sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O FUTURO EM COPENHAGA


Meu artigo no "Sol" de hoje:

Esta semana, em Copenhaga, está em jogo o futuro do clima da Terra. No seguimento do Tratado de Quioto, procura-se um novo acordo internacional que possa travar o fenómeno do aquecimento global que, tudo leva a crer, é consequência em larga medida da actividade humana. De facto, na comunidade científica, com base em numerosos e variados dados da observação, existe, hoje, um amplo consenso tanto sobre o aumento do efeito de estufa na atmosfera terrestre como sobre a predominância da sua origem artificial.

Tal não significa que não haja nas conclusões científicas correntes uma certa dose de incerteza – o nosso planeta é um sistema extremamente complexo - e que não persista, entre os cientistas, alguma controvérsia – alguns deles, poucos, não subscrevem a tese da responsabilidade humana pelo aquecimento. Essas divergências, apesar de poderem perturbar o grande público, devem ser encaradas com naturalidade, pois faz parte do método científico a busca activa do erro. É bom que se semeie a dúvida em afirmações que parecem sólidas. Os chamados “negacionistas”, cuja visibilidade foi recentemente ampliada graças à divulgação de mensagens roubadas aos computadores de uma universidade britânica (o “climategate”), em vez de contrariar a ciência estão, afinal, a prestar-lhe um bom serviço. À medida que a discussão avança, a luz vai nascendo, isto é, a ciência vai fazendo o seu caminho.

Os políticos, a quem compete a celebração de um acordo, fazem bem em servir-se das informações e dos conselhos fornecidos pela maioria dos especialistas, cuja voz é amplificada pelas sociedades e outras organizações científicas. Que não haja ilusões: são poderosos os interesses político-económicos em jogo. Mas essa circunstância só reforça a necessidade de boa ciência, de ciência íntegra e independente, fundada na avaliação dos pares. Foi com base nessa ciência que se efectuou o diagnóstico e a posologia do buraco da camada de ozono. O Tratado de Montreal que produziu uma solução para este problema é um excelente exemplo para Copenhaga.

15 comentários:

Unknown disse...

O post do Dr Carlos Fiolhais é cauteloso, mas mesmo assim não deixa de assumir como fiável o chamado "consenso".
Apresenta o caso de (relativo) sucesso do buraco de ozono, como bandeira da fiabilidade científica, mas obviamente não desconhece que a complexidade dos casos é incomparável. A questão dos CFC e dos radicais livres é praticamente linear.
O que se passa com o clima está muito longe disso,é um sistema complexo que nunca nenhum modelo poderá reproduzir, mesmo que se conhecessem todas as variáveis e que as suas relações fossem lineares e moduláveis.

Não o são, nunca o serão, pelo que os modelos profetizam tudo e o seu contrário.

Dir-se-á que pelo princípio da precaução, deveríamos gastar agora dinheiro, muito dinheiro, e alterar os nossos modos de vida, admitir empobrecer, para prevenir o worst case scenario.
Isto parece razoável, mas tem um problema: é que ninguém vide desta maneira. Tudo o que fazemos tem riscos, a tecnologia nuclear tem riscos, atravessar a estrada tem riscos. Quem fala do principio da precaução são aqueles que vivem bem, mas alimentam a utopia do regresso a um útero imaginário. Falam a partir de confortável ideia de que se pode ter o melhor dos mundos, sem correr qq riscos.

De resto a discussão em Copenhaga é sobre dinheiro a dar aos "pobres". O que demonstra, preto no branco que se trata de uma fachada do socialismo global, a redistribuição à escala planetária, impostos aos "ricos", para dar aos "pobres".
Não se trata do nível dos mares, não se trata dos ursos polares, não se trata de defender os glaciares, e proteger a natureza.
Trata-se de transferir a riqueza e destruir a indústria.Trata-se, no fundo, de dar aos filhos de Rousseau uma via de ataque à civilização industrial…ao Ocidente… ao capitalismo.
É 4ª via para o socialismo internacionalista.

O Nobel da Física, Ivar Giaever escreveu que “Sou um céptico…o aquecimento global tornou-se uma nova religião.”

