«Apenas acrescenta factos ao teu conhecimento (...)
Assim não estarás perdido ao deixar esse paraíso,
pois possuirás um paraíso muito maior dentro de ti,
uma felicidade muito maior» John Milton, Paraíso Perdido
O conflito ciência versus religião que o colóquio «Darwinismo versus Criacionismo» indicia não é um problema novo. Simplesmente porque, para além da sua ambição comum de fornecerem uma leitura coerente do mundo sensível, a religião e a ciência ocupam o mesmo espaço: o do pensamento humano. Neste sentido a ciência surge como «rival» da religião, já que durante a maior parte da História da Humanidade esta última ocupou o lugar actual da ciência na explicação de todos os fenómenos físicos. Mas a metodologia de ambas não poderia ser mais diversa e a religião é, quanto muito, um paradigma da má ciência, já que não se baseia em conhecimento ou observações mas sim em «revelações» de entidades não fisicamente observáveis.
Os seres humanos apresentam uma apetência inata por explicações, por respostas aos muitos «porquês» que a observação do mundo que nos rodeia suscita. O que nos torna diferente das outras espécies animais são as capacidades possibilitadas por um cérebro único e esse mesmo cérebro impõe-nos - usando o termo cunhado por Eugene D'Aquili - um «imperativo cognitivo», um desejo de ordem e sentido que é biologicamente condicionado.
As primeiras explicações adoptadas para os fenómenos físicos foram religiosas, por exemplo, a tempestade seria explicada como um capricho do(s) deus(es) dos ventos. Mais tarde, os deuses foram substituídos por forças abstractas e a tempestade explicada pela «virtude dinâmica» do ar. Finalmente, e muito recentemente na história, surge a explicação científica, que descreve as leis naturais invariantes às quais estão sujeitos estes fenómenos.
A filosofia grega marcou a mudança de atitude do homem perante o cosmos, o ínicio da emancipação do pensamento humano em relação a mitologias sortidas. O primeiro filósofo da physis (natureza), Tales de Mileto (~640-546 E.C), marca essa ruptura procurando o princípio natural das coisas ou arqué, o elemento primordial da natureza, a matéria básica para a formação dos demais materiais, e na qual todos se reduziriam.
De facto, a filosofia grega desde os seus primórdios abandonou as explicações religiosas até então vigentes e procurou, através da razão e da observação, um novo sentido para o universo. Embora muitos intelectuais gregos fossem o que hoje chamaríamos «místicos» - por exemplo, Parménides escreveu um poema místico e a biografia de Pitágoras está envolta em lendas sortidas, ser filho de Apolo apenas uma delas - o mais importante legado grego reside não tanto nas ideias que apresentaram os filósofos da Antiguidade Clássica mas na abertura inédita à discussão crítica que protagonizaram.
Podemos ver a destruição da biblioteca de Alexandria como um ponto de regressão da atitude helénica de discussão da Natureza para um estádio pré-helenização que prevaleceu na Europa até ao Renascimento, altura em que a mundivisão exclusivamente religiosa começou a ser contestada por vários pensadores, Galileu o mais emblemático e conhecido.
No século XXI a descrição da realidade - por modelos em permanente construção - pertence em grande parte à ciência, ocupando-se a metafísica, como referiu o Desidério, daqueles aspectos mais gerais que são insusceptíveis de serem estudados empírica ou formalmente.
No entanto, em pleno século XXI, algumas correntes pós-modernas, infelizmente com representação cá no cantinho - refiro-me, claro, a Boaventura Sousa Santos -, pretendem que «A ciência moderna não é a única explicação possível da realidade e não há sequer qualquer razão científica para a considerar melhor que as explicações alternativas da metafísica, da astrologia, da religião, da arte ou da poesia. A razão por que privilegiamos hoje uma forma de conhecimento assente na previsão e no controlo de fenómenos nada tem de científico. É um juízo de valor.»*
E BSS insiste nas inanidades afirmando que «A explicação científica dos fenómenos é a autojustificação da ciência enquanto fenómeno central da nossa contemporaneidade», uma frase completamente sem sentido que insinua que a ciência debita «juízos de valor» disfarçados de «explicações científicas» apenas para se dar «ares» ou pôr em bicos de pé...
