosfera terrestre e que, devido ao atrito, originou um meteoro a sublimar um desejo de um observador persistente. Mas na próxima noite de 12 para 13 de Agosto, não precisará de procurar muito para impressionar de movimento meteórico a sua retina ao olhar a abóbada celeste. É que o planeta Terra atravessa, nesta altura do ano, uma região do espaço interplanetário semeado de meteoróides, pouco maiores do que uma ervilha, e que polvilham o caminho percorrido pela cauda do gigante cometa periódico Swift-Tuttle (cerca de 28 Km de diâmetro!) na sua órbita ao redor do Sol, a qual demora 133 anos terrestres (aqui)! O primeiro registo de observação da passagem do cometa é de origem chinesa e data do ano 69 a.C. O último ocorreu em 1992, data da sua redescoberta.

Como acontece com qualquer outro cometa, quando se aproxima do Sol, o aumento dantesco na temperatura faz com pequenos fragmentos do núcleo do cometa se desprendam e fiquem presos à trajectória da órbita deste. O nosso planeta atravessa por estes dias o rasto meteoróidico da órbita do Swift-Tuttle, e um observador no hemisfério norte terá a sensação de contemplar uma chuva de meteoros que aparentam jorrar de uma única origem (a radiante) na esfera celeste, próxima da constelação de Perseus. É comum observar uma centena de meteoros a se volatilizarem no espaço de uma hora, riscando a abóbada a uma velocidade média de entrada de 212.400 km/h (dados do Observatório Astronómico de Lisboa).

Este ano, ajudados pela discrição da Lua em fase Nova, esperam-se boas condições para a observação das lágrimas de São Lourenço.

Como bónus, acrescente-se que na noite de dia 12 ocorrerá também um alinhamento de Vénus, Saturno e Marte visível a olho nu logo após o ocaso (aqui).

8 comentários:

ana disse...

:) Adoro as suas crónicas.
As "Lágrimas de São Lourenço" ou Perseidas, nomenclatura bela para uma(s) estrela(s) cadente (s).
Obrigada pela mais-valia.

Anónimo disse...

Atenção à gralha do título! JCN

Fernando Ribeiro disse...

(...) pereceu emulado sobre uma grelha ardente (...)


Do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:

emular (latim aemulor, -ari, procurar imitar, ser rival de, ter inveja a)
v. tr. e pron.
1. Imitar por emulação.
2. Ter emulação de alguém.
3. Fazer o possível por igualar ou exceder a.

imolar (latim immolo, -are, imolar, sacrificar)
v. tr.
1. Sacrificar, matando.
2. Degolar; matar.
3. Fig. Oferecer em sacrifício.
v. tr. e pron.
4. Prejudicar(-se), arruinar(-se).

Arganilandia disse...

Para quê tanto alarde dicionarístico, se era manifesto tratar-se de uma simples gralha, ou seja, "emular" por "imolar"? Exibicionismo! JCN

António Piedade disse...

Muito Obrigado pelas correcções.
Cumprimentos
António Piedade

Anónimo disse...

Boa Noite. Fiquei com algumas dúvidas já que sou um iniciante na Astronomia. A sobreposição dos astros dar-se-á a oeste certo? E as Perseidas é melhor olhar para Norte ou para Sul?

Já agora, na zona de Aveiro há algum local especialmente bom para estas observações?

Agradeço desde já a explicação.

António Piedade disse...

Caro Anónimo das 20:47
O melhor que posso fazer, com a humildade que tento ter nestas coisas do conhecimento, é reorientar a sua resposta para estes outros Blogues especializados em astronomia e em meteoros:
http://www.imo.net/live/perseids2010/
e obter um mapa do céu para a sua latitude em
http://www.sky-map.org/
tente esforçar-se para encontrar a sua localização.

Alguma ajuda directa através do seguinte blog
http://astropt.org/blog/2010/08/07/perseidas-2010/

Por agora é tudo o que tenho para ajudar. Voltarei assim que tiver detalhes.

Cumprimentos

António Piedade

António Piedade disse...

Devemos olhar para Norte.
Veja o alinhamento dos planetas em http://server6.sky-map.org/?locale=EN

"Crise da transmissão e febre da inovação"

Vale a pena ler o artigo de que reproduz a identificação ao lado.   O seu autor, o francês François-Xavier Bellamy, professor de Filosofia ...