Anónimo disse...

E quanto aos amplos consensos: não havia, antes de Galileu, um amplo consenso a respeito do movimento do Sol? Há mais exemplos.

a.mar disse...

Seria suficiente plantar mais árvores?
Elas absorvem o CO2...

Ferreira arq disse...

Vejo neste artigo um apelo ao bom senso para atitudes mais ambientalistas por parte de todos nós.

Os “negacionistas” que conheço são contestatários, interessados em não abdicar das suas mordomias actuais com uma pegada ecológica várias vezes superior ao que o planeta pode suportar.
Nem sequer se dão ao trabalho de tentar identificar os motivos pelos quais o planeta está a reagir tão violentamente, num espaço temporal tão curto, a todas as tropelias que provocamos com a extensão de capacidades proporcionadas pela maquinaria que nos últimos 150 anos passamos a construir.

Aquecemos e arrefecemos em larga escala, onde nos apetece e quando nos apetece.
Perfuramos as entranhas da terra, captando a água e alterando o seu ciclo, em todos os locais, sem pensarmos minimamente nas consequências disso para a vida vegetal, e da dependência que dela temos; não pela alimentação, mas pelo ciclo geral da vida na terra, incluindo no seu enorme contributo no controlo da atmosfera.

A forma de viva que criamos e ampliamos recentemente, com a concentração urbana da actividade humana, tem enormes consequências – é mais um problema de urbanismo, de forma de viver em sociedade, que propriamente de arquitectura. E não é só o excesso de utilização dos recursos naturais como o petróleo.

Infelizmente, a abordagem de eficiência energética actual tem sido centrada na arquitectura, quase só em isolar termicamente as construções, e claro, aplicar painéis solares.
Mais que isto, tem que ser repensada a forma de utilizar os meios disponíveis da natureza, e deixarmos de estar convencidos que a controlamos, pois quando conseguimos isso num aspecto, descontrolamos muitos outros.

É este descontrolo que estamos agora a perceber, pelo degelo, pelo aumento da temperatura, pelo descontrolo da evolução das espécies animais e vegetais, que passamos por consequência a ver extinguir em larga escala, pela variação das condições atmosféricas…
Sem termos que estar completamente subservientes à natureza, temos que conseguir mediar um equilíbrio que nos permita garantir um futuro sustentável para os nossos descendentes.

È assim que entendo este mundo global que, quer queiramos quer não, é o que ajudamos a criar.
Não é uma religião, nem é pseudo-socialismo, nem comunismo.

È sentir que temos ao lado que morre de fome e sede, e queremos viver de excessos, gordos e fartos.
É querer que nos dêem a mão, e não termos mão para estender, e ainda por cima querer tapar os olhos aos outros com umas atoardas.

È uma questão de SENSIBILIDADE, ou melhor, de falta dela…

ars disse...

Bela escultura.

Anónimo disse...

Mas para as árvores crescerem precisam de CO2. Sem CO2...

Anónimo disse...

A ciência a fazer o seu caminho. O que antes era concensual, que ninguém sério tinha dúvidas, agora é complexo, onde existe alguns que não vão com a maioria. Agora sim, finalmente, o Carlos Fiolhais falou de como a ciência se faz.

Jose disse...

"pela maquinaria que nos últimos 150 anos passamos a construir."

Incluindo a que lhe permite estar sentado, atrás do computador, a usar a internet, a gastar energia eléctrica, em ambiente aquecido, e pronto a ir à farmácia mais próxima, numa qualquer máquina, comprar medicamentos para a dor de cabeça.

É sempre fácil e gratuito debitar retórica estratosférica, com o papo cheio.

Na verdade o único país que está a reduzir o CO2, é o Zimbabwe.É esse o paraíso real que esta gente advoga.
Mas para os outros.
Eles estão quentes, bem alimentados, têm computadores, internet, electricidade, carros, etc.
E é daí que falam, é daí que dão tudo por garantido, é de papo cheio que pregam a caridade.
Se a hipocrisia fosse milho, não havia falta de pipocas.

Lá é que deviam viver os arautos

Anónimo disse...