O «eduquês» e estes disparates pós-modernos ajudam a perceber porque razão o conhecimento científico e o pensamento filosófico não permearam a sociedade nacional e porque razão se considera legítimo realizar um colóquio que aceita obscurantismos criacionistas do mais cretino possível como sendo «uma visão do mundo contraditória em relação à da ciência» que importa discutir já que é «uma explicação possível da realidade»...
Sempre me interroguei porque razão os nosso media, incluindo a televisão pública, são veículos de difusão de «explicações alternativas» cretinas como sejam astrologia, tarot e disparates afins. E porque razão há tantos portugueses que acreditam em inanidades sortidas debitadas por outras «formas de conhecimento» - que, no entanto, não resistem a usar o prestígio da ciência com nomes pomposos como fusão fria biológica, dispositivos quânticos ou magnéticos de poupança de combustível, curas quânticas e demais banhas da cobra «cientificamente comprovadas».
Eventos como este colóquio, que empresta o prestígio científico de uma conceituada Universidade nacional a dislates irracionais e obscurantistas, respondem em parte às minhas interrogações.
* Boaventura Sousa Santos in «Um Discurso Sobre as Ciências», um paradigma não só de ignorância total da ciência contemporânea (exemplificado pelos dislates debitados a propósito do Princípio da Incerteza de Heisenberg ou sobre Einstein e a relatividade) como dos grandes grandes temas da Filosofia da Ciência Contemporânea, (muito bem) criticado por António Manuel Baptista no livro que ilustra o post e que recomendo.
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14 comentários:
Cinco estrelas :)
A Palmira na sua melhor forma. Pode ser que agora algumas pessoas percebam o que é o pós-modernismo e porque razão é o melhor aliado de todos os obscurantismos e de todos os intrujões.
Aconselhava essas mesmas pessoas lerem os disparates do Jónatas Machado, convidado de uma Universidade que devia ser um centro de conhecimento e honestidade intelectual.
É um vendedor de banha da cobra dos mais básicos, completamente ignorante e que dá tiros nos dois pés a cada linha que escreve.
Ainda não me conformei com a ideia! Que se discute o criacionismo como banha da cobra tudo bem, mas não se convida o intrujão se fosse esse o objectivo!
Encontrei!
Aqui vão algumas das coisas escritas pelo Jónatas, intercaladas com resmas de citações biblícas:
"Para o C(riacionismo)B(íblico) – por mais que chocante que isso possa ser para a inteligência secularizada – a maior autoridade em matéria de Criação é o próprio Criador, a única testemunha ocular desse processo. As Suas palavras valem mais do que toda a especulação humana, por mais “científica” que pretenda ser. O CB admite abertamente, sem quaisquer complexos epistémicos, a aceitação destas premissas pela fé. Embora a Bíblia não seja um livro científico, ela, enquanto Palavra de Deus, contém os axiomas e os postulados a partir dos quais devem ser estruturados os teoremas, as teorias e os modelos científicos. Não sendo um livro científico, a Bíblia é essencial ao conhecimento científico. O reconhecimento de Deus é o princípio de todo o conhecimento
"Como premissa fundamental do seu trabalho estava a ideia, totalmente contra a corrente, nos termos da qual a ciência humana falível devia submeter-se ao relato bíblico divinamente inspirado e infalível."
"O CB não se limita a afirmar a veracidade do relato do Génesis no mundo da subjectividade e da fé. Ele afirma a sua veracidade em todos os domínios do mundo real. Daí que também no campo da geologia o CB faça afirmações que colidem frontalmente com aquelas teorias científicas que assentam em premissas naturalistas."
"Para o CB, os factos atestam que o dilúvio de Noé teve um forte impacto geológico, deslocando continentes, criando rochas, erodindo e redepositando sedimentos, elevando montanhas e inundando vales."
Sem querer discordar por inteiro da Palmira acho que está de certa forma a confundir a questão epistemológica do conhecimento científico vs conhecimento religioso com um outro problema que é completamente distinto (cognitivo) da aprendizagem, quando refere o problema do "«eduquês» e estes disparates pós-modernos". Uma coisa é o processo do desenvolvimento cognitivo e da aprendizagem, também assuntos de ciência, que têm sido objecto de bastante estudo cientifico nos últimos anos e que são transversais a várias áreas. Outra é a questão metafísica e outra ainda é a epistemológica. Pensar-se que se aprende fazendo mentalmente, por oposição a descobrindo mentalmente, não é nenhum disparate, e é um dos corolários das teorias construtivistas do conhecimento, ainda por cima anti-revelação religiosa. Julgo que houve no meio desta polémica muita amálgama de conceitos que só contribuiu para a confusão.
