Em pedagogia, e penso que não é só na pedagogia, a linguagem é uma fonte de equívocos. Certa frase ou palavra pode desencadear múltiplos entendimentos, alguns dos quais contraditórios.
Uma boa ilustração desses (des)entendimentos é o “aprender a aprender” que se opõe (ainda que dissimuladamente) a “aprender” (porquê!?).
O mais importante na educação escolar, dizem uns, não é “aprender” no sentido de adquirir conhecimentos, é “aprender a aprender”. Porque, veja-se, os conhecimentos estão nos livros, na internet, por aí, logo se alguém precisar deles, procura-os, sendo certo, que os encontra. E, além disso, os conhecimentos estão sempre a mudar: o que se tem por verdade hoje, já não o é amanhã. Logo, quando alguém precisar de aprender algum conhecimento, terá acesso à “última versão”, por assim dizer. A questão é, pois, de atitude e de processo: levar os sujeitos a perceberem que vivemos numa “sociedade do conhecimento” e que são eles próprios que têm de vasculhar em seu redor para chegarem àquilo de que precisam.
O mais importante, dizem outros, é mesmo “aprender”, pois quem adquire conhecimentos, nesse trabalho de adquirir conhecimentos, também “aprender a aprender”. Ainda que os conhecimentos estejam disponíveis algures, não se saberá procurá-los se previamente não se tiver adquirido conhecimentos, nem, nem sequer, haverá curiosidade para os ampliar. Ou seja, sem desvalorizar o processo, o produto (ter chegado a certos conhecimentos) é fundamental. Por outras palavras, para se “aprender a aprender” é condição que se “aprenda” e em profundidade. Não há volta a dar.
Esta antinomia assume outras formas que pouco mais valor têm do que um jogo de palavras... Por exemplo: ensinar a "aprender a aprender", mas como a palavra "ensino" é evitada (pois, afinal, diz-se "ninguém ensina nada a ninguém"), será melhor dizer-se "levar os alunos a aprender a aprender" ou, ainda melhor, "aprender a aprender a aprender”.
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2 comentários:
Faz-me lembrar certos aspectos da Teoria do Números Ordinais. Que eu domino mal. Aprendi a aprendê-la, nunca a aprendi (preguiça!) mas tenho as bases para aprender uma vez que aprendi a aprender. Mas não sei nada, qualquer dia ponho em prática os meus conhecimentos (ai que sorna tenho sido) e assim aprenderei o que quer que seja. Quando a isso me dispuser; por enquanto sou analfabeto apesar de ter adquirido o maior dos conhecimentos: saber aprender.
Já agora, porque não "aprender a aprender a aprender a aprender"?
Ou:
"Aprender a aprender a aprender a aprender a aprender"?
Ou:
(...)
Algures escrevi o seguinte:
«Quanto à fórmula "aprender a aprender" afigura-se-me tão infeliz, e mesmo trapaceira, que há muito deixei de a considerar.
Compare-se com esta outra: "aprender a gostar de saber". Isto sim. Ou esta outra: "as matérias são sempre bonitas para quem as conhece". Pois são.»
E pergunto: porque raio não podem as escolas definir-se segundo metodologias claras e se deixa aos cidadãos a decisão de escolherem as que julgam mais adequadas para ensinar os seus filhos?
É assim tão difícil?
Ou melhor, porque é que é tão difícil?
Ou ainda, a quem interessa tal dificuldade?
Responda quem souber.
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