segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dyson no sapatinho de Natal

Freeman Dyson: 87 anos de excelência

A minha crónica semanal no jornal i, esta semana totalmente dedicada a Freeman Dyson. Seriam precisas crónicas às dúzias para o descrever minimamente e falta tanto nesta crónica. Falta dizer, por exemplo, que não consigo ler muitas páginas seguidas dos seus livros, tal não é a cascata de ideias, provocações e sonhos que ele tão carinhosamente nos tenta transmitir...

Franzino, olhos profundos, negros, de mocho, orelhas grandes e pontiagudas, sorriso de criança que tem sempre o mundo por descobrir. Fez, no passado dia 15 deste mês, 87 anos, mas é talvez a mente mais jovem e refrescante do nosso tempo. Lembro-me como se fosse hoje de todo o empolgamento, do delírio imaginativo (mas com realismo científico), da onda de futuro que cada capítulo do seu livro "Infinito em Todas as Direcções" (Gradiva, 1990) me provocou. A ciência é apenas um mosaico; para Dyson, o futuro era uma das suas casas. Um futuro pensado por um cientista, é certo, mas com economia, história, política, teologia e emoção misturadas numa manta de retalhos, de "pormaiores" do âmago da humanidade. O seu tempo levou-o a combater na 2.a Guerra Mundial, gerando um conflito entre a sua intimidade moral e o dever. No seu livro mais tocante, "Disturbing the Universe", tristemente sem edição portuguesa, Dyson conta-nos que aquela que viria a ser sua mulher se tinha refugiado num bunker alemão quando o seu esquadrão bombardeou a sua aldeia. 30 anos depois, quando visitou o local com o seu filho de sete anos, este perguntou- -lhe: "Então a mãe estava aqui escondida enquanto os teus amigos a bombardeavam?" Dyson não teve resposta, mas os seus livros são uma contrição com esperança embrulhada em papéis de sonhos no espaço, harmonia do homem com a natureza e o futuro das nossas relações. Num mundo sedento de mitos de excelência, convido-o a apreciar Dyson!

1 comentário:

Anónimo disse...

Freeman Dyson nega o aquecimento global antropogénico.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...