Car@ aff:
Aparentemente não fui tão clara quanto pensei...
A primeira parte do post situa as raízes do antagonismo da religião com a ciência. Raízes que são profundas numa faixa felizmente estreita de crentes fundamentalistas.
A segunda parte tenta explicar como essa faixa estreita de fundamentalistas - e não só - explora o défice de ciência (pelo menos de pensamento científico) induzido pelo eduquês da escola de Boston, - introduzido cá no burgo por Roberto Varneiro e florescente desde então - e a confusão pós-moderna que equivale ciência a banha da cobra.
E, claro, essa confusão pós-moderna associada ao défice de pensamento crítico e independente que resulta do eduquês - que forma para o «grupo», não para o conhecimento - é igualmente aproveitada por vendedores de banha da cobra sortidos.
«A Natureza tem horror ao vácuo» é um aforismo aristotélico que se aplica neste caso ao vazio de ciência e de pensamento crítico que é rapidamente preenchido por obscurantismos sortidos.
Se eu fosse o António Manuel Baptista, nem me preocupava em responder ao BSS, que é nitidamente um grande nabo e ainda por cima se mete a falar de Física. No máximo, dizia-lhe: meu menino Boaventura, primeiro fazes o exame de 12 ano de Física e depois falamos!
Oops... Roberto Carneiro, claro...
"Os seres humanos apresentam uma apetência inata por explicações", a diferença reside aqui, porque não é de explicações que os seres humanos têm um apetite inato, mas sim de significados.
Vcs deviam todos era estar agradecidos ao DOUTOR Jónatas Machado por vois ensinar a ciencia !
Para ver se algum dia lhe chegam ao calcanhares intelectuais em vez de sempre a rastejar perante tal argumentario cientifico
Caro David:
O Doutor Jónatas é especialista em Direito - será que os Cientistas também lhe podem dar aulas de Direito...?
Já agora, porque não tenta que o Doutor Jónatas lhe dê umas aulas de português - seriam bastante úteis para conseguirmos perceber o quer dizer...
" Aconselhava essas mesmas pessoas lerem os disparates do Jónatas Machado, convidado de uma Universidade que devia ser um centro de conhecimento e honestidade intelectual. "
É preciso ser muito TACANHO para escrever isto
Agora ao Dr Fernando Martins,
Sr Dr, desde que estude o direito como o prof Jónatas estuda a ciência está habilitado para dar aulas a quem quer q seja
Depois, nem de propósito, o sr dr corrije-me mas tb se enganou "seriam bastante úteis para conseguirmos perceber o quer dizer... " ou será " (...) o QUE quer dizer "
Obrigado por me corrigir-me, antes de mais (isto de escrever rápido dá nisto...). Eu, como professor, estou habituado a corrigir e a ser corrigido, sem traumas e problemas - é sempre bom aprender ou ensinar.
Eu NUNCA daria aulas de Direito (e olhe que tenho na família dois irmãos licenciados em Direito, pelo que sei umas coisas...) e espero que, quem não teve formação de base científica, não se meta na asneira de se pôr a falar do que não sabe.
Dá sempre maus resultados - eu estive a ler um texto do Doutor Jónatas Machado e tem lá uma pérolas científicas fantásticas...!
É triste tentarem impingir-nos uma Terra com 6 mil anos quando basta ir à Gronelândia ou à Antárctida, ficar um ano para ver a formação de uma camada anual de gelo, bem visível, e depois furar por ali abaixo e, chegando a seis mil anos atrás, continuar a encontrar camadas de gelo, todas datáveis pela ciência e que um qualquer leigo, com meia hora explicação e dois olhos funcionais, perceberá logo o logro do Criacionismo... E se é assim no gelo, imagine nas rochas - até porque há locais em que as camadas geológicas - estratos - se formam anualmente e permitem facilmente recuar a mais de dezenas de milhares de anos. O mesmo se passa com os anéis anuais formados nas árvores, que uma ciência chamada dendrologia estuda, e que nos permitem recuar muito para lá do vosso valor da formação da Terra.