O argumento do costume (ver Ferreira Arq e outros): os que não estão a nosso favor são desonestos, defendem interesses obscuros, etc. e tal

José Batista da Ascenção disse...

Um estimado professor meu, da Universidade de Coimbra, de nome Jorge Paiva, escreveu no postal de natal que me enviou, idêntico ao que manda para dezenas e de dezenas de outras pessoas, que Copenhaga é um "bluff". E não é por que não o preocupe a destruição progressiva do planeta. Ele tem sido um "missionário" da causa. Tem talvez no seu currículo milhares de acções em escolas básicas e secundárias a falar a professores, crianças e jovens do problema. E é sempre ouvido com entusiasmo e atenção. E não cobra por isso a mais pequena importância. E está sempre disponível. Eu só não percebo é como é que é preciso senhores como Al Gore andarem pelo mundo em viagens de avião terrivelmente poluentes, a ganharem maquias estratosféricas, para nos dizerem o que afinal podemos saber de forma próxima e gratuita. Que diabo, o que fazem os políticos que temos, para evitar o derrube das florestas tropicais à velocidade estimada de um campo de futebol por segundo? Então com a tecnologia que temos não podemos organizar "encontros" à distância, onde cada especialista apresente o que tem a apresentar, sem enviar uma chusma de gente graúda para Copenhaga ou para outro qualquer sítio, a aumentar brutalmente os níveis de poluição e a funcionarem, sabe-se lá, a espensas de quem realmente manda, que é quem tem o poder e o dinheiro, e não abdica nem de um nem de outro, nem das comodidades decorrentes? Quando é que (alguns) senhores (ditos) ambientalistas se tornam menos dependentes do mais puro e escandaloso economicismo? Sabem que mais: bastava o ministério da educação de Portugal solicitar ao Dr Jorge Paiva a sua original colecção de postais de natal (cada um deles uma lição de cidadania e de ecologia), fazer com eles uma simples encadernação e distribuí-la pelas bibliotecas escolares para se fazer mais pelo ambiente do que pagar coiro e cabelo para ouvir e fazer transportar personalidades que afinal dizem coisas triviais (ainda estou a pensar no Al Gore). Já nem falo do interesse que seria editar a "História da Floresta Lusitana", com ilustrações adequadas para crianças e jovens.
Mas, também quem me manda a mim querer estas coisas, quando o que interessa são iluminações stressantes de natal, consumismo desenfreado e outro fogo de vista?

Ferreira arq disse...

Eu sei que a minha arte não é a escrita. O comentário foi apressado, tem erros e não é tão explícito quanto pretenderia...
Mas não deixei de escrever:
..."Sem termos que estar completamente subservientes à natureza, temos que conseguir mediar um equilíbrio que nos permita garantir um futuro sustentável para os nossos descendentes."...
è este conceito de equilíbrio que me parece que algumas pessoas não querem ter.
Durante mais de um ano compilei em http://forumsociedadecivil.blogspot.com o que me foi aparecendo na comunicação social nacional relativamente ao clima e ao meio ambiente.
São já muitos os artigos, e dão bem para perceber como algumas pessoas pretendem andar arredados dum problema que é real: Se continuarmos a esconder o sol com a peneira, já não é só o futuro dos nossos filhos que está comprometido. Já temos implicações directas no nosso dia a dia.
Sem abdicar de tudo, temos que ter mais estima pelo meio ambiente, para que este nos respeite também.
Há inumeras alterações legislativas a fazer neste aspecto em cada uma das áreas em que trabalhamos, onde podemos ser parte activa.
Ando a tentar dar o meu pequeno contributo.
Eficiência e sustentabilidade energética deve ser um dos principais objectivos em cada acto que praticamos.

Anónimo disse...

" é este conceito de equilíbrio que me parece que algumas pessoas não querem ter."

Que se faz a essas pessoas? Campos de reeducação?


"dão bem para perceber como algumas pessoas pretendem andar arredados dum problema que é real"

Reaccionários...não fazem o que nós achamos bem. Campo Pequeno? Gulag?

"já não é só o futuro dos nossos filhos que está comprometido"

Tem razão. Se houver um acordo para transferir dinheiro dos seus bolsos para os dos Mugabes deste mundo, você tb vai ficar mais pobre.

