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A Academia Nobel por vezes dá o Nobel da Química a físicos: foi o caso de Ernest Rutherford, que recebeu o Nobel da Química de 1909, pelos seus trabalhos de radioactividade, e o caso de Walter Kohn, que recebeu o Nobel da Química de 1998, pelos seus cálculos de estrutura electrónica muito úteis em física dos sólidos. E foi o caso hoje do israelita Dan Shechtman, do Instituto Tecnológico Technion, em Haifa, pela sua descoberta, realizada em 1984, dos quase-cristais, usando técnicas (físicas!) de microscopia electrónica. A revista do artigo original foi a Physical Review Letters, sendo Shechtman o primeiro autor.
A simetria pentagonal que ele revelou em ligas metálicas era surpreendente: o plano não pode ser coberto por pentágonos. Mas as observações estavam correctas e os assim chamados quase-cristais acabaram por se impor, graças também aos esforços teóricos do matemático inglês Roger Penrose (que poderia ter partilhado o Prémio, embora fosse estranho dar o Nobel da Química a um físico e a um matemático). Em cima um belo pavimento de Penrose, que tem simetria rotacional local, mas que não é exactamente periódico, como são os cristais. No início grande químicos, como Linus Pauling, opuseram-se à ideia dos quase cristais. Mas os factos impuseram-se...
Hoje em dia os quase-cristais são usados em aplicações tecnológicas (revestimentos de frigideiras, ligas de aço especiais, etc.). E até já foram encontrados na Natureza, num mineral encontrado na Rússia.
O que têm em comum o Nobel da Física e o da Química deste ano? Não só os dois foram atribuídos a físicos, como ambos recompensam descobertas recebidas pelos cientistas com grande surpresa...
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