Mas cada um é livre de acreditar nos disparates que quiser...
dR fERNANDO martins,
Ai está pq eu não sou apologista da tese da " terra nova " mas sabe ( concerteza pelo que já demostrou aqui na caixa dos comentários )que tb temos a tese da " terra efectivamente nova mas aparentemente antiga " por acção do dilúvio universal q cobriu toda a superficie terrestre por 40 dias e 40 noites, daí que a enorme pressão das águas tenha causado essa " prova " geológica.
depois eu convenci-me da Criação não tt ( ou não apenas ) pelas palestras do Prof Jónatas, ee do livro do ( então ) Juiz Desembargador Américo Marcelino
Mas tb ( e sobretudo ) por livros, sites e dvds em que intervÊm profs das máis diversas áreas científicas e que demonstram as bases científicas do criacionismo
Aliás, presentemente ( tt quanto eu julgo saber ) deve ser o Prof Jónatas o evangélico mais interessado no " apostolado " do Criacionismo Bíblico
TT como ele só um pastor q eu coneci ( q hoje é missionário em Mocambique ) e que é geofísico de formação. E foi este que me mostrou fotos de uma região- A CHAPADA - ( julgo q do Brazil ) como vários mil metros de altitude e em q se vé, no cume , inúmeros fosseis de animais marinhos, de peixes e até de planton....
Ora bem, como é q estas " coisas " próprias da fauna e flora marinha foram parar a uma latitude superior á da Serra da Estrela ou da Mantanha do Pico ?
Conheço tb um vídeo em q um cientista cristão mostra como se faz o envelhecimento de um papel escrito que -na verdade - tem 1 dia de escrito mas depois da experiencia todos os metodos de datação cientifica lhe dão semana ou meses
É muitos simples: poe-se o papel num recipiente todo fechado, com excepção de um lado em q tem ligado um tubo para passar água. abresse fortemente uma torneira de forma a q a água vá com muita pressão e depois faz-se com q o papel seja submetido á pressão da água de um dia para o outro . Finalmente é só escoar a água e deixar secar o papel ...então os escritos desse papel adquirem uma " grande " antiguidade e podem provar - por qq meto~do cientifico que quizer - q a es declarações nele inscritas tÊ^m semanas ou mm meses qd, na verdade , foram escritos de um dia para o outro
Como foi citado, julgo q pela profª Palmira, um cientista do seminário TEOLÓGICO BAPTISTA DO Sul( EUA ) aproveito para dar a conhecer q estive presente nun colo´quio criacionista , promovido por um seminarista do Seminário Teolo´gico Baptista ( em queluz )que tem estado a traduzir os artigos de cientistas criacionistas e que apresentou numa igreja baptista de lisboa - num encontro nacional de jovens - uma introdução ao criacionismo expondo as falácias evolucionistas com base em livros que sao usados no ensino secundário portugues , nas aulas de ciencias
E ele quer crescer cada vez mais na ciencia para debater com qq prof evolucionista de Portugal
Foi oferecido um livro do prof WERNER GITT ( COMO OFERTA DO AUTOR ) em q este prof demonstra cientificamente a criação em 6 dias de 24 horas, alem de muitas outras coisas...
E estavam á disposição livros, cds e dvds de cientistas cristãos do Brazil , por um preço bastante módico
Que DEUS o abençoe
A tese da "Terra Nova", que diz que Deus criou o Mundo aparentemente antigo (o que implica um Deus brincalhão e muito atarefado, para enganar os cientistas...) não é aceite pela esmagadora maioria dos cristãos e por todos os cientistas de nomeada que estudam Geologia. Foi debatida ad nausea no século XIX e abandonada, por não ter ponta por onde se lhe pegue, tendo sido retomada muito tarde no século XX pelos actuais Criacionistas...
Essa estória de um Dilúvio Universal que cobriu toda a Terra e deixou marcas tem um ligeiro problema - não existe água na Terra suficiente para cobrir os pontos altos dos Continentes (e a Bíblia não refere levantamento de terrenos posterior ou para onde foi essa água...).
"Mas tb ( e sobretudo ) por livros, sites e dvds em que intervÊm profs das máis diversas áreas científicas e que demonstram as bases científicas do criacionismo"
Pois, mas não há um único Geólogo reconhecido internacionalmente que a defenda - e são os Geólogos que sabem do passado da terra, materializado nas rochas que estudam.