"Já temos implicações directas no nosso dia a dia."
Como por exemplo?


"temos que ter mais estima pelo meio ambiente, para que este nos respeite também."

Saudosa Miss Fotogenia, que tb falava assim, mas era bonita.

"Ando a tentar dar o meu pequeno contributo."

Pode sempre fazer melhor. Já reparou que está a emitir CO2 cada vez que expira. E se parasse de o fazer? O ambiente agradecia e respeitava-o muito mais.


"Eficiência e sustentabilidade energética deve ser um dos principais objectivos em cada acto que praticamos."

É pena que faça como S. Tomás, ouve o que ele diz e não faças o que ele faz. Acha por acaso que ao usar o seu computador, energia eléctrica etc, para escrever este seu comentário, é agir de forma responsável para com a Mãe Terra? Por que comete este tipo de abusos contra a Natureza? Acha bem estar a colocar em perigo o planeta? Que mundo vai legar aos seus netos?

"Já temos implicações directas no nosso dia a dia."

Quais?

Rui leprechaun disse...

Pondo a questão em termos estritamente científicos, já que é assim que o tema a aborda, permanece SEMPRE a mesma interrogação:

Onde estão as provas desse feedback positivo, provocado pelo CO2 e outros fases, que poderiam fazer disparar a temperatura da Terra?

Deixemos mesmo a paleoclimatologia de parte e as alturas em que a concentração de CO2 atmosférico era MUITO superior à actual, e onde só operavam os mecanismos actuais. Relembre-se que a curva que relaciona a concentração do dióxido de carbono com a temperatura é logarítmica e que mesmo um aumento para o dobro a partir dos níveis actuais não deveria implicar mais do que 1,5ºC de aquecimento, se tanto.

Logo, só com o tal "feedback" positivo, na base do qual os modelos são construídos, é possível antever os tais cenários catastróficos para além do tal "tipping point", but...

Aquilo que os estudos baseados em dados e observações reais nos mostram é que esse "feedback" é NEGATIVO, ou seja, a radiação calorífica emitida para a alta atmosfera é superior àquela que é absorvida à superfície da Terra, contrariando assim os tais modelos teóricos.

The earth's climate (in contrast to the climate in current climate GCMs) is dominated by a strong net negative feedback. Climate sensitivity is on the order of 0.3°C, and such warming as may arise from increasing greenhouse gases will be indistinguishable from the fluctuations in climate that occur naturally from processes internal to the climate system itself.

Richard Lindzen - Negative climate feedback

Da mesma forma, as nuvens altas não parecem contribuir para nenhuma retenção de calor, mas a nebulosidade apresenta um forte efeito de arrefecimento no clima, conforme outro estudo muito recente.

If the sensitivity of the climate system is as low as some of these observational results suggest, then the IPCC models are grossly in error, and we have little to fear from manmade global warming.

Roy Spencer - Global warming as a natural response

Note-se que a questão do comportamento das nuvens é absolutamente central para a correcta previsão do clima, e parece que os postulados do IPCC a este respeito são claramente desmentidos pela realidade... e o simples bom senso!

...the [models] may be agreeing now simply because they're all tending to do the same thing wrong. It's not clear to me that we have clouds right by any stretch of the imagination. - Robert Cess

Em vista disto tudo, é no mínimo MUITO estranho que ainda se fale num mirífico "consenso" científico, e mais ainda, como o Lidador sublinhou, quando o tema do AGW é eminentemente político-económico e só marginalmente científico.

Como, aliás, se confirmará nos próximos anos, naquilo que seguramente se tornará um "case study" fascinante para a Sociologia ou a epistemologia desta nova "ciência pós-normal".

Yes, this will be quite a interesting decade, indeed! :)

José Batista da Ascenção disse...

No comentário que esta tarde escrevi, à pressa, corrija-se "espensas" por "expensas". E se outros erros houver, neste momento, os meus olhos e o cansaço não me deixam enxergá-los...

Nuno Calisto disse...

Registe-se que o Prof. Fiolhais ainda não se dignou retorquir. É a ciência em construção...

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