Considerando que há questões educativas a debater mais prementes do que esta, concorda com a Senhora Ministra da Educação que é um debate que tem de ser feito. A dado passo afirma este professor:
"Nós temos uma cultura nacional que não aceita bem esta questão da não retenção, nós vivemos e convivemos há muito tempo ideologicamente no plano da educação com a ideia de que a retenção funciona como um incentivo – eu não concordo com isto, mas a ideia que exista é esta – para que o aluno entenda esta repreensão moral para depois se dedicar e dar também mais tempo para adquirir os conhecimentos que são necessários (…), mas muitas vezes funciona ao contrário."Não, a avaliação sumativa, final, classificativa com fins de decisão burocrática e institucional - pois é dessa avaliação que falamos -, não é uma questão situada numa só cultura - no caso, a nossa -, nem existe e subsiste devido a factores ideológicos.
Essa avaliação, como hoje a concebemos, decorreu da organização dos sistemas educativos modernos - modernos, apesar de falarmos em séculos - fazendo parte integrante dela. Mexer na avaliação implicaria mexer na própria estrutura dos sistemas educativos.
Acresce que os sistemas educativos modernos se estruturaram em função do princípio louvável de proporcionar educação escolar a muitos e, depois, a todos. Princípio esse que, desde cedo, exigiu a formação de turmas, grupos, classes mais ou menos homogéneos de modo a rentabilizar escassos recursos e tempos. Assim, se percebe que tal avaliação, não tivesse sido inventada com fins de repreensão moral, mas com fins pragmáticos de controlo da aquisição de conhecimentos e objectivos de aprendizagem, de distribuição dos alunos por patamares de escolaridade, e de atribuição de certificados, diplomas.
Cedo, porém se percebeu que se trata de uma avaliação que pode mobilizar os alunos para o estudo - e dizem-nos estudos credíveis que mobiliza - e que os seus resultados podem ser objecto de aplauso ou de repreensão social e individual.
Pode também funcionar de modo contrário? Sim, pode. Alunos há que, para fazerem frente à escola, à família, à sociedade, se recusam a estudar para provas, exames, testes; outros há que, por razões de ordem diversa - ansiedade, por exemplo - não conseguem demonstrar conhecimentos e capacidades nessas circunstâncias. São estes aspectos que têm de ser tratados, e não pôr, imediatamente, em causa a avaliação a que nos referimos e as decisões diferenciadas que ela permite.
4 comentários:
Helena, sobre este tema dos chumbos ou não chumbos, coloco-lhe uma questão para a qual não consegui ainda encontrar uma resposta.
Façamos um rápido enquadramento prévio à minha opinião sobre este assunto: sendo um pessoa de Gestão e Economia percebo que um país sem riquezas no subsolo só tem um hipótese de garantir bem-estar futuro: garantir um stock elevado de conhecimento na sua população. Como é evidente, descontando as excepções que confirmam a regra, isto só se consegue com um sistema educativo que acumule conhecimento nas suas pessoas. E, opinião pessoal minha, isso só se consegue com um sistema educativo que seja simultaneamente: muito bem adaptado aos nossos tempos (conteúdos), muito bem organizado (organização) e muito exigente (métodos e avaliação).
Ora, por aquilo que vou vivendo por aí, na 1ª pessoa e nas pessoas de professores que conheço muito bem e com quem falo muito sobre estes temas, parece-me que nos debatemos actualmente em Portugal com a seguinte combinação de fenómenos:
(1) Somos uma sociedade sem uma verdadeira «cultura de estudo» (desde os estudantes até às famílias deles, passando pelos próprios exemplo públicos e políticos que conhecemos, não parece estar enraizado na maioria dos nossos concidadãos a noção de que o conhecimento trará a justa retribuição e que, por isso, é um investimento que vale a pena);
(2) Temos agora uma escolaridade obrigatória até ao 12º ano ou até aos 18 anos de idade.
Juntemos agora neste cadinho mais uma hipótese: (3) o nosso sistema educativo é exigente, as avaliações também e os estudantes que não atingem um nível mínimo de conhecimentos chumbam.
A mim, a combinação dos 3 factores acima referidos, parece-me que trará um acumular de repetentes desinteressados, adultos ou quase, nos níveis mais baixos de escolaridade, convivendo e, por serem mais velhos e maduros, dominando e facilmente exportando os seus exemplos para miúdos muitíssimos mais novos que, como sabemos, são facilmente deslocáveis de uma caminho para outro.
Helena, num cenário educativo como o que temos, que não prevê qualquer caminho opcional, fora do circuito educativo «normal», para o conjunto de alunos e famílias (infelizmente, em número não negligenciável) que, de forma clara, não quer de todo estudar e se sente «forçado» a arrastar-se penosamente até aos 18 anos para poder ir-se embora, como impedir a coexistência de adultos de 17 anos, sem vontade de estudar, com crianças de 12 anos que facilmente lhes seguirão os passos?
Não será que, nestas circunstâncias, a única solução é passá-los, mesmo que imerecidamente, mantendo-os igualmente desinteressados e ausentes mas, do mal, o menos, lidando com pessoas da mesma idade, até poderem seguir o seu caminho fora da escola? Não será este, um mal menor, no contexto que temos?
João Grancho
No sublinhado que faz da minha intervenção reproduz, com erro, a seguinte fala: "Nós temos uma cultura nacional que não aceita bem esta questão da retenção...". Ora, se tiver o cuidado de ouvir com mais atenção a minha intervenção, constatará que a fala correcta é "´...nós temos uma cultura nacional que não aceita bem esta questão da NÃO retenção...". Um NÃO (esquecido?) que faz toda a diferença.
Cordialmente
Estimado Professor João Grancho
Agradeço-lhe a correcção e peço-lhe muita desculpa pelo meu lapso, tendo procedido à emenda. No entanto, o comentário que fiz ao seu depoimento, centrou-se no destaque que deu aos aspectos culturais e ideológicos da avaliação das aprendizagens. No meu entender, tal avaliação, devendo ter esses aspectos em consideração, não se deve restringir a eles. Há aspectos organizacionais e científicos implicados que me parecem, aliás, de maior relevância e que têm sido negligenciados nos discursos a que tenho tido acesso sobre o assunto. Mexer na avaliação, implicaria a sua ponderação cuidada, sob pena de o sistema educativo se desmoronar.
Cordialmente,
Helena Damião
Mensagem à família
Na educação de nossos filhos
Todo exagero é negativo.
Responda-lhe, não o instrua.
Proteja-o, não o cubra.
Ajude-o, não o substitua.
Abrigue-o, não o esconda.
Ame-o, não o idolatre.
Acompanhe-o, não o leve.
Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.
Inclua-o, não o isole.
Alimente suas esperanças, não as descarte.
Não exija que seja o melhor, peça-lhe para ser bom e dê exemplo.
Não o mime em demasia, rodeie-o de amor.
Não o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.
Não fabrique um castelo para ele, vivam todos com naturalidade.
Não lhe ensine a ser, seja você como quer que ele seja.
Não lhe dedique a vida, vivam todos.
Lembre-se de que seu filho não o escuta, ele o olha.
E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra...
Ensina-lhe a viver sem portas.
Eugênia Puebla
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