Deixe dar-lhe um exemplo: há, cá em Portugal, uma enorme falha (dita da Vilariça, localidade da zona de Bragança) onde as rochas de um lado e outro da falha se movimentaram, afastando-se cerca de 5 Km materiais que antes estavam juntos. Essa falha ainda hoje mexe e provoca pequenos sismos - como explicá-la com uma Terra com 6 mil anos...?
Isto para nem sequer falar dos métodos de datação, usando os isótopos radioactivos, ou as cronologias históricas, que apontam para o início da História (que, como sabe, começa pela invenção da escrita...) em data ANTERIOR à data da criação do Mundo, segundo os Criacionistas.
Os fósseis encontrados a grande altitude (por exemplos no Himalaias) provam que, há muito tempo ali existiu um mar (coisa que Leonardo da Vinci percebeu e escreveu, faz muito tempo...) e que as forças do interior da Terra que afastam continentes e fazem subir montanhas (estou a falar da Tectónica de Placas, herdeira da Deriva dos Continentes) estão ainda activas.
Conheço alguns dos livros (e outros materiais) criacionistas e neles nada vejo que bata certo com o que a Geologia vê na Terra, sem preconceitos ou dogmas. Foi esta tentativa de a Igreja Católica ler na Bíblia o que era o Mundo, de forma literal, que a levou a queimar Giordano Bruno e a condenar Galileu e muitos outros cientistas. O resultado foi um só - a Igreja Católica retratou-se, no século XX, pediu desculpas e desistiu de ler literalmente a Bíblia (isto já há muito tempo...).
Depois há um pormenor na vossa Teoria que me aflige de forma intensa: como couberam na Arca de Noé todas as espécies actuais e as antigas...? Mesmo que Noé levasse os Dinossáurios em bebés, só aí a capacidade da Arca ficava completa... E, como hoje sabemos, quando uma espécie fica reduzida a poucos elementos, a falta de variabilidade genética e o posterior consanguinidade conduzem a uma OBRIGATÓRIA extinção da espécie...
Porque será que a Igreja Católica tem muitos padres que são cientistas defensores das Teorias Evolucionistas...? Aliás um deles (Padre Doutor Luís Archer) foi ao debate com o Doutor Jónatas (e falou depois dele...). Ouçam-no - depois perceberam o porquê de a Ciência não aceitar o Criacionismo...
Hum... interessante confronto, sim senhor! Do livro de Boaventura Sousa Santos, li apenas as primeiras 20 páginas disponíveis num site da Net, mas concordo com a imperiosa necessidade de um novo paradigma científico que englobe a "nova" realidade do modelo quântico, já que o realismo materialista da física clássica é de todo incompatível com o actual "estado da arte". E contra isto não há mesmo volta a dar-lhe, por muito que esperneemos!!!
A propósito dessa citação do sociólogo, convém recordar aquilo que Einstein um dia disse a Heisenberg, em defesa aliás da sua concepção religiosa de um mundo ordenado... à la Newton! Pois, parece contraditório para quem alargou os limites da física clássica, mas o "paradigma mental" é talvez o mais difícil de mudar, afinal!
De facto, essa afirmação do grande físico, sustentando que o que vemos depende das teorias que usamos para interpretar as nossas observações, também já tinha sido antes equacionada por Kant ou William Blake, por exemplo.
Ou ainda, há aqui um aspecto no tal pós-modernismo que é sem dúvida interessante e positivo, já que ele reconhece o aspecto dinâmico das diversas concepções da realidade, ou seja, a interpretação daquilo que vemos muda consoante as nossas noções conceptuais.
Daí este autêntico bruááá da ciência vs. religião, por exemplo, que talvez até passe em breve para uma guerra aberta declarada contra o ressurgimento de uma filosofia idealista fundamentada nas últimas descobertas da própria ciência, algo que até pode constituir um volte-face muito interessante de assistir!!!
É que convém voltar a recordar que mesmo o maior génio científico do séc. XX perdeu afinal a batalha de "Deus e os dados" e o seu modelo de um universo determinista em que não havia lugar para a incerteza e a probabilidade está hoje definitivamente ultrapassado.
Ora, do mesmo modo, se ultrapassa o real material...
Rui leprechaun
(...de regresso ao sempiterno Ideal! :))
PS: Ou seja, que fazer agora que sabemos que não mais existe independência entre sujeito e objecto e que o acto de observar influi no resultado da experiência física, desde o "gato de Schrödinger" até às desigualdades de Bell e a experiência-teste de Aspect, as well?!
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