Texto na sequência de outro:
Acabei por ler e ver notícias sobre a morte mais recente de um ditador. Jornais e televisões reproduzem imagens da captura do homem, ainda vivo, que é insultado e agredido por pessoas do seu povo. E, também, imagens do cadáver. Tudo em grande plano.
Num dos jornais, em título de letras gordas, impossível de ser contornado, escreveu-se “O ditador que morreu como uma ratazana!” Exactamente, como uma ratazana!
Um corpo ensanguentado, descomposto, lixo…
Deveríamos interrogar-nos: o progresso civilizacional que conseguimos alcançar no Ocidente redundou nisto!? Independentemente dos actos de uma pessoa (neste caso, inúmeros actos sem dúvida condenáveis), deixámos de ver na pessoa uma pessoa.
As reacções de políticos europeus e americanos, bem como de responsáveis por instâncias internacionais que toleraram o ditador durante décadas, que com ele conviveram e negociaram, não sabemos ao certo o quê, não são menos inquietantes: todos agora, só agora, o renegam, alegrando-se com o seu desaparecimento.
Mais uma vez, recorro a palavras de João Gobern: “A forma como tudo isto acabou é muito triste”.
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3 comentários:
E estes métodos de acção política pública são tolerados (senão mesmo caucionados) pelas mais altas elites políticas das sociedades que maiores passos deram no sentido da Justiça e da Decência, embora praticados pela populaça em fúria numa situação de ausência de poder (ou de poder caído na rua).
O que prova que não estamos assim tão longe da barbárie que já foi a imagem de marca (e a substância) das sociedades humanas em tempos idos.
Resta-nos a consciência da sua verdadeira natureza que «habita» em muitas consciências silenciosas mas impotentes para fazerem frente a tais desmandos.
Afinal, na substância, qual a diferença entre a tortura e assassinato de um torturador e assassino e os assassinatos por ele determinados em Lockerbie?
Ingenuidade. Depois dos gregos, do cristianismo, do humanismo e do iluminismo, o século XX conheceu na Europa, horrores e monstruosidades. Pensam ainda que evoluímos muito desde a idade da pedra? Serão os líbios menos que os alemães sofisticados que ouviam Bach e liam Goethe, antes de acenderem as câmaras de gás? Ou que os italianos que se maravilham ante as estátuas greco-romanas, as esculturas de Bernini, e ditadores pendurados nos ganchos do talho? Ou que americanos democráticos e livres que conseguem pôr numa máquina de guerra e destruição o nome da mãe do piloto: "Enola Gay"?
Não somos anjos nem bestas, e quem pensa que somos anjos não passa de uma besta.
Xico
... e que dizer de um senhor Xico tão culto e informado que vem para aqui bestializar as opiniões alheias...?!!!
HR
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