Partilhamos uma das mais interessantes mensagens de fim de ano que recebemos. Veio do jornalista estudioso do tempo Fernando Correia de Oliveira:
"A vida tem na aldeia um ritmo que a cidade nunca poderá entender. Cada compasso, aqui, dura um ano certo. Porque se mata o porco só pelo Natal, se os salpicões ficam salgados passam-se trezentos e sessenta e cinco dias a repetir:
- Os salpicões ficaram salgados.
A correcção apenas se poderá fazer no ano seguinte. Cada semente que a mão lança à terra, cada árvore enxertada, cada lagar de vinho, prendem o homem a um pelourinho de expiação, de doze meses. Desde que haja engano numa realização, só na próxima sementeira, época ou colheita se poderá retomar a liberdade, para de novo semear, enxertar e pisar -- e apagar da própria lembrança e da dos vizinhos o erro vital cometido."
- Os salpicões ficaram salgados.
A correcção apenas se poderá fazer no ano seguinte. Cada semente que a mão lança à terra, cada árvore enxertada, cada lagar de vinho, prendem o homem a um pelourinho de expiação, de doze meses. Desde que haja engano numa realização, só na próxima sementeira, época ou colheita se poderá retomar a liberdade, para de novo semear, enxertar e pisar -- e apagar da própria lembrança e da dos vizinhos o erro vital cometido."
Miguel Torga - Diário IV
Nesta época de tradicional regresso às origens, às raízes, votos de Boas Festas. Siga o seu ritmo, seja ele qual for.
Fernando Correia de Oliveira
2 comentários:
Gostei do conteúdo do seu Blog.
Para mim estes são ritmos dentro dos ritmos, do qual acredito haver simplesmente algo mais fino e impercetivel a estas medidas mas talvez ligue-se aquela sensação de que o tempo está passando mais rápido, frequências dos quais os mesmos equipamentos e medidas estão presos assim como nós. O Senso comum e cientifico negará, pois não que esteja errado a mesma ciência que mede o tempo está presa aos parametros de compassos resultantes não concausuais.
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