quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As Ciências Geofísicas em Coimbra


Antecipo um pequeno excerto de um artigo sobre a Física na Universidade de Coimbra (UC) no século XX que escrevi com A. J. Leonardo e D. Martins e que sairá em breve na "Gazeta da Física":

"Desde a fundação do Observatório Meteorológico e Magnético, ocorrida em 1863, que as ciências geofísicas passaram a assumir relevo na Faculdade de Filosofia da UC. As observações meteorológicas e magnéticas, publicadas anualmente, eram partilhadas com várias dezenas de instituições nacionais e internacionais. António Santos Viegas tomou posse do lugar de director daquele Observatório em 1880, mantendo-se nesse lugar até à sua morte. Um foco de intervenção de António Santos Viegas, (1835–1914), um professor que trabalhou na UC ao longo de mais de cinco décadas, tendo chegado a ser Reitor, foi a aquisição de novos instrumentos, não apenas para a meteorologia mas também para as determinações geomagnéticas e sismológicas. Nesta última área, Santos Viegas foi pioneiro a nível nacional.

Os primeiros registos sismológicos efectuados em Portugal tiveram lugar em Coimbra, tendo sido adquirido um primeiro sismógrafo ainda em 1891. Em 1903 foi montado um pêndulo horizontal de Milne, tendo sido logo iniciadas as primeiras observações, cujo principal responsável foi Egas Fernandes Cardoso e Castro (1885-?), um jovem bacharel da UC. Egas e Castro publicou, em 1909, um estudo sismológico no qual calculou a profundidade do hipocentro do sismo que afectou Benavente em 23 de Abril de 1909. A sua actividade em Coimbra foi, contudo, efémera, visto que se transferiu, nesse mesmo ano, para o Serviço Meteorológico dos Açores por falta de vaga no Observatório coimbrão.

No início do século XX assistiu-se a uma “decadência acentuada” dos trabalhos nos observatórios meteorológicos de Coimbra, Porto e Lisboa, devido principalmente a dissidências internas, falta de apoio financeiro e carência de pessoal técnico. Na sequência da morte de Santos Viegas, Anselmo Ferraz de Carvalho (1878–1955) foi nomeado em 1914 director do OMM. Servindo-se de uma vasta colecção de dados meteorológicos, ele publicou, em 1922, um resumo das observações feitas no OMM da UC desde 1866, que intitulou Clima de Coimbra, onde se encontra uma análise pormenorizada dos dados recolhidos de 1866 a 1916.

Foi a convite de Ferraz de Carvalho que, em 23 de Maio de 1927, o meteorologista norueguês Jacob Bjerknes, da famosa Escola de Bergen, realizou em Coimbra uma conferência onde apontou o papel de Portugal na aplicação dos novos métodos de previsão meteorológica. Após descrever a aplicação do método norueguês na previsão do tempo, baseado na teoria da frente polar, defendeu a criação de uma estação meteorológica internacional nos Açores, proposta que viria a ser concretizada dois anos depois.

Em 1946, o Instituto Geofísico da UC (designação adoptada pelo Observatório Meteorológico em 1925) foi integrado no Serviço Meteorológico Nacional."

Na Figura: Santos Viegas e colaboradores no Observatório Magnético e Meteorológico de Coimbra por volta de 1